Alunos de Obstetrícia protestam contra fim de curso da USP Leste

Tempo de leitura: 2 min
22 de março de 2011 | 20h 17

Mariana Mandelli – O Estado de S. Paulo

Cerca de cem alunos protestaram nesta terça-feira, 22, contra a possível suspensão do curso de Obstetrícia do câmpus da zona leste da Universidade de São Paulo (USP), a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH). O ato ocorreu em frente à reitoria, na Cidade Universitária, no Butantã, zona oeste.

O protesto, pacífico, foi motivado por um relatório denominado Estudo das Potencialidades, Revisão e Remanejamento de Vagas nos Cursos de Graduação da EACH, que aponta uma redução de, no mínimo, dez vagas de cada um dos dez cursos da unidade. Em algumas carreiras, o número chegaria a 80, o que totalizaria uma redução de 330 vagas em toda a unidade. O estudo foi orientado pelo ex-reitor da USP Adolpho José Melfi.

No caso do curso de Obstetrícia, o documento propõe que haja uma fusão dele com a graduação em Enfermagem. O texto ainda propõe a suspensão do vestibular neste ano, enquanto a situação dos egressos – que não conseguem registro profissional – não for resolvida.

O grupo que protestou, formado majoritariamente por mulheres, usou bonecas e bexigas para simular gravidez e, com carro de som e microfone, defenderam a importância do curso para o desenvolvimento da saúde da mulher no Brasil.

“A USP deve assumir seu papel de inovação. A prioridade é manter o vestibular do curso”, afirma a professora Simone Diniz, da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Recebemos a notícia com indignação. A USP está se intimidando diante de tudo isso.”

Durante o protesto, muitas alunas se emocionaram e choraram. Para algumas delas, a universidade está cedendo a “pressões corporativistas”. “O objetivo do nosso curso é a saúde da mulher e humanizar o parto, e não uma reserva de mercado qualquer”, diz Marina Alvarenga, de 23 anos, formada em 2008. Ela é da primeira turma de Obstetrícia. Se eu quisesse ser enfermeira obstetra, teria feito o curso de Enfermagem de uma vez. Nossa profissão existe, consta na lei”, reafirma Marina.

Anteontem, um grupo de quatro alunas do curso teve uma reunião com professores e a pró-reitora de graduação da universidade, Telma Zorn, para discutir o assunto. “Queríamos um posicionamento, porque entendemos que suspender o vestibular é o princípio do fim do curso”, afirma Mariana Gervásio, de 21 anos. “Nessa reunião, ficou claro para nós que a prioridade da USP é resolver a questão dos egressos. Eles não querem mais problemas ‘numéricos’”.

“Não só queremos manter o vestibular do curso como queremos mantê-lo na zona leste e com essas vagas. É o único curso do País, não dá para reduzir. Todas as universidades federais do Brasil deveriam ter, é uma demanda da sociedade”, diz a aluna Flavia Estevan, de 31 anos. “Acabar com o curso é assassinar a saúde brasileira. Queremos inclusive o posicionamento do governo em relação ao que está acontecendo com a gente”.

Segundo a USP, a decisão depende, antes de chegar aos colegiados superiores da universidade, da própria EACH, que deve analisar o relatório, discuti-lo e propor mudanças. A reunião com a pró-reitoria de graduação foi para discutir as principais questões do curso de Obstetrícia, que foi reformulado pela gestão no fim do ano passado.

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Os alunos também estão se mobilizando na internet. No fim de semana, conseguiram colocar o assunto entre os mais comentados do Twitter.

Há também um abaixo-assinado, que já tem cerca de 6 mil assinaturas.

Antes do encerramento do protesto, os alunos fizeram uma passeata pelo câmpus para tentar sensibilizar os alunos e funcionários, distribuindo panfletos e dando informações ao microfone.

Para apoiar o abaixo-assinado, clique aqui.

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Joao_Palma

A USP Leste é conquista de uma luta antiga. Paulo Freire e Marilena Chauí entre muitos, participaram de atos e debates pela sua criação, junto aos movimentos populares da região, desde os anos 80. Seu papel é o de inovar e servir ao interesse público, não o de se deixar dobrar por interesses particulares de corporações de ofício ou dos que mantêm práticas medievais ou comprovadamente desnecessárias e danosas, como as cesarianas e episiotomias de rotina, O obstetra é muito bem vindo junto aos médicos e enfermeiros comprometidos com a saúde da mulher, os direitos reprodutivos, a humanização do nascimento e do parto e o direito ao acompanhante de livre escolha da mulher, construindo novas práticas de saúde. Como médico sanitarista apoio integralmente esta luta.

Ops – Alerta!
Parece que também querem diminuir o número de vagas no curso de gestão de políticas públicas, e em vários outros. O campus leste da USP, pelo visto, vai ter que ser reconquistado.

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