Vitória contra o amianto: Justiça decide a favor da vida e do meio ambiente
Tempo de leitura: 3 minpor Conceição Lemes
A fazenda de São Félix, com 700 hectares, fica no município de Bom Jesus da Serra, no sudoeste da Bahia, a 410 km de Salvador.
O turista desavisado logo se encanta com este canyon com lago de águas esverdeadas, circundado por imensos paredões. Dá vontade de conhecê-lo melhor de barco, talvez até mergulhar; os apaixonados por pesca logo se perguntarão sobre os peixes que vivem aí.
Só que quem vê paisagem, não vê o seu coração.
Além de uma galeria subterrânea de 200 km de extensão, esse grande canyon é – acreditem! — o que restou da exploração da primeira mina de amianto no Brasil, a de São Felix, em Bom Jesus da Serra.
Até a década de 1930, o Brasil importava tudo o que consumia desse mineral cancerígeno. Em 1937, esse quadro começou a mudar com a fundação da Sama (Sociedade Anônima Mineração de Amianto) e a descoberta da mina de amianto de São Felix do Amianto.
Em 1939, começava aí a exploração do amianto no País. Em 1967, a mina foi fechada.
Durante esse período, a Sama, inicialmente explorada pelos franceses da Saint-Gobain/Brasilit, e mesmo depois (o sucessor em interesse atualmente é a empresa nacional Eternit S/A), não se preocupou com as condições de vida dos trabalhadores e habitantes do entorno da jazida. Tampouco adotou medidas para reduzir os prejuízos causados pela mineração e evitar a contaminação da água e do ar.
Apoie o VIOMUNDO
Em 2009, então, o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Estado da Bahia entraram com uma ação civil pública contra a Sama (atualmente, chama-se S/A Minerações Associadas, que pertence ao grupo Eternit), por conta dos danos ambientais.
Em liminar, a Justiça Federal em Vitória da Conquista, Bahia, determinou à Sama a realização de uma série de medidas em defesa do meio ambiente e da segurança da população.
A Sama tentou anular a decisão no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).
Porém, por unanimidade, o TRF-1 ( processo nº 0031223-88.2009.4.01.0000), manteve a decisão de primeira instância.
A mineradora terá de realizar estudos técnicos para a elaboração do Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD).
Para isso, informa o Portal Poções, a Sama terá de presentar projeto ambiental pormenorizado, firmado por profissional habilitado e aprovado por técnicos do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com cronograma de execução e implantação.
Entre as medidas determinadas pela Justiça estão ainda:
* Isolamento da antiga mineradora com cercas de arame farpado, para impedir a entrada de pessoas não autorizadas.
* Sinalização da área com 30 placas informativas sobre o risco de danos à saúde do local.
* Recolhimento de resíduos de amianto espalhados na propriedade, observando-se todos os cuidados necessários.
* A empresa terá também de isolar todas as escavações provocadas pela atividade mineradora, onde se acumulam água, com muros de alvenaria ou pré-moldados com sinalização, indicando Atenção – Água imprópria para consumo humano.
“Aos poucos, o silêncio sobre os males do amianto vai sendo rompido”, comemora a engenheira Fernanda Giannasi, auditora-fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),em São Paulo. “Cada vez mais nossas autoridades públicas demonstram coragem para agir contra os perpetradores da maior tragédia ecossanitária industrial planetária de todos os tempos. Prova disso é a portaria assinada na sexta-feira 26 pelo procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT), proibindo o amianto no âmbito do MPT.”
Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores (3º) e exportadores (2º) de amianto do mundo.
A extração, antes feita em Poções foi transferida para Minaçu, interior de Goiás, na divisa com o Tocantins. Aí fica a mina de Cana Brava, a única em exploração no Brasil.
Leia também:
Operação Monte Carlo atinge lobby parlamentar do amianto: Perillo, Demóstenes e Leréia
Amianto: Entidades e profissionais querem banimento já
CartaCapital recusa anúncio da Eternit a favor do amianto
Dr. Rosinha defende o banimento do amianto no Brasil
Perito “suiço” em amianto foi pago pela indústria brasileira do amianto
Morre Manoel, outra vítima do amianto
Morre Aldo Vicentin, mais uma vítima do amianto
Comentários
Fernanda Giannasi: "Brasil se engrandece com condenação da Eternit" – Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] Vitória contra o amianto: Justiça decide a favor da vida e do meio ambiente […]
Vítimas do amianto e CUT querem que Itamaraty retire honraria de ex-dono da Eternit – Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] Vitória contra o amianto: Justiça decide a favor da vida e do meio ambiente […]
Pedro Souza Nogueira
Parabéns Dra. Fernanda! pena que nos outros municípios, incluindo o nosso, não temos ninguém com esta garra e coragem para bater de frente com estes assassinos de trabalhadores.Eu como um simples trabalhador, estou mais preocupado que as nossas autoridades no assunto, não é por ter acontecido com minha pessoa, que fui contaminado, vivo lutando por outros trabalhadores que ainda estão correndo risco de contaminação. A minha situação é grave, com a doença, mas tenho fé em Deus, que ainda vou viver até desmascarar muita gente por aqui. Saudações.
Abrea: Presidenta Dilma, apoie a inclusão do amianto na lista de Roterdã! – Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] Vitória contra o amianto: Justiça decide a favor da vida e do meio ambiente […]
Athos
Parabéns Azenha e Conceição.
A luta continua!
Julio Silveira
No Brasil o passivo ambiental costuma ficar para a cidadania que se vê surpreendida por cancers, anomalias geneticas e fila no SUS.
As empresas quase sempre são vistas e recebidas como salvadoras do patrimonio. Pelos empregos que dão, e também não devemos nos esquecer pela capacidade financeira utilizada para apoiar candidatos a politicos, evidentemente aguardando uma troca de favores. E quase nunca saem decepcionados. O nosso país, de hábitos imediatistas, tem grande dificuldade em olhar o futuro e avaliar o custo beneficio. Falta de previsibilidade estimulada pelos grandes beneficiarios que nunca correm riscos neste país maravilha.
Essa vitória do Amianto é uma grande vitória, mas outros produtos que detonam com a vida por vantagens financeiras de pessoas inescrupulosas continuam por aí com pouca visibilidade.
kalifa
O amianto já expirou sua utilização por aqui!
Mardones
A luta das vítimas do amianto é de longo tempo. E venho acompanhado por aqui a grande Fernanda Giannasi e sua cruzada contra a exploração do amianto no Brasil.
Mais um assunto para mostrar o quanto a nossa representação política e justiça são lenientes.
Deixe seu comentário