Avaliação dos músicos da OSB: “Insuficiente e arbitrária”

Tempo de leitura: 4 min

A luta dos músicos da OSB serve de exemplo para todos nós

por Robson Leite*

A audiência pública sobre a Orquestra Sinfônica Brasileira foi realizada no dia 18/04, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O motivo: buscar uma solução para a grave crise entre os músicos e o maestro da tradicional Orquestra.

Nas últimas semanas, um importante debate ocorreu na sociedade e na mídia sobre as posturas dos músicos, da administração e da regência da OSB. Foram muitas as opiniões, críticas e denúncias diante das quais a Comissão de Cultura da Alerj, que presido, não poderia deixar de se posicionar. Para a realização da audiência, também contei com o fundamental apoio da deputada federal Jandira Feghalli (PC do B), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura.

Confesso que, mesmo tendo exaustivamente me preparado para a sessão, consegui me surpreender com algumas das denúncias apresentadas pelos músicos. Os abusos cometidos pelo maestro Roberto Miczuk têm graves implicações trabalhistas e precisam ser seriamente avaliados.

Em momento algum pretendo criticar a busca por excelência, que é louvável. A OSB é  muito importante para a música do Rio de Janeiro e para todo o país, inclusive nos representando no exterior. Mas a avaliação imposta pelo maestro aos músicos é arbitrária e insuficiente. Uma boa avaliação, acompanhada dos treinamentos necessários, deve ser feita ao longo das temporadas, considerando também dados como assiduidade e interesse. A atitude de Miczuk só serve para criar incerteza e medo entre os artistas, o que não contribui para que se alcance a excelência desejada.

Se um maestro, a figura que deve ser capaz de incentivar, qualificar e organizar uma orquestra, não compreende essa lógica simples e prefere recorrer a medidas autoritárias, não está preparado para dirigir um grupo como a OSB. A demissão dos músicos que desafiaram a determinação de Miczuk só piora o quadro. Fere a identidade e a história da Orquestra.

A pressão sofrida pela Orquestra Jovem, usada para substituir o grupo profissional desfalcado com as demissões, também ilustra a inaceitável postura do regente. Boatos de que a substituição seria motivada por reivindicações dos próprios músicos jovens visavam desestabilizar organização dos dois grupos. Além disso, a contratação de monitores, denunciados pelos jovens instrumentistas como “olheiros” do maestro, e a presença de seguranças supostamente armados em ensaios e conversas foram outras graves queixas apresentadas.

Esse quadro caracteriza claramente assédio moral, já que Miczuk se aproveitou de uma posição de poder para manipular e pressionar a OSB Jovem. Encaminhamos ao Ministério Público representações com estas denúncias e esperamos que estas sejam apuradas o mais rápido possível.

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Enviamos também pedido para que as finanças da Fundação OSB sejam verificadas. Sabemos que a orquestra recebe boa parte de suas verbas através de captação pela Lei Rouanet. Ou seja, oriundas de isenção fiscal. Para isso, deve realizar uma série de contrapartidas, que, segundo denúncias, não vem sendo cumpridas.

Essas representações têm o objetivo de colaborar para a abertura de um processo de democratização da orquestra, com o aumento da transparência na gestão e a punição das medidas que ferem os direitos do trabalhador. Mas, em si, não resolvem a situação.

A solução da crise passa pela adoção de um novo modelo de gestão na OSB, que inclua os músicos, e pela revisão do estatuto e regimento interno, que impeça novas posturas autoritárias por parte de qualquer futuro maestro. E isso só será alcançado com a permanente mobilização dos músicos e do corpo administrativo, tanto na formulação desse novo modelo como no seu controle.

Para fortalecer e dar visibilidade a essa valorosa mobilização, propus aqui na Alerj uma homenagem ao jovem músico Ayran Nicodemo, representando todos os instrumentistas. Ayran esteve à frente da manifestação do dia 9 de abril, quando a OSB Jovem se retirou no início de uma apresentação comandada por Miczuk no Teatro Municipal, em protesto contra as demissões injustificadas dos colegas.

Ayran, a nosso ver, traduz toda a indignação juvenil frente às injustiças e autoritarismos. Espero, sinceramente, que sua luta, em conjunto com a de todos os músicos da OSB – alguns com 30 anos de carreira e que mesmo assim não se acomodaram – sirva de exemplo para todos nós!

PS: Mais uma grave denúncia de arbitrariedade por parte da direção da Orquestra Sinfônica Brasileira chegou hoje (20/04) ao deputado Robson Leite. Ontem (19/04), no mesmo dia em que a Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira veio a público defender um acordo com os músicos, que incluía a readmissão dos 33 instrumentistas demitidos, novas demissões voltaram a ocorrer. Desta vez, na lista de cortes por insubordinação estavam Antônio Augusto, músico que sofreu um infarto há menos de três semanas, e Débora Cheyne, presidenta do Sindicato dos Músicos.

“As duas demissões demonstram o descaso da direção da orquestra com os músicos, que são a essência da OSB. Tratando-se da presidenta do sindicato, fica claro que o objetivo da fundação não é negociar. Isso sem falar da falta de humanidade em dispensar um artista que passa por um problema de saúde”, afirmou Robson.

O deputado já denunciou o caso no Plenário da Alerj e encaminhará a questão em reunião com o Sindicato dos Músicos.

*Robson Leite é deputado estadual pelo PT/RJ e presidente da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj)

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Comentários

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@eliasmacedo_sp

POXA VIDA JÚLIO (Júlio Guerra · 22 semanas atrás), Ñ TINHA PRESTADO BEM A ATNÇÃO NO SEU IMPORTANTÍSSIMO COMENTÁRIO! PARABÉNS.

@eliasmacedo_sp

A VERDADE É A SEGUINTE; SÓ QUEM CONHECE A TRAGETÓRIA PROFISSIONAL DO SR MICZUK E SUAS INTENÇÕES CULTURAIS, E O Q REALMENTE ESTÁ ACONTECENDO COM ESTE CASO, PODE OPINAR COM FIDELIDADE, ESTE ASSUNTO! O RESTO Ñ PASSA DE MERAS ESPECULAÇÕES!

O_Brasileiro

Só há duas saídas:
Ou fazem um exame psiquiátrico no "maestro"…
… Ou fazem uma auditoria nas suas contas bancárias e na FOSB!!!

    Júlio Guerra

    Fico com a 2a. opção. Inclusive porque ele vai querer pagar o exame psiquiátrico com o excelente plano de saúde que a FOSB lhe proporciona. Seria tremendamente injusto depois deste crime de lesa-pátria.

    Ele acaba com a carreira dele do jeito que preferir. Mas não tem direito de acabar com a OSB. Nem os conselheiros tem direito de deixar dívidas, com uma gestão ultrapassada e frouxa, sustentada com dinheiro público.

Júlio Guerra

Prezado Franco Atirador,
Esse debate é bom e eu adoraria discordar de você.
Fundação privada que vive de dinheiro público não pode ser considerada privada. Só no sentido do vaso sanitário que é quando se apropriam irregularmente do recurso público para objetivos diferentes daqueles justificados para obter aquele recurso público. Um outro ponto é que ser privada ou estatal importa menos do que gastar o dinheiro público de forma decente.
A FOSB captou 61 milhoes de reais de lei rouanet nos ultimos 4 anos. A conexao Cesar Maia/Cidade da Música garantiu mais uns 30 milhoes em menos de dez anos. O orçamento da FOSB é certamente feito de 96% de dinheiro público. Apesar da pose de seus conselheiros nos concertos fechados, pagos obviamente com recurso público. É mesmo privada? Onde estão os estatutos atualizados?
A FOSB não dá satisfação à sociedade do dinheiro que usa. Presta contas ao poder público porque é obrigada, mas faz com atraso (é assim com o ministerio público, com o ministerio da cultura e com a prefeitura). Os bem sucedidos conselheiros da área financeira e advocatícia, jamais preocuparam-se em publicar balanços ou garantir um departamento jurídico. Nem mesmo seus estatutos estão atualizados no ministerio da cultura. Qualquer produtor cultural com registro no salicweb pode constatar isso. Os músicos desta orquestra ganham menos do que vários funcinários da área administrativa. E na hora em que abrirem a caixa preta da FOSB os nobílissimos conselheiros vão fazer biquinho, defender o maestro, e picar a mula. Como se jamais tivessem conduzido a Orquestra Sinfônica Brasileira ao buraco em que se encontra. Como se fosse mesmo única e exlusivamente uma responsabilidade governamental.
Eu gostaria muitode discordar de você. Mas paciencia.

    FrancoAtirador

    .
    .
    É precisamente para estancar

    a sangria de dinheiro público

    que a OSB deve ser estatizada.
    .
    .

Cesar

As ultimas demissões anunciadas mostram a total irreverência e arrogância desmedida da FOSB.
Ignoram a opinião pública,do meio artístico e político nacional,
Assim se fizeram os grades ditadores e mAlfeitores da humanidade

Henrique

Vai ver esse Miczuk leu que von Karajan era um ditador e está querendo imitá-lo. Entretanto, na minha experiência sei que ninguém é santo nesta terra descoberta por Cabral, e mesmo sem saber do que se trata, avalio em tese que quando se chega a um conflito deste porte uma parte (o maestro) está com 5 a 10% de razão e a outra parte (os músicos) com 90 a 95% de razão. Então há amplo espaço para negociação, reconciliação e um recomeçar. Mas se ficaram marcas indeléveis, o orgulho ferido é uma chaga que não fecha, nesse caso, o maestro tem de se retirar por uma simples questão numérica … mas a orquesta fica na berlinda … se acontecer de novo o mesmo com o novo maestro … peraí!

FrancoAtirador

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Por ser parte integrante do patrimônio cultural brasileiro

e pela relevância inerente à sua condição artística,

a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) não deveria ser uma entidade privada,

mas uma instituição pública, estatal, vinculada ao Ministério da Cultura (MinC).
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