Túlio Muniz: O drone de Uberlândia, um histórico de conservadorismo e violência política; advogado representará de graça quem esteve na mira do veneno

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Na quarta-feira, 15 de junho, por volta das 15h, um drone invadiu área do Centro Universitário do Triângulo (Unitri) onde acontecia a pré-produção de ato público que ocorreria à noite com a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. O drone jogou sobre as pessoas que já se encontravam no local um líquido mau cheiroso, provavelmente uma substância conhecida como chama mosca. Fotos: Reprodução de vídeos na internet

O ‘caso Uberlândia’, um histórico de conservadorismo e violência política no Brasil.

Por Túlio Muniz*

As cenas de um drone adaptado para pulverização de veneno em lavouras, utilizado para borrifar produto químico contra apoiadores de Lula, Alckmin e Kalil em Uberlândia-MG, na última quarta-feira, dia 15 de junho, acende mais do que um alerta quanto ao que se enfrentar e combater nas eleições deste ano (veja PS do Viomundo 1).

É o prenúncio do que virá a ser a campanha presidencial no Brasil.

Se em 2018 as caravanas de Lula forma alvejadas por tiros em rodovias de Santa Catarina, a ofensiva agora promete ser antecipada, e mais sofisticada.

Tinha que ser em Uberlândia, a cidade brasileira cujo PIB (que não é o mesmo que divisão de riqueza) é o maior entre as ‘não capitais’, e é mesmo maior do que muitas capitais, impulsionado pelo tal agro negócio, que nas últimas cinco décadas fez fortuna de poucos a troco da devastação do cerrado no Oeste de Minas Gerais, ocasionando desaparecimento de fauna e flora, assoreamento de rios, êxodo de trabalhadores rurais para as cidades.

Uberlândia é, também, exemplo de como a direita manda e desmanda na política do país.

Desde os anos de 1980, apenas dois prefeitos não foram de direita: de 2013 a 2016 foi Gilmar Machado(PT) , e por duas vezes (1983-1988, e 2001-2004) Zaire Rezende (MDB), aliás falecido neste junho, aos 90 anos.

No mais, o espectro político da cidade sempre foi de Direita, e com matizes cruéis.

Entre elas, a trajetória política de Rondon Pacheco (1919-2016), que iniciou carreira ainda nos anos de 1940, pela direitista União Democrática Nacional (UDN) , em oposição a Getúlio Vargas.

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Em 1950, Pacheco se elegeu deputado federal pela primeira vez e ficou na Câmara até 1967, quando assumiu a Casa Civil do segundo dos ditadores militares, Costa e Silva.

Como ministro, ajudou a redigir e assinou o Ato Institucional 5 (o AI-5), em 1968, marco do recrudescimento da ditadura.

Sua lealdade foi premiada com a nomeação para o governo de Minas Gerais, em 1971, a partir do que tratou de alavancar o desenvolvimento de Uberlândia.

E favor não confundir Rondon Pacheco com o notório defensor dos indígenas que foi o Marechal Cândido Rondon (1865-1958), pois foi durante o governo de Pacheco em Minas que seu deu o deslocamento forçado dos indígenas da etnia Krenak para fora de terras que reivindicavam ao longo do rio Doce, das quais somente obtiveram controle a partir dos anos de 1980-90.

Até então o polo econômico e político do Triângulo era Uberaba, outra referência do agronegócio, pelo viés da pecuária.

Rondon Pacheco tratou de alterar traçados de rodovias que cruzariam o país de Norte a Sul e de Leste a Oeste, fazendo-as passar por Uberlândia, e implantou a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), sem incomodar a privada Universidade de Uberaba (Uniube), fundada pelo político e escritor Mário Palmério.

Pacheco sempre manteve títeres seus à frente da prefeitura de Uberlândia, exceto Renato de Freitas (1973 e 1977).

Entre eles, destacou-se Virgílio Galassi, prefeito por quatro vezes dos anos de 1970 aos 2000, um populista desenvolvimentista que, apoiado por Rondon e pela ditadura, industrializou a cidade, e se calcou na expansão da construção civil e no incremento do agronegócio, ao ponto de, nos idos de 1990, veicular matéria de capa paga na Veja ‘vendendo’ Uberlândia e o Cerrado como “A Califórnia Brasileira”.

Megalomaníaco, patrocinou a construção de um estádio de futebol, o Parque do Sabiá, que até hoje, em partida, só foi lotado na inauguração um jogo entre a imortal seleção brasileira de 1982 contra um inexpressivo selecionado da Irlanda.

Galassi fez a escola que elegeu todos os seus sucessores, a exceção de Zaire Rezende e Gilmar Machado, que, aliás, foi mais uma vítima de lawfare lavajatista quando tentava mandato de deputado federal em 2018, sendo injustamente acusado, preso durante a eleição e depois inocentado.

Inclusive é percursor de Galassi o atual prefeito, Odelmo Leão Carneiro, ora no quarto mandado, líder do agronegócio desde os anos de 1980, quando assumiu o controle do poderoso Sindicato Rural de Uberlândia (patronal), e foi um dos fundadores da União Democrática Ruralista (UDR).

É a mesma UDR que, em 1989, quando da primeira eleição presidencial pós-ditadura, promoveu em Uberlândia, não por acaso, o lançamento nacional da candidatura de Ronaldo Caiado (atual governador de Goiás).

No verbete dedicado à UDR na Wikipedia, ela é precisamente definida: “entidade associativa brasileira que reúne grandes proprietários rurais e tem como objetivo declarado ‘a preservação do direito de propriedade e a manutenção da ordem e respeito às leis do País’ “.

Em 2018, Jair Bolssonaro teve nada menos que 63% dos votos uberlandenses no segundo turno das eleições, e o bolsonarista Romeu Zema (Novo), teve avassaladores 87% dos votos para o Governo do Estado de Minas Gerais. Tal histórico explica bem a mentalidade de gente que se acha no direito de borrifar veneno em seus opositores, e que não hesitaria em utilizar de métodos mais violentos, e letais.

O ‘caso Uberlândia’ foi apenas um primeiro campo de guerra no qual a resistência é rara, mas necessária e por vezes já foi exitosa. O que ocorreu em 15 de junho representa o que virá pela frente em regiões onde a direita é forte historicamente, outro motivo para combatê-la e derrotá-la.

Em tempo: o advogado referência dos Direitos Humanos em Uberlândia, José Carlos Muniz Filho, se dispôs a representar, sem nenhum ônus, pessoas que estiveram sob a mira do drone pulverizador de veneno. Contatos: https://www.facebook.com/josecarloscmuniz e WhatsApp (34) 9183-3151.

Túlio Muniz é historiador (com graduação e mestrado pela Universidade Federal do Ceará), com doutorado na área de Sociologia , em Pós-Colonialismo e Cidadania Global, pelo Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia (CES-FEUC) da Universidade de Coimbra. É professor adjunto na Faculdade de Educação (FACED-UFC). Também é Jornalista profissional.

PS 1 do Viomundo, com informações da Focus Brasil/ Fundação Perseu Abramo: Na tarde desta quarta-feira, 15 de junho, por volta das 15h, um drone invadiu área do Centro Universitário do Triângulo (Unitri), onde acontecia a pré-produção de ato público que ocorreria à noite, com a participção do ex-presidente Lula e do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil.

O drone jogou sobre pessoas que já se encontravam no local um líquido mau cheiroso. Inicialmente se achava que fosse urina e fezes. Depois, concluiu-se que provavelmente é uma substância conhecida como chama mosca.

Policiais militares, que trabalhavam no apoio ao evento, interceptaram uma caminhonete onde estavam três homens com o equipamento. Eles foram presos em flagrante e depois liberados. 

Na quinta-feira, 16 de junho, o planejamento da operação com o drone veio à tona.

Um vídeo supostamente feito por um dos operadores mostra o instante em que o equipamento sobrevoa o Unitri.

Eles alegam nas imagens que a substância se tratava de um veneno. A quantidade seria 2 litros. “Pode levantar. Joga pra cima do palco. Joga pra cima do palco”, disse uma das pessoas que aparentemente filmava a ação. “Roda mais para o lado da arquibancada”, continuou.

Outro indivíduo que guiava o aparelho disse que a vazão do líquido “estava no máximo” e que “o povo estava correndo”. O próprio controlador garantiu que haviam 2 litros. Ele também frisou que várias pessoas estavam arremessando objetos em direção ao drone, provavelmente para derrubá-lo.

Os suspeitos não tinham autorização para usar o equipamento. O caso está sendo investigado pela polícia. 

PS 2 do Viomundo: Em seu discurso no ato em Uberlândia, na noite de 15 de junho, o ex-presidente Lula condenou o ataque ocorrido à tarde contra manifestantes com drone, que lançou uma substância química sobre o público.

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Comentários

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Zé Maria

“Policiais militares, que trabalhavam no apoio ao evento,
interceptaram uma caminhonete onde estavam
três homens com o equipamento.
Eles foram presos em flagrante e depois liberados.”

Questionamento:

Os Bandidos foram “presos em flagrante”?
Ou foram detidos “e depois liberados”?

    Zé Maria

    PM da Quadrilha do BolsoZema efetuar Prisão de Bandido Bolsonarista seria inédito

RiaJ Otim

Qua justiça se faça. Esse poderia facilmente tem lançado o que mataria a todos em minutos, mas por bondade lançou apenas merda e deveria receber um prêmio pelo ato

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