Denise Romano: ‘Nós vamos responsabilizar o governo de Minas por cada trabalhador da educação que testar positivo para covid’; áudio

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Romeu Zema. Foto: Reprodução de TV

Denise Romano fala sobre a suspensão da greve sanitária e a retomada das aulas presenciais nas escolas estaduais de Minas Gerais a partir desta quinta-feira, 19 de agosto

Sind-UTE/MG realiza Assembleia Estadual e aprova a suspensão da greve sanitária, que foi deflagrada por tempo indeterminado na Rede Estadual de Educação desde o dia 2 de agosto/21

Sind-UTE/MG

Na tarde dessa terça-feira (17/8/2021), o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) realizou uma Assembleia Estadual, de forma virtual, e aprovou a suspensão da greve sanitária.

A greve sanitária por tempo indeterminado teve início no último dia 2 de agosto, após o Conselho Geral aprovar o calendário de lutas e a realização do movimento para defender a vida da categoria, dos estudantes e das comunidades escolares.

Entre os dias 12 e 17 de julho/21, o Conselho do Sindicato também aprovou a realização de greve sanitária por tempo determinado.

“Nós vamos denunciar todas as contaminações. O que acontecer com a vida dos profissionais, dos estudantes e das comunidades escolares por conta da contaminação nas escolas será de inteira responsabilidade do governo do Estado. Já temos situações de contaminações em várias regiões de Minas”, explica coordenadora-geral do Sind-UTE/MG, professora Denise Romano.

O Sind-UTE/MG também aprovou o Estado de Greve e a construção de um canal de denúncia para mostrar a realidade enfrentada nas escolas.

Em abril de 2020, logo no início da pandemia, a Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG) tentou impor o retorno presencial, sem garantir qualquer segurança sanitária nas escolas estaduais.

Na luta em defesa da vida, o Sind-UTE/MG manteve por 14 meses a suspensão das aulas presenciais, por meio de decisão liminar concedida pelo Tribunal de Justiça.

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De acordo com dados da própria Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG) divulgados ontem (17/8/2021), Minas atingiu 52.002 mortes pela Covid-19 e, em apenas 24h, foram registradas 3.315 novas contaminações.

Ações aprovadas pela Assembleia Estadual

Diante das arbitrariedades enfrentadas pelos profissionais da Educação da Rede Municipal de Betim, com a judicialização da greve e exoneração de diretores escolares, foram aprovadas duas moções:Moção de Apoio à Subsede Betim e aos profissionais da Educação da Rede Municipal pela greve sanitária que realizam

*Moção de Repúdio ao prefeito de Betim, Vittorio Medioli, e ao PCdoB de Betim pelas medidas arbitrárias contra os/as profissionais que realizam a greve sanitária na Rede Municipal Educação

*A categoria também aprovou a participação na Greve Nacional do Serviço Público com paralisação total das atividades, que acontece na próxima quarta-feira (18/8/2021), com a realização de atos locais (virtuais, carreata, manifestações.)

Audiência de conciliação no Tribunal de Justiça

Sem realizar mudanças estruturais nas escolas estaduais ou garantir maior celeridade no processo de imunização da população mineira, o governo do Estado judicializou a greve.

O Sindicato foi convocado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), no último dia 13/8/2021.

Nessa segunda-feira (17/8), a entidade participou de uma audiência de conciliação.

Ficou acordado que o período de 2 a 18/8 não será caracterizado como falta comum, sendo considerada falta greve e a reposição deverá ser feita em até 90 dias, de forma presencial. O retorno presencial das atividades acontece a partir de 19/8/2021.

O Sindicato cobrou a antecipação da segunda dose da vacina contra a Covid-19 para os profissionais da educação, mas o governo não apresentou proposta.

O Sindicato requereu ainda acesso ao sistema criado pela SEE “Monitora COVID”, bem como, que fosse ampliado o rol das comorbidades que tem prioridade ao trabalho remoto e que foram excluídas pelo Governo, no entanto, o TJMG entendeu que não caberia à SEE tal medida, sendo de competência da Saúde e por isso não houve acordo nestes pontos.

Também foi cobrada a inclusão das servidoras lactantes para que sejam mantidas em trabalho remoto, tal como é com as gestantes , bem como, que fosse garantido o rodízio entre os trabalhadores em educação, assim como é realizado entre os alunos, no entanto, ambas as solicitações foram rejeitadas.

Foi compromissado que o Sind-UTE/MG terá acesso livre às escolas para fins de fiscalização e diálogo com a comunidade escolar, tal como já havia sido recomendado pelo Ministério Público do Trabalho.

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Zé Maria

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“QUANDO A EDUCAÇÃO NÃO É LIBERTADORA,
O SONHO DO OPRIMIDO É SER O OPRESSOR”
PAULO FREIRE (1921-2021)

Ao Centenário do Patrono da Educação do Brasil
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“Muito obrigado, Paulo Freire!”

Por José Luís Ferraro*, no ExtraClasse

Em um país de dimensões continentais, muitas poderiam ser as referências quando se trata de analisar os quadros de sua intelectualidade. No entanto, é consenso que – entre esses – o nome de Paulo Freire seja o mais proeminente. Mais que um professor, um educador. Seu ativismo pela educação tem deixado marcas significativas na formação de gerações de docentes e de outros profissionais da educação no Brasil e reverbera pelo mundo. Há cem anos de seu nascimento, o intelectual brasileiro tem inspirado cada vez mais educadores e pesquisadores de diversos países.

Em tempos de democracia abalada por arroubos autoritários e pela tentativa de captura do significante liberdade – por um sistema econômico que faz apenas produzir iniquidades, projetando meticulosamente suas formas de exclusão e propondo como solução midiática formas de representatividade vazias –, revisitar Paulo Freire é um bálsamo de esperança para quem acredita em um futuro melhor. Um futuro de transformação que passa, invariavelmente, pela educação.

Paulo Freire tinha um projeto de educação para o Brasil a partir de uma pedagogia centrada na ideia de emancipação e autonomia, conceitos essenciais quando se pensa a formação humana e suas formas de transformação de indivíduos em sujeitos. Assim, a liberdade seria alcançada por um despertar de consciências instigado por uma educação crítica e criativa. Ser consciente na perspectiva freireana significa fazer com que os indivíduos compreendam sua real situação na sociedade, produzindo formas de identificação subjetiva. Foi esse movimento que permitiu que Freire abordasse a dicotomia opressor/oprimido em seu livro Pedagogia do oprimido, em 1968, como continuidade de outra importante publicação, feita em 1967, Educação como prática de liberdade, ambos escritos durante seu período de exílio no Chile.

Educação libertadora
Nesse sentido, Freire propôs o rompimento com modelos educativos opressores a partir de uma educação libertadora, que se insinua sobre as esferas política, cultural, humana e social como forma de emancipação a partir de uma pedagogia fundada em uma ética da alteridade, do respeito e da dignidade como sinônimo de autonomia. Para tanto, valeu-se do conceito de práxis, entendendo que, para a transformação social, era necessária uma educação que aliasse teoria e prática: uma praxiologia potente, capaz de transformar também a produção da história.

A partir desses elementos, é possível inserir a ideia de educação freireana no rol das pedagogias críticas. Sua dialética vai ao encontro, exatamente, de um método que tem como imperativo evidenciar a relação indivíduo/realidade, o que acaba por aproximá-la da corrente materialista. Destarte, em Freire, a educação é evidenciada definitivamente como ato político – seu dever por meio da práxis é a inserção social de indivíduos historicamente marginalizados –, sendo assim, impossível de ser dissociada de quaisquer pedagogias.

Inspirado por essas crenças, Freire desenvolveu um método educativo que alfabetizou 300 alunos em 40 horas ao longo de 45 dias. Foi o que bastou para que, em 1963 – durante o governo do então presidente João Goulart –, ele assumisse a coordenação da Campanha Nacional de Alfabetização de Adultos, que foi descontinuada com o golpe militar em 1964, ano em que foi preso por 72 dias acusado de doutrinação marxista, embora afirmasse:
“Cristo levou-me a Marx, mas eu nunca me neguei o direito de questionar a ambos”.
Em seguida, no mesmo ano, foi obrigado a se exilar.

Paulo Freire retornaria ao Brasil em 1980, pós-Lei da Anistia, para retomar suas atividades acadêmicas na Universidade de Campinas e, logo após, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, cidade onde, em 1989 – aos 67 anos – assumiria o cargo de secretário de Educação no governo de Luiza Erundina.

O fato é que, inegavelmente, Paulo Freire é um divisor de águas na educação mundial. Imaginemos como seríamos um país diferente se seus Círculos e Centros de Cultura tivessem prosperado Brasil afora, e não sido proibidos pela ditadura. Ou, ainda, Paulo Freire hoje, com sua coragem e seu pensamento, aliando-se nas trincheiras dos movimentos sociais engajado na luta contra o fascismo. Pois bem, de alguma forma ele está lá, ele permanece em nós, professores. Um Paulo Freire redivivo em cada docente que se esforça para pôr em prática uma pedagogia baseada na solidariedade e na colaboração, capaz de integrar elementos técnicos, éticos, estéticos e políticos. Mais do que vivas e parabéns, muito obrigado, Paulo!

*Doutor em Educação.
Professor dos Programas de Pós-Graduação em Educação
e em Educação em Ciências e Matemática
da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PUCRS).

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