Costas Lapavitsas: Grécia no euro será empobrecida, envelhecida e colonizada

Tempo de leitura: 4 min

É do interesse da Grécia deixar o euro

por Costas Lapavitsas, em 23 de maio de 2012, no Financial Times

A política grega está se dividindo em dois campos para disputar a próxima eleição, um liderado pelo direitista Nova Democracia, o outro pelo esquerdista Syriza. Ambos insistem que a Grécia deve continuar na zona do euro, mas o Nova Democracia aceita o plano europeu de resgate que o Syriza rejeita. Ainda assim, a dura realidade está se impondo. Se a Grécia continuar na zona do euro, vai morrer uma morte lenta. Se sair, vai enfrentar uma crise, mas terá a oportunidade de se recuperar e de remodelar a sociedade.

A crise da zona do euro tem pouco a ver com a incompetência fiscal na Grécia ou em outro lugar. Sua verdadeira causa é a perda cumulativa de competitividade nos países periféricos, com o custo da unidade de trabalho subindo relativamente aos países do coração do euro. Grandes déficits resultaram na periferia, espelhados em grandes superávits no centro. A dívida se acumulou quando os déficits foram financiados por empréstimos no exterior e os bancos domésticos expandiram o crédito internamente. Existe um fio ininterrupto ligando a vasta dívida da periferia ao custo da unidade de trabalho, congelado na Alemanha.

A austeridade e reformas estruturais tinham como alvo resolver o problema, esmagando os salários para reduzir os custos da unidade de trabalho na periferia. Mesmo desconsiderando as consequências sociais, não dará resultado enquanto o custo da unidade de trabalho na Alemanha continuar como está. Os países periféricos teriam de diminuir salários indefinidamente para tentar se aproximar do grau de competitividade da Alemanha. A consequência mais provável seria distúrbio social e o eventual colapso da zona do euro.

Nem mesmo transferências fiscais seriam uma solução verdadeira, ainda que desejável a curto prazo. Elas aliviariam as pressões agudas dos déficits da periferia, mas não suas causas subjacentes. Na verdade, transferências poderiam piorar as coisas ao incentivar uma cultura de dependência, tornando nações inteiras distritos de países superavitários.

Uma solução verdadeira envolveria, primeiro, o aumento sustentável da produtividade em países periférios e, em segundo lugar, aumentos significativos de salários para os trabalhadores alemães. Mas isso exigiria uma Plano Marshall para a Europa e uma grande mudança no equilíbrio de poder interno da Alemanha. Vamos dizer educadamente que as chances disso acontecer são poucas.

Se a Grécia perseverar com as atuais políticas dentro da zona do euro, sua economia vai encolher e estagnar. O país vai se tornar um canto empobrecido, envelhecido e profundamente desigual da Europa, uma neocolonia em tudo, menos no nome.

A sociedade grega não vai aceitar este destino e provavelmente vai forçar uma moratória da dívida pública, em primeiro lugar. Não há outra forma de tornar a dívida gerenciável dentro de um futuro previsível. Os planos de resgate pioraram as coisas: a dívida grega aumentou, sua composição foi alterada de privada para oficial e a lei que governa a dívida deixou de ser a grega para se tornar a britânica. A moratória se tornou  muito mais difícil mas, ao fim e ao cabo, a Grécia terá pouca escolha.

A moratória deverá ser acompanhada pela saída da zona do euro, livrando a Grécia da armadilha da união monetária. A saída vai inevitavelmente causar uma tempestade, que será maior por causa das políticas tolas adotadas nos dois últimos anos. A austeridade aleijou a economia. A saída do euro restauraria a competitividade, permitindo a produtores gregos a recaptura do mercado doméstico, assim como o aumento das exportações. A restauração da competitividade reduziria a taxa de desemprego, depois do choque inicial. Acima de tudo, a saída permitiria o fim da austeridade, dando à Grécia espaço para reestruturar sua economia.

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O custo será severo, embora não se aproxime das estimativas grosseiras feitas pelos departamentos de pesquisa dos bancos. Haveria circulação paralela do novo drachma, do euro e talvez de outras formas de dinheiro; uma onda de litígios legais teria início depois da redenominação dos contratos; o balanço dos bancos se tornaria insuportável, com bens e obrigações denominados em euro sujeitos à jurisdição não-grega; haverá falta de petróleo, remédios e de alguns alimentos importados; e as falências de empresas aumentariam.

Nenhum destes custos transitórios justifica a morte lenta de uma permanência na zona do euro. Enfrentá-los envolveria forte intervenção estatal, incluindo a nacionalização dos bancos, controles de capital e uma série de medidas administrativas para enfrentar o desabastecimento de curto prazo. A Grécia poderia começar então o lento processo de recuperação. O país tem uma força de trabalho altamente treinada, coesa e hábil e várias vantagens naturais. A perspectiva de crescimento é forte, desde que o poder seja retirado das classes corruptas e venais que tem governado o país por décadas.

Qual será o gatilho da moratória e da saída do euro é impossível predizer, mas talvez seja uma corrida aos bancos em meio a tensões políticas. Uma vez que a Grécia tome este caminho, será uma questão de tempo até que outros países periféricos façam o mesmo. A Alemanha teria, então, de enfrentar as consequências desastrosas da união monetária, criada de maneira inadequada e governada pior ainda. Este é, naturalmente, um problema que não cabe ao povo grego resolver.

*Costas Lapavitsas é professor de economia na SOAS [Escola de estudos africanos e orientais da Universidade de Londres]. Seu livro mais recente se chama “Crise na zona do euro”

Você leu aqui, antes mesmo que a Folha/Globo/Veja/Estadão pensassem no assunto:

Em 18.08.2011: Nouriel Roubini: Danou-se, então, o capitalismo?

Em 12.09.2011: O castelo de cartas está desabando

Em 24.09.2011: Grécia, divórcio doloroso mas necessário

Em 25.09.2011: Islândia, o país que disse não aos banqueiros

Em 15.02.2012: Mike Whitney leu a sentença de morte da Grécia

Em 13.05.2012: Mike Weisbrot: Saída à Argentina

 

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Comentários

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Jair de Souza: Catastroika legendado em português « Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Costas Lapavitsas: Grécia no euro será empobrecida, envelhecida e colonizada […]

Julio Silveira

A questão de fundo é saber se todos querem ser alemães. Por que de fato o que está ocorrendo é o dominio alemão na Europa sem dar um unico tiro. façanha que foi tentada com base em guerras e não foi alcançado sucesso. Acho que quando os demais europeus verificarem que perderam sua identidade, terão apenas duas saidas ou assumem de bom grado a nova nacionalidade alemã, ou sob uma traumatica saida debaixo desse guarda chuvas, sob muita crise economica, recomecem a construir suas nações evidentemente de baixo, como numa restauração de identidades e soberanias.

Jose Borges

A Grecia terá que escolher entre um cancer (EURO) ou um infarto (saida do EURO),mas pelo menos no infarto há possibilidade de uma ponte de safena.

Sérgio Ruiz

O que estão fazendo com a Grécia ?
Que a mesma consiga reagir e sair dessa arapuca.

acmsouza

Se os depoentes não quiserem falar, problema deles. O importante é que os membros
Da CPI façam sim, muitas e muitas perguntas, e no vácuo da não resposta, façam comentários, os mais rígidos e danosos possíveis aos depoentes. Que façam os membros, um mundo de considerações sobre as provas concretas que tem, principalmente explorando ao Maximo as gravações conhecidas, em que os depoentes estão cabalmente ligados.
O importante não é ter respostas, estas já às temos nos processos, o importante é demonstrá-las com clareza.

    Vlad

    Ihhh…postou no lugar errado.
    Vai levar bronca do chefe.

velhinha de taubaté

Uma coisa nessa história me intriga…o padrão médio de vida na Alemanha é ótimo, a renda per capita é enorme e se fala em “aumentos significativos de salários para os trabalhadores alemães”…afinal, eles ganham suficientemente menos que os demais trabalhadores da zona do Euro para justificar tal desequilíbrio?

Outra coisa…cada vez que se fala dessa crise e das ações da Alemanha, não resisto a achar que existe um certo sentimento de vingança pelas duas guerras perdidas no saudoso século 20…será?

    Junior Almeida

    A questão Alemã são os empregos de meio periodo.

Mardones Ferreira

Pois é. Se depender das análises dos executivos dos bancos, a Grécia sangra até a morte. Mas, a Grécia tem o exemplo argentino para seguir. A união monetária foi um fiasco para os países periféricos da europa, com obem explicado pelo artigo acima.
A pressão para a Grécia e outrso países em crise continuarem seguindo o receituário de austeridade ditado pelos executivos do FMI e Banco Mundial, via BCE é mais uma daquelas tentativas de impor o pensamento único que já vigorou por aqui e deixou rastro de desemprego e crescimento pífio.
A saída da Grécia da Zona do euro, como demosntrada pelo artigo, vai ter um custo alto, mas é o caminho a ser seguido em nome de sua própria soberania. Só resta o povo grego pensar da mesma forma.

Marinho

Não seria “Gúgol”?

Marinho

O que é este tal de “Feicibuqui”?

Romanelli

A zona do EURO nasceu precocemente, faltava-lhe parâmetros, aferição e medidas de correção ..digamos que eles começaram no entusiasmo de um continente condenado, começaram pelos finalmente e se esqueceram dos inicialmente e dos patrasmente

Verdade é que isoladamente a GRÉCIA, sobre o manto do EURO, ela abusou de suas contas que vivem em eterno desequilíbrio ..e se continuar a fazer isso, dentro ou fora da zona do EURO, com Dracma ou Peloponeso (talvez Najara Tureta) ela quebra do mesmo jeito

Não se pode gastar o que não se tem ..a alavancagem (endividamento) pra uma economia ou Estado é justa e necessária, mas aqui se tem que levar em conta a capacidade futura de pagamento das amortizações também

Todo mundo adora aferir benefícios, mas antes é preciso poupar, contribuir (veja por exemplo aqui se todo brasileiro recebesse como o pessoal do JUDICIÁRIO, veja a encrenca que iríamos nos meter)

Verdade tb é que pra um país que tem uma população MENOR que a cidade de SP (11 mm sendo 4 mm de ativos), e que tem no turismo (15% do PIB), industria concorrente da china (metalúrgica e téxtil por ex),vinho, azeitona e azeite algumas das suas principais fontes de renda..

..convenhamos, acho que ela ainda é uma nação que sozinha ou acompanhada esta sujeita a muito desequilíbrio até se viabilizar econômica e financeiramente, especialmente carregando um déficit comercial crônico como soube até ontem fazê-lo tão bem.

    abolicionista

    A tese de que a Grécia gastou o que não tinha é falaciosa. O que endividou a Grécia foi a necessidade de concorrer com o parque industrial alemão. Endividou a Grécia e enriqueceu os alemães, que se beneficiaram enormemente dos superávits acumulados durante todos esses anos. Se pudesse mexer no câmbio, a Grécia poderia tornar sua produção mais atrativa.

Scan

Gostaria de lembrar que a Grécia tem uma fronteira de 400 km com a Bulgária.
Considerando:
-que o salário mínimo na Bulgária é de 120 euros contra 750 euros na Grécia (queda recente de 22%)
-que os impostos na Bulgária são de 10% (flat rate) para empresas e particulares contra 20% para empresas na Grécia (eram 24% até recentemente).
-que os paraísos fiscais da zona do euro estão ali, a menos de 1500 km (Suíça, Mônaco e Liechtenstein).

pergunto:

Que interesse, além de um profundo nacionalismo, um empresário grego teria de permanecer com seus negócios na Grécia, estando esta dentro ou fora da zona do euro?

Em tempo: Lapavitsas, apesar de marxista, me decepciona: somente agora, depois que ruiu, resolve escrever um livro sobre a crise da zona do Euro? Onde é que ele estava antes?

Paciente

Escravidão mental gera escravidão total. Se pensasse com a própria cabeça, se acreditasse em seus próprios economistas, se os seus economistas estivessem mais preocupados com o bem da Grécia e do povo grego do que em se alinhar com os manuais de economia ingleses, franceses ou, pior, alemães, enfim, se não caísse nessa conversa fiada de globalização, de pós-moderno e, principalmente, de que as nações “deixaram de ter importância”, a Grécia não tinha entrado nessa esparela.

O culpado? O “pós-moderno”, meu querido. Que não existe, mas atrapalha a visão da real realidade: “Farinha pouca, meu pirão primeiro!”

    Vlad

    E se não se endividasse como se não houvesse amanhã, também.

Lucy

http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-3/artigo/juiz-de-nova-york-revela-que-fuma-maconha-para-aliviar-cancer-terminal/

‘ Juiz de Nova York revela que fuma maconha para aliviar câncer terminal

(…)

“Disseram que eu morreria em, no máximo, seis meses”, recorda.
Ainda vivo, o magistrado faz parte do raro leque de pessoas que conseguem sobreviver tanto tempo com a doença e causou surpresa ao afirmar, na quarta-feira, em um dos jornais mais importantes do mundo, que a maconha tem uma importante participação na sua superação.

Em artigo publicado no The New York Times intitulado ‘O apelo de um juiz pelo baseado’ (tradução livre de ‘A judge’s plea for pot’), Reichbach escreveu: “Eu não previa que depois de ter me dedicado às leis durante 40 anos da minha vida, inclusive mais de duas décadas para o estado de Nova York, minha batalha pela cura e cuidados paliativos me conduzissem à maconha”. (…) ‘

Cláudio

“Quando o óbvio ganha as páginas do Financial Times…”

O PiG de cá será (in)diferente do(ao) “Financial Times”? Pra dizer que joga em outro($) time($)?… $$er(r)á?…

“Se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” – Malcolm X (1925-1965).

“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma.” – Joseph Pulitzer (1847-1911).

Ley de Medios, já ! ! ! Comissão da Verdade, já ! ! !

Gustavo Pamplona

Globo agora vive “cortejando” o Facebook…

http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2012/05/mark-zuckerberg-se-casou-em-regime-de-comunhao-parcial-de-bens.html

Primeiro foram as notícias do lançamento das ações do Feicebuqui e agora o casamento do Mr. “Montanha de Açúcar” (Zuckerberg em alemão) acima.

Bom… até um bom tempo atrás cortejaram o Google… isto porque no fundo como sempre querem controlar a informação… mas acho que falharam em cortejar o Google já que o mesmo não se dispôs a remover os resultados de pesquisa sobre as fotos da Carolina Dieckmann nua na Internet

Detalhe: E até parece que existe apenas um buscador na Internet, ai, ai, ai…

E que deve ser outra história tão fictícia quanto a do abuso da Xuxa, já que no fundo estão como sempre desviando a atenção de assuntos realmente relevantes até porque estão metidos na lama (como sempre…)

—-
Desde Jun/2007 cortejando Feicebuqui’s no “Vi o Mundo”! ;-)

jõao

Catastroika, documentário devastador sobre as privatizações massivas no mundo
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Qam7h1jMIwI#!
http://profdiafonso.blogspot.com.br/

Jotage

A Grécia caiu no conto do vigário e só tem duas opções:
1 – Decretar o calote e sobreviver a pão e água por muito tempo.
2 – Morrer de inanição.

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