Fátima Oliveira e a bala de prata

Tempo de leitura: 2 min

Divagando sobre as incógnitas do voto, senhor das eleições

Fátima Oliveira, no jornal O Tempo

A coisa mais instigante em eleições é o voto, o senhor das eleições. Para obtê-lo perpetram-se até fraudes! Fica depenado quem não se curva às evidências de que, quando o povo quer eleger alguém o voto é como “fogo morro acima e água morro abaixo, não há quem segure”. Certo que nem sempre são eleitas a melhor candidatura e proposta de governo a olhos vistos.

E a coisa mais difícil é descobrir o que move a decisão de escolher A e não B ou C ou D, quando o resultado das eleições é incoerente com o que o povo precisa. Falo das necessidades imediatas de bem-estar e cidadania em geral – direitos legais e condições materiais de existência (moradia, saneamento, transporte, equipamentos sociais etc.); e das necessidades estratégicas de um povo – perspectivas de mais cidadania e democracia.

Fico azeda ao buscar explicações para resultados eleitorais incompatíveis com as necessidades imediatas e estratégicas de um povo. Por exemplo, a permanência da família Sarney no governo do Maranhão é um desafio aos meus neurônios, pois é racionalmente inexplicável. Nem sempre fraudam, pois no Brasil enganar o povo não é fraude. Deveria ser, mas não é! O povo os elege. Não adianta chorumelar. E, quando não ganham eleições, encontram suporte legal e assumem o governo. Estou convicta: é um caso de baixa consciência política e que eles são PhD em manipular.

São casos similares que clamam por algo antigo, porém esquecido, a elevação da consciência política e sua decorrência direta: o pensamento crítico, jogado de escanteio e substituído pelo saber dos marqueteiros, hábeis mestres: potencializam excelentes candidaturas, mas também podem alavancar o nada, numa flagrante competência da arte de enganar impunemente. Um caso exemplar: a eleição de Collor à Presidência da República (1989), um fogo morro acima gerado pela competência marqueteira. Iludidos constataram rapidamente que o produto era completamente diferente do anunciado. Aí, Inês já era morta!

Não sou contra a utilização do marketing eleitoral, sou contra o poder de enganar que marqueteiros têm usado e abusado, como se uma candidatura fosse um cosmético sem controle de qualidade real. Agregue-se ainda o poder dos grandes jornais e da TV, que possuem suas candidaturas – coisa nada demais e que é parte do jogo, pois seus donos votam e têm o direito de escolher quem acham condizente com seus desejos lícitos e os indizíveis. Porém, é execrável que usem de meios torpes para que se torne cada vez mais difícil o exercício do direito de escolha do povo. São especialistas em trapaças e sabem que em meio ao analfabetismo funcional (um em cada cinco brasileiros) há um contingente expressivo de eleitores de baixa consciência crítica que é possível manipular.

Desde priscas eras as classes dominantes impõem a sua visão de mundo, materializando seus intentos por meio de expedientes escusos – de trapaças à violência, da simbólica às tentativas de eliminação moral e física. Então, não é novidade que muita gente esteja de mutuca especulando que tramoia sairá na TV às vésperas das eleições. Falam que um consórcio mafioso tem engatilhada uma “bala de prata” para impedir a probabilidade, cada vez mais plausível, de as eleições presidenciais serem resolvidas no primeiro turno! É uma expectativa (a da bala de prata) cruel.

A lição é que só há um meio de não sermos reféns de qualquer bala de prata: empenho cotidiano em formar pensamento crítico. Dá trabalho e requer tempo, mas não há outra saída.

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Comentários

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Maricell

Como o sindicato que apóia os bancários é o Conlutas, e não a Cut, esta última sim, filiada ao PT, penso que possa ser essa a
tal “Bala de prata” que a oposição tinha para atirar no momento propício, pois a quem interessa uma greve bancária às vésperas das eleições? Ao PT não é, pois se Dilma não vencer no 1°turno, irá, com certeza para o 2° turno. Mas tenho fé que ela vencerá no 1°, a despeito das maracutaias infernizantes da oposição e da imprensa ligada ao PIG.

Helio Jacinto

Pelo jeito a turma do Serra tem mesmo é uma Bala de Lata.

Valter Cardoso Roma

BALA DE PRATA PERDIDA
Tutty Vasques

O problema da tal “bala de prata” para barrar o avanço de Dilma Rousseff é a falta de mira da oposição.
Vai acabar sobrando pro eleitor.
Repara só!

(16/09/2010) http://blogs.estadao.com.br/tutty/

Regina

Muito bom Fatima. O Pig inventa, aumenta e envolve os seus aliados e os desavisados em uma realidade pantanosa. Enquanto isso, a blogosfera incansavelmente ajuda a formar opiniões mais crítcas. As universidades precisariam ajudar também… mas, na atualidade poucos professores detém estofo e compromisso para ajudar estudantes a pensarem, a fazerem análise de conjuntura. Está todo mundo desenvolvendo pensamento metafísico e fragmentado. Principalmente os Verdes, coitados! Alguns são bem intencionados, mas não perceram que é puro idealismo. A luta é na superestrutura, não é como os gregos faziam observando a natureza e produzindo conhecimento apenas mental.

Vamos ao trabalho. Por um Brasil esclarecido.

O PIG e a direita não se conformam. Enquanto eles gastam milhões, nós que não trabalhamos para nenhum político, nem grupo econômico, nem partido, mas somos cidadãos conscientes, voluntariamente vamos à luta, à guerra de posição ajudando o nosso Presidente na construção de nosso Brasil e da América Latina autônoma.

Alice Matos

Fátima, o seu artigo é primoroso em senso crítico. Curto, porém profundo. Pena que só saiu agora que os ânimos estão muito acirrados com tanta lama tucana e muita gente não consiga discutí-lo.

Nelson Menezes

Chico Mendes deve estar vida, se revirando na cova vendo sua pupíla caminhando a passos largos para a direitona raivosa.

Ivan Bezerra

Sobre a bala de prata

Sem dúvida que a direitona quer ganhar de qualquer modo. A Santa Traidora Marina adotou desde ontem o discurso de implorar pela chance de um segundo turno para que as "apurações" das denúncias sejam feitas. Está pedindo voto pra Serra essa traidora-mor.

ValmontRS

Os fatos até podem ser os mesmos, mas o enfoque não! O enfoque é o que nos distingue no mundo. É a nossa visão, nosso ponto de vista. A TV pública não se mostra capaz de externar um olhar diferente das demais concorrentes privadas! Mesmo limitada pelo fato de não ser opinativa (enquanto as demais o são excessivamente), não se pode admitir o erro de tomar a versão pelos fato, muito menos as versões escancalosamente tendenciosas do PIG!

Vejo exemplos absurdos como referir-se a pessoas como "SUSPEITAS" pelo simples fato de ela ter sido acusada pelo PIG!

O jornalista Amaury Ribeiro Jr. foi referido em certa publicação como SUSPEITO!!!

Pergunta-se: em que JUÍZO ele foi denunciado?

No juízo do PIG…

Me poupem! Isto é demais para a minha pouca inteligência!

ValmontRS

"Formar pensamento crítico." Eis um desafio para os sem-mídia.
É óbvia a estratégia rasteira do Partido da Imprensa Golpista, nesta reta final de campanha, direcionada às classes da base da pirâmide social, onde se encontra o principal contingente de eleitores da "candidata a ser batida". Todos os veículos da velha mídia estão alinhados, coordenados, a constantemente despejar munição pesada sobre essa população.
Por outro lado, sequer a TV pública foge à pauta dos senhores da mídia! Cadê a independência?!!!
É, ao mesmo tempo, surpreendente e revoltante que o jornalismo da TV pública esteja a ecoar e reproduzir todo e qualquer lixo "desinformativo" semeado pelo PIG, aderindo fielmente à pauta das emissoras privadas!
Não espero que a TV pública seja um veículo chapa branca. Longe disso. Mas, me revolta que ela esteja sendo reduzida à condição de SATÉLITE REPETIDOR do PIG!

Estela Fernandes

Essa tal da bala de prata é esperada e está sendo tentada a qualquer preço pela oposição. Eles fuçam pra todo lado. Até FHC, lá do Circuito Elizabeth Arden, que foi pra onde ele se exilou da campanha do Serra, está saracoteando, tal qual um dos cadáveres insepultos de Antares (lembra de Veríssimo: Incidente em Antares?). Gente, vamos cair em campo pedindo votos que na internet só temos os debates. Os votos estão nas ruas à nossa espera. Fui!

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