Presidente do PT aponta aumento de 388% em mortes por síndrome respiratória e diz que não dá para medir pandemia em Minas Gerais
Tempo de leitura: 6 minDa Redação
O estado de Minas Gerais tinha, neste domingo 26, incríveis 78.232 casos suspeitos de coronavírus, pendentes de confirmação.
Para o presidente do PT estadual, deputado Cristiano Silveira, é resultado da resposta dúbia do governador Romeu Zema em relação à pandemia do coronavírus.
Minas Gerais faz pouquíssimos testes para determinar a real dimensão da doença no Estado.
Há centenas de óbitos cuja causa é duvidosa.
“Até a 16ª semana epidemiológica, que corresponde ao período de 12 a 18 de abril, foram registrados em Minas Gerais 439 óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Agrave (SRAG). Em 2019, foram 120 mortes no mesmo período”, informou o G1 a partir de dados da própria Secretaria de Estado de Saúde de Minas.
É o aumento de 388% citado pelo deputado.
Não há explicação plausível para a disparada.
No entanto, o governador Romeu Zema (Novo) se baseia nos baixos números — que podem ser resultado de subnotificação — para justificar a retomada das atividades econômicas, quase em linha com o que propõe o presidente Jair Bolsonaro.
“Daqui a 10, 15 dias, vamos ver quem está certo”, disse recentemente o governador, comparando as medidas mais duras tomadas em Belo Horizonte pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) com as adotadas em Betim, pelo prefeito Vittorio Mediolo (Podemos).
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Betim reabriu o comércio no dia 22.
Porém, é pura mistificação.
Betim, na data em que Zema deu a declaração, tinha apenas 12 casos confirmados, sem mortes.
Belo Horizonte, na mesma data, 508 casos e 11 mortes.
Os dois municípios podem simplesmente estar em estágios diferentes da disseminação do vírus.
Compará-los em 10 ou 15 dias pouco significa.
O primeiro caso oficial em Minas foi registrado no dia 8 de março, de uma viajante de Divinópolis, de 49 anos, que desembarcou em Belo Horizonte no dia 2 de março e foi testada no dia 5.
Em Betim, os dois primeiros casos, de viajantes que chegaram da Europa, só foram confirmados três semanas depois.
Além deste hiato, a capital mineira tem cerca de 2,5 milhões de habitantes e Betim, menos de 450 mil — como se viu em Nova York, a circulação do vírus em área metropolitana se dá com maior rapidez por causa do transporte de massa e do maior número de pessoas que saem às ruas para fazer os serviços essenciais.
Outro dado importante: Belo Horizonte tem densidade demográfica de cerca de 7.200 habitantes por quilômetro quadrado; Betim, de mais ou menos 1.200 hab/km.
O governo Zema afirma que a curva da pandemia está sob controle em Minas.
Em coletiva do dia 22 de abril, o secretário da Saúde de Minas, Carlos Eduardo Amaral, afirmou ter mecanismos para evitar a subnotificação, admitiu que tinha uma fila de 900 testes ainda sem resultado e previu que o pico da pandemia seria no dia 3 de junho.
Ele endossa a política gradual de reabertura do governador Zema, que para “vender” politicamente a ideia se baseia em número no mínimo provisórios.
“O número de óbitos e de pessoas infectadas manteve-se totalmente estável. O número de infectados é de 55 em média por dia, e o número de óbitos 2,6 em média por dia. É um número que não está subindo e que me deixa com um certo conforto para estar fazendo essa reativação gradual e segura da atividade econômica”, argumentou recentemente o governador em entrevista a O Estado de Minas.
Atualmente, Minas tem 61 mortes confirmadas.
“Até o momento foram notificados 508 óbitos suspeitos”, diz o próprio boletim epidemiológico oficial, em letras miúdas.
Também há descompasso dos números de Minas com os da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais.
Até 27 de abril, tinham sido registrados 5.779 óbitos por pneumonia em 2020 e outros 4.819 por insuficiência respiratória em Minas Gerais, totalizando 10.598.
Ainda que os números sejam inferiores aos do mesmo período do ano passado, não é certo que em todos os casos tenha havido a testagem adequada para descartar casos da covid-19 que porventura tenham sido anotados como resultado de “pneumonia” ou “insuficiência respiratória” no atestado de óbito.
De acordo com o deputado Cristiano Silveira, Minas Gerais está realizando apenas 1.500 testes por dia — o estado tem mais de 20 milhões de habitantes.
O deputado ainda não sabe o resultado de uma investigação policial sobre uma funerária da Gameleira, bairro de Belo Horizonte, que registrou a entrada de 73 corpos entre 20 e 22 de março.
A Secretaria de Saúde de Belo Horizonte e da Vigilância Sanitária já descartou a denúncia, alegando que foi uma confusão burocrática.
Os caixões chegaram marcados com anotações relacionadas à covid-19 apenas para alertar sobre procedimentos a serem adotados no enterro e cremação, de acordo com as novas normas adotadas na pandemia — os mortos não tinha necessariamente morrido de coronavírus.
Para o presidente do PT mineiro, no entanto, por falta de testagem o governador Romeu Zema corre o risco de acelerar a reabertura da economia em linha com a pretensão do presidente Jair Bolsonaro –atendendo a clamor político de empresários.
No domingo, Zema foi poupado por manifestantes bolsonaristas, que fizeram carreata em Belo Horizonte denunciando o prefeito Alexandre Kalil como “comunista”, por causa do isolamento social imposto por ele na capital mineira.
“Parece que a mídia gosta de mostrar só morte, só tragédia, só coisa ruim. Nós temos coisa boa para mostrar também”, disse por sua vez o governador Romeu Zema em entrevista à Folha de S. Paulo, publicada também no domingo, 26.
O governador mineiro disse que Bolsonaro sofre ataques por ter retirado privilégios de adversários políticos.
Zema não assinou duas das cartas em que governadores reclamaram medidas do governo federal e criticaram o comportamento do presidente durante a pandemia — “histeria da mídia” e “gripezinha”, Bolsonaro já disse no passado sobre o coronavírus.
Em Minas, como os casos se concentram principalmente em Belo Horizonte (553 confirmados) e Juiz de Fora (118), dezenas de prefeitos de municípios menores já determinaram a reabertura do comércio.
Estão todos de olho em experiências de outros estados.
Entre sábado e domingo (25 a 26), autoridades de Blumenau, em Santa Catarina, registraram um aumento de casos confirmados da covid-19 de 130 para 167, ou seja, 28,5%.
Na quarta-feira, 22, a prefeitura havia autorizado a abertura do comércio local — inclusive dos shopping centers.
Esta avaliação, no entanto, depende de transparência das prefeituras, e da capacidade dos estados de testar e apresentar resultados rapidamente.
Num município que reabrir o comércio mas não testar novos casos e óbitos — ou segurar o resultado de testes durante dias ou semanas — os casos da covid-19 permanecerão oficialmente congelados.
A possível estratégia não escapou ao candidato do Psol à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos.
Ele suspeita que, depois de passar pelos bairros ricos, que concentram recursos e UTIs, a pandemia pode sumir do noticiário quando chegar aos lugares mais pobres.
“A desigualdade social de São Paulo escancarada pela Covid-19: Morumbi — 297 casos, 7 mortes; Brasilândia — 89 casos, 54 mortes. Quem tem condições trata, quem não tem morre”, escreveu Boulos no twitter.
Minas Gerais não está no momento sob ameaça de colapso hospitalar e não tem filas para internação em UTIs — diferentemente de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e Amazonas.
Para o presidente do PT mineiro, Cristiano Silveira, no entanto, o risco é de Minas relaxar as medidas de isolamento social e viver uma epidemia silenciosa — por falta de testes e com estatísticas incompletas.
Vale a pena ver a entrevista de vídeo, no topo.
Comentários
João de Paiva
Essas matérias sobre MG são sempre boas. Elas têm o padrão Reportagem e não “artigo de Opinião”. Mas para ser completa uma reportagem deve ir a campo e ouvir profissionais da saúde de MG. A FUNED também deve ser procurada. Sob a condição de anonimato, é muito provável que os relatos revelem sub-notificação por ordem do sr. (enfi)Zema, sob ameça de demissão dos servidores que revelem a verdade.
José
Em Uberlândia a prefeitura autorizou abertura de todo comércio. Não há fiscalização de medidas de proteção. São feitos poucos testes (quase nenhum), mesmo com 3500 casos suspeitos. A rede pública tá com 88%, dos leitos de UTI ocupados. Há, claramente, subnotificação e a imprensa local funciona como assessoria de imprensa da prefeitura. Lamentável. Uma cidade com população próxima de 800 mil pessoas.
Zé Maria
Secretaria de Saúde de Minas Gerais
Informe Epidemiológico Coronavírus
27/04/2020 [Segunda-Feira]
“Total de Casos Suspeitos de Doença pelo Coronavírus Covid-19”:
78.667 [SETENTA E OITO MIL E SEISCENTOS E SESSENTA E SETE].
É frisar que, de acordo com a própria Secretaria de Saúde de Minas Gerais, “caso suspeito é todo indivíduo com quadro respiratório agudo,
notificado pelo serviço de saúde com suspeita de infecção humana
pelo SARS-COV-2 – Doença causada pelo coronavírus Covid-19.”
https://www.saude.mg.gov.br/component/gmg/story/12562-informe-epidemiologico-coronavirus-27-04-2020
E os coitados dos Mineiros pensam que estão livres do Coronavírus, porque tomaram vacina BCG*, para prevenção da tuberculose que é
uma infecção causada por Bacilo, um tipo de Bactéria não um Vírus.
*Conforme afirmação do Desgovernador Zemavírus em entrevista concedida ao Repórter Fábio Zanini, em 26/4/2020, na Folha de S.Paulo. Excerto:
Repórter FSP: O que o sr. está dizendo é que a situação do coronavírus no Brasil não é tão ruim assim?
ZemaVírus: Se comparada a Itália, Espanha, EUA, não é ruim.
Estamos tendo uma pandemia, mas não vamos chegar provavelmente à quantidade de óbito que esses países chegaram.
Repórter FSP: Como o sr. avalia o desempenho do presidente nessa crise?
ZemaVírus: Eu, como governador, adotei uma postura diferente. Fechei o estado, as fronteiras, as atividades foram suspensas. Não fui para o meio do público. Não concordo com o que ele fez. Mas isso não me dá o direito de criticá-lo. Os cientistas até hoje não chegaram a nenhuma conclusão [SIC]. Eu tomei medidas preventivas aqui, talvez amanhã eles vão chegar à conclusão de que eu agi errado.
Repórter FSP: Mas os cientistas são unânimes em dizer que não se deve promover aglomeração.
ZemaVírus: São, concordo. Mas ninguém até hoje entende por que no Brasil estamos tendo uma quantidade tão menor de casos. Já me falaram até que devido ao fato de nós termos aqui a vacinação obrigatória, a BCG principalmente [SIC], de certa maneira nós seríamos semi-imunizados [SIC]. Há uma série de dúvidas.
Íntegra em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/classe-politica-bate-em-bolsonaro-porque-perdeu-privilegios-diz-zema.shtml
PelAmorDeDeus !
O Povo Mineiro está pagando os pecados com esse desgovernador
ZemaVírus, do chamado Partido ‘Novo’, atualmente conhecido como
“PSL Personalité”, pra combinar com os Herdeiros Bilionários do
Roberto Marinho.
Zé Maria
Partido ‘Novo’ = “PSL Personalité”
DeusNosLivreEguarde dessa ‘nova’ elite política e empresarial
ignorante, mal-intencionada e burra!
Luiz Carlos Azenha
Corrigido, obrigado!
Cáudio Dutra
Só uma correção, Belo Horizonte possui 2,5 milhões de habitantes e não 1,5 milhões como consta na matéria.
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