Por que Bolsonaro falou sobre o Tribunal de Manaus para julgar e punir responsáveis pelas mortes na pandemia?

Tempo de leitura: 3 min
Bolsonaro no debate da TV Globo e enterro de vítimas da covid-19 no cemitério de Manaus. Será que teme ser preso, se perder a eleição? Fotos: Reprodução g1 e Secom/AM

Por que Bolsonaro falou sobre o Tribunal de Manaus?

Por Lincoln Secco e Julian Rodrigues*

No último debate presidencial, nesta sexta-feira, 28 de outubro, na TV Globo,  Bolsonaro citou o tribunal de Manaus. Sem dizer mais nada, deixou no ar uma suspeita. Por que aludir a um tema ainda desconhecido no debate eleitoral?

É preciso que a leitora e o leitor saibam que a proposta faz parte de um documento do Encontro Nacional de Direitos Humanos do PT e nasceu de uma conversa entre Lincoln Secco e Julian Rodrigues.

Muito antes daquele encontro do PT a ideia foi divulgada em artigo publicado pelo site Viomundo [i]

Na América Latina a justiça de transição virou realidade. Militares (chefes das ditaduras, torturadores)
foram julgados, condenados e presos. No Brasil, a lei de anistia garantiu a impunidade dos militares.

Nenhum governo pós-Constituição de 1988 enfrentou o problema do direito à memória, verdade e justiça.
Diante da depressão econômica e da pandemia, Bolsonaro finalmente revelou sua face mais teratológica.

Como o nazismo, adotou em 2020 uma estratégia consciente de eliminação física de parte da população
“desnecessária”, em primeiro lugar os idosos, negros e pobres, as maiores vítimas iniciais do Covid 19. O
descontrole da epidemia fez com que toda a população se tornasse um alvo do bolsonarismo.

O Mapeamento das Normas Jurídicas de Resposta à Covid-19 feito pelo Centro de Pesquisas e Estudos de
Direito Sanitário da Faculdade de Saúde Pública da USP revelou a existência de uma estratégia
institucional de propagação do vírus no Brasil (21/01/2021).

Houve crimes contra a humanidade perpetrados deliberadamente por uma política de Estado. A superação
do fascismo no Brasil não se dará apenas com uma vitória eleitoral. É preciso ter JUSTIÇA DE
TRANSIÇÃO, sim! O país deve investigar, responsabilizar e punir cada responsável pelo morticínio.

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Com todo apoio dos setores democráticos do mundo inteiro. É preciso investigar os crimes bolsonaristas e
ir além da Comissão Nacional da Verdade (2011-2014) e da CPI da pandemia.

Cabe criar um tribunal ad hoc para julgar e punir Bolsonaro, Mourão, Pazuello (um suposto especialista
em logística), a cúpula do Exército brasileiro e todos os militares e civis no poder que concorreram para a
tragédia humanitária a que assistimos.

A equipe militar e neoliberal do governo, por negligência, crença ideológica e incompetência, recusou
investimentos na pesquisa, produção e mesmo contratos de importação futura de vacinas quando o país
ainda tinha uma janela de oportunidade para evitar muitas mortes.

Esse tribunal poderia ser de natureza internacional como o de Nuremberg ou as cortes especiais do Timor
Leste e de Ruanda.

De toda maneira, cabe ao próprio Estado brasileiro produzir algum tipo de justiça de transição que os
nossos juristas, profissionais da saúde, historiadores, especialistas em direitos humanos e muitos outros
certamente saberão detalhar e levar adiante. Seja isso feito em Manaus, o laboratório da estratégia
genocida bolsonarista, ou em qualquer outro lugar.

Tudo deve ser passado a limpo.

Investigar, julgar e punir cada um dos responsáveis pelo genocídio. É o mínimo que a gente pode fazer
para honrar a memória dos nossos pais, mães, tias, primos, amigos, colegas, companheiros e
companheiras que morreram muito antes da hora.

Esse cheiro de morte que nos ronda e abate, a gente transmuta em justiça contra os fascistas. Bolsonaro
citou o tribunal de Manaus por temer suas consequências. A História não nos perdoará se a democracia
brasileira cometer o erro da impunidade duas vezes.

Lincoln Secco é professor de História Contemporânea na USP, membro do Gmarx e autor do livro
História do PT.

Julian Rodrigues, professor e jornalista, mestre em ciências humanas e sociais, é militante do movimento
de Direitos Humanos e LGBTI. Idealizador da Frente Parlamentar LGBT, foi coordenador LGBT do
governo Haddad e criador do Transcidadania.

[i]Usamos aqui alguns trechos da notícia original. https://www.viomundo.com.br/voce-escreve/lincoln-secco-por-um-tribunal-de-manaus-para-investigar-julgar-e-punir-os-crimes-do-bolsofacismo.html

PS do Viomundo: O professor Lincoln Secco, em artigo que publicamos em 16 de abril de 2021, foi o primeiro a propor um Tribunal de Manaus para investigar, julgar e punir os crimes bolsofascismo.

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Comentários

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Guito Carvalho

Invadir propriedade privada é constitucional? Aliciar as crianças e jovens nas universidades não é nada de mais? Roubar os cofres públicos em nome da democracia é bacana? Quando o presidente quis fechar as fronteiras pra conter o vírus, governadores e prefeitos se recusaram. Queriam carnaval porque como disse Dráuzio Varella, o vírus aqui no Brasil, seria só um resfriadinho. Ative sua memória. Acione um pouco de bom senso, ainda que no seu caso possa ser difícil. Sim, pra quem está hipnotizado pela falácia que visa roubar o Brasil, deve ser difícil, mas boto fé que até você consegue tirar a venda dos olhos. Ou vai dizer que o comunismo é bom e continuar a morar no Brasil?

Nilton Carvalho

Bandido que só sabe usar a violência com seus cúmplices das forças armadas, Brasil tem a eleição mais vergonhosa de todos os tempos e no mundo inteiro.
Os bandidos não querem deixar os honestos votarem.

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