As razões políticas de Temer para fazer a intervenção no Rio

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Brasília - Presidente Michel Temer durante cerimônia de assinatura de decreto de intervenção Federal no estado do Rio de Janeiro, no Palácio do Planalto (Beto Barata/PR)

Paes saiu de fininho e já foi visto no sambódromo; os outros estão enrolados, inclusive o chefão Jorge Picciani

por Luiz Carlos Azenha

O Rio de Janeiro não é rota do tráfico de drogas no Brasil. Se foi um dia, deixou de ser.

Os confrontos no Norte/Nordeste entre o PCC e gangues locais se explicam pela disputa das rotas crescentemente importantes, como a do Solimões.

A vantagem é a maior proximidade entre fornecedores e o destino final das drogas, a Europa. É por isso que na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, os laboratórios de refino de coca se expandem com tanta rapidez, especialmente no Peru.

Os bloqueios da Polícia Federal em Tabatinga já foram há muito tempo ultrapassados pela quadrilhas, que usam rotas terrestres ou igarapés para fugir do curso dos principais rios, dentre eles o Solimões.

É a droga que abastece Manaus, Belém, parte do Nordeste e segue viagem para a Europa.

Uma droga especialmente valorizada no mercado europeu é o skunk, que desce junto com a cocaína.

O dinheiro é dos colombianos, o plantio se faz no Peru e a mão-de-obra é de peruanos e brasileiros.

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A guerra entre quadrilhas no Rio é basicamente pelo controle do mercado local. A criminalidade pé-de-chinelo, aquela que a Globo mostra, tem principalmente a ver com a dilapidação da economia local causa pela combinação de ajuste fiscal, fim do investimento em megaeventos (Copa e Jogos Olímpicos) e crise combinada das empreiteiras e da Petrobrás.

Já se disse que não houve aumento de criminalidade no Carnaval deste ano e que há outros estados com problemas relativamente mais graves que o Rio na segurança pública.

Assim, a explicação de que Michel Temer fez uma jogada política para manter sua relevância faz sentido, sem desfazer do sofrimento dos fluminenses com a criminalidade.

Mas, por que o Rio?

O Rio, está claro, foi o grande financiador das campanhas do “renovado” MDB ao longo dos últimos anos.

Não por acaso, Sérgio Cabral e Eduardo Cunha tiveram protagonismo político muito além das fronteiras fluminenses. Uma completa devassa nos negócios do Rio ajudaria a enterrar ainda mais o MDB nos planos local e nacional.

Temer tem claros sonhos de se reeleger. Mas, é um pragmático. Precisa, ao menos, preservar algum poder pós-2018 para se livrar das graves acusações que pesam contra ele. Busca poder de barganha.

Temer sabe que o Rio preserva seu status de caixa de ressonância da política nacional.

Além disso, é óbvio que os caciques do MDB, mesmo os que se conformam com seus redutos regionais, querem que o partido tenha alguma relevância nas alianças de 2018. O grupo de Temer comanda o partido. O MDB precisa dos cargos e benesses federais, inclusive para sustentar suas oligarquias regionais.

Num primeiro momento, a presença maciça do Exército nas ruas e algumas ações espetaculosas, devidamente registradas pela Globo — com vídeos exclusivos do pé-na-porta, repórteres entrando nos esconderijos e apreensão de armas — serão suficientes para dar ao eleitor a impressão de que a ” guerra” está sendo ganha.

Faltam pouco mais de seis meses para as eleições, razão pela qual é provável que até lá a intervenção não tenha se desgastado politicamente.

Hoje o MDB está politicamente morto no Rio de Janeiro, mas Temer sabe que o estado é decisivo em qualquer campanha presidencial.

Lula e Dilma venceram em 2002, 2006, 2010 e 2014 com expressiva votação no Rio de Janeiro.

Foram, respectivamente, 78,9%, 69,7%, 60,4% e 54,9% dos votos.

Em 2014, Sérgio Cabral trocou de lado e apoiou Aécio Neves.

A vantagem de Dilma sobre Aécio no Rio foi equivalente a mais de 50% da diferença entre Dilma e Aécio no cômputo nacional.

Finalmente, ao abraçar o tema da segurança pública, Temer esvazia ainda que parcialmente Jair Bolsonaro –justamente em sua principal base eleitoral.

Portanto, pensando politicamente e contando com o afastamento de Lula das eleições, Temer pretende:

  1. Manter-se relevante no cenário nacional;
  2. Num quadro de grave turbulência ou outra situação imprevista, fazer o papel de fiador do adiamento das eleições; “ruim com Temer, pior sem ele”;
  3. Candidato, disputar os votos do Rio e utilizar a “pacificação” do Estado como vitrine nacional; na cabeça de Temer — e de muitos colunistas da mídia — a economia brasileira vai bem e é questão de tempo até criar milhões de empregos;
  4. Não candidato, ter cacife para cobrar de um futuro presidente, eleito com apoio do MDB, uma anistia, por exemplo;
  5. Eleger um aliado no Rio, dentro ou fora do MDB, que impeça o fim dos esquemas de financiamento do partido enraizados no Estado.
  6. No frigir dos ovos, impedir o naufrágio completo do MDB, com o qual afunda junto.

Pode parecer loucura de um personagem com 6% de aprovação, segundo a mais recente pesquisa Datafolha. Mas, obviamente, Temer vive na bolha da mídia, de seus marqueteiros e acólitos e, especialmente, é o articulador de centenas de parlamentares enrolados com a polícia. Um arriscado salto para a frente é melhor do que ser atropelado.

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