Requião: É preciso tirar a Petrobras das mãos dos abutres internos e externos e um acordo urgente Petrobras-BNDES

Tempo de leitura: 9 min

petrobras e requião

Uma proposta para manter empregos e assegurar a soberania do Brasil sobre Nosso Petróleo: o acordo Petrobras-BNDES

por Roberto Requião*

A corrupção existiu em todas as sociedades humanas. A história é pródiga em exemplos. Não há país ou instituição livre desse mal.

Por mais que se combata, não é possível dizer que ela será eliminada completamente. Mas combatê-la é nosso dever, como cidadãos, como profissionais e como homens públicos.

Eu sempre defendi e defenderei todo tipo de investigação. Ela é sempre salutar. Assim como a transparência nas atividades públicas. A corrupção é como o mofo, não sobrevive à luz.

Todavia, o combate à corrupção e as investigações não precisam prejudicar o desenvolvimento do Brasil. Pelo contrário, elas deveriam ser feitas em nome do desenvolvimento.

Segundo o jornal Valor Econômico, o Brasil deve ter uma perda imediata de R$ 100 bilhões ou 2% do PIB por causa da Lava-Jato. É o mesmo número que tem estimado diversas consultorias e bancos. Segundo o artigo, as perdas seriam ainda de 1,3 milhões de empregos e R$ 15,6 bilhões em massa salarial, ou seja, é muito menos em dinheiro para a sobrevivência das famílias trabalhadoras.

Esses 2% de retração ainda é um número conservador. Se contarmos os efeitos indiretos, nos próximos anos, e que a continuidade da operação em muitos outros setores seja feita com o mesmo “cuidado” com que se fez na Petrobras, o impacto será muito maior.

Se a economia não crescer nos próximos anos por causa da paralisação da Petrobrás, dos investimentos em equipamentos para exploração, transporte e refino de petróleo, assim como das obras de infraestrutura, haverá uma perda acumulada de PIB de mais de 300 bilhões de reais em comparação com extrapolação da estimativa de crescimento média de 2,5%, que o Brasil obteve na última década.

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É um valor incomparável com o estimado para a corrupção investigada, que está em poucos bilhões de reais, mais especificamente 6 bilhões, segundo o balanço da Petrobrás aprovado por grande firma de auditoria internacional.

Se é esse o caso, esse combate à corrupção se parece com a história do caipira que tinha um bicho de pé muito incômodo e deu um tiro no pé para tentar matá-lo… O remédio doeu muito mais do que a doença e não se pode garantir nem que tenha atingido o pequeno alvo.

Não há dúvidas de que há a intenção de replicar de forma “tropicalizada” no Brasil a operação Mãos Limpas que sacudiu a Itália nos anos 90.

A princípio a intenção é boa. Mas precisamos ficar alertas e aprender com a história. Os fatos indicam que a operação Mãos Limpas na Itália não mudou quase nada a posição do país no ranking global da corrupção e ajudou a eleger o Berlusconi, depois de terem sido extintos todos os grandes partidos históricos. A taxa de crescimento econômico da Itália não melhorou depois da operação Mãos Limpas. Hoje o país é um dos falidos do Sul da Europa em grave crise econômica. Definitivamente, o desenvolvimento não é um caso de polícia, mas de política.

Não é necessário que uma investigação paralise uma empresa como a Petrobras. A maioria das grandes obras da Petrobras ficou paralisada, em algum momento, nos últimos meses, gerando prejuízos imensos para a empresa, para o país e para os empregados de seus fornecedores. Há equipamentos caríssimos das mega refinarias de Pernambuco e de Itaboraí, no Rio, que deverão ser comprados novamente, porque a maresia está destruindo suas partes sensíveis que deveriam ter sido montadas há meses.

Há obras 90% já concluídas que estão paradas. Quanto isso custa em termos de faturamento mensal para a Petrobras? Quem vai pagar por isso?

A investigação deve atingir as pessoas físicas, que são os corruptos, mas não as instituições, as equipes técnicas, os corpos funcionais e as obras que são essenciais para o desenvolvimento do país.

Nesse sentido, estou propondo uma lista de medidas urgentes para recuperar a capacidade de investimento da Petrobras.

É preciso tirar a Petrobrás das mãos dos abutres internos e externos. Não apenas por conta da Petrobrás, o que por si só já se justificaria, porque se trata de um ícone da Nação, mas por causa da influência que a Petrobrás tem sobre o conjunto da economia brasileira. Estatisticamente, ela tem relação direta ou indireta com quase 20% do PIB. Contudo, qualitativamente, ela empurra ou faz encolher o PIB quase inteiro em razão de suas relações nas cadeias produtivas internas e externas.

Dias atrás a televisão mostrou pequenos restaurantes, bares e lojas que tiveram de fechar as portas em São Gonçalo e em Niterói por falta de fregueses. Seus fregueses perderam o emprego. Reflexo, claro, da redução dos investimentos da Petrobrás mega Complexo Petroquímico de Itaboraí no Rio de janeiro (Comperj). Isso, contudo, é apenas um pequeno efeito impressionista. A realidade crua são milhares de trabalhadores já demitidos na cadeia do petróleo e centenas de milhares talvez na perspectiva de demissão por causa da incidência do efeito Lava Jato,  sobre a viabilidade financeira de quase todos grandes fornecedores de capital nacional da Petrobras.

A situação é grave. Mas a solução não está fora do nosso alcance. É possível resolver de forma inteligente a crise da Petrobrás e de toda a cadeia produtiva do petróleo, assim como das cadeias paralelas. Felizmente, temos uma experiência muito bem sucedida, empreendida em uma situação econômica semelhante. Em 2008, no auge da Grande Crise Financeira Global, nosso sistema bancário privado, “patriótico como é”, pretendeu salvar somente “a própria pele” cortando o crédito para investimento das empresas produtivas.

O Governo Lula, sabiamente, determinou ao Tesouro que repassasse 100 bilhões de reais ao BNDES em 2009 e mais 80 bilhões de reais em 2010 para garantir a marcha dos investimentos. O resultado foi um fantástico crescimento de 7,5% do PIB em 2010, apesar de toda a crise mundial.

É verdade que o Governo, nos anos seguintes, recuou precipitadamente dessa política. Com isso, o PIB retornou a níveis medíocres. Contudo, o exemplo ficou.

Pretendo tomar a iniciativa de um projeto, para o qual solicito o apoio dos meus pares, independentemente de partidos e de ideologia, para salvar a capacidade de investimento da Petrobrás com repasse de recursos do Tesouro, através do BNDES, de forma similar ao que aconteceu em 2009 e 2010. Em profunda recessão, como estamos, o crescimento econômico resultante não terá qualquer impacto inflacionário. Ao contrário, recuperando os investimentos da Petrobrás, será também irrigada financeiramente toda a cadeia do petróleo, que está em plena recessão, favorecendo a retomada de crescimento do PIB. Também não impactará o déficit ou a dívida pública líquida, porque levará a um aumento nos ativos financeiros da União igual ao aumento do passivo.

Com o crescimento do PIB e da arrecadação, a relação dívida/PIB cairá, anulando o efeito inicial da transferência de recursos do Tesouro para a Petrobrás via BNDES. O que aliás aconteceu nos anos seguintes à crise internacional, quando a relação dívida líquida/PIB se reduziu.

Os números que mostrei do Valor Econômico são de abril. Hoje já há economistas que estão estimando uma contração do PIB de 5% para os últimos trimestres do ano. Os bancos já falam em 3%, mas eles querem dourar a pílula, a fim de que não sejam questionados em seus lucros indecentes enquanto o país afunda. A contração de 5% não é exagero. Já temos o peso de um crescimento perto de zero no ano passado, temos que considerar que o efeito do arrocho Levy é de no mínimo 2% negativos. Sobre isso, temos o efeito Lava Jato, incidente diretamente na cadeia do petróleo, que provavelmente implicará uma contração adicional de cerca de até 3%. No total, portanto, algo que pode chegar a 5% de contração.

O projeto que estou trazendo à discussão desta casa busca reverter essa terrível tendência, jamais experimentada pela economia e pela sociedade brasileira.

A única restrição que vejo ao projeto é de natureza ideológica. Dirão que as agências de risco, vendo a transferência de recursos do Tesouro para o BNDES, a fim de o BNDES salvar os investimentos da Petrobrás, vão desclassificar o Brasil.

Ora, elas já estão em processo de desclassificação. E a culpa será do arrocho do Levy que levará a elevação substancial da relação dívida/PIB. No primeiro semestre a arrecadação de impostos caiu quase 3%. É mais do que o ajuste.

O PIB também cairá, só FHC gerou tamanho prejuízo à solidez fiscal do Brasil quanto esse atual Ministro da Fazenda.

Mas o dogmatismo do mesmo e de seus aliados na imprensa é inabalável.  Essa pesada perda que ele está causando na saúde fiscal do Brasil será desculpa para outro arrocho, muito mais duro, e depois outro, e outro, como na Grécia…

Ademais, o problema não se resume apenas no erro da política de arrocho. Tão absurdo quanto isso é manter o país governado pelos caprichos dos estagiários das agências de risco. Aqueles guris pouco criativos que fazem “o cálculo” da solidez fiscal brasileira. Não podemos deixar nossa soberania na mão desses estagiários.

Ora, se os estagiários das agências de risco estiverem de mal humor, façamos um acordo estratégico com os bancos chineses, e o próprio Banco dos BRICS, para nos assegurar linhas de financiamento não contingenciadas enquanto os bancos ocidentais, usando as agências de risco para fazerem chantagem, tentarem encarecer ou reduzir o nosso crédito.

Estamos falando de um país com 200 milhões de habitantes. Temos que restaurar nossa capacidade de auto-governo, decidir nosso próprio destino. E isso passa necessariamente pela normalização das operações da Petrobras.

O esquema proposto neste projeto de lei visa restaurar em sua plenitude a cadeia de pagamentos e recebimentos da Petrobrás. Na medida em que se normalizem os fluxos de pagamentos da Petrobrás, serão automaticamente normalizados os fluxos na cadeia de fornecedores e prestadores de serviços, assim como das cadeias ligadas aos estados e às prefeituras de municípios que recebem royalties do petróleo ou possuem unidades produtivas ligadas a essa cadeia.

No auge da crise de 2009, como disse antes, o Tesouro transferiu R$ 100 bilhões ao BNDES, e mais R$ 80 bilhões no ano seguinte para que ele irrigasse o sistema produtivo com financiamentos. Não há nenhuma razão técnica ou econômica para que algo semelhante não seja feito em apoio à Petrobrás. A experiência de 2009/10 foi plenamente exitosa, sendo que a economia cresceu mais de 7% em 2010. Quando esse expediente foi retirado, a economia começou a cair. Tanto quanto a Petrobras, o BNDES é outro alicerce fundamental à soberania Nação, criado pelo Presidente Vargas.

A condição para restauração total dos pagamentos, no caso da Petrobrás, será a realização de auditorias contábeis nos elos financeiros sobre os quais recaia suspeita fundada de irregularidade. A Petrobrás evitará que eventuais auditorias sejam realizadas com o cunho único de retardar pagamentos de fornecedores, prestadores de serviços e unidades federativas beneficiárias de royalties e unidades produtivas da cadeia de petróleo. O resultado das auditorias deve ser tornado público.

O projeto de lei visa a proteger o emprego e a economia nacional das grandes perdas que certamente ocorrerão na medida em que os maiores fornecedores da Petrobras venham a ser declaradas inidôneos para a execução de obras públicas e fabricação de equipamentos. Na realidade, a culpa por fraudes e irregularidades na gestão de contratos com a Petrobrás é dos responsáveis, que são pessoas físicas e não jurídicas. A empresa é um instrumento econômico e social. Como todo instrumento, pode ser manejado para o bem ou para o mal. Não há sentido em penalizar empresas que acumulam notável capacidade tecnológica, privando o próprio Governo de usar esses recursos técnicos e gerenciais em grandes projetos.

Não podemos também tampar o sol com a peneira. A Dilma, no atual mandato, cometeu equívocos prejudiciais à empresa e à recuperação da economia. Estranhamente autorizou o Conselho Monetário Nacional a rever uma regra que já havia sido abolida na crise de 2009 e que passa a inviabilizar que o BNDES financie a Petrobras. Porém, permite que o BNDES continue financiando as grandes empresas multinacionais, concorrentes da Petrobras. Isso está errado.

Também está errado permitir uma taxa de juros tão elevada, que gera centenas de bilhões de reais improdutivos por ano. Neste ano, o governo não se opôs ao Banco Central aumentar irresponsavelmente essa conta, enquanto pede ao povo que se sacrifique em nome do “ajuste fiscal”. Ora, o povo deve deixar de comer para os rentistas engordarem? Em nome de que? De um ajuste fiscal que não funciona?

Se o interesse fosse mesmo melhorar a contas públicas, o governo deveria começar pela isenção fiscal à distribuição de lucros e dividendos, sancionada por FHC no embalo do chamado Consenso de Washington . Eu não compreendo porque até hoje essa isenção ainda está em vigor. Somente no ano de 2013, apenas 70 mil pessoas, 1/4 do bairro de Copacabana, ganharam R$ 200 bilhões em lucros e dividendos. E nada pagaram de impostos sobre essa renda.

Enquanto, nós assalariados pagamos até 27,5% de imposto.

Nada contra pagar um imposto justo. Os impostos são a contribuição dos cidadãos ao pacto social que constrói a ação coletiva, a solidariedade e a paz em uma nação.

Que pacto social é esse onde os mais ricos quase nada pagam, os mais pobres pagam muito? O mais paradoxal é que esses mesmos ricos protegidos do fisco, reclamam dia e noite dos impostos! Pura cortina de fumaça. De tanto reclamar, ninguém vai acreditar que eles pouco pagam.

Ao menos é o que eles esperam que pensemos…

Vou propor também um projeto que acaba com essa isenção, se voltarem a pagar impostos, os muitos ricos poderão reclamar com mais propriedade, com conhecimento de causa.

Acredito que o ministro Levy deve me apoiar, afinal, segundo cálculos divulgados pela revista CartaCapital, a instituição desse imposto faria sozinho metade do ajuste fiscal que está propondo e que a sua própria “equipe econômica” está sabotando com juros desnecessários.

Sobre isso também tenho uma sugestão. Como o diagnóstico é a inflação pelo excesso de consumo, o que é questionável, melhor seria aumentar o IOF nas operações de crédito ao consumo. Assim seria preservado os empréstimos para investimento das empresas. Isso também aumentaria as receitas do governo, ao invés de gerar mais gastos. Agradeço aos amigos Chicão e Robson, do sindicato dos bancários da Paraíba, que pediram para que eu citasse no discurso essa política como alternativa ao aumento da Selic.

Está na hora da Presidente Dilma perceber que o “ajuste fiscal” com juros nas alturas jamais dará certo. Se ela quer que a Petrobras volte a liderar o crescimento do Brasil, precisa ouvir menos o setor financeiro e ter a mesma audácia que teve como ministra da Casa Civil ao apoiar as políticas de solução da crise de 2009. Isso ajudará também os Estados em crise financeira, via royalties e crescimento econômico. Caso contrário, nossa crise atual será muito maior do que aquela. Aliás, já é.

Roberto Requião é Senador. Foi governador do Paraná por 3 mandatos e prefeito de Curitiba.

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Comentários

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Victor Hugo

Já observo o senador Requião a tempo.Concordo plenamente só não entendi taxar imposto na distribuição do lucro,uma vez q o imposto já é pago pela pessoa jurídica, seria bitributação. Quanto a crise moral da Petrobras deveria imediatamente fazer total intervenção judicial nas empresas envolvidas ,com grupos auditores e cujos pagamentos seriam alocados numa conta judicial, assim manteriamos os empregos,e todo resíduo do lucro o mantinha para pagar o dinheiro excedente (super faturados)nos contratos com a Petrobrás.O Requião tem postura nacionalista e coerente,Seria uma excelente opção para 2018.Pode contar comigo.Gostaria de vê lo em outro partido,exemplo PDT.

Fábio Brito

Não devemos baixar a guarda, temos que buscar responsabilizar a todos que pregaram o GOLPE no país. Dar nome a cada indivíduo, principalmente este pessoal da oposição.
Temos que entrar com representação contra o PSDB pedindo sua cassação, ou será que nossa constituição PERMITE QUE SE PREGUE CONTRA O ESTADO DE DIREITO???

Agora é hora do contra ataque, dentro da lei, não devemos deitar em berço esplêndido nesta hora.

Leiam meu novo post: AVISO AOS NAVEGANTES: NÃO FIQUEM BOIANDO NO RIO. HAVERÁ O CONTRAGOLPE.

Democracia não é CONCURSO DE POPULARIDADE, a aprovação de governantes aumentam e diminuem, por vários fatores, um deles diz respeito a ACEITAÇÃO da classe dominante, que, quando está incomodada, recorre a desestabilizações de governantes democraticamente eleitos, ajudada por interesses externos.

https://rebeldesilente.wordpress.com/2015/08/16/aviso-aos-navegantes-nao-fiquem-boiando-no-rio/

Nelson Nobre

Uma nova forma de gestão na Petrobras será o primeiro passo para a sua recuperação. Segundo uma reportagem da Carta Capital umas das causas da dificuldade financeira da Petrobras foi causada pelas estratégias erradas do próprio Governo, o lava-jato foi só um agravante.

WSobrinho

Mais uma vez Requião pondo os pingos nos iiisss.
Confusão e criminalização de uma atividade pública fundamental, por Roberto Requião
SEX, 14/08/2015 – 07:12
ATUALIZADO EM 14/08/2015 – 07:39

A nova Geni: Confusão e criminalização de uma atividade pública fundamental

por Roberto Requião

Alguns críticos estão querendo transformar o BNDES em uma nova Geni. Na ânsia de criticar a instituição chegam a cometer erros graves. Um deles me chamou atenção em particular, porque tem sido muito citado nas audiências públicas que participo no Senado Federal.

Estou me referindo aos empréstimos externos do BNDES. Os empréstimos para apoiar exportação de serviços e equipamentos são absolutamente comuns no mundo. Nossos concorrentes inclusive usam esse instrumento de forma muito mais agressiva e em volumes muito maiores do que o Brasil, sem nenhuma contestação interna. E mesmo no Brasil, eles já existem há quase 40 anos. Mas inesperadamente se transformou em algo “pecaminoso”, para alguns, para alegria dos países concorrentes do Brasil. Ainda não consegui entender a razão. Mesmo porque as explicações para esse suposto “pecado” são notadamente precárias.

Uma crítica, em particular, me assustou pela precaridade, mas de tão repetida, contaminou alguns parlamentares e virou tema de debates recorrentes no Congresso Nacional. Eu me refiro à diferença entre a taxa de juros Selic e a taxa de juros dos empréstimos externos do Brasil.

Estranhamente, os críticos estão fazendo confusão entre empréstimos em dólar e em real. Até outro dia, era de conhecimento comum que as taxas de juros em diferentes moedas são sempre diferentes por dois motivos muito simples: (1) sempre existe expectativa de alterações nas taxas cambiais e (2) a conjuntura econômica diversa em cada país faz com que a política monetária deles não seja igual a cada momento. Ou seja, as leis do mercado fazem com que as taxas de juros em moedas diferentes sejam sempre diferentes.

Portanto, os empréstimos em dólar feitos pelo BNDES aos importadores de produtos brasileiros, por seguirem em termos gerais as regras de mercado, só podem ter taxas de juros inferiores à Selic, pois as taxas de juros do dólar hoje são extremamente baixas. São baixas porque o Banco Central dos EUA, diferentemente do nosso, faz grande esforço para manter o desemprego baixo.

Como mostraremos a seguir, é certo que isso não implica em si em subsídio por parte do governo brasileiro nem aos exportadores nem aos países importadores de nossos bens e serviços.

Para os leigos em economia, essas conclusões podem não ser tão óbvias. Mas para economistas a situação é diferente. Todavia, alguns economistas ainda se confundem.

Recentemente, Marcos Lisboa e mais dois economistas do Insper publicaram um estudo em que afirma que os empréstimos do BNDES ao governo no exterior deram mais de R$ 1 bilhão em prejuízo ao trabalhador. Esse estudo foi amplamente repercutido na imprensa, tendo sido manchete do Jornal o Globo. Para calcular esse prejuízo, o estudo comparou o rendimento desses financiamentos com o rendimento da taxa de juros Selic. Estranhamente, esses economistas cometeram um “erro” primário. Esqueceram de considerar a variação cambial entre o dólar e o real. Um erro difícil de justificar, mesmo para um aluno de primeiro período de contabilidade ou economia. Ora, mas se não tivessem cometido esse “erro” veriam que os empréstimos para apoiar nossas exportações de equipamentos e serviços implicaram em um enorme lucro para o BNDES e para a União em razão da desvalorização cambial no período.

Para qualquer economista, é um fato normal que títulos em moeda forte, como o dólar americano, o euro, o iene ou o franco suíço, tenham um rendimento nominal muito mais baixo do que o de moedas de países emergentes, como a Índia, a Indonésia, a Turquia, o México ou o Brasil. Comparar diretamente a taxa de juros de ativos denominados em moedas fortes e fracas, sem considerar que o risco de desvalorização das segundas é muito maior do que a das primeiras não tem sentido. Um caso extremo são os títulos em franco suíço: apesar de atualmente estarem com juros nominal negativo – a cada ano eles diminuem em valor em francos suíços – eles continuam muito demandados, porque há uma tendência de valorização dessa moeda, isso significa que mesmo diminuindo de valor em francos suíços, eles tendem a continuar se valorizando em dólares ou euros. Nenhum investidor vai preferir um rendimento de anual de 14% em real a um investimento de anual de 7% em dólar ou em franco suíço.

Qualquer economista sabe que existem duas maneiras corretas de comparar os investimentos com risco cambial, avaliando a posteriori os resultados reais ou avaliando a priori em termos dos custos de proteção cambial.

Por ambas as metodologias, os mesmos financiamentos do BNDES às exportações brasileiras de serviços no exterior mencionadas no estudo publicado no O Globo foram muito lucrativos. Inclusive mais lucrativos do que se o Banco tivesse simplesmente investido em Selic. Isso sem considerar os empregos, impostos e desenvolvimento tecnológico nacional propiciado por esses financiamentos.

Na primeira metodologia, considerando a variação da taxa de câmbio que se presenciou no período, ao invés do prejuízo mencionado no estudo, o Banco teria tido deve, na realidade, até agora um lucro mais de R$ 4 bilhões. Em outras palavras, se o Banco tivesse seguido as recomendações de seus críticos e não tivesse promovido a exportações de serviços, gerando emprego, divisas e desenvolvendo a engenharia nacional, ele teria um ganho financeiro de R$ 4 bilhões a menos.

Outra opção seria o BNDES contratar uma proteção cambial ao mercado de modo a eliminar o efeito da taxa de câmbio. O mercado paga atualmente cerca de 13% a.a. para se proteger contra a desvalorização do real. Dessa forma, um empréstimo de 7% em dólar é equivalente a um empréstimo de 20% em reais, ou seja, um investimento bem melhor do que a Selic e muito maior do que a TJLP, que é a taxa de referência para os empréstimos do BNDES aos investimentos no Brasil.

Ora, o BNDES deveria ser parabenizado e não criticado por gerar lucros, empregos, impostos e desenvolvimento. Imagino que a Bombardier está felicíssima com essas críticas sem nenhum fundamento e espírito público.

Estamos realmente vivendo tempos estranhos. A diplomacia dos países ricos é muito guiada para a conquista de mercado no exterior para suas empresas nacionais. Por exemplo, obviamente, as grandes potências industriais sempre bajulam a medieval e autoritária monarquia saudita. Não por identificação e admiração ideológica, mas por serem o principal mercado para suas exportações de armamentos. Os líderes da França, Alemanha, Reino Unido, Japão, Coreia do Sul, Itália, EUA, China, Turquia são muito agressivos para conquistar mercado. O apoio fundamental do BNDES, a nova Geni da oposição, às conquistas de mercado para empresas brasileiras no exterior, seriam extremamente elogiadas nos países desenvolvidos onde o interesse nacional prevalece, mesmo nas oposições, na imprensa e entre os economistas que trabalham para bancos.

Roberto Requião é Senador. Foi por três mandatos governador pelo Paraná e também prefeito de Curitiba.

    Daniel

    Lúcido, análise perfeita.

Julio Silveira

Requião. Seria bom não fosse seu partido.
Dificil para mim acreditar num homem que consegue conviver e permitir chegar aonde chegaram gente do naipe de um Eduardo Cunha ou mesmo um Renam. Ah! Já sei pragmatismo. Se for, todos os que acreditam no tão propalado pragmatismo, deveriam se juntar e fundar um novo partido no Brasil, o partido dos pragmatas onde ficariam todos os que acreditam que para se fazer politica no Brasil é necessario por as mãos na m. e até incrementar com algumas próprias.

FrancoAtirador

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Empresa Norte-Americana de Espionagem Internacional,
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contratada por Edu Cão para Investigar as Investigações,
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saiu de Fininho, depois que o PSoL pediu para investigá-la.
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Kroll embolsou R$ 1 Mi e deu no pé com dados sigilosos.
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(http://jornalggn.com.br/noticia/empresa-contratada-para-atacar-lava-jato-rompe-acordo-e-camara-perde-r-1-milhao)
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FrancoAtirador

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Estudo estima que Reservas BraSileiras contêm 176 Bilhões de Barris de Petróleo.
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Mesmo assim, Serra está Interessado em entregar o Pré-Sal a Empresas Estrangeiras.

(http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2FPre-sal-poderia-abastecer-mundo-inteiro-por-5-anos%2F4%2F34239)
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Urbano

Será de suma importância que o Senador Roberto Requião esteja no pleito presidencial em 2018, numa dobradinha com o Eterno Presidente Lula ou não; no caso deste não querer voltar.

    Lukas

    Apoio totalmente. As chances de Lula vão a ZERO.

    Urbano é um cara que pensa política com o intestino, não com o cérebro.

    Lula, que de burro não tem nada, ou vai afastar este cálice, ou vai chamar para vice alguém beeeeeeeem à direita.

    Urbano

    Ficaria triste, muito triste mesmo era se você me elogiasse; sakul.

Cláudio

:

: 21:13

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Ley de Medios Já ! ! ! ! Lula 2018 neles ! ! ! !

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Ley de Medios Já ! ! ! ! Lula 2018 neles ! ! ! !

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Valeu a pena ! ! ! ! Dá gosto ser o cantor do seu povo ! ! ! !

José Caetano

Por combatendo a corrupção, a Petrobras pode ter prejuízo de cem bilhões.
Não combatendo, então, ela poderia ter lucro ?
Cada justificativa que não suporta a menor análise !!!
Para todo prejuízo que a Petrobras teve até hoje, não há outra explicação: ocorreu porque ela foi saqueada descaradamente, foi abandonada aos ratos !

    Lafaiete de Souza Spínola

    Afirmações do Senador:

    “Eu sempre defendi e defenderei todo tipo de investigação. Ela é sempre salutar. Assim como a transparência nas atividades públicas. A corrupção é como o mofo, não sobrevive à luz.
    Todavia, o combate à corrupção e as investigações não precisam prejudicar o desenvolvimento do Brasil. Pelo contrário, elas deveriam ser feitas em nome do desenvolvimento.”

    WSobrinho

    Não tem nada a ver. Lucro ela sempre teve, principalmente nos governos petistas (o único a dar prejuízo depois da democratização foi com FHC).
    A questão é a paralisação dos investimentos, a forma predatória que uma investigação atabalhoada e messiânica e seletiva provoca um efeito cascata na economia.
    É muito diz-que-me-diz, muita especulação e que só faz o jogo dos especuladores.
    Qual o prejuízo real? Alguém sabe dizer corretamente onde está o sobrepreço? E no caso de que o custo subiu porque foi necessário acelerar o cronograma? A única certeza que se tem é os ditos valores de propinas, e NINGUÉM poderá afirmar com certeza de que os custos seriam muito diferentes se elas não ocorressem. E se foi para partidos da base, foi também para a oposição e saíram do mesmo caixa, portanto da mesma fonte de recursos, os contratos com empresas públicas, o resto é hipocrisia pura.

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