Bernardo de Mello Franco: O verdadeiro chefe do Queiroz era o Jair
Tempo de leitura: 2 minO chefe de Queiroz era Jair
por Bernardo de Mello Franco, em seu blog no Globo
Em 2016, Donald Trump disse que nem um flagrante de homicídio abalaria a fidelidade de seus eleitores. “Eu poderia atirar em alguém no meio da Quinta Avenida e não perderia nenhum voto, ok? É incrível!”, gabou-se.
Ao que tudo indica, Jair Bolsonaro acredita dispor dos mesmos superpoderes.
Só isso pode explicar o fato de o presidente ter se referido às investigações conduzidas pelo Ministério Público do Rio como “pequenos problemas”.
O presidente disse ontem que não tem “nada a ver” com o vaivém de dinheiro no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. É uma versão capenga, porque as principais decisões tomadas ali passavam pelo chefe do clã.
Jair é um velho parceiro de Fabrício Queiroz, apontado como operador da rachadinha do Zero Um.
Quando os dois ficaram amigos, Flávio tinha apenas 3 anos. O ex-PM estava lotado no gabinete do filho, mas seu verdadeiro chefe era o pai.
“Conheço o senhor Queiroz desde 1984. Nós somos paraquedistas. Nasceu ali, e continua, uma amizade”, disse Bolsonaro quando o escândalo veio à tona.
Em maio, ele contou que o amigo lhe pediu ajuda quando enfrentava “problemas” na polícia. “Aí ele começou a trabalhar conosco”, relatou, usando a primeira pessoa do plural.
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Queiroz depositou R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O presidente atribuiu os repasses a um empréstimo informal. Nunca explicou por que o ex-PM precisaria de sua ajuda financeira — de acordo com o Coaf, ele movimentou R$ 7 milhões em três anos.
O amigo de Bolsonaro recebeu ao menos R$ 203 mil da mãe e da mulher do miliciano Adriano da Nóbrega, hoje foragido da polícia.
As duas estavam penduradas no gabinete do Zero Um, que condecorou o ex-capitão do Bope quando ele estava preso por homicídio. O dinheiro passou por contas de Adriano antes de ser devolvido a Queiroz.
O presidente nunca disfarçou sua simpatia pelas milícias.
Essas organizações operam no submundo policial e movimentam grandes quantidades de dinheiro vivo. As investigações da rachadinha também lidam com transações em espécie.
A cada passo do Ministério Público, ficará mais difícil para Bolsonaro dizer que não tem nada com a história
Comentários
Zé Maria
https://pbs.twimg.com/media/EMR7XO4XsAACA1v.jpg
https://twitter.com/luisnassif/status/1207990679114276864
Xadrez do Cerco Final ao Esquema Bolsonaro
Por Luis Nassif, no GGN: https://t.co/fEyn2laCPn
[…]
Ontem à tarde, o Ministério Público Federal do
Distrito Federal, a pedido do Ministro Sérgio Moro, divulgou uma denúncia contra o presidente da
Ordem dos Advogados do Brasil Felipe Santa Cruz.
Moro havia entrado há tempos com a representação.
A divulgação foi ontem, horas depois de uma nota
em ‘O Globo’, na qual [o Presidente da OAB] Felipe [Santa Cruz]
havia pedido abertura do sigilo de Jair e seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo.
— As acusações são muito graves, mas devemos garantir
aos Bolsonaro a presunção de inocência.
Agora seria a hora do presidente e seus filhos abrirem
seus sigilos e dos gabinetes da família provando que são
inocentes.
É hora de o presidente Bolsonaro abrir o sigilo e provar
que não deve nada.
É o momento do presidente desmonstrar que a prática
não era sistêmica nos gabinetes da família.
Santa Cruz vai mais longe.
Acha que deveriam ser abertos também os sigilos dos
parentes de Bolsonaro que moram no Vale da Ribeira,
em São Paulo.
Completa Santa Cruz:
— Tem que abrir inclusive do núcleo do Vale do Ribeira
que explora atividades comerciais.
Só assim Bolsonaro pode acalmar o país.
À mulher de Cesar não lhe basta ser séria, tem que parecer séria.
Basta que o presidente apresente ao ministro Sérgio Moro
e ao MP a documentação necessária para auditoria.
Ali, pegou no nervo exposto e chega-se a um dos pontos enigmáticos do tema:
o aumento exponencial dos gastos do cartão corporativo da presidência.
https://jornalggn.com.br/sites/default/files/2019/12/xadrez-do-cerco-ao-esquema-bolsonaro-por-luis-nassif-bozo02.jpg
Até novembro, a Presidência gastou R$ 14,5 milhões com cartões corporativos.
Em novembro, o STF ordenou que se abrisse o sigilo do cartão.
O Palácio [do Planalto] simplesmente decidiu ignorar
a decisão do STF.
Recorreu à Lei de Acesso à Informação [LAI] para fundamentar
o grau de sigilo aplicado às despesas.
Alega que “as informações passíveis de pôr em risco
a segurança do presidente, do vice-presidente e dos
respectivos cônjuges e filhos serão carimbadas como
reservadas, ficando sob sigilo até o término do mandato
em exercício ou do último mandato, em caso de reeleição”.
Que despesas poderiam colocar em risco a família do presidente?
Ouvida na ocasião, a secretária executiva do Fórum
de Direito de Acesso a Informações Públicas, Marina Atoji,
sustentou que o trecho da LAI citado pelo Planalto para
manter os gastos com cartão corporativo em segredo
não justifica essa decisão.
“Simplesmente porque as informações que eles classificaram
sob essa justificativa não colocam em risco a segurança
do presidente.
Elas só são divulgadas depois que a compra foi feita.
Ou seja, se alguém quisesse usá-las para atentar contra
a vida dele (Bolsonaro), por exemplo, precisaria ter
uma máquina do tempo (…)
No máximo, uma ou outra despesa recorrente,
a ponto de revelar brechas de segurança, trajetos ou
outra coisa que comprometa a segurança dele,
poderia ser enquadrada nesta lei. Mas todas serem
dessa natureza, é impossível.
Ou o cartão está sendo usado de forma indiscriminada”.
Seria muito, mesmo para uma família sem senso algum
como os Bolsonaro, imaginar o uso do cartão corporativo
para bancar amigos colocados ao relento, mesmo sabendo-se
do desespero do grupo com a desestruturação financeira.
Mas é evidente que o cerco se fechou sobre os Bolsonaro.
Desse enorme novelo sairão os fios capazes de se chegar
ao mistério maior, da morte de Marielle.
Todos os personagens envolvidos no caso Marielle tem
relação direta ou indireta com o esquema Flávio Bolsonaro.
Daí, a convicção da Polícia Civil sobre o envolvimento dos
Bolsonaro com a morte de Marielle.
(Publicado em 20/12/2019)
https://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-do-cerco-ao-esquema-bolsonaro-por-luis-nassif/
Zé Maria
“Só eu acho MUITO estranho que, tanto o PM Queiroz (aquele de R 1,2 milhão) quanto a filha dele, Nat,
que ganhava R$ 10 mil/mês sem trabalhar, tenham
se exonerado dos gabinetes de Flávio e Jair Bolsonaro
no mesmo dia?
Ele era lotado na Alerj, ela na Câmara Federal” …
https://twitter.com/BohnGass/status/1074375291122933765
O próprio Flavio Bolsonaro foi funcionário Fantasma
da Câmara, em Brasília, quando o Jair era Deputado.
.
.
“Flávio Bolsonaro ocupou um cargo na Câmara, em Brasília,
enquanto fazia faculdade e estágio, no Rio de Janeiro”
Entre 2000 e 2002, Flávio Bolsonaro, então com 19 anos,
acumulou três ocupações em duas cidades diferentes:
faculdade presencial diária de Direito e estágio voluntário
duas vezes por semana no Rio de Janeiro, e um cargo de
40 horas semanais na Câmara dos Deputados, em Brasília.
O posto de assistente técnico de gabinete foi ocupado
por Flávio na liderança do PPB, partido pelo qual
Jair Bolsonaro havia sido eleito para seu terceiro mandato
na Câmara.
Esse mesmo posto comissionado foi ocupado antes
por outro membro da família de Jair Bolsonaro: a então
mulher dele, Ana Cristina Siqueira Valle, deixou o cargo
uma semana antes de ser substituída por Flávio.
Ocupadas ao mesmo tempo por quase um ano, todas
essas atividades exigiam a presença física do primogênito
do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e hoje senador eleito
pelo PSL-RJ, segundo as instituições ouvidas pela BBC News Brasil.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46828487
Roberto
Sim, ele é o chefe da quadrilha, ele é o mandante.
Mas se as direções da esquerda não mobilizarem o povo, nada acontecerá, o caso pode inclusive ser abafado.
Zé Maria
https://twitter.com/i/status/1207764771426230273
O mito, além de imbecil e covarde, é mau-caráter.
“Não tenho nada a ver com isso”,
diz Jair Bolsonaro sobre suspeitas contra filho Flávio B.
https://twitter.com/DeputadoFederal/status/1207764771426230273
Bolsonaro jogou uma “pica do tamanho de um cometa” no colo do filho Flávio
Por Leonardo Sakamoto, no UOL
https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2019/12/19/bolsonaro-jogou-uma-pica-do-tamanho-de-um-cometa-no-colo-do-filho-flavio.amp.htm
Zé Maria
Donald Trump e Jair Bolsonaro são Políticos Animais
disfarçados de Animais Políticos, pois sequer isto são.
Aliás, daria para lhes aplicar a ‘moral’ desta historinha:
Às Voltas com a Ética, no Blog “Origem da Palavra”
[Uma Noite de Trabalho de X-8, o Detetive Etimológico]
Tudo pronto para mais uma noite de trabalho no escritório etimológico-detetivesco de X-8. O Defensor da Palavras, o Guardião das Origens, o Paladino das Sílabas, o Senhor das Letras, está a postos.
Todos esses títulos ele tinha recebido ao longo de sua carreira. É bem verdade que eles tinham sido dados por si mesmo, mas só quando ele achava que merecia. Sua extrema honestidade não lhe permitiria nada diferente.
Com títulos ou sem, ele estava alerta para o início das consultas da noite. Enfurnado em sua grande capa de gabardine, rosto oculto pela aba do chapéu, em seu escritório Anos 50, ele olhava pelo vidro empoeirado da janela para o bairro escuro e abandonado lá fora.
O movimento era normal: umas poucas pessoas e palavras apressadas, lixo sendo levado para cá e para lá pelo vento sobre as calçadas. Ratos e baratas faziam seus passeios, tão confiantes na sua impunidade como se fossem deputados.
De repente, uma visão insólita naquela área: uma silenciosa limusine que parecia não acabar mais de tão comprida deslizou sobre o calçamento irregular. Preta, brilhante, limpíssima, polidíssima, estava totalmente deslocada naquelas ruas.
O detetive olha o inverossímil veículo e vê que ele para em frente ao Edifício Éden, onde fica o seu escritório. Abre-se a porta do condutor, que se dirige a uma das outras portas, de onde descem três figuras.
O motorista aponta para o terceiro andar. Agora não cabem dúvidas: é uma consulta de alto nível para X-8!
Ele tem reflexos rápidos. Num instante passa para a sala menor, ao lado do local de atendimento. É ali que ele guarda o material que não pode ser visto pelos clientes: um excelente computador, frigobar com refrigerantes, canetas boas, papel de luxo para rascunho, etc.
Ele abre um documento no computador, que estava ligado, bate algumas palavras apressadamente no teclado, aperta “enter” e aguarda que a impressora emita um folheto colorido. Ele se apressa a dobrá-lo enquanto volta para o escritório propriamente dito.
Está colocando aquele folheto sobre a pilha que está em sua escrivaninha quando ouve bater à porta e manda entrar, já sentado atrás da grande escrivaninha.
Entram três palavras.
A que está à frente se veste de maneira luxuosa:
tailleur Chanel, jóias Tiffany refulgentes nos dedos,
pescoço, orelhas, uma bolsa Louis Vuitton exclusivíssima
(daquelas que são feitas apenas três por ano, duas das quais
são destruídas imediatamente), sapatos Dior.
Mas o rosto, ah, o rosto daquela palavra que ressuma dinheiro por todos os poros! Ele se apresenta emaciado, sulcado por maus tratos, amargo.
O silicone, o botox, o fio de ouro, os cremes de antena esquerda de cochonilha-da-Pérsia, todo o arsenal dito embelezador da moderna técnica, não conseguem apagar dos olhos daquela criatura a tristeza, a angústia, os traumas por que ela vem passando.
Estes pensamentos cruzam, velozes, pelo cérebro especializado de X-8, ao mesmo tempo em que ele vê de que palavra se trata: ÉTICA.
Ela anda, com passo pesado e lento, e desaba na cadeira em frente ao detetive. Nas cadeiras ao lado se acomodam as outras duas. Como elas andam de braços dados, nota-se que elas compõem uma expressão – ou seja, juntas adquirem um significado que ultrapassa o sentido de cada uma sozinha.
A expressão é ANIMAL POLÍTICO. As palavras que a compõem estão nédias, reluzentes, seguras de si. Obviamente o mundo é um lugar que lhes agrada. Estão também vestidas com roupas caras, mas se vê que não as portam com a elegância bem baseada de Ética.
Sendo uma expressão bastante bem estabelecida no uso oral e escrito, elas falam em conjunto, sem errar uma palavra. Dá para notar até que as freqüências das vozes estão combinadas, de modo a produzir um som mais agradável.
– Senhor detetive, somos palavras à procura de origens. A Ética, nossa amiga aqui, estava há muito querendo consultá-lo, mas como ela vive sendo chamada à Capital do nosso País, pouco tempo lhe sobra.
Agora que ela conseguiu vir aqui, nós aproveitamos a carona no seu jatinho particular e na limusine. Ela mantém limusines em várias cidades, com o respectivo pessoal para manutenção, limpeza, motoristas, etc., já que não pode perder tempo.
Nossa amiga não anda muito bem. Vive triste, abatida… Talvez seja o excesso de trabalho, sabe como é. Nós também trabalhamos bastante, não dá para se queixar do dinheirinho que a gente ganha, mas não chegamos a ser tão exigidos como ela.
O detetive empurrou para as clientes o folheto – em Português comum, “folder” – com a sua tabela de honorários.
Animal Político a passou para Ética, que fez um gesto desdenhoso com a mão, significando “Não estou nem aí para preços!”.
As duas palavras da expressão deram uma olhada naqueles valores altíssimos.
O detetive se inclinou para apontar uma frase no fim da folha, justamente a que ele tinha imprimido com tanta pressa: “Para clientes chegados em limusine, acréscimo obrigatório de 300% sobre o total, para cobrir impostos de importação”.
Se alguém perguntasse ‘impostos de importação de quê’, ele responderia, indignado, “Da limusine, ora!”, em tal tom de voz que ninguém se atreveria a seguir discutindo.
Mas aqui o dinheiro não era problema. As clientes não se abalaram com aquele verdadeiro roubo. Pagaram com o dinheiro que tinham trazido numa maleta preta de couro finíssimo. Ainda sobrou bastante lá dentro.
X-8 pretendia seguir o hábito de mandar as clientes voltarem noutro dia para lhes apresentar um documento contando sobre as suas origens.
Mas viu a dor e o sofrimento nos olhos de Ética, bem como a faceirice de Animal Político e seu coração de pedra fraquejou por um lado e se indignou pelo outro.
Ele não era chegado em falar; preferia manifestar-se por escrito. Mas dessa vez resolveu dizer o que lhe vinha à mente:
– Dona Ética, a sua origem é a expressão grega ethike philosophia, “filosofia moral”, de ethos, “caráter moral”, que originalmente tinha o sentido de “costume”. São os nossos costumes, nossas ações, que mostram o que nós somos, não o que dizemos – os advogados que me perdoem.
Sua antepassada ficou muito conhecida através de um trabalho de Aristóteles, Ta Ethika, “Sobre a Ética”. Desde o século 17, a senhora é usada para designar “princípios morais de uma pessoa ou grupo”.
O detetive viu que as suas explicações não ajudariam a pobre palavra rica. Ficou desolado ao ver que ela estava ganhando fortunas por andar nas bocas de numerosas pessoas que a citavam falsamente, que a ostentavam para defender seus imundos interesses, para ocultar as falcatruas que minavam o bem-estar de tanta gente honesta.
Ele sabia que, para uma palavra, ser muito usada num contexto falso era o equivalente a um câncer para um ser humano. Ela ia ficando enfraquecida, triste, perdia as suas funções e o seu poder comunicativo, deixando de ocupar o lugar que lhe fora destinado pela evolução das palavras.
Até que um dia ela se veria rolando pelas sarjetas do idioma, desprovida de valor, abraçada a uma garrafa de vodca barata, cantando músicas obscenas num canto qualquer do vernáculo.
Além de se condoer da pobre palavra, ele se indignou com o auto-contentamento de Animal Político.
– E quanto a vocês, vou dizer uma coisa extremamente chocante. Vocês não passam de uma falsificação.
Ambas as palavras se mostraram horrorizadas e indignadas. Responderam em coro:
– Mas que absurdo é esse? Respeite-nos! Nós somos palavras chamadas sempre que alguém diz que não quer saber de política ou se mostra decepcionado com ela. Houve um filósofo grego que disse que “o homem é um Animal Político“, ou seja, que o trato com a
política está em seus gens, de modo que todos têm que aceitar isso.
Nós somos a expressão que obriga todos a ver que não se pode viver sem política. Nossa função é das mais nobres! Dê uma olhada nas conversas por aí e veja como somos necessários!
– É? Já lhes vou mostrar uma coisa, mas antes de mais nada vou falar sobre cada parte da expressão.
Animal vem do Latim animalis, “ser vivo, ente que respira”, de anima, “respiração, alma”, do Indo-Europeu ane-, “soprar, respirar”. Uma palavra relacionada é ânimo, que está fazendo tanta falta para a amiga de vocês ali.
E Político vem do Grego politikos, “relativo ao cidadão ou ao Estado”, de polites, “cidadão”, derivado de polis, “cidade”. Esta palavra veio do Indo-Europeu polh-, “espaço fechado, em geral em local elevado”, o que descreve o núcleo inicial de muitas cidades nas civilizações antigas.
A palavra polícia é uma parente, que vem de politia, “administração civil”, passando depois para “administração da ordem pública numa cidade”.
– Muito bem, e a expressão que formamos?
– Veio de uma interpretação tendenciosa daquele a quem citamos há pouco, o filósofo grego Aristóteles. Um dos livros que ele escreveu se chamava Ta Politika, “Sobre a Administração das Cidades”. Ali ele diz que o o homem é um Politikon Zoon.
– Taí! – disseram simultaneamente Político e Animal. Não sabemos Grego, mas tá na cara que Politikon é Político e que Zoon é Animal: zoologia é “o estudo dos animais”, que isso a gente estudou no secundário! Viu só, seu falso acusador? Um sábio da Grécia disse que o homem é um Animal Político e você quer desdizer?
O detetive pôs água fria na ebulição:
– Minhas senhoras, ‘Politikon Zoon’ significa, em Grego, “um animal feito para viver em cidades”, “um ser social”. Significa que o ser humano tem mais eficiência e controle sobre o meio quando reunido em cidades e repartindo funções.
Na origem, nunca quis dizer que somos uma espécie que tem que aguentar manobras escusas para manutenção de Poder.
Animal Político murchou. Acaso ou não, pareceu ter passado um laivo de sorriso nas rugas de Ética.
As três palavras se levantaram e se dirigiram à porta. O detetive, penalizado pela sorte da dama tão finamente vestida, retirou a luva de couro preta que o deixava tão másculo (pelo menos ele achava), tomou delicadamente a mão da senhora e lhe depositou um rápido beijo. Ela o olhou com o ar doce dos agonizantes que ainda estão lúcidos e saiu.
Antes que a expressão Animal Político lhe quisesse apertar a mão, ele recuou, abanou com a mão esquerda enluvada e fechou a porta.
Ficou à janela, vendo a limusine partir fofamente pelas ruas ásperas, contando o dinheiro que havia feito por merecer e pensando no triste destino de algumas palavras.
Seu coração pesava à medida em que ia empilhando as notas …
https://origemdapalavra.com.br/artigo/as-voltas-com-a-etica/
Cadê a Nat Queiroz?
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