Ex-reitor da UnB: Ministro da Educação tem que ser enquadrado por violações administrativas, penais e constitucionais

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Professor e ex-reitor José Geraldo: Historicamente, a UnB é uma das mais atacadas por sua origem e compromisso estatutário, é uma referência para a salvaguarda do espaço autônomo da liberdade de ensino é de pensamento. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ministro da Educação deve ser enquadrado pelas violações administrativas, penais e constitucionais, afirma ex-reitor da UnB

Por João Negrão, Repórter Brasil Central

O jurista José Geraldo de Souza Júnior, ex-reitor e professor da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), afirma que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, ao tentar enquadrar as universidades federais, comete um grave desvio de finalidade, ofende a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e a própria Constituição federal, “no que toca ao princípio da autonomia e da liberdade de ensinar”.

O professor José Geraldo, que também é coordenador do Direito Achado na Rua, um grupo de pesquisas da Faculdade de Direito, também analisa o atual momento político que o país atravessa e faz uma comparação com os tempos de hoje e os da época do regime militar instaurado em 1964, quando as universidades públicas foram um dos principais alvos do arbítrio.

Ele falou com exclusividade para a comunidade da Agência RBC News. Confira a entrevista:

Primeiramente, gostaria que o senhor falasse sobre essas investidas do novo ministro da Educação. Ao falar em reprimir “balbúrdias” ele quer estabelecer um controle sobre as universidades, desrespeitando a autonomia? Declara que vai vigiar as atividades das instituições de ensino superior?

Professor José Geraldo – Penso que é um grave desvio de finalidade, é uma ofensa direta à Lei de Diretrizes e Bases da Educação [LDB] e à própria Constituição Federal, no que toca ao princípio da autonomia e da liberdade de ensinar.

No primeiro caso, com motivação imprópria – reprimir balbúrdia – incide em responsabilidade, considerando a exigência de adequada fundamentação do ato, que deve respeitar a impessoalidade, a transparência e a legalidade e não a objeção difusa de politização. Veja-me o artigo. 37 da Constituição Federal.

No segundo caso, com ofensa também às normas convencionais – Convenção Americana – imiscuindo-se no âmbito da autonomia.

Em época recente, por essas mesmas razões representei contra o ministro da Educação na PGR [Procuradoria Geral da República] e na Comissão de Ética Pública [da Presidência da República].

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Agora vejo que um deputado indica que vai entrar com ADPF (Ação por Descumprimento de Preceito Fundamental) diretamente no STF [Supremo Tribunal Federal].

Somente entidades nacionais podem fazê-lo, no caso partido. Mas espero que a ANDIFES [Associação Nacional de Dirigentes e Instituições Federais de Ensino] também o faça, porque a ameaça é a todo o sistema universitário federal.

O que esperar dessa ação?

Professor José Geraldo – Espero que a ação enquadre o ministro pelas violações administrativas, penais – reter recursos orçamentários aprovados em lei federal para fins legais – e constitucionais, com a consequente responsabilização.

Por que a UnB é uma das principais atacadas?

Professor José Geraldo – Acho que a UnB, historicamente, por sua origem e compromisso estatutário, é uma referência para a salvaguarda do espaço autônomo da liberdade de ensino é de pensamento.

E por isso, historicamente, tem sido o alvo de toda a tentação autoritária. Sendo a universidade da capital, próxima à cidadela do poder, passa a ser o efeito demonstração do programa autoritário, que responde a uma lógica econômica: mercadorizar a educação e privatizar o patrimônio público.

Foi assim em 65, 68, 77 e 85. Basta ler o relatório da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB.

O senhor acha que, como nessas cinco tentativas na ditadura militar de enquadrar a UnB, haverá resistência?

Professor José Geraldo – Penso que sim. Externa e internamente. Mas também acho que há um tanto de diversionismo nessa manobra.

O neoliberalismo quer abocanhar a reserva de serviços que a educação proporciona, precisa ajustar a formação de quadros ao seu programa ideológico, mas espera levantar no momento muita fumaça nesse terreno para reduzir a atenção ao front da reforma da Previdência.

A UnB tem se mostrado atenta nos dois cenários e saberá resistir política e juridicamente.

Mas para finalizar, gostaria que o senhor traçasse um paralelo entre o que foi a ditadura militar nos ataques à Educação, especialmente às universidades, e, em particular à UnB, e agora este governo Bolsonaro, com toda a sua carga de atraso e combate ao pensamentos libertários do ambiente universitário.

Professor José Geraldo – Em toda ação política autoritária logo se instala o horror à crítica e à reflexão, muito fortes no ambiente cultural e na educação.

Pense em Goelbbes e seu horror à cultura que lhe dava o desejo de empunhar a pistola.

E em Mussolini, ao afirmar em seguida à condenação de Gramsci que era preciso fazer aquele cérebro parar de pensar por 20 anos.

E na funesta procissão das tochas na Alemanha nazista, culminando com a queima de livros de Filosofia, de Sociologia e de Literatura.

As ditaduras e o autoritarismo se valem por isso da violência, contra a palavra, a censura; contra o corpo, a tortura; contra o protagonismo político, o banimento, o exílio e o assassinato político.

Entre a ditadura explícita e a mobilização autoritária que a prepara, essa gradação vai se delineando, como estamos assistindo. Há poucos meses na UnB, livros de Sociologia, de Filosofia, de religião e de direitos humanos sofreram vandalismo. Na própria UnB, há dias, professores e principalmente professoras, foram ameaçados.

Na Faculdade de Direito esse processo está sob apuração da Polícia Federal, mas já há docente em sistema de proteção e outras que renunciaram a seus cargos.

No momento ainda parece ser algo que germina difusamente, num fascismo social, mas já se manifesta numa parte do discurso de governo sob a forma de uma postura anti-intelectualista e anti-cultural, mas que já se amplia para a institucionalidade, como agora, nessa ação do Ministro da Educação.

Se não for posto cobro a isso, é uma ADPF pode ser o caminho, o fascismo social se transformará em fascismo institucional e o autoritarismo em ditadura.

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Zé Maria

Universidades Federais da Região Sul do Brasil vão Fechar em Setembro

Com o corte de no mínimo 30% da Verba do MEC
as Universidades Federais do Paraná (UFPR), de Santa Catarina (UFSC),
do de Rio Grande do Sul (UFRGS), de Pelotas-RS (UFPel)*,
de Rio Grande-RS (FURG) e de Santa Maria-RS UFSM)
só tem orçamento até setembro de 2019 e, a partir daí,
podem interromper totalmente as atividades.

*Nota sobre corte orçamentário na UFPEL

A administração da Universidade Federal de Pelotas divulgou carta à sociedade brasileira para denunciar o ataque que as Universidades Federais vêm sofrendo por parte do Governo Federal e mais especificamente do Ministério da Educação, que culminou com o corte de 30% do orçamento das instituições federais de ensino superior.

A carta sublinha a importância da Universidade para a sociedade e alerta para os riscos de, a manter-se a suspensão dos recursos, inviabilizar o funcionamento da UFPel a partir do mês de setembro, quando não haverá “dinheiro para o custeio de energia elétrica, água, telefone, serviços de manutenção, limpeza, portaria, vigilância, nem recursos para bolsas de iniciação científica, ensino ou extensão, tampouco para transporte de apoio entre os campi ou para o subsídio ao preço das refeições no restaurante universitário”.

Finaliza, no entanto, com a confiança de que a força da reação organizada das Universidades Federais e da sociedade brasileira haverá de reverter “a absurda decisão”.

E destaca que “além de ensino, pesquisa e extensão qualificados, o que a população brasileira espera de suas universidades neste momento é, sobretudo, dignidade”.

[Coordenação de Comunicação Social – UFPel]

http://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2019/05/03/nota-sobre-corte-orcamentario/
.
íntegra da Carta Aberta da Administração da UFPEL:

CARTA À SOCIEDADE BRASILEIRA

“A administração da Universidade Federal de Pelotas vem a público denunciar o ataque que as Universidades Federais vêm sofrendo por parte do Governo Federal e mais especificamente do Ministério da Educação.
Não bastassem as agressões na mídia e os rótulos estapafúrdios com os quais menospreza servidores e estudantes das Universidades federais, o Governo nesta semana simplesmente subtraiu 30% do orçamento das instituições federais de ensino superior.

Primeiramente, veio a “censura orçamentária” imposta a três universidades por supostos atos de “balbúrdia”.

A seguir, confrontado com a óbvia impossibilidade jurídica de discriminar universidades pelo que não é senão expressão da liberdade de manifestação e de pensamento próprias do ambiente acadêmico, o MEC estendeu a todas as universidades federais o mencionado corte linear de 30% do orçamento.

O ataque mal disfarça sua gênese, seu propósito e a perspectiva obtusa de quem o tenha engendrado.

Por um lado, é constrangedor o discurso que o embasa e que, alicerçado na distorção da realidade do que ocorre nas IFES, revela a intenção de jogar a população brasileira contra suas Universidades, fingindo desconhecer que mais de 90% do conhecimento científico produzido no país é oriundo das Universidades públicas.
Por outro, o aceno que o MEC faz no sentido de que, caso a Reforma da Previdência seja aprovada, o corte pode ser revisto não é ético nem leal.

Na UFPel, o violento corte orçamentário significou 30% (R$ 22 milhões) a menos nos recursos de custeio, já originalmente insuficientes à manutenção da universidade, e absurdos 75% (R$ 7 milhões) na verba de capital, destinada a investimentos em infraestrutura e obras.

Não se trata de profetizar o caos, mas é necessária a consciência de que, a prevalecer o corte havido, o funcionamento da UFPel inviabiliza-se a partir do mês de setembro, pois que a partir de então não haverá dinheiro para o custeio de energia elétrica, água, telefone, serviços de manutenção, limpeza, portaria, vigilância, nem recursos para bolsas de iniciação científica, ensino ou extensão, tampouco para transporte de apoio entre os campi ou para o subsídio ao preço das refeições no restaurante universitário.
É, aliás e por isso, simplista a difundida versão de que o corte não afeta a assistência estudantil.

Ao tempo, pois, em que denuncia as graves consequências decorrentes da medida adotada pelo MEC, a UFPel manifesta sua confiança na força que a reação organizada das Universidades Federais e da sociedade brasileira haverá de ter para reverter a absurda decisão.

Além de ensino, pesquisa e extensão qualificados, o que a população brasileira espera de suas universidades neste momento é, sobretudo, dignidade.”

http://ccs2.ufpel.edu.br/wp/wp-content/uploads/2019/05/NOTA-DA-UFPEL-SOBRE-CORTE-ORCAMENTARIO.pdf

Zé Maria

O Pior Tipo de Asno é o Jumento Arrogante, conhecido como Olavete

Boletins de notas em Faculdade na USP revelam que ministro da Educação
foi reprovado em quase 40% das disciplinas em que se matriculou no curso

Levando em conta as reprovações, a média ponderada
do ministro ao terminar o curso foi de 4,8, numa escala até 10.
Weintraub foi reprovado em quase 40% das disciplinas
em que se matriculou, conforme mostram os documentos.

Zé Maria

Reverendo Araújo, cada vez mais Fanático e insensato, para não dizer blasfemo e herege,
chamou Jair Bolsonaro de ‘Pedra Angular, numa Abominável Comparação a Jesus Cristo.

https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/05/03/ministro-compara-bolsonaro-a-jesus-ao-chamar-presidente-de-pedra-angular-do-novo-brasil.ghtml

Zé Maria

“O governo Bolsonaro e seus seguidores não suportam Paulo Freire
porque ele desenvolveu um trabalho notável na educação
e é reconhecido mundialmente por sua luta por uma educação para todos
e emancipatória.
Só mentes medíocres não conseguem ver sua importância.”
#CancelBolsonaro

Talíria Petrone, Professora de História, Negra, Feminista,
Deputada Federal (PSoL=RJ)

https://twitter.com/taliriapetrone/status/1124018066969513986

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/D5bhrDxWkAEl6ay.jpg

Palestra sobre a ameaça às aposentadorias
com a auditora fiscal da Receita Federal aposentada,
Maria Lúcia Fattorelli, coordenadora Nacional da
Auditoria Cidadã da Dívida, ocorrerá em praça pública,
no Setor Bancário Norte, em Brasília, em frente à sede
da Capes que não cedeu seu espaço ao SindGCT
que promove o Evento.
Numa evidente tentativa de censura ao Sindicato,
a Presidência da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes),
Fundação do Ministério da Educação(MEC),
solicitou o cancelamento da palestra
que havia sido agenda na sua sede.

http://www.cutbrasilia.org.br/site/2019/04/30/sindgct-promove-debate-sobre-previdencia-na-rua/

Zé Maria

Jornalista Luis Nassif enumera as ilegalidades
praticadas por Jair Bolsonaro e Ministros
passíveis de responsabilização por crimes
de improbidade administrativa:

“Jair Bolsonaro tem que ser parado!
O impeachment será o ponto final.
Antes disso, há que se utilizar de instrumentos
como as ações de improbidade administrativa,
cuja titularidade é do Ministério Público,
e as ações populares, de titularidade de qualquer cidadão,
para impedir os desmandos dele e de seus Ministros,
agindo como se não houvesse normas jurídicas
para serem obedecidas.”

íntegra: https://t.co/58KuquhNnS
https://twitter.com/luisnassif/status/1124015487376134146
https://jornalggn.com.br/noticia/bolsonaro-e-ministros-tem-que-responder-por-crimes-de-improbidade-luis-nassif/

Adriana

Excelente artigo!! O MPF/BA já instaurou inquérito civil público. O corte de verbas das universidades públicas, comprovadamente, as melhores do país, é insano, perverso e irresponsável!

MAAR

É preciso restaurar a democracia. O governo Bolsonaro deve responder pelas denúncias de violação das leis e da Constituição. Uns versinhos para desanuviar:

RAIAR DA RESISTÊNCIA *

Triste a noite sombria,
E cai chuva gelada…
Vil trovão, ventania…
A nação revirada.
Numa esquina vazia,
A esperança, acossada,
Vê violência, razia.
E a justiça, amarrada…

Trevas mil, temporal…
Tanto horror e pesar…
Mas o bem vence o mal,
Pois o sol vai voltar;
Vai o amor fraternal,
E a razão, resgatar;
Vai assim, afinal,
Ver a paz vicejar.

Pra o direito, vital,
Restaurar e ampliar,
Venha o sol matinal
Nova aurora acordar.
E que a luz natural
Faça, enfim, vir brilhar
Vida leve, plural,
Vivaz, livre, a bailar…

* Pela restauração da democracia constitucional. Pela garantia dos direitos sociais e individuais. Pela promoção do desenvolvimento sustentável, com crescimento econômico aliado ao financiamento da justiça social e à preservação do equilíbrio do meio ambiente. Pela adoção e difusão do respeito mútuo global. Pela paz social, com vida plural e amor fraternal. Pela valorização do diálogo amplo, com vistas à conscientização coletiva e à inclusão participativa.

    Martha

    Até hoje eu nunca vi — de todos! Este está no mais baixo nível — partido mais barango; mais Kitsch, mais bregaço, mais cafonérrimo que o PT. Há muitos partidos ruins no Brasil… Mas dos piores é o PT.

Cláudio

:
: * * * * 04:13 * * * * * Ouvindo A(s) Voz(es) do BraSil e postando no Viomundo :

#LulaLivre
#AssangeLivre
#FreeAssange
#VivaVenezuela

:.:

a.ali

que tempos, que tempos!

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