20/04/2011
Blog do Emir Sader*
O neoliberalismo promoveu um processo global de desregulação da economia. Debilitou as formas de regulação estatal, da proteção aos mercados internos à garantia dos direitos sociais, da afirmação dos patrimônios públicos à garantia do acesso gratuito aos bens fundamentais. Seu diagnóstico era que o excesso de regulação inibia a livre circulação do capital. Destravado, o capital voltaria a promover investimentos produtivos, fazendo com que a economia voltasse a crescer.
Não foi o que aconteceu. Livre de travas, o capital se transferiu maciçamente para o setor financeiro, passando a auferir enormes ganhos na especulação. Porque o capital não é feito para produzir, mas para acumular. Se pode dispor de taxas de juros altas, de baixa ou nenhuma taxação e de liquidez absoluta, ele se dirigirá para esse setor. Foi o que aconteceu com a desregulamentação.
Estados endividados, competindo para ver quem atrai a maior quantidade de capitais financeiros, com economias que passaram a depender cada vez mais desses capitais, não somente promoveram o enriquecimento brutal do setor financeiro, como deixaram os Estados vulneráveis à volatilidade de ataques especulativos. As crises econômicas do período neoliberal são basicamente produzidas por saídas bruscas e maciças de capitais especulativos.
Esses capitais, os de pior qualidade, porque não produzem bens, nem empregos, são assim produtores de crises. Alavancados pelos empréstimos do FMI a países em crise, ocuparam lugares estratégicos nas economias nacionais e no plano internacional e passaram a ser o setor hegemônico a nível nacional e internacional.
A luta contra o neoliberalismo e suas consequências negativas passou a ter na retomada da tese da Taxa Tobin – formulada por um economista – de taxação dos movimentos do capital financeiro a proposta central dos movimentos que posteriormente se agruparam no Forum Social Mundial. Essa taxação se faria para a criação de um fundo para promover os direitos de cidadania, atacados duramente pelos governos neoliberais. A proposta obteve grande difusão, mas não chegou a ser colocada em prática, salvo alguns casos isolados.
A crise econômica atual não poupou sequer os EUA, surgindo do setor financeiro e estendendo-se ao resto da economia global. As reações das potencias centrais do capitalismo foram as tradicionais, salvando os bancos, na expectativa de que estes salvassem a economia. Os bancos se salvaram e deixaram as economias à deriva.
Países do Sul do mundo, que privilegiamos o intercâmbio Sul-Sul, os processos de integração regional e a expansão do mercado interno de consumo popular, pudemos superar rapidamente a crise, enquanto os países do Norte, sofrendo o seu próprio veneno, ainda tropeçam na crise, como os dramáticos casos da Irlanda, da Grécia, de Portugal e da Espana demonstram.
Mas a abertura das economias de praticamente todos os países, promovida pelo neoliberalismo, não nos faz imunes aos efeitos da crise. Sofremos da competitividade cambial de economias fortes como a dos EUA e da China, que ganham mercados com moedas nacionais artificialmente desvalorizadas, assim como drenam para países como o Brasil capitais atraídos pela taxa de juros real mais alta do mundo.
Uma margem restrita de manobra se apresenta, entre os riscos inflacionários e a desindustrialização que o real supervalorizado produz. As taxas de juros têm sido elevadas na contramão do objetivo de chegar ao final do governo atual para algo em torno de 2%, como media internacional de juros. Essas elevações e outras medidas complementares têm sido insuficientes e o dólar baixou não apenas de 1,65 – piso que o governo tinha estabelecido – como a para a casa dos 1,5.
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Sair desse círculo vicioso supõe romper com os dilemas aparentemente insuperáveis que a situação nos apresenta. A Taxa Tobin, como forma de taxação de toda movimentação financeira, ao mesmo tempo que inibiria esses movimentos especulativos, geraria recursos para fortalecer e estender mais as politicas sociais. (As politicas de saúde, por exemplo, necessitadas urgentemente de recursos.)
É a hora de discutir seriamente entre instâncias do governo, parlamento, partidos e movimentos do campo popular, esse tipo de medida, que contribuiria para superar a hegemonia persistente do capital financeiro sob sua forma especulativa e fortalecer o maior objetivo do país hoje – terminar com a extrema pobreza e desenvolver ainda mais a prioridade das políticas sociais.
*Emir Sader, sociólogo e cientista, mestre em filosofia política e doutor em ciência política pela USP – Universidade de São Paulo.
Comentários
assalariado.
Emir,as elites do capital financeiro,não estão nem ai com com pré defunto capitalista,"perdem-se os anéis,mas ficam os dedos", para continuar esfolando os assalariados,o planeta e os explorados em geral. Esta é uma situação sem volta, visto que,a velha burguesia (a da produção e da MAIS VALIA), ficaram para um segundo plano.Ou seja,é a nova burguesia da especulação financeira(mais parasita do que a outra),é quem da as cartas,é o capitalismo em seu último respiro/estágio,enquanto sociedade "organizada".
"Outro mundo é possivel",assim dizem os participantes do FSM(Forum Social Mundial),e todos ativistas das esquerdas(de fato),sabem.Resta saber até quando a social democracia petista,hoje no poder,esta disposta a dar cordas para os especuladores de plantão em detrimento do povo e da nação brasileira.O deus mercado,mais conhecido como capitalismo,é um mal desnecessário para o planeta e os humanos.Não nos façamos de desentendidos,sabemos,a saida para esta sinuca capitalista é,construirmos uma sociedade socialista,sem medo de ser feliz,…
ZePovinho
Quem aumenta a inflação,segundo Murray Rothbard e grande parte dos membros da Escola Austríaca de Economia,é o cartel dos bancos privados centralizados em um banco central "independente" controlado por banqueiros privados.O nome do mecanismo que alimenta a inflação se chama "reserva fracionária" e Rothbard o explica bem aqui:
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=311
O sistema bancário de reservas fracionárias
por Murray N. Rothbard, terça-feira, 11 de maio de 2010
AQUI ESTÃO OS BANCOS(EXCLUSIVAMENTE AUTORIZADOS PELO GOVERNO A OPERAR COM TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA) QUE GANHARAM SEU ALMOÇO GRÁTIS NA ÚLTIMA QUARTA,DADO PELO COPOM:
http://www4.bcb.gov.br/Pom/demab/dealers/rel_prim…
Sintomaticamante o primeiro lugar cabe ao BRADESCO,que financia o Jornal Nacional da Globo e paga,lá,o Sardenberg e outros para defender o almoço grátis do sistema financeiro e dos economistas de mercado.
Murray Rothbard explica:"………Veja como esse processo de fraudulência funciona no mundo atual. Digamos que o Banco Central, como de praxe, decide que quer expandir (leia-se inflacionar) a oferta monetária. O Banco Central então vai até o mercado (chamado de "open market" ou mercado aberto) e compra um ativo. Não importa qual ativo ele compra; o ponto importante é que ele vai criar dinheiro eletronicamente, simplesmente apertando teclas em um computador. O Banco Central poderia, caso quisesse, comprar qualquer ativo que lhe aprouvesse, inclusive ações, edifícios ou moeda estrangeira. Na prática, ele compra títulos do Tesouro.
Suponhamos que o Banco Central queira comprar $10.000.000 em títulos do Tesouro. Esses títulos estarão em posse de um dealer "aprovado" pelo governo. [Dealers são instituição credenciadas para efetuar essas operações de mercado aberto. No Brasil, os dealers são os principais bancos do país. Veja a lista deles]. Nesse caso, o Banco Central vai simplesmente acrescentar eletronicamente $10.000.000 na conta-corrente que esse dealer tem junto ao BC (o compulsório) em troca dos títulos do Tesouro. De onde o BC tirou os $10.000.000 para pagar o dealer? De lugar nenhum. Ele criou esse dinheiro do nada. O dealer (um banco qualquer) agora está com excesso de reservas depositadas junto ao BC. A "oferta monetária" do país aumentou em $10.000.000; nenhuma outra conta-corrente sofreu qualquer decréscimo. Houve um aumento líquido de $10.000.000.
Mas isso é apenas o início do processo inflacionário e fraudulento. O banco que recebeu esses $10.000.000 ainda está com esse dinheiro parado em suas reservas compulsórias junto ao BC. Isso significa que suas reservas cresceram $10.000.000 e que – a menos que haja alguma elevação da taxa do compulsório – o banco pode agora 'piramidar' sobre elas. Esse banco pode agora criar novas contas-correntes baseadas nessas reservas e, à medida que esse dinheiro recém-criado vai vazando para outros bancos (como aconteceu com o Banco Rothbard), cada um desses outros bancos, através do mesmo processo, pode montar seu próprio esquema inflacionário, até que o sistema bancário como um todo tenha aumentado seus depósitos à vista em $100.000.000, dez vezes a compra original de ativos feita pelo BC [nesse exemplo, a taxa de compulsório foi de 10%. No Brasil, como uma taxa de 28%, o valor final seria de aproximadamente $35.700.000]"…………………..
Fabio_Passos
Já passou da hora de tascar taxa pesada no capital vagabundo.
Como a Dilma espera transformar o Brasil em um país desenvolvido e justo se permanece submissa aos interesses das oligarquias financeiras?
Avelino
Não houve deregulação, o que aconteceu foi uma imposição do capital ficticio contra o capital industrial, como foi do capital industrial contra o feudalismo.
O_Brasileiro
Os empresários não querem a alta dos juros, mas estão entre os que mais contribuem para a inflação aumentando os preços!
LuisCPPrudente
Por que o Governo Lula não conseguiu se afastar dos interesses dos banqueiros bandidos e destinou boa parte do dinheiro público para alimentar esses bandidos e sanguessugas dos banqueiros? Pelo jeito o mesmo vemn ocorrendo com o Governo Dilma!
Qual é a maldição que esses banqueiros bandidos e sanguessugas do erário nacional tem que colocam medo em governos populares e sociais e fazem esses governos destinarem vultosos recursos públicos aos bandidos e mafiosos banqueiros do Sistema Financeiro?
Palocci, está a serviço de quem afinal?
FrancoAtirador
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A quarentena ( http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMos…
e a proposta da ATTAC ( http://www.resenha.com.br/temas/alternativas/9712… )
são duas medidas economicamente eficazes e socialmente justas.
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Marcia Costa
Sader tem razão: até quando vamos nos submeter a essa especulação? O volume de capital especulativo que tem entrado no país deve ser de assustar. Gostaria que o BACEN DIVULGASSE ESSES VALORES DE FORMA MAIS TRANSPARENTE. Faço essa inferência por uma questão lógica: nenhum capitalista gosta de risco. A região do Oriente Médio está em crise política e, muito provalvelmente, os capitais lá investidos devem estar migrando para outros países como o Brasil. Nos meus acadêmicos conhecimentos de econômia aprendi que qualquer aumento na base monetária sem contra partida no aumento da produção, gera aumento de preços. Com a palavra, os leitores economistas.
Roberto Locatelli
Para efetivar essas mudanças necessárias, é preciso uma forte organização da sociedade civil, para pressionar o Governo a deixar de ser refém dos banqueiros.
Obama também é refém dos banqueiros. Ele está permitindo que eles ajam EXATAMENTE como agiram antes da crise. Um novo crash é inevitável, segundo respeitados economistas de lá.
Sebastião Medeiros
Obama não é refém dos banqueiros.Ele é apenas uma maquiagem no imperialismo estadunidense dominado pela oligarquia das altas finanças que governam os EEUU PELO MENOS DESDE O PRESIDENTE WILSON(1913-1921)que criou o FED(O Banco central dos EEUU QUE É INDEPENDENTE DO GOVERNO DAQUELE PAÍS PARA ALEGRIA DOS BANQUEIROS) se não me engano.De qualquer forma se queremos ter um BRASIL forte economicamente, justo socialmente e Independente politicamente em relações as grandes potências internacionais,é necessário baixar os juros,ou seja tirar o Banco Central Brasileiro das garrras dos banqueiros e instituir UMA TAXA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO DO GRANDE CAPITAL nacional e internacional.
Patricia
"Reféns" é ótima.
Assim não precisamos blasfemar contra o governo que elegemos.
Uhuuuuuuuuuu !!!
Pedro Luiz Paredes
Só há duas alternativas para mudar o curso disso rápido.
A) Calote mundial.
B) Assalto ao ouro dos judeus guardado no vaticano.
O resto é blá blá blá
ZePovinho
Digite o texto aqui![youtube xBORqD7Saa0 http://www.youtube.com/watch?v=xBORqD7Saa0 youtube]
ZePovinho
O único momento em que Jesus usou de violência foi justamente contra eles: os cambistas que estavam especulando com as diferenças cambiais entre o shekel(a moeda dos judeus da época,usada exclusivamente para pagar os impostos do Templo) e as moedas que os judeus traziam de todo o mundo conhecido na época.O Sinédrio ficava com uma parte dos juros(o perfume do capital,segundo o banqueiro e amante da Ve…Fis… ,Magalhães Pinto) e acumulava,na época,cerca de 300 milhões de dólares(documentário "The Money Masters") em dinheiro de hoje:
[youtube 1u3pV4skUSE http://www.youtube.com/watch?v=1u3pV4skUSE youtube]
francisco p. neto
Que coisa feia ZePovinho!!!
… e amante da Ver… Fis… Magalhães Pinto.
O véião tinha bom gosto, além da grana.
ZePovinho
Tu já sabe quem é,Francisco!!!!!Ouvi isso da boca de um ex-SNI na Ilha do Governador.Ela é quem tinha um gosto execrável,mas subiu na vida,né???
francisco p. neto
ZePovinho
Vou te responder como o Mino Carta.
Até o reino mineral sabe.
Uma ex-miss Brasil e atriz da Globo.
ZePovinho
Francisco:
Tu conhece a história do filho do Costa e Silva,Castor de Andrade e Rademaker?Ela resultou,dizem,na "trombose" do Costa e Silva.Algum jornalista podia pesquisar essa história.
assalariado.
Zepovinho,cala-te boca,rsrsrs,…
Saindo dos entretantos e indo aos finalmente,na biblia tem uma passagem que Jesus cristo,chegando no (templo) sinagoga, diz aos comerciantes :
–Saiam da casa de meu pai,aqui não é lugar de comercio:em seguida saiu dando chibatadas nos mercenários do deus dinheiro.(na biblia:João capitulo 2; versos 13,14,15 e 16).Se eu não estiver equivocado,esta é a parte da bilblia a que voce se refere.Qualquer semelhança com os dias de hoje,não é mera coincidencia. Abraços Fraternos.
ZePovinho
Admiro você,Assalariado!!
Rasec
Excelente artigo!
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