Exmo. Sr. Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Como movimento popular independente que atua no Brasil em defesa dos direitos elementares do povo palestino, consideramos louvável a iniciativa de reconhecimento do Estado palestino – somando-se a mais de cem países e à própria ONU (Organização das Nações Unidas), que desde sempre condenou a ocupação ilegal de territórios por Israel em 1967. A importância de o Brasil tomar a dianteira se torna evidente quando vemos que outros países do continente têm seguido seus passos.
Considerando seu papel enquanto liderança na região, contudo, não podemos deixar de expressar preocupação com ações governamentais que são contraditórias ao gesto simbólico. Ao mesmo tempo em que reconhece o Estado palestino, o Governo brasileiro se configura num dos principais parceiros comerciais da potência ocupante, o que lhe assegura vantagens competitivas e propicia que continue sua política de segregação. Em 2008, segundo informações constantes do site da Embaixada de Israel no Brasil, esse comércio bilateral movimentou valor superior a US$ 1,5 bilhão.
Além de ratificar o Tratado de Livre Comércio Israel-Mercosul, o Brasil tem firmado acordos de cooperação tecnológica e militares com aquele destino. Tais sustentam a situação atual em que direitos humanos fundamentais dos palestinos são violados cotidianamente. Nessa linha, a Polícia Federal adquiriu dois VANTs (veículos aéreos não tripulados) israelenses para monitoramento da fronteira e prevê a compra de pelo menos outros dez até final de 2014, integrando investimentos da ordem de R$ 655 milhões. Não é demais alertar que aeronaves do gênero foram utilizadas nos recentes ataques a Gaza, em dezembro de 2008 e janeiro de 2009, que culminaram na morte de cerca de 1.400 pessoas, incluindo mulheres e crianças, e na demolição de dezenas de casas. Vários outros acordos têm sido sinalizados tendo em vista a realização neste país da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas em 2016.
Desde 2005, o Brasil assumiu a quarta posição entre os importadores de armas de Israel no mundo. Ampliaram-se ainda os mercados e o número de empresas em diversos setores estratégicos, como telecomunicações e agronegócio. O que vai na contramão do chamado da sociedade civil palestina por boicotes, sanções e desinvestimentos ao Estado ocupante até que esse cumpra as leis internacionais e sejam garantidos os direitos inalienáveis do povo palestino.
Para que o louvável gesto do Governo brasileiro não se dilua no tempo, entendemos como crucial que se atrele a ações concretas que pressionem pelo fim da ocupação sionista, a mais longa da era contemporânea.
Assim, deve vir conjugado com a ruptura imediata desses acordos e o desinvestimento em tecnologias que sustentam a opressão, segregação e usurpação de territórios. Aproveitando a sinalização positiva dada por esse Governo, ao final de seu mandato, reivindicamos que lidere esse movimento por justiça e direitos humanos. Iniciativas do gênero abalaram a estrutura do apartheid na África do Sul e obrigaram ao reconhecimento dos direitos da população negra naquele país, no ano de 1990.
Certos de que o Brasil pode fazer a diferença no caso palestino, agradecemos e subscrevemo-nos.
Movimento Palestina para Tod@s
Apoie o VIOMUNDO
Comentários
Fabio_Passos
A compra de armas e tecnologia israelense é uma atidude asquerosa do Brasil.
Sabemos muito bem como são desenvolvidas e em quem são testadas estas armas.
A implicação ética é muito clara: Financiamos uma limpeza étnica.
O Brasil não pode continuar financiando o extermínio do povo palestino.
Nossas mãos estão manchadas com o sangue das crianças assassinadas pelos nazistas que governam israel.
Décio
Pô! Tá de brincadeira?
Uélintom
Ao contrário do que diz o MOPAT, não há contradição na política externa de Lula. A crítica mais reiterada do governo brasileiro às grandes potências ocidentais se referia exatamente aos equívocos de uma política isolacionista e punitiva por elas praticada. Entendo que o MOPAT exija que se cobrem medidas contra o governo israelense, afinal, esse movimento é um dos lados em questão. No entanto, o Brasil deve manter-se firme na busca da construção de um caminho de diálogo, e não pode ceder à espiral de vendetas eternas. Não há certos ou errados nessa história: o MOPAT quer medidas contra o governo israelense, e tem esse direito justamente por ser o lado mais massacrado nesse conflito. Mas o governo brasileiro também está certo em não tomar partido de punições, mas do diálogo, escolhendo o não isolamento e mantendo relações comerciais com Israel. É o exatamente como o Brasil age em relação ao Irã, por exemplo, e portanto não há dois pesos e duas medidas, mas coerência.
Fabio_Passos
Absolutamente incoerente o Brasil.
Comprar armas e tecnologia utilizadas em uma limpeza étnica nos torna cúmplices.
Baixada Carioca
Peraí!…
Quer dizer que reconhecer o Estado Palestino significa romper as relações comerciais com Israel?
Calma lá, palestinos.
Uma coisa é reconhecer o direito de um Estado independente para os palestinos, o outro é tomar outra nação como inimiga porque reconhecemos o direito de uma nação ter um Estado independente. Querer que o Brasil tome Israel como uma nação inimiga pelas causas palestinas é algo que foge à minha compreensão.
Olha. Façamos o seguinte: reconhecemos o Estado palestino e continuamos amigos de todas as nações, inclusive com o direito de estabelecer relações comerciais, políticas e culturais com elas.
Por um Estado palestino!
Pela paz no Oriente Médio!
Por boas relações com todas as nações do mundo!
ratusnatus
A situação do povo palestino sem dúvida é lamentável.
Porém, não estariam nesta situação se tivessem aceito o acordo de paz na década de 80. Acordo hoje que eles querem mas Israel não aceita mais.
Como o mundo da voltas.
Os palestinos foram usados por todos os países árabes e depois abandonados.
Faltou-lhes visão.
Janes Rodriguez
O povo palestino sofre há cinquenta anos uma ocupação vergonhosa de seus territórios, o massacre do seu povo sem distinção, a humilhação cotidiana e a indiferença de outra parte do mundo. Merece resposta esse apelo, e merece resposta o invasor. Os palestinos pagam o crime cometido pelo nazismo europeu.
Vera Silva
Compreendo a carta, mas o que se pede precisa ser decisão do Congresso Nacional. No caso, no momento, só mesmo a chamada pressão governo-a-governo.
Para brigar com terroristas, como os governos americanos e israelenses e a mídia que os apoia, é preciso criar músculos fortes e alianças auto-sustentáveis.
Chegaremos lá.
dukrai
as decisões das compras de armas indicadas na carta do MOPAT é uma decisão do governo brasileiro e tem como primeiro e maior responsável o presidente da república que está sendo cobrado pelo fortalecimento bélico do regime sionista. Da mesma forma o acordo comercial do Mercosul com Israel é uma excrescência e um tapa na cara nos que combatem o terror sionista com armas e dígitos e na resistência palestina massacrada nos guetos da faixa de Gaza e Cisjordânia.
easonnascimento
Concordamos plenamente. O discurso tem que ser seguido de ações concretas que demonstrem que o apoio é pra valer e não apenas instrumento de retórica. O povo palestino merece uma pátria e merece acima de tudo a paz, o que não me parece ser este o pensamento israelense alavancado pelo aliado americano.
http://easonfn.wordpress.com
Deixe seu comentário