O Brasil reinventa o totalitarismo – a nova máquina policial
“Estamos dentro de uma espiral de violência e repressão policial que ultrapassa a média histórica, já extremamente alta, que caracterizou sempre a história de um país elitista e discriminador.”
por Congresso em Foco | 27/01/2012
Bajonas Teixeira de Brito Junior*, sugerido pelo leitor Roberto Ribeiro
Há muitos sintomas que hoje indicam a eclosão de uma forma peculiar de totalitarismo no Brasil. Thomas Mann, exilado durante a maior parte do tempo que durou o Terceiro Reich, definiu a Alemanha do período como o “bem que infeccionou”. O bem, porque o alemão era tradicionalmente conhecido por seu senso de ordem, disciplina, dedicação ao trabalho e obediência às leis. O agigantamento de alguns poucos sentimentos alemães (o anti-semitismo, o nacionalismo, a necessidade de obediência e hierarquia, o revanchismo, o misticismo) levaram à catástrofe. No Brasil de hoje, ainda temos que descobrir o que está por trás dos traços totalitários que se avolumam.
Observamos esses traços se ramificarem em diversas direções: nas alterações (sempre para cima) dos contratos bilionários das empreiteiras; nas concessões inconstitucionais para as obras da Copa e outros megaeventos esportivos — que, como tem enfatizado o professor Carlos Vainer, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano da UFRJ, assumem a forma de um efetivo Estado de Exceção, com as garantias constitucionais anuladas em benefício da especulação imobiliária e outros grandes interesses econômicos; o mesmo aparece nos projetos colossais, como o do Plano Nacional de Banda Larga, em que salta aos olhos o modo com que, como faca quente sobre a manteiga, os “parceiros” do governo federal infringem ou denunciam os acordos no mesmo dia em que os firmam e obtém os privilégios que Estado algum concederia.
Por fim, o que provoca estremecimento e pavor, temos as operações policiais destinadas aos pobres e aos movimentos sociais, cada vez mais aparatosas em que se pode admirar a pujança do aparelhamento da repressão: helicópteros blindados em sobrevôo rasante, enormes carros blindados, viaturas novinhas em folha, armaduras articuladas com proteção amortecedora e design futurista, semelhantes às dos soldados americanos no Iraque, veículos especiais para transporte rápido de grande quantidade de cavalos, utilização da cavalaria como técnica de cerco e perseguição, etc.
Uma atenção especial merece esse último aspecto, a força repressiva, em vista da escalada da violência policial que se cristalizou em diversos acontecimentos repulsivos nos últimos tempos. Para entender suas causas é preciso, primeiro, mostrar os fatos que se acumulam e, em seguida, buscar as raízes do presente surto de totalitarismo no país. Citamos alguns dos fatos marcantes:
1. 02 junho de 2011. Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Durante uma manifestação contra as altas tarifas dos ônibus e melhoria do transporte público, a tropa de choque local atua com grande violência contra estudantes universitários e secundaristas. O vídeo no You Tube pode ser visto aqui. E reproduzo parcialmente o pequeno, mas preciso, relato que acompanha o vídeo:
“Durante manifestação pacífica, o BME-ES (Batalhão de Missões Especiais do Espírito Santo […] ) age com bombas, tiros de balas de borracha (muitos à queima-roupa), spray de pimenta e tapas/pontapés contra manifestantes desarmados (em sua maioria estudantes). Detalhe 1: a tropa atira nos manifestantes antes de qualquer iniciativa de confronto por parte deles, apontando para dentro da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), ferindo gente desde o pescoço (!) até o pé, inclusive acertando pessoas que não estavam na manifestação. Detalhe 2: A tropa age sob ordem do governador Renato Casagrande, que havia baixado nota dizendo que abria mesa para diálogo com os manifestantes, mas não atenderia a nenhuma das reivindicações (no entender da autoridade facista, isso é abertura para diálogo).”
2. 21 de Outubro de 2011. Durante a greve de professores e estudantes da Universidade Federal de Rondônia (Unir) — contra a administração corrupta do reitor Januário Amaral, que se viu ao fim obrigado a renunciar e é hoje acusado pelo promotor do Ministério Público Estadual de Rondônia (MPRO) Pedro Abi-Eçad de ter liderado uma organização criminosa dentro da universidade — a Polícia Federal (PF) efetuou a prisão, não do reitor, mas de um professor presente nos protestos, o professor e doutor em história Valdir Aparecido de Souza. É interessante observar a perfeita calma e autocontrole do professor, característica da coragem sem arrogância, em contraste com a histeria dos policiais federais, que chegam a mostrar uma arma no momento da prisão arbitrária do docente. Parecem duas vertentes da humanidade, entre as quais não há ponte possível. O vídeo não deixa dúvidas.
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3. 08 de novembro de 2011. A desocupação da USP. Um policial aponta a arma para o rosto de uma aluna. Cavalaria, tropa de choque, alarido de sirenes, explosões, bombas de gás lacrimogêneo, helicópteros voando próximos ao prédio. A moradia estudantil (CRUSP) fica sitiada por grande contingente policial. Enfim, cenas de horror e desespero. O saldo de 73 estudantes presos.
4. 09 de janeiro de 2012. Um estudante negro na USP foi tratado com extrema violência por um policial militar, levou tapas, foi arremessado contra os móveis que estavam no caminho, humilhado de forma assombrosa por um agente público em serviço. Isso foi feito, sem o menor escrúpulo e sem qualquer hesitação, diante de câmeras. Fica-se a imaginar o que acontece longe das câmeras.
5. 03 de janeiro de 2012. Longe das câmeras, acorrem as abordagens sempre cruéis e marcadas pela brutalidade. Um doutorando em Filosofia, em Barão Geraldo, Campinas, se atreveu a questionar a forma de tratamento dada por policiais aos jovens pobres e negros da localidade. Recebeu uma série de ameaças e teve que enfrentar vários constrangimentos, inclusive desfile de viaturas na sua porta. Não se intimidou e, num segundo questionamento das abordagens policiais, foi preso por “desacato”. Ele fez então, por temer represálias ainda mais graves, o relato dos fatos que foi publicado no site do Yahoo, na coluna de Walter Hupsel.
6. 05 de janeiro de 2012. Com os métodos truculentos que se tornaram a rotina da atividade policial nas ruas, se procede à “limpeza” da região da Cracolândia em São Paulo. O pretexto é o revigoramento do Centro. O motivo real, apontado por todos os movimentos sociais, é a simbiose de interesses políticos e especulação imobiliária. Na desocupação de Cracolândia, não só se desconsiderou qualquer ação para amenizar a síndrome de abstinência dos dependentes químicos, mas se explicitou o que está no íntimo do tratamento brutal oferecido pela polícia, e a política, aos miseráveis da sociedade brasileira: a Prefeitura de São Paulo declarou que sua estratégia se baseava em “dor e sofrimento” para atingir os seus objetivos. Veja-se a matéria do Estadão: SP usa ‘dor e sofrimento’ para acabar com cracolândia.
7. 22 de janeiro de 2012. Desocupação de Pinheirinho em São José dos Campos (SP). Reproduzo o texto de Raquel Rolnik que, junto com Walter Hupsel, tem sido uma das poucas vozes indignadas com a escalada policial: “Milhares de homens, mulheres, crianças e idosos moradores da ocupação Pinheirinho são surpreendidos por um cerco formado por helicópteros, carros blindados e mais de 1.800 homens armados da Polícia Militar. Além de terem sido interditadas as saídas da ocupação, foram cortados água, luz e telefone, e a ordem era que famílias se recolhessem para dar início ao processo de retirada. Determinados a resistir — já que a reintegração de posse havia sido suspensa na sexta feira – os moradores não aceitaram o comando, dando início a uma situação dramaticamente violenta que se prolongou durante todo o dia e que teve como resultado famílias desabrigadas, pessoas feridas, detenções e rumores, inclusive, sobre a existência de mortos.”
Os fatos listados deixam pouca margem a dúvidas. Sua concentração em janeiro de 2012, é sintomática. Estamos dentro de uma espiral de violência e repressão policial que ultrapassa a média histórica, já extremamente alta, que caracterizou sempre a história de um país elitista e discriminador. Um tripé repressivo, que envolve o judiciário, a polícia e a política, manipulando uma consciência pública cada vez mais debilitada, em que os próprios intelectuais praticamente se recolheram ao mais absoluto mutismo, salvo raríssimas exceções, está bem montado e, tudo indica, atuará daqui para frente sempre com maior ferocidade. Estamos já muito além de acontecimentos episódicos e passageiros. Há por trás de tudo isso um comércio de armamento, viaturas, blindados, helicópteros, munições, armas, etc. O Rio de Janeiro já é palco de uma das maiores feiras mundiais, a Feira Internacional de Segurança, para a aquisição de armamentos destinados à repressão pública.
O que já está em prática é um projeto, que foi articulado pelo então ministro da defesa, Nelson Jobim, que evocou à época a “expertise” adquirida pelo exército em conflitos urbanos na missão do Haiti, e cujos aspectos mais perturbadores tentamos apresentar num artigo publicado aqui nesse site em 2008 — Nelson Jobim e o projeto de super polícia. Uma conclusão que se pode tirar nessa altura é a seguinte: se um ministro da defesa é quem articula um projeto policial, em que o exército, a marinha e aeronáutica são peças decisivas, então o inimigo contra o qual o país pretende se defender é um inimigo interno. Ao longo da história, nos regimes totalitários, o ponto crucial foi sempre o domínio sob o aparato policial visando a liquidação do “inimigo interno”.
O que não é fácil de compreender é como, no governo de um partido que sempre se disse comprometido com as causas populares, foi chocado o ovo da serpente. Enquanto há pouco mais de uma década discutia-se ainda o absurdo da existência de duas polícias, a militar e a civil, e se falava na extinção de uma delas para a consolidação do sistema democrático, o que acompanhamos nos últimos tempos foi o reforço de toda a maquinaria policial: o uso da Polícia Federal contra mobilizações sociais (como no caso da Unir, citado acima), a criação da Força Nacional de Segurança Pública, a mobilização das Forças Armadas para operações em favelas, o fortalecimento da divisão da polícia em Civil e Militar, a quase que autonomia dos batalhões especiais, como o Bope.
Surtos de totalitarismo se deram em muitas partes do mundo. Hannah Arendt e Herbert Marcuse, para citar um caso, apontaram diversos desses sintomas nos EUA nas décadas posteriores à Segunda Guerra. Pode-se dizer que desde a chamada guerra ao terror esses traços não só retornaram como se revestiram de evidência muito maior. No cenário da crise econômica iniciada em 2008, originada de acordo com vários economistas pelos gastos astronômicos da guerra no Iraque e no Afeganistão, o combate ao terror teve sua prioridade rebaixada. Já o Brasil, nesse mesmo período, criou sua própria versão da guerra ao terror, na forma da guerra contra o tráfico. Para compreender seu sentido, é preciso dar uma passada de olhos sobre nossa história colonial e ver, como nela, se enraíza a figura do “inimigo interno”. Só assim compreenderemos como o nosso Ministério da Defesa pode, hoje, estar envolvido no combate dentro do front interno.
O inimigo a ser erradicado, desde os primórdios da colonização, tem sido entre nós principalmente o inimigo interno. Esse inimigo foi, primeiramente, desenhado pela pena da teologia dos padres como o portador por excelência do mal. Primeiros foram os indígenas, depois os escravos, quilombolas, negros livres e mestiços, e, atualmente, esses inimigos são os que se abrigam em favelas, ocupações e invasões. O historiador inglês Charles Boxer definiu o princípio fundamental da colonização portuguesa nos termos seguintes: “Salvar suas as almas imortais associado com o anseio de escravizar os seus corpos vis”. Trata-se de uma troca metafísica, em que os padres e a Igreja Católica representam a salvação, impondo o cristianismo aonde chegavam e, como complemento inseparável, os traficantes escravistas, os bandeirantes, os capitães-do-mato e as forças policiais, garantiam a subjugação.
Ser escravo era o preço pago por ser cristianizado e adquirir uma alma imortal. O Brasil, ou aquilo que veio a ser chamado Brasil, era visto como um paraíso terreno (o que, na perspectiva portuguesa, significava um campo aberto à exploração extrativa indefinida) habitado, porém, por demônios que deviam ser redimidos ao mesmo tempo pela cruz e pela espada. Um dos melhores exemplos dessa parceria é a do major Vidigal, chefe de polícia no Rio de Janeiro na época em que a Corte esteve no Brasil. Além de reprimir barbaramente qualquer rebeldia negra na cidade, Vidigal destruía os quilombos próximos e, em troca, recebia presentes e homenagens.
Como é bem conhecido, os monges beneditinos o presentearam com uma grande área no Morro Dois Irmãos, em 1820, por serviços prestados. Que interesses teriam os beneditinos? Um viajante, poucas décadas antes, anotou que eles possuíam 1,2 mil escravos, que usavam na exploração de quatro enormes engenhos de açúcar. Assim, o major Vidigal, na sua época, foi uma engrenagem fundamental para assegurar os bens da ordem. Isto talvez já estivesse esquecido, ou enterrado sob grossa crosta de dissimulação histórica, não fosse um detalhe irônico: o terreno doado a Vidigal foi ocupado posteriormente por Sem Tetos, e recebeu o nome de Favela do Vidigal.
O Brasil foi dominado por quatro séculos por traficantes. As maiores fortunas nesses 400 anos de escravidão eram as dos traficantes de escravos e, abaixo deles, a dos exploradores de mão de obra escrava nas monoculturas, como os beneditinos (ver o livro de João Luis Ribeiro Fragoso, Homens de grossa aventura). Mas esses traficantes, motores de uma trama genocida que trucidou mais de 10 milhões de escravos, só na América, nunca foram punidos. Ao contrário. Foram presenteados com títulos de nobreza, premiados, promovidos, honrados e festejados. Como paradoxo histórico bem característico do Brasil, deparamos hoje com uma guerra aberta contra os descendentes das vítimas da escravização. E essa guerra foi chamada de guerra contra o tráfico.
A nossa guerra contra o tráfico segue o modelo colonial da guerra ao inimigo interno. Em todas as justificativas dos atos violentos praticados pelas forças policiais, se repete o mesmo relatório: “foram encontradas tais e tais armas e munições; tantos e tantos quilos de cocaína; presos diversos evadidos do sistema prisional, etc.”. A lógica permanece, sem tirar nem pôr, a lógica da colonização sendo os lugares atacados os que abrigam os maiores contingentes de herdeiros do pesadelo escravista, isto é, o maior contingente de negros e mestiços. Por isso é engraçado ler coisas como essa:
“O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) disse nesta segunda-feira que a Policia Militar transformou em “praça de guerra” a ação de reintegração de posse da área invadida do Pinheirinho, em São José dos Campos (97 km de São Paulo), determinada pela Justiça estadual.” Folha.com: Ministro chama de “praça de guerra” episódio em Pinheirinho.
Mas como é possível tanto cinismo, se os instrumentos dessa guerra foram criados por esse governo e por sua base política?
Enquanto isso os grandes interesses, os negócios gigantescos, predatórios para o Estado, mas indispensáveis para a política, têm seus contratos bilionários sempre reajustados para cima, recebem todo tipo de incentivo, e se esquivam a toda responsabilidade.
Compara-se isso com a explosão dos trabalhadores dos canteiros de obras de Jirau, que forma um afresco histórico dos mais claros sobre o Brasil de hoje. Milhares de trabalhadores em condições miseráveis de trabalho aguardam providência de um Estado que não passa de um simulacro de garantidor do interesse público. Em 2009, 38 trabalhadores foram libertados de condições de trabalho análogo à escravidão; em 2010, já foram 330 os autos de infração por crimes trabalhistas e em 2011, no mês de abril, depois de compreenderem que nenhum apoio viria do governo federal, os trabalhadores cederam ao desespero e promoveram uma explosão de fúria. Só então o Estado se fez presente: a Força de Segurança Nacional, veloz como um raio, apareceu e tocou para longe os trabalhadores, demitidos e expulsos da área. Nenhuma reparação lhes foi dada ou prometida. Agora, surge o conflito entre as empreiteiras e as seguradoras para o pagamento dos prejuízos e, como era de se esperar, o BNDES já entrou na discussão. E a discussão diz respeito ao pagamento, ao consórcio construtor, de uma soma que pode chegar a US$ 1,3 bilhão. Indenização alguma cabe aos trabalhadores tratados como bestas de carga.
É interessante notar que, ao que parece, todas aquelas operações grandiosas da polícia federal contra os muito ricos (como a Operação Satiagraha), não deram em nada. Ou entraram no processador lento dos tribunais, na caverna obscura na qual muitos processos entram, porém, raros saem. Serviram só para proibir as “humilhações” e “exposições” a que antes eram sujeitos banqueiros ou especuladores: fim das algemas, imposição do segredo de justiça, etc. Por outro lado, na esfera dos conflitos sociais normais em toda sociedade democrática, a polícia das balas de borracha, dos gases de pimenta e lacrimogêneo, das pancadas e humilhações, das mortes que no meio do tumulto nunca são responsabilidade dos agentes públicos, avançam sobre um território novo e inexplorado: o público universitário.
Ao mesmo tempo em que se reforça sobre as periferias, favelas e ocupações, em que intimida e maltrata mais os negros e mestiços do que nunca, a polícia começa a sentir o gostinho de estender a mão também a um público mais seleto, carne nova, de classe média, que, até pouco tempo, não fazia parte do seu cardápio habitual: alunos do ensino secundário, estudantes de universidades federais, doutorandos, professores doutores.
Como foi possível ao PT criar esse aparelho repressivo? Foi possível porque para os intelectuais, políticos e setores religiosos que formam o partido, a grande referência permanece a Europa e a sua brancura mítica. Ao pensar em refazer as estruturas sociais do país, em desenvolvimento e modernização, o inconsciente do PT almeja por algo parecido com o que considera o Bem, isto é, algo semelhante a um país europeu e uma população branca. Nessa lógica, as massas de negros, mulatos, mestiços, e também índios, não esqueçamos deles — todas essas faces estranhas e inquietantes para quem só vê beleza em corpos brancos — aparecem como um estorvo estético, um desvio moral e um sinal da vocação para o crime. As classes dominantes delinqüentes sempre fizeram assim: transferiram a sua própria carga criminosa para seus subordinados sociais.
O que fazer com eles? O PT pôs em prática a mesma teologia e a mesma interação de público e privado da nossa história colonial. Os brancos, e quanto mais brancos melhor, os donos de empreiteiras, bancos, latifundiários, especuladores, etc., afiguram o Bem. A ‘plebe’ descendente da escravidão, surge como a raiz de todo Mal. Esse mal, o pior mal, o mais concentrado, foi fixado na figura do traficante — síntese e prova do mal que se engendra nas favelas. Os pobres, em sua grande maioria negros e mestiços, os índios, devem ser salvos pelo Bem, mas por essa salvação têm que pagar um preço muito alto. Esse preço é hoje, não mais a cristianização meramente cosmética, mas a submissão à ordem pela violência, como se, em sua essência, esses setores constituíssem focos de infecção social. As UPPs, em cujo projeto inicial se incluía muros e guaritas em torno das favelas (Ver o nosso artigo publicado aqui no site: A Alpha Ville das Comunidades – a Alpha Vella) mostram claramente isso. Repetem os aldeamentos e missões, em que os índios eram totalmente extraídos de sua cultura original e submetidos a mais rígida ordem sob a vigilância cruel dos monges.
O que o PT parece perder de vista é que, como sempre acontece na história com os partidos fracos, gelatinosos, dispostos a todas as concessões e vilanias, a sua política policial se voltará, mais cedo ou mais tarde, contra ele mesmo. E isso pode acontecer logo que, despido de sua auréola e credibilidade, por força da violência que criou e tem gerido, deixe de ser um instrumento útil nas garras da fauna de bilionários que hoje se alimenta do Estado. Nesse momento, o criador será entregue como repasto para sua criatura.
PS: Tenho muita simpatia pelos meus colegas que se dedicam aos estudos pós-coloniais, especialmente pela seriedade de seus trabalhos acadêmicos e pelo seu engajamento crítico, mas, não obstante isso, para o caso brasileiro, não posso deixar de alimentar sérias dúvidas. Em que sentido o Brasil se mostra como uma sociedade pós-colonial? O que caracteriza a nossa história são as mudanças sem rupturas, as transições transacionadas. Assim, falar em “pós” pressupõe um corte efetivo, coisa que nunca ocorreu em nossa história marcada pela ambivalência. Parece-me muito mais explicativa a idéia de neo-escravismo, sublinhando a velha continuidade da corrupção, da violência contra os cativos, dos privilégios escancarados para as elites.
*Doutor em Filosofia, autor dos livros Lógica do disparate, Método e delírio e Lógica dos fantasmas. Foi duas vezes premiado pelo Ministério da Cultura por seus ensaios sobre o pensamento social e cultura no Brasil. É coordenador da revista eletrônica, Revista Humanas , órgão de divulgação científica da Cátedra Unesco de Multilinguismo Digital (Unicamp) e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Ufes
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Comentários
Regina
Que lindo!!!!!!!!!
Quer dizer que agora a culpa é do PT?
A sociedade brasileira é socialista e só o PT não percebeu?!?!?!?!?!?!
Essa direita é muito hábil.
Marcelo de Matos
A censura de comentários tem algo a ver com "totalitarismo"?
Jairo_Beraldo
É Marcelo Matos, também tive alguns comentários não postados, mas convenhamos- as vezes passamos do limite, e cabe ao moderador ter visão crítica sobre isso, mesmo porque, ele postando, estará sendo solidário, e como tal, pode responder a questionamentos judiciais por isso.
Marcelo de Matos
Entendi Jairo. Obrigado.
Consciência da Nação
Nenhum problema se esse for um procedimento declarado e bem visível do "site". Se, logo acima do "Comentários" viesse adicionado "publicados a critério do moderador", não veria nenhum problema.
José Ricardo Romero
Já que iniciou falando em Thomas Mann, seria esperar demais que os brasileiros (e particularmente os paulistas) lessem a Montanha Mágica? Alemães e outros europeus das elites que podiam pagar um tratamento em Davos, vão para a montanha mágica, na época da 1ª guerra mundial, uma cidade cheia de sanatórios para tuberculosos. O mundo despenca "lá embaixo" e eles ignoram tudo o que de ruim está acontecendo. Lá "em cima" não se fala de desgraças. A podridão interior das elites já é mais que suficiente para fazer calar as más notícias externas. As nossas elites estão agindo assim. Fecham os olhos e mandam a polícia tirar os pobres da frentre porque eles são feios. Logo vão perceber que a casa está caindo.
Marcelo de Matos
O Viomundo tem trazido a filosofia para o debate político. Preferível seria que discutíssemos idéias e não ideologias. Graça Aranha disse há cerca de um século: “O Brasil é um deserto de homens e idéias”. Podemos prescindir da polícia? É possível realizar uma reintegração de posse sem armas? Por que falar em fascismo neste novo século? Esse regime está morto e enterrado desde o fim da segunda grande guerra. Enterradas estão, também, as ideologias. Assistimos ao fim de tanta coisa: da Revolução Cultural chinesa, do socialismo russo, do próprio capitalismo (o que restou foi um sistema sem glamour que luta para sobreviver). Deveríamos construir um museu da filosofia e coisas afins: lá ficariam ícones como o Imperativo Categórico, de Kant, o fundamentalismo de Kierkegaard, o super-homem de Nietzche, o socialismo científico de Marx e Engels (me ajuda aí!). Afinal, vamos falar sem circunlóquios: o mundo de hoje é capitalista, inclusive a China. Não dá para pensar o urbanismo com a cabeça voltada para os tempos da Casa Grande & Senzala.
Janete
O texto do Bajonas é impactante, mas é necessário lê-lo com atenção e crítica, joga todas as mazelas da constituição de um Estado repressor ao PT, e nada diz a respeito das ações do PSDB. O comentário do Damastor Dagobé é interessante em parte quando diz: “…e, o mais interessante, o grande mártir, a grande vitima simbólica, o grande oprimido é o…traficante…”.
Se com o PT está tudo errado, qual é a referência??? O PSDB????
Leo V
Por que a referência deve ser um partido político? Por que essa fixação no Estado?
dukrai
"Como foi possível ao PT criar esse aparelho repressivo? Foi possível porque para os intelectuais, políticos e setores religiosos que formam o partido, a grande referência permanece a Europa e a sua brancura mítica."
não sei porque mas pensei na hora no intelectual FgagaC, no político Vampiro Brazileiro e no carola do geraldinho opusdélico. o problema do autor quando sai do atacado pro varejo é tentar botar meia arrôba de rapadura numa embalagem a vácuo e pregar o PT na cruz. menas, véi, menas, isto tem nome e só vou repetir, desonestidade intelectual.
Coyotte
Alckmin institui 'gabinete antiprotesto' em SP
http://folha.com/no1041582
luiz descchamps
QUE TEXTO PERFEITO!!! NAUM EXISTE QUALQUER DIFERENCA ENTRE PT E PSDB!! HABITUEM-SE A ESSA TETRICA REALIDADE!! O BRASIL SEGUE PELO RALO, AINDA QUE SE TORNE A SEGUNDA MAIOR ECONOMIA DO MUNDO… NAUM HA CONQUISTA QUE CAIA DO CEU!!!
Vinícius Morais Simões (vinisimoes) | Pearltrees
[…] Bajonas Brito Junior: O Brasil reinventa o totalitarismo | Viomundo – O que você não vê na mídia Há muitos sintomas que hoje indicam a eclosão de uma forma peculiar de totalitarismo no Brasil. […]
damastor dagobé
deixa ver se entendi: uma das principais provas que estamos entrando no totalitarismo (no texto entendido erradamente como mero autoritarismo) é o uso de cavalos pelo sistema repressor e, o mais interessante, o grande mártir, a grande vitima simbolica, o grande orpimido é o…traficante. Parece que isso explica porque todos os titulos dos livros do professor autor contem … delirio.
Yara
Damastor, você leu o artigo todo?
O que o texto coloca é que certos atos são classificados como crime e outros que deveriam ser não o são.
Mauro
Caro Azenha,
Dentro da ótica do texto acima, um fato extremamente grave passou desapercebido:
A 1ª Turma do STF constitucionalizou a "prisão para averiguação" no julgamento de um habeas corpus [HC 107644/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 6.9.2011. (HC-107644) A 1ª Turma denegou, por maioria, habeas corpus impetrado em favor de paciente que fora conduzido à presença de autoridade policial, para ser inquirido sobre fato criminoso, sem ordem judicial escrita ou situação de flagrância, e mantido custodiado em dependência policial até a decretação de sua prisão temporária por autoridade competente.]
Ora, se as polícias já faziam o que faziam (prisões ilegais inúmeras) quando a constituição exigia o flagrante ou a ordem judicial para fundamentar as prisões, imagine o que farão a partir de agora.
Jose Antonio Batata
A militância falsa que o PSDB utilizou na campanha de 2010 voltou para a INTERNET. Eles recebem dinheiro para defender o PSDB e o MASSACRE de Pinheirinho. Ganham rios de dinheiro a custa da desgraça de 2.000 famílias em PINHEIRINHO.
Gerson Carneiro
Essa raiva, essa ação violenta contra o povo, é a exteriorização de um ressentimento porque nas urnas, para a Presidência da República, o povo vem votando no que se apresenta como oposição à Direita. Ou seja, o povo vem desobedecendo a ordem da elite branca há pelo menos três eleições.
Quanto ao PT, essa é a hora de colocar em prática o discurso ou calar-se de vez.
A suposta fala da DIlma e da ministra da Secretaria dos Direitos Humanos em relação ao Pinheirinho de que "devem respeitar as instituições paulistas", em detrimento do respeito ao povo pobre de Pinheirinho, é o fim da picada.
São Paulo sempre agiu de forma truculenta. Os Bandeirantes barbarizavam quando encontravam uma aldeia. E aquilo que a elite paulista chama de "Revolução de 32" não passou de uma tentativa frustrada de golpe.
Moacir Moreira
Nenhuma novidade.
O próprio partido nazista de Hitler se chamava Partido dos Trabalhadores Alemães.
Até onde eu sei, Mr. Lula fez curso nos EUA para aprender a administrar sindicatos à moda ianque.
Os banqueiros e os chefões do crime organizado internacional se apropriaram das riquezas que pertencem ao povo brasileiro e os usurpadores precisam de segurança para poderem continuar assaltando o nosso país em paz.
O problema é que oferecer segurança a essa gente está ficando cada vez mais caro e não há como garantir que não hajam mortes nesse confronto entre os muito ricos e os muito pobres.
O jeito é ligar para o 190 e chamar a polícia.
José Ruiz
A única alternativa para tudo isso que está aí é a criação de um movimento livre na Internet, a formação de um partido que discuta clara e democraticamente todas essas questões, com ampla participação popular… o modelo de política tradicional se esgotou, nenhum dos partidos atuais é capaz de transformar o panaroma que se forma.. o PT, atualmente o mais bem estruturado, ideologicamente é um saco de gatos, é usado por pessoas que servem ao sistema em benefício próprio..
tiago tobias
Existe uma mistura, não só no Brasil e sim na quase totalidade do mundo, de três distopias clássicas retratadas na literatura: Farenheit 451, Admirável Mundo Novo e 1984.
Pra quem não leu (fica a dica), o Farenheit 451, do Ray Bradbury, retrata uma sociedade onde ler livros é crime Os bombeiros, antes responsáveis por apagar incêndios, são responsáveis em botar fogo em bibliotecas e caçar os leitores. Em todas as casas, existem TV´s acopladas nas paredes. Os programas e seus apresentadores são chamados pelo público de "família". Esses dias mesmo eu estava num supermercado e vi um homem e sua família saírem carregando uma televisão grandona. Era de se admirar a felicidade estampada na cara dos coitados. Os não-leitores sempre argumentam que "o livro no Brasil é muito caro" (sem dúvida), mas pra gastar R$ 2.000 numa TV, aí não pesa no bolso.
Sou professor de sociologia e certa vez, fui trabalhar o conteúdo de Indústria Cultural com a molecada. Entre minhas críticas, direcionei uma especialmente aos programas como os do Luciano Huck, Rodrigo Faro. Deus do céu, a molecada se voltou contra mim na defesa dos seus "familiares", dizendo que eu era ranzinza, que eu não gostava de nada e minha crítica era considerada "inveja". Ora, pq tanta revolta? Será que o Luciano Huck ou o Rodrigo Faro sabem da existência desses adolescentes? Mas as pessoas amam as suas "famílias". (BBB, A Fazenda)
No Admirável Mundo Novo, o Estado promove o uso da droga chamada "soma". Tá revoltado? Anda questionando as coisas? Tome um "soma" e relaxe! (Futebol? BBB? Fanatismo Religioso? A cerveja que desce redondo?). Aldous Huxley, autor do livro, no prefácio a 2º edição inglesa (se eu não me engano) diz que as ditaduras do futuro não se basearão na força, mas no consentimento. É preciso fazer os escravos amarem sua servidão. As ditaduras do futuro promoveriam uma falsa "liberação sexual" (hedonismo desenfreado?). Basta andar por aí, nas escolas públicas da vida, que a gente se depara com crianças de 11, 12, 13 anos com seus celulares MP5, dançando funk até o chão. Dei aula pra 5º série e vi muito isso. Essa "liberação" sexual, de acordo com Huxley, começaria cada vez mais cedo. "Libera-se" o corpo e as pessoas se sentirão mais "aliviadas". Essa "libertação" sexual camuflaria ainda mais o peso da escravidão pessoal. Não se sente mais o PESO da servidão, ou pelo menos, disfarça-se o peso.
E por fim, no 1984, George Orwell descreve uma sociedade vigiada pelo Grande Irmão (através das "tele-telas" onipresentes) e pelo Partido, que tem o poder de escrever e reescrever a História a seu bel-prazer. O lema do Partido é "Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força". Obama estava metido em duas guerras e ainda assim, ganhou o Nobel da "Paz". Ignorância, santa ignorância. Os medíocres vencem, já repararam? Veja o quando ganha a Mulher Melancia e quanto ganha um professor, um bombeiro, um trabalhador…
Orwell dizia: "Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota pisando no rosto humano – para sempre…"
Me desculpem a paranoia, rsrs…
M. S. Romares
Texto magnifíco, Azenha. Parabéns! Uma imagem bem delineada sobre nossa situação social.
Luiz Carlos Azenha
Romares, eu apenasmente reproduzi. abs
Consciência da Nação
A tolerância do PT com a excrescência do Jobim, herdada do PSDB, diga-se, é deplorável. Mas as UPP's não são obra do PT, a cracolândia não é obra do PT, a ocupação da USP não é obra do PT, o Pinheirinho não é obra do PT, a admiração baba-ovo sobre os brancos europeus não é caráter do PT, mas do PSDB e de seus "franceses tupiniquins". Será que o nosso escrivinhador não foi levemente distorcido na sua abordagem?
José Ruiz
Entendi que o sentido da participação do PT no processo está nas imensas concessões aos grandes grupos capitalistas, como os bancos e o mercado imobiliário, etc… Cracolândia é consequência…
JOSE MARIO HRP
A esquerda radical tem dessas….
Vive querendo luz e para isso mata até aliados!
Leo V
Lendo mais atentamente o texto, o que o autor quer dizer é que o PT tem gestado a máquina repressora e totalitária, não que sua prática em si o seja.
Alexandre
A bolsa família também não é do PT. Então qual a diferença entre os partidos políticos brasileiros? Nenhuma.
Eduardo
Nao foi o Gilmar Dantas(opa) quem disse que estávamos vivendo num estado policial quando prenderam banqueiros, políticos e megainvestidores? Qual será a opinião dele a respeito daquilo que estamos assistindo em São Paulo? Perguntem aí pra ele…
Dipilik
Ué, não entendi. Os fatos marcantes são de compentência dos governos estaduais e a culpa é do governo federal ?
Ana
Perfeito. É de estarrcer. Não há o que comentar, fica o temor do totalitarismo e que todos tenham consciência do hoje eles e amanhã nós. Excelente a lembrança de nossos irmãos indígenas.E a mídia propagando este terror.
Pitagoras
Impecável!!!
Mas quem disse que vivemos uma democracia? Quem disse que o povo, seja qual for a "classe" social, quer democracia?
Leo V
Excelente artigo, que deve ser lido e divulgado.
Colocou a questão central. É no governo do PT que esse ovo da serpente tem sido gestado, e que provavelmente se voltará contra seu próprio gestor.
Não poucos se puseram contra a intervenção brasileira no Haiti por, entre outras coisas, ser um laboratório para a repressão interna.
O artigo tem outro aspecto elogiável. Apontar que a propalada "maior transformação que se viu no Brasil" nas últimas gerações, não passa de um simulacro. Até mesmo nossa "democracia" é apenas a ditadura sob outra forma, e é por isso que por aqui os torturadores nunca sequer foram postos e a julgamento.
O exemplo de Jirau é contundente para mostrar a "valorização do trabalho" sob este governo.
_Rorschach_
E esqueci de mencionar a cana da Rita Lee…
Ela não era presa desde o regime militar hehehe.
_Rorschach_
Excelente texto!
Não concordo com a ideia de que estamos próximos de um Estado de exceção, como quer o autor, mas não se pode negar que o escrito é instigante.
É interessante pensar (se aceitarmos essa ideia de crescente Estado policialesco) que a repressão tenha se intensificado justamente após um governo dito social-democrata (FHC) e um dito de esquerda (Lula).
Ao mesmo tempo em que os movimentos sociais têm voz como nunca antes, também é certo que nunca levaram tanta cacetada.
Não é incoerente?
Na seção em que trabalho, onde quase todos são, inclusive, sindicalizados (e pela Conlutas!!!), a maioria esmagadora é a favor de descer o sarrafo na cracolância e embora tenham ficado consternados com a reintegração do Pinheirinho, acham que os invasores têm mesmo que sair.
E não pense que são "tucanos infiltrados" , porque servidores federais têm paúra do PSDB…
Terá o brasileiro, no fundo, uma vocação ou predileção pelo autoritarismo ? Pela "ordem"??
Matheus
É isso o que eu temo às vezes. Aqui onde eu vivo e estudo, também há um apoio muito militante a manifestações de oposição às políticas do governo estadual, sempre acusadas de "badernas", um discurso de que o governo estadual pode tudo e os movimentos não podem fazer nada. Pode ser o momento, o "analfabetismo político", a manipulação midiática diária e permanente há décadas e décadas, a dispersão e desorganização da maioria do povo.
Jairo_Beraldo
Caro _Rorschach_ , como em São Paulo, o funcionalismo estadual goiano também morre de amores pelos tucanos. Mesmo levando porrada, gás de pimenta, bomba de efeito moral, adoram esses bicudos. Não sei como classificar esta gente, e mesmo que soubesse, acho que não seria publicado o adjetivo que usaria para denominá-los.
jaime
A Satiagraha pra mim foi o anticlímax do governo Lula. Despertou o alerta de que a tão esperada mudança era mais uma daquelas para que tudo continue o mesmo. Faltou coragem ou superdimensionaram o poder do Judiciário (ou têm o rabo preso). E o executivo se calou, se omitiu, justo quando não podia fazê-lo. Patrocinou um episódio digno de qualquer tucano e essa é a parte mais deprimente: o PSDB é quem mantém o PT no poder pelo fato de, apesar de tudo, ser ainda muito pior: mais neoliberal, venal, corrupto, entreguista, elitista, policialesco. Está na hora de começar (de novo) a criar uma alternativa verdadeira.
sergio
Um dos melhores textos que já li nesse espaço. Parabéns, Viomundo e ao professor Bajonas, vida longa e lucidez permanente, de brasileiros desse quilate é que precisamos.
Leo V
Concordo, um dos melhores textos que li sobre o Brasil atual nos últimos tempos.
Fabio_Passos
Não há dúvida que a "elite" branca e rica está abusando como nunca da violência contra a população excluída.
As estarrecedoras decisões judiciais, os aplausos deslumbrados das oligarquias midiáticas e o silêncio cúmplice dos grandes partidos políticos de esquerda, mostram que esta violência covarde contra a população marginalizada está institucionalizada no Brasil.
Se a minoria rica conseguiu reinventar o totalitarismo e está em guerra aberta contra o povo sem a necessidade de um golpe e um ditadura, cabe a sociedade civil reagir, resistir e reinventar o caminho para o resgate da nossa democracia.
Polengo
Sexta passada presenciei uma agressão em um trem da CPTM.
Um sujeito ia cantar e pedir uns trocos. Foi cercado por três homens, e, mesmo que ele tendo infringido uma regra, nada justificava a agressão que ele sofreu.
Com isso, quase se formou um tumulto muito maior, porque outros passageiros indignados foram pra cima dos três agressores, aí vieram mais guardas… parece que se não for na porrada, se não for pra mostrar força e pudê, alguém ali em cima não fica feliz.
Leo V
Acho que em Pinheirinho teve muito disso.
O Estado, o governador, a Justiça, a classe dominante, quis dar uma lição àqueles que ousara resistir, ousaram colocar seus corpos a resistir e não baixarem a cabeça.
Polengo
Eu também acho que teve.
Pelo histórico das ações da PM paulista, não tem muito o que os isente dessa.
riorevolta
Nossa elite e ínfima classe média cultivou por tanto tempo a sua auto-proclamada superioridade cultural e econômica, seu sangue-azul, sua nobreza histórica, a sua situação material foi por tanto tão sem paralelo no mais desigual país do mundo, que a mera percepção de que um anteriormente pobre pode ter hábitos de consumo e culturais similares que ela (através da expansão do crédito do relativo 'sucesso' do petismo no poder), gera um asco e uma rejeição tremenda à atual sociedade. A frase do Luís Carlos Prates, "jornalista" catarinense resume bem esta idéia: “por causa deste governo espúrio… agora qualquer miserável pode ter um carro”. Qualquer miserável agora tem celular mp7, smartphone; qualquer miserável pode ir aos shoppings, lotar os aeroportos; votar em interesse próprio…
Estes setores tradicionais, tão conservadoras que são, tão elitistas e mal acostumadas que são, rejeitam a tal grau as classes historicamente humilhadas e excluídas, “a gente diferenciada”, que a ascensão dos ‘diferenciados’ faz aflorar todo o ranço elitista que permanecia culto ou disfarçado em anti-esquerdismo ou em valores familiares antigos, ultra conservadores. Não há mais máscara, a elite e classe média tradicional estão mais e mais fazendo coro com os históricos setores neofascistas e pró-ditadura. Elas temem não o seu empobrecimento de fato, mas a perda de sua posição social.
A elite brasileira odeia os valores republicanos e a democracia. Neste sentido, concordo com o autor do texto, o que tem de pós-colonial na cultura brasileira?
Se verificarmos que a nossa elite e todos que seguem sua mentalidade (vastos setores da “antiga classe média”), rejeitam “O Império da Lei”, o nacionalismo, o protecionismo, a educação universal, rejeita a democracia liberal pois não sabe e não pretende perder qualquer disputa honesta; rejeita o self made-man através de seus apadrinhamentos e jogo de interesses pessoais; rejeita o Estado como consolidador da república e da Lei, enfim, todos os pilares políticos e culturais, fundamentais para o capitalismo moderno. Podemos concluir que nossa elite rejeita o próprio capitalismo, pois não quer ter que pagar o ‘ônus’ de ter abandonado o escravismo de antigo regime e ter entrado no mundo moderno.
A elite brasileira quer ser eternamente subdesenvolvida e concentradora de renda, exatamente como sempre foi. Quer viajar a Paris e a Nova Iorque para estudar e voltar e ter cargo público ou político para mandar neste bando de incivilizados que considera que temos aqui. Prefere servir o primeiro mundo e reinar o terceiro do que aceitar o desenvolvimento nacional.
A elite é de mentalidade nobre, colonial, nunca vai aceitar o capitalismo e o desenvolvimento nacional.
Regina
Apoiado sem ressalvas
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