Promotor suspeito de feminicídio em Minas forjou processo contra Carone e escondia disputa “mortal” com o irmão

Tempo de leitura: 6 min
O promotor, a esposa e Carone. Redes sociais.

Da Redação

André de Pinho, promotor preso sob suspeita de matar a própria esposa em Belo Horizonte, tem uma história sombria.

Em 11 de junho de 2020, a repórter Conceição Lemes denunciou neste espaço que um delegado da Polícia Civil de Minas Gerais o acusava de fazer parte de uma organização de funcionários públicos que se dedicavam a dar proteção e fazer valer os interesses do ex-presidente do PSDB e ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

O delegado, Rodrigo de Bossi Pinho, tinha desvendado a farsa montada para prender e ameaçar críticos do tucano.

O jornalista Marco Aurélio Carone, por exemplo, foi preso em 21.01.2014, ano em que Aécio Neves pretendia concorrer ao Planalto, como de fato o fez, pelo PSDB.

Carone, de uma família política tradicional de Minas, através de seu site eletrônico Novojornal, fazia denúncias contra Aécio e o entorno do tucano.

A prisão de Carone, acusado de atrapalhar o andamento de um processo, veio acompanhada de fechamento do Novojornal.

O promotor André de Pinho disse, à época: “Ele [Carone]  utilizava o fato de ser jornalista para tentar se acobertar alegando liberdade de imprensa. Como se isso fosse uma carta branca para cometer toda a sorte de crimes, publicando notícias inverídicas e tentando desmoralizar autoridades e instituições com o objetivo de facilitar a atuação dessa quadrilha.”

De acordo com entrevistas do promotor, a suposta “quadrilha” seria chefiada por Nilton Monteiro, um lobista que conhecia como ninguém os bastidores tucanos de Minas, mas passou a denunciá-los — Monteiro é alvo de vários processos e já foi preso algumas vezes.

A farsa contra Carone ganhou ares de verdade especialmente por receber amplo espaço de divulgação em O Estado de Minas, jornal aecista, quase sem contraditório.

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Carone, é verdade, havia divulgado a Lista de Furnas, que registrava contribuições feitas por fornecedores da estatal de energia a políticos, especialmente do PSDB, uma lista que aflorou pelas mãos de Nilton Monteiro.

Os tucanos alegaram que a lista era falsa e tentaram, inclusive, cassar o mandato do então deputado estadual Rogério Correia (PT-MG), como forma de intimidá-lo, depois que o parlamentar apoiou investigar o caso.

Posteriormente, perícia da Polícia Federal provou que a lista não havia sido adulterada e pelo menos dois políticos listados nela, um deles Roberto Jefferson, confirmaram que receberam as doações registradas.

A Lista de Furnas diz respeito ao esquema de caixa dois,  com dinheiro público, usado em 2002 pelos tucanos para a eleição, entre muitos, de Aécio Neves ao governo de Minas Gerais, José Serra à presidência da República e Geraldo Alckmin, governador de São Paulo.

A prisão de Carone em janeiro de 2014 foi acompanhada por busca e apreensão na casa de seu colaborador, o veterano jornalista Geraldo Elísio Machado Lopes, o Pica Pau, que escreveu um livro a respeito do episódio — Diálogo com Ratos.

Carone passou nove meses e 15 dias preso, sendo três meses na solitária. Só foi solto depois do segundo turno da eleição presidencial de 2014, que Aécio perdeu.

Em 2 de maio de 2016, mais de dois anos depois da prisão de Carone, uma juíza rejeitou completamente a denúncia de André de Pinho, por considerar que não havia provas contra o jornalista.

Um segundo inquérito aberto contra Carone acabou nas mãos do delegado Rodrigo de Bossi Pinho, que não só não indiciou o jornalista como encaminhou documentação que poderia resultar em punição do promotor André de Pinho.

Em seu relatório sobre o caso, o delegado escreveu ter certeza de que “uma organização criminosa operou em Minas Gerais para perseguição política”, em nome de Aécio e da irmã Andrea.

Em primeiro de janeiro de 2020, o delegado que investigava a “organização” morreu de câncer — e recebeu homenagens.

A liga entre as denúncias comprovadamente falsas feitas pelo promotor e os acontecimentos atuais é que, em 2014, André de Pinho sugeriu que o jornalista Carone e outros integrantes da “quadrilha” teriam sido responsáveis por atentados contra ele.

Agora, no entanto, está claro que o promotor tinha uma vida profissional enrolada e uma relação tumultuada com a própria família.

Em junho de 2018, o próprio Conselho Superior do Ministério Público de Minas Gerais, depois de investigação interna, colocou o promotor em “disponibilidade compulsória”, por ele ter faltado ao trabalho 195 dias nos anos de 2014, 2015 e 2016.

Além disso, em outros 198 dias, o promotor ficou menos de quatro horas na sede da promotoria, provocando um prejuízo ao erário calculado em mais de R$ 228 mil.

Apesar da punição ser a segunda mais grave, André de Pinho continuou a receber salários.

Ele atuou na 11a. Promotoria da Capital – Combate ao Crime Organizado entre 2008 e 2016.

Alegou oficialmente que teria sido alvo de quatro atentados, o último em 2016, quando tiros foram disparados contra a fachada do prédio em que o promotor morava com a família, em Belo Horizonte.

Neste caso, o promotor chegou a sugerir que Carone poderia ser o mandante, mas Lorenza atribuiu os tiros ao cunhado, sem citar o nome dele:

“Se não me engano, eu movo 29 processos contra uma pessoa. O inquérito policial concluiu que essa pessoa era autora ou mandante dos atentados que eu sofro. A promotora deixou o caso prescrever. Ela teve três anos para fazer uma denúncia de uma lauda e meia e não conseguiu”, disse à rádio Itatiaia.

A disputa de André de Pinho e da esposa, Lorenza, de 41 anos, com o irmão do promotor, o advogado Marco Antônio Garcia de Pinho, que atua em Belo Horizonte, vinha de longe.

Lorenza chegou a pedir medida protetiva contra o cunhado.

As acusações contra o irmão advogado do promotor são antigas.

A pichação no carro da promotora

Em 2011, ele teria seguido o carro em que estavam Lorenza e uma amiga, a promotora Lais Almeida Costa Silveira.

Quando elas saíram de um grupo de oração, encontraram o carro pichado: “Vadias. A morte sempre está por perto”. 

Lais narrou que havia sido ameaçada por Marco Antônio: 

“Em março deste ano [2011], o cunhado da Lorenza me fez uma ameaça de morte. A mim e ao marido dela. Ele mandou um recado por parentes dizendo que, se perdesse a guarda da filha, nos mataria. Há dois anos, ele está em processo de separação litigiosa. Nós não atuamos no caso, mesmo assim, ele nos ameaçou”.

Os episódios seguintes envolveram o disparo de tiros, tentativas de agressão e a tentativa de queimar o carro de André de Pinho — que o promotor tentava atribuir à vingança de pessoas que investigava.

Agora, ele parece ter tentado atribuir a morte da esposa a um suicídio.

Quando ela morreu, na sexta-feira, 2 de abril, ele chamou um médico e declarou que o óbito tinha sido causado por “pneumonite devido a alimento ou vômito”, ligada a “autointoxicação”.

O promotor não autorizou que a polícia fizesse perícia no quarto onde a Lorenza morreu e encaminhou o corpo para cremação através de uma funerária, mas a polícia agiu a tempo e fez a remoção para o IML.

O promotor foi preso depois que a autópsia constatou sinais de violência física, como contusão na cabeça e outras marcas no corpo de Lorenza.

Os cinco filhos do casal vão ficar sob a guarda provisória do avô materno,  Marco Aurélio Silva, 72. As crianças tem 2, 7, 10, 15 e 17 anos. Todas estavam em casa quando a mãe morreu.

O sogro de André, Marco Aurélio Silva, disse que o promotor isolava a esposa do resto da família: “Quando eu falei com o André, perguntei se ia fazer autópsia, mas ele disse que não tinha necessidade, pois já estava com o atestado de óbito em mãos, preparando a cremação que, segundo ele, seria um desejo dela. Muito estranho. A minha mulher [sogra do promotor], que tinha falado com ele, o achou tranquilo demais para quem perdeu a esposa. O André sempre fez de tudo para manter a Lorenza isolada da família toda. Ele também fazia de tudo para evitar que eu tivesse proximidade com meus netos”, afirmou ao diário mineiro O Tempo.

Curiosamente, três semanas antes de ser preso, no longínquo 21.01.2014, Marco Aurélio Flores Carone publicou uma reportagem no Novojornal denunciando que o promotor André de Pinho havia forjado provas contra o próprio irmão, com o objetivo de tomar todos os bens do advogado.

“Um negócio horroroso, mesmo. O irmão foi para a cadeia, a vida dele acabou”, afirmou Carone à época.

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Comentários

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Eduardo

Promotor que mata a esposa, não respeita os filhos e será odiado por eles. Certamente será perdoado por Aécio Neves e Andrea Neves seus chefes no crime.

EuSei

De uma forma geral, os promotores se assemelham aos da Farsa a Jato. São bolsonaristas, de extrema direita, não têm empatia alguma. Inventam, distorcem, pedem prisão sem qualquer fundamento… julgam-se deuses supremos, donos da verdade. São fascistas declarados e odeiam pobres. São inúteis e perigosos.

Zé Maria

A Gangue do Aécio é uma OrCrim de Assassinos.

    Zé Maria

    Carreira Feia com a Milícia dos Bolsonaro no Rio de Janeiro..

Murilo Leite

O MP SP dizia que o Kaká lavava dinheiro na igreja Renascer em Cristo.
É cada umas histórias do MP.
Os caras inventam muita coisa só para aparecer na mídia. Essa do Kaká é forçar muito.
Com a máfia italiana nem precisa disso.
Talvez a prisão perpétua resolva isso. TALVEZ.

Adailton Ferreira

É muita sordidez contida nesse agente “público”. Quantos facínoras se escondem no manto do poder? Canalhas, canalhas, canalhas…

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