Após Obama ir embora, Brasil condena ataques à Líbia

Tempo de leitura: 2 min

Itamaraty reforça rejeição a intervenção militar internacional na Líbia

Chancelaria aguardou fim da visita do presidente dos EUA para reiterar posição

21 de março de 2011 | 16h 52

Lisandra Paraguassú, de O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – O Itamaraty divulgará ainda nesta segunda-feira, 21, uma nota pedindo o fim dos ataques das coalizão internacional contra as tropas do ditador Muamar Kadafi na Líbia. Os ataques começaram no sábado, um dia após o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovar uma intervenção no país africano.

Horas depois de o presidente dos EUA, Barack Obama, deixar o Brasil rumo ao Chile, o governo brasileiro decidiu reforçar sua posição contrária à intervenção militar na forma que está sendo feita. Caças e outros aviões de guerra de exércitos estrangeiros estão atacando as forças leais ao ditador líbio.

O texto da nota, debatido diretamente entre o chanceler Antonio Patriota e a presidente Dilma Rousseff, apontará que, como o Brasil previu na votação do Conselho de Segurança da ONU, os ataques estão tendo o efeito contrário e aumentando o número de mortes no País.

Na votação da sexta-feira, apenas Brasil, Rússia, Índia, China e Alemanha se abstiveram de votar a favor da imposição da resolução que previa a imposição de uma zona de exclusão aérea na Líbia e o uso de todos os meios para defender os civis líbios. Os outros dez membros do Conselho de Segurança – EUA, França, Reino Unido, Líbano, Bósnia, Nigéria, Gabão, Portugal, África do Sul e Colômbia – aprovaram o texto.

O tom brasileiro deve seguir as reclamações feitas pela Liga Árabe, que, embora tenha apoiado a intervenção inicialmente, alegou que houve excessos nas ações que causaram mais danos aos civis. Desde as negociações para a criação de uma zona de exclusão aérea o Brasil tem se alinhado às posições dos países árabes.

Os ataques da coalizão internacional – formada por EUA, França, Reino Unido, Itália, Canadá, Qatar, Noruega, Bélgica, Dinamarca e Espanha – começaram no sábado. O governo líbio declarou um cessar-fogo, mas os ataques das forças de Kadafi contra os rebeldes que querem derrubá-lo continuam. O ditador está no poder há 41 anos.

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Comentários

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André

O Brasil deixou passar batido uma excepcional oportunidade de afirmar a sua pretenção de ocupar uma vaga no Conselho de Segurança do ONU.

Por que ? Simples.

Porque se absteve e jamais um candidato à vaga deve se abster, enquanto não estiver lá !

A Rússia e a China se abstiveram, mas … eles já estão lá ! Brasil, para entrar lá precisa dizer SIM ou NÃO.

Ficar em cima do muro não pode

Pedro

Estão invadindo a Líbia os bandidos capitalistas americanos e seus colonizados, que, por razões de erro gráfico, estão sendo chamados de coalizão.

André

Onde já se viu uma guerra sem mortos?

O Brasil é a "alice no país das maravilhas" mundial. É por essa e outras que não nao conseguimos uma cadeira no CS.

Maria Dirce

Que feio, esperar a gangue do Obama, que deitaram e rolaram aqui,sair pra oficializar a nota??????Lula Amorim, precisam ensinar o padre nosso pro vigário viu!!!!!!

Antonio

Qual a solução? Deixa o povo líbio nas mãos do "democrata" Kadafi?

    Victor

    A solução é o diálogo: transição para eleições livres, representatividade popular no Parlamento… a menos que vc ache realmente que os americanos estão preocupados com o povo líbio….

    Bruno

    Que tal fornecer armamento na miúda para os rebeldes tirarem o cara do poder?

    Moacir Moreira

    É o povo líbio quem tem o direito de escolher o seu ditador.

    Por que os imperialistas precisam decidir sempre qual o melhor e mais confiável tirano?

beattrice

Da ABSTENÇÃO à omissão diante do fato do ataque ter sido desferido por uma ordem dada do território brasileiro, a posição do Itamaraty envergonha a história da diplomacia brasileira. O episódio dos sapatinhos, da revista em carro oficial federal, e assemelhados, somente agrava o conjunto da obra.

Florival Scheroki

A postura ddo Brasil está ficando simpática. Tratemos os cínicos com cinismo, os hipócritas com hipocrisia. As palavras destes países, USA, França, UK, Itália e outros, valem tanto quanto o sorriso das moças do McDonalds: nada. Por que devemos afrontar o BABAK aqui. Vamos sorrir para ele e fazer o que nos interessa; já havíamos sido contra os USA na votação; contra porque quem está com eles está contra eles, como disse o Bucho filho e continua valendo. Entendo que política é a arte de conviver com os inimigos, porque com os amigos não precisamos de arte ou sorrisos. Não joquemos pérolas aos porcos,digo aos LOBOS vestidos de cordeiros que sorriem. Sejamos performáticos como eles são dentro e fora de hollywood. Ainda confio na história honrosa de Dilma e outros. Não sejamos sinceros com os hipócritas. Façamos com eles o que fazem na ONU: dizem uma coisa e depois fazem outra, com sorrisos democráticos. Eles saberão aceitar a hipocrisia como gesto de confiança.

Jorge Nunes

Educado o governo brasileiro…
Essa história é um show Estados Unidos e Reino Unido depois de matarem 1 milhão de civis no Iraque, e da chacina diária que se seguem. Correm para salvar civis da Líbia matando mais civis…. Só queria entender a lógica.

Bonifa

A coisa começou a ficar complicada… Robert Gates disse que os Estados Unidos vão tirar o time da Líbia nas próximas horas. Falou que a batata quente poderá ficar sob o comando da França e da Inglaterra, ou da OTAN. Foi aí que a França gelou dos pés à cabeça. A Itália disse que não tinha mais condições de ceder o uso das bases em seu território para ninguém a não ser oficialmente para a OTAN. O Cameron fez de conta que pouco tinha a ver com tudo. E a França, gelada, argumentou que se a OTAN entrar oficialmente nisso, os árabes não só não vão apoiar as ações, mas vão até se levantar contra elas. Além do que a Turquia faz parte da OTAN e não vê com nenhuma simpatia esta tal de segunda "Odisséia" (não esquecer que a primeira Odisséia aconteceu depois da vitória de agressores europeus contra Tróia, uma cidade do território da atual Turquia). Algo nos diz que a França pode ter entrado numa fria. A "coisa" ameaça quebrar na cabeça do Sarkozi.

    Gustavo Pamplona

    E o que foi que eu disse? E o que foi que eu disse? E o que foi que eu disse? hahahahahahahaha

    Sempre foram a França e Itália (mais a França que Itália)… Eita Sarkozy com dedinho nervoso no gatilho!!!

    Aliás… o que eu achei mais interessante foi ver os EUA esperarem uma votação no CS da ONU para entrarem nisto… Se eles nem queriam se envolver muito com o lance do Mubarak…

    Geysa Guimarães

    Pamplona:
    Minha irmã veio comentar este assunto e eu me lembrei de que você já detectara essa "paternidade". Você tem pré-visão.

    beattrice

    Se isso acontecer, o que me parece pouco provável, há sérios riscos da extrema direita ter grandes resultados eleitorais na França.

    Bonifa

    Infelizmente, acredito que seja melhor assim, Beattrice. A França está tão cerebralmente paralisada depois da vitória dos falsos filósofos neocons/neoliberais tipo Bernard Henry-Levi, que precisa chegar ao fundo de um poço bem fundo para começar a se reorganizar intelectualmente. Melhor que continuar a pasmaceira de uma centro-direita chinfrim e de uma esquerda perplexa e sem vitalidade.

    Maria Dirce

    Bonifa
    Eu me
    lembro desse ditado antigo"filho feio não tem pai!!!!!!!

luiz pinheiro

Antes tarde do que nunca…

Geysa Guimarães

Sabia! A festa acabou.
A Presidenta foi delicadésima com a visita, agiu como manda o protocolo.
O homem mais poderoso do mundo retribuiu com generosidade, não economizou elogios à anfitria.
Mas continua tudo como era dantes, no quartel de Abrantes.
Eles fazendo a guerra, nós tentando a paz.

Bertold

Mas que papelão, esperaram o "imperador" ir embora. Por que não disseram isso na lata do home? Já sei, não queriam afrontá-lo ou ser deselegante. Mas e o fato de ele vir em território brasileiro, dentro de uma sala do Palácio do Planalto e autorizar um ataque militar a uma país soberano? Que maior deselegância do que isso? Isso é que é afronta!

O_Brasileiro

Dá pra imaginar os meios que um ditador assassino usa para se manter no poder durante 41 anos…

Wendel

Já não era sem tempo! Não lí a nota, mas espero que o Itamarati tenha a postura de um Amorim, e não fique "tirando os sapatos" ou "abaxando as calças", pois eles não usam vazelina!
Patriota, estamos de olho em você! Abra seu olho tb!
Subserviência jamais, mesmo tendo como visitante o ainda presidente, da ainda potência militar e econômica!
Seja mais nacionalista e responsável pela pasta que ocupa!

JotaCe

Caro Azenha,

Caro Azenha,

Ainda que a Folha não mereça crédito, a colonista Castanhede noticia hoje e literalmente que "A previsão de que a nota ‘negociada’ (as aspas são minhas) entre Itamaraty e o Palio do Planalto, siga o mesmo tom já adotado pela Liga Árabe, que critica os países ocidentais pelos excessos cometidos na acão militar e os danos causados aos civis" (da Líbia, digo eu). O adjetivo ‘negociada’me faz perguntar se agora o carro é quem puxa o boi. Certo que a Presidenta foi cortês com o seu par estadunidense, mas será que ela no seu excesso de delicadeza tem mesmo que negociar com Mr. Patriot? Abraços,
JotaCe

    luiz pinheiro

    O verbo é criação da colonista.

Luiz Reis

Mais uma ação de espírito de vira-lata desse Itamaraty pós-Amorim!!

    beattrice

    Começo a achar que o termo já ofende o vira-lata, referindo-se ao senhor Patriot.

SILOÉ

O que ele nos passaram através da mídia é que seria um BLOQUEIO DO ESPAÇO AÉREO e não um BOMBARDEIIO.
Bombardear um país matando civis só porque Kadafi falou em nacionalizar as petrolíferas, aí já é demais.
Se os povos do mundo não se manifestarem CONTRA, ficaremos todos à DERIVA. e veremos de mãos atadas mais uma CARNIFICINA.

betinho2

Creio que muitos pensam que o Brasil ao se abster de votar, no Conselho de Segurança da ONU, simplesmente disse "não voto", ou se retirou do plenário. Não é assim, houve manifestação. E nessa manifestação de certa forma já estava implícita a condenação aos ataques que viriam, como vieram.
Votar contra não faria muita diferença, por não ter poder de veto.
A seguir postarei a manifestação da Embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti, ao proferir a abstenção, para que possamos melhor analisar a posição brasileira.

    betinho2

    Veja a íntegra do discurso de Viotti ao Conselho:

    "Senhor Presidente,

    O Brasil está profundamente preocupado com a deterioração da situação na Líbia. Apoiamos as fortes mensagens da Resolução 1970 (2011), adotada por consenso por este Conselho.

    O governo do Brasil condenou publicamente o uso da violência pelas autoridades líbias contra manifestantes desarmados e exorta-as a respeitar e proteger a liberdade de expressão dos manifestantes e a procurar uma solução para a crise por meio de diálogo significativo.

    Nosso voto de hoje não deve de maneira alguma ser interpretado como endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência para com a necessidade de proteger a população civil e respeitarem-se os seus direitos.

    O Brasil é solidário com todos os movimentos da região que expressam suas reivindicações legítimas por melhor governança, maior participação política, oportunidades econômicas e justiça social.

    Condenamos o desrespeito das autoridades líbias para com suas obrigações à luz do direito humanitário internacional e dos direitos humanos.

    Levamos em conta também o chamado da Liga Árabe por medidas enérgicas que deem fim à violência, por meio de uma zona de exclusão aérea. Somos sensíveis a esse chamado, entendemos e compartilhamos suas preocupações.

    Do nosso ponto de vista, o texto da resolução em apreço contempla medidas que vão muito além desse chamado. Não estamos convencidos de que o uso da força como dispõe o parágrafo operativo 4 (OP4) da presente resolução levará à realização do nosso objetivo comum –o fim imediato da violência e a proteção de civis.

    Estamos também preocupados com a possibilidade de que tais medidas tenham os efeitos involuntários de exacerbar tensões no terreno e de fazer mais mal do que bem aos próprios civis com cuja proteção estamos comprometidos.

    Muitos analistas ponderados notaram que importante aspecto dos movimentos populares no Norte da África e no Oriente Médio é a sua natureza espontânea e local. Estamos também preocupados com a possibilidade de que o emprego de força militar conforme determinado pelo OP 4 desta resolução hoje aprovada possa alterar tal narrativa de maneiras que poderão ter sérias repercussões para a situação na Líbia e além.

    A proteção de civis, a garantia de uma solução duradoura e o atendimento das legítimas demandas do povo líbio exigem diplomacia e diálogo.

    Apoiamos os esforços em curso a esse respeito pelo Enviado Especial do Secretário-Geral e pela União Africana.

    Nós também saudamos a inclusão, na presente resolução, de parágrafos operativos que exigem um imediato cessar-fogo e o fim à violência e a todos os ataques a civis e que sublinham a necessidade de intensificarem-se esforços que levem às reformas políticas necessárias para uma solução pacífica e sustentável. Esperamos que tais esforços continuem e tenham sucesso.

    Obrigada."

    betinho2

    Destaco:

    "Nosso voto de hoje não deve de maneira alguma ser interpretado como endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência para com a necessidade de proteger a população civil e respeitarem-se os seus direitos."

    Agora pergunto, que "abstenção" é essa se a Embaixadora falou "Nosso voto"?

    Victor

    Lendo a declaração da embaixadora brasileira, parece que o Brasil votou CONTRA a intervenção militar. Mas, preferiu o murismo. Para não se indispor com o presidente americano? A posição institucional do Brasil é pela não-intervenção, pela resolução pacífica dos conflitos. Diplomacia é isso, ou não, Mr. Patriot?

    Morvan

    Boa noite.
    Não, Victor. O conceito de abstenção é bem mais amplo do que se supõe. Ou se se abstém por não entender (o que não é o caso ora), por não ter opinião formada sobre o tópico ou até por se concordar parcialmente com o tópico geral, discordando de alguns subtópicos (o que parece se encaixar no caso da diplomacia brasileira, neste caso específico), ou vice-versa, ou seja, discorda-se de quase tudo, mesmo havendo zonas de convergência nas visões dos votantes.

    O Brasil sempre se orientou por saída pacífica e também pela autodeterminação dos povos, mas, nesta questão, pela maneira açodada como fora tratada, havia questões bastante obscuras, daí a abstenção. Diferente de murismo. Murista no concorda nem discorda, muito pelo contrário (concordo com você, esta é velhíssima) e nunca decide por falta de critério.
    O Brasil não. Sua doutrina mestra é o respeito à soberania dos povos e dos Estados e o diálogo como canal preferencial.
    Dê-me licença para agradecer ao Betinho2 pelas intervenções, bastante esclarecedoras.

    Abraços,

    Morvan, Usuário Linux #433640

    SILOÉ

    Obrigada pelos esclarecimentos e pela postura sempre correta e muito educada de suas colocações.

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