Tânia Maria de Oliveira, sobre o fatídico 31 de agosto de 2016: Em 2 anos, retrocesso de 20

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Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Plenário do Senado na fatídica sessão  de 31 de agosto de 2016 que aprovou a derrubada de Dilma Rousseff da Presidência da República  Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

BRASIL E OS AGOSTOS: VINTE ANOS EM DOIS

por Tânia Maria S. de Oliveira, via e-mail

Resguardado os números, a frase dos anos cinquenta que dava norte ao Plano de Metas do Presidente Juscelino Kubitscheck serve como luva para o Brasil atual, só que às avessas, não como indicativo de progresso, mas de retrocesso.

As camadas de acontecimentos em ritmo absurdamente acelerado, diante da obviedade das consequências dadas, nos leva a ressignificar o passado e analisar o percurso.

Passados exatos dois anos do fatídico 31 de agosto de 2016, em que o Senado da República, em uma farsa midiática, utilizando o instrumento legítimo do impeachment de forma completamente distorcida, por maioria, retirou o mandato popular da presidenta Dilma Rousseff, o Brasil se encontra mergulhado no caos.

As instituições estão em conflito aberto. Houve crescimento do desemprego, queda dos rendimentos, agravamento do quadro fiscal.

Aumento da violência no campo, com o número de 70 assassinatos no meio rural no ano de 2017, maior registro nos últimos 14 anos, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Foram 225 reajustes no preço da gasolina, um resultado 20 vezes maior do que todos os aumentos promovidos em 13 anos de governos Lula e Dilma.

A destruição da integração regional (Mercosul e Unasul) diminuiu a importância do Brasil no mundo.

A censura e o desmonte de programas de pesquisa são regras nas universidades federais. A redução de alunos beneficiados com o FIES a partir da mudança nos critérios dificulta o acesso ao ensino superior.

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O corte do orçamento promovido pela Emenda Constitucional nº 95 tem ocasionado o abandono de diversos programas sociais, com redução dos investimentos em saúde.

Os reajustes ao salário mínimo ocorreram abaixo da inflação. Por seu turno e não menos grave, a reforma trabalhista precarizou as relações de trabalho, com a inserção da modalidade de trabalho intermitente e aquelas praticadas no âmbito das empresas de prestação de serviços a terceiros inclusive na atividade-fim, chamada de terceirização.

A vida do povo brasileiro piorou sensivelmente em dois anos. A extrema pobreza voltou ao nível de 12 anos atrás e a volta ao Mapa da Fome das Nações Unidas é uma possibilidade cada dia mais premente, de acordo com dados divulgados por pesquisadores do Ibase e da ActionAidBrasil.

Em outra ponta, a desconstrução de princípios do direito de defesa, no curso das operações de investigação em andamento no país, fizeram a parte do torpor midiático, operando a lógica de “limpeza” com juízes e membros do Ministério Público brincando de heróis e atuando seletivamente, de acordo com suas crenças e convicções.

O acirramento dos conflitos fez crescer manifestações de ódio, preconceitos de toda ordem, dentro e fora das redes sociais, que possuem representação em indivíduos com espaço e aprovação popular acima da média da maioria dos políticos. O que nos aponta que não se trata apenas de uma crise política e econômica, mas de identidade.

As bandeiras que acenavam contra a corrupção não por acaso eram as mesmas que intentavam “defender a sociedade” de artistas e produtores culturais e suas exposições, peças de teatro e encenações pervertidas em museus.

No caminho do paradoxo, os homens e mulheres que enxergavam a perversão à infância em uma performance de um homem nu, que gerou uma turba e uma CPI no Senado Federal, pouco se importaram com a redução da fiscalização da exploração de crianças e do trabalho análogo à escravidão pelo governo Temer.

Migramos de uma nação que construía o futuro com as bases fixadas no presente para uma distopia. Tornou-se penoso imaginar um futuro no país depois de tantos desmantelos.

Mas, a despeito de todas suas fraturas, esse pais vai eleger seus representantes nas casas legislativas e nos executivos estaduais e federal no próximo outubro.

Mas ainda é agosto. E precisamente no último dia do mês o TSE pode decidir se Lula, o líder isolado nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República é, ou não, candidato.

É mais um agosto em que o presente pode marcar o futuro de forma muito profunda, e que impõe a tarefa de descobrir possibilidades de nos reinventar no presente.

Por hora o que temos é que Lula está preso em uma cela em Curitiba. Mas o imaginário que ele encarna segue em movimento, não importa a decisão do Tribunal.

E se a avassaladora velocidade das mudanças em dois anos nos causa perplexidade ao repeti-la como narrativa, a teia de significados do que simboliza esse homem ganha dimensões cada vez maiores, dentro e fora do Brasil. De tal modo que sua emblemática frase dita no dia de sua prisão: “eu não sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia “ parece ecoar todos os dias nos corredores, nos gabinetes e nas salas dos tribunais.

Se seu corpo está em uma cela, sua imagem está nas ruas, nos braços de uma multidão, gravada pra sempre na retina por meio de uma foto. Lula é o nó górdio a desatar e a superar para os que promoveram os vinte anos dos últimos dois. Qualquer que seja o futuro do país, não existirá sem ele.

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