7,7 milhões de pessoas querem reforma política
Movimentos divulgam balanço do plebiscito e entregarão resultado da votação ao Executivo, Legislativo e Judiciário, nos dias 14 e 15 de outubro
por Luiz Carvalho e Vanessa Ramos, da CUT, via e-mail
Mesmo com o boicote dos grandes meios de comunicação, que ignoraram o tema, o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político conseguiu exatos 7.7754.436 votos nas urnas fixas espalhada por todo o país e por meio da internet. Do total, 97,05% (7.525.680) foram favoráveis à convocação da consulta.
O balanço da campanha foi divulgado em coletiva na sede do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, nesta tarde desta quarta-feira (24), e representa 95% das urnas apuradas. A expectativa é que o número total seja apresentado até o próximo mês.
Os estados de São Paulo (2.617.703 votos), Minas Gerais (1.354.399) e Bahia (774.218) lideraram a participação na campanha, que contou até com eleitores em outros países, quesito em que a França lidera (4.621). Os votos brancos e nulos somam 0,37% (28.691).
Presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, lembrou a relevância dos números num cenário em que a parcela conservadora da sociedade brasileira vende como negativa a participação na política por meio de movimentos sociais e partidos.
“O plebiscito popular teve o caráter educativo de mostrar que há pessoas querendo modificações na política. Esse é o momento para as organizações que ainda não participaram, se engajem nessa luta”, defendeu.
Manifestação em Brasília
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A campanha entregará o resultado das urnas para a Presidência da República, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, nos dias 14 e 15 de outubro, quando as 477 organizações que compuseram o plebiscito promoverão um ato unificado em Brasília.
Vagner destacou a importância da campanha para pressionar o Legislativo a convocar um plebiscito oficial e lembrou o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que depende de 172 assinaturas, o equivalente a um terço da Câmara, para ir ao plenário. A proposta é encabeçada pelos deputados federais Renato Simões (PT-SP) e Luiza Erundina (PSB-SP).
No Brasil, ao contrário de outros países, uma consulta popular oficial é submetida ao Congresso. “A única forma de fazer a proposta andar é pressionar por dentro e fora do Congresso e, principalmente, nas ruas como forma de ganhar a consciência popular”, definiu o dirigente.
Para o diretor Executivo da CUT, Júlio Turra, a ideia de que não dá para fazer uma reforma política com os parlamentares do atual Congresso é o que unifica os movimentos.
“A ausência de reforma política trava as outras reformas estruturais. Como fazer reforma agrária com um Congresso composto por 191 deputados e 14 senadores na bancada ruralista? Como reduzir a jornada com uma maioria de congressistas capitalistas. Como descriminalizar o aborto se as mulheres são somente 9% da Câmara?”, criticou.
Expectativa e mídia
Membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues, acredita que, mesmo mudando alguns nomes, o Congresso na próxima legislatura permanece definido por “oito ou 10 empresas que montam sua bancada de acordo com seus interesses.”
“O resultado do plebiscito demonstra que há apoio popular para a Constituinte Exclusiva e devemos aproveitar para envolver a juventude no debate sobre os rumos do país”, defendeu.
Representante da Consulta Popular, Paola Strada avaliou que a mobilização nos estados conseguiu superar o silêncio da mídia, que não repercutiu a campanha nem mesmo quando os candidatos à presidência da República, Luciana Genro (PSOL), Marina Silva (PSB) e Pastor Everaldo (PSC) participaram ou quando a presidenta Dilma Rousseff declarou apoio à iniciativa.
“O silêncio da mídia foi avassalador, ainda que tenhamos tido muita luta nas ruas e atuação nas redes sociais. O que prova que ela não é tão democrática. E nossa bandeira é justamente aprofundar a democracia brasileira.”
Histórico
A proposta de construção do plebiscito para debater o sistema político é um dos resultados das manifestações de junho e julho do ano passado, que sacudiram o Brasil.
O tema do Plebiscito apresenta questões relacionadas ao sistema político, como o financiamento público de campanhas, a sub-representação das mulheres, indígenas e negros no parlamento e a importância do fortalecimento de mecanismos de democracia, como a participação em conselhos e a construção de referendos e plebiscitos, que permitam ao povo participar das decisões políticas de forma efetiva.
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Com cerca de 8 milhões de votos, sociedade exige constituinte do Sistema Político
por Luiz Felipe Albuquerque, da Página do MST, via e-mail
Foram quase 8 milhões de votos. Para ser mais preciso, 7.754.436 de pessoas votaram no Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político. Quase a população inteira de Portugal.
Destes, 97,05% disseram querer uma reforma do sistema político, ao votarem “Sim” entre a semana do dia 1 ao dia 7 de setembro.
O resultado do Plebiscito Constituinte foi divulgado na tarde desta quarta-feira (24), durante uma coletiva de imprensa na cidade de São Paulo.
“Vitória” e “comemoração” foram as principais palavras ditas por João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST, e Vagner Freitas, presidente nacional do Central Única dos Trabalhadores (CUT).
“Esse resultado demonstra o acúmulo e o trabalho que foi feito nesses meses, tanto no ponto de vista do trabalho pedagógico, organizativo e de apresentar uma proposta do que queremos à sociedade brasileira”, disse João Paulo.
Para ele, os quase 8 milhões de votos demonstram que a sociedade quer fazer mudança no sistema político. “Esse resultado é muito mais preciso do que essas pesquisas de eleições do estilo Ibope e Datafolha, porque essa foi feita com quase 8 milhões que colocaram sua posição sobre o assunto”, ironizou.
Vagner Freitas avalia que os 8 milhões demonstram que há caldo na sociedade para fazer as mudanças necessárias. “A única forma de fazermos nossa proposta andar é pressionarmos organizadamente; por dentro do congresso e por fora, e absolutamente nas ruas, ganhando a consciência popular das pessoas à nossa proposta”.
Segundo João Paulo, esse resultado é fruto das mobilizações de ruas que aconteceram nos últimos anos no Brasil, “de um processo de manifestação e luta. Quem foi às ruas disse: ‘queremos mudanças’; e com essa forma de representatividade não será possível”.
A todo, foram abertas mais de 40.000 urnas em todo o país, que contou com a participação de mais de 450 organizações sociais, resultando na construção de mais de 2.000 Comitês Populares organizados em todos os estados da federação.
Entre os dias 14 e 15 de outubro, as organizações sociais envolvidas no processo realizarão uma Plenária Nacional em Brasília com cerca de 2 mil pessoas, quando entregarão o resultado final aos três poderes nacionais.
Para João Paulo, os próximos passos será uma combinação de lutas sociais com campanha política e pedagógica junto à sociedade sobre qual é o melhor modelo de constituinte, para pressionar o Congresso a convocar um plebiscito oficial.
A voz do silêncio
Vagner Freitas lembrou da blindagem de informação realizado pelos principais meios de comunicação convencionais durante toda a campanha. Para ele, o que aconteceu foi um processo de “desinformação, e o povo brasileiro tem o direito de ter a informação para formar sua opinião”, disse ao apontar a extrema necessidade de democratizar os meios de comunicação.
Na mesma linha, Ricardo Gebrim, da secretaria operativa nacional do plebiscito, acredita que a campanha conseguiu pautar um tema que “evidentemente nossa classe dominante não quer e não aceita discutir”.
Para ele, “é sintomático a ausência e ignorância da grande imprensa ao longo da campanha. Ao longo das eleições os principais candidatos à presidência votaram no plebiscito. É evidente que isso é um fato jornalístico em qualquer parte do mundo. Artistas, personalidades de renomes votaram, no entanto, eles ignoraram completamente”.
Nesse sentido, Gebrim acredita que esse bloqueio midiático não foi em vão. “Essa ignorância não é casual, ela é um ato deliberado que expressa que não é de interesse da classe dominante. A classe dominante está contente com o sistema político, ela é beneficiária do sistema político”.
As organizações envolvidas acreditam que a consulta à população foi o primeiro passo desse processo, garantindo legitimidade à proposta com os quase 8 milhões de votos e as mais de 120 mil pessoas que se envolveram ao longo da semana da pátria.
“Eu arrisco dizer que a maioria desses votos, diferente de outros plebiscitos populares, se deu no meio sindical e em locais de trabalho. Portanto, esse talvez seja o plebiscito que teve a maior participação da classe trabalhadora”, aponta Gebrim.
Na sua avaliação, essa proposta, diferente de outras questões, não abre aliança com a classe dominante. Nesse sentido, o próximo passo decisivo é ganhar as ruas. Porém, a tarefa não será fácil. “Vamos ter que ir às ruas basicamente com a classe trabalhadora e seus aliados populares, e enfrentar a classe dominante como um todo”.
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Comentários
Sônia Bulhões
Bem, quase 8 milhões …. Quantos desses estiveram na rua em junho de 2013 ? Será que tomaram conhecimento desse movimento ? Só para reflexão …. Pois pediam mudanças na política e os 0,20 centavos era só pretexto.
Lukas
Azenha, na primeira oportunidade que tiver vá a Vila Belmiro e faça uma pesquisa sobre o melhor clube do Brasil. O Santos não vai chegar aos 97%…rs
Lukas
Cantando vitória? É muita cara de pau! Havia a possibilidade de derrota neste jogo de cartas marcadas?
97% a favor? Nem na Coreia do Norte ou no Iraque de Sadam Hussein.
Ainda reclamam da falta de apoio da mídia… Se tivessem o apoio teriam uns 123% de apoio, certamente.
Repercussão ZERO, ninguém leva a sério…
Achei que os jornalistas da blogosfera progressista ainda tivesse um nome a zelar, mas parece que escolheram ter um nome a zerar.
Patético é minimo.
Wildner Arcanjo
7 milhões e 97%. Os dados precisam seranalisados juntos para fazerem sentido. Mas se voce quisesse um valor percentual mais proximo da realidade participativa (e não totalitária), poderia ter votado nâo? Não é mesmo? A final de contas, foi tudo feito às claras.
assalariado.
Participamos ativamente na coleta de assinaturas/ votos para o Plebiscito Popular/ Reforma Constituinte. Chamou atenção, o pessimismo, quanto aos rumos da politica/ politicos/ partidos. E muitos, quando comentavam sobre politica parecia um eco da Rede BOBO de Telivisão.
No entanto, me alegrou, foi quando as pessoas davam chance para nós mostrarmos o que? e para que? O proposito real que, era, e é, acabar com financiamento de campanha por empresários banqueiros, latifundiarios, usineiros, empreiteiros, … Argumentamos que, o maior foco de corrupção em nosso país é o financiamento eleitoral pela burguesia capitalista que, por tabela, os politicos/ partidos, já nasciam corrompidos pelo seu corruptor, digo, pelo financiador, mesmo antes de se elegerem. Logo, compreendiam e assinavam/ votam. A maioria não sabia sobre o assunto e não acreditavam nessa real possibilidade de pressionarmos o Congresso Nacional e futuros embates.
Sobre a resistencia para assinar/ votar plebiscito na faixa de até 30 anos de idade a descrença é maior; na faixa até 55 anos, foi muito legal, devido que, tinham um pouco mais de clareza sobre a importancia desse ato, e a possibilidade de movermos os cérebos da multidões, fazendo- os a movimentar/ acreditar de que essa situação, no asunto corrupção, tem solução; na faixa acima de 55 anos foi cruel, a desilusão absoluta sobre a politica/ politicos, nem queriam, muitas das vezes, escutar o que tinhamos a dizer.
Rummo ao Socialismo!
clodoaldo
O problema é que depois que colocamos os legisladores lá no congresso não sabemos como eles votam as propostas, pois o voto deles é secreto, o que não deveria ser. Eu quero saber o que o meu senador e meu deputado pensam sobre os diversos assuntos votados.
Romanelli
Azenha, as vezes comentários desaparecem antes de ser aprovados..
Será que é só comigo que isso acontece ? não será talvez um “bug” no blog ?
Luiz Carlos Azenha
Vamos checar. abs
Leandro_O
Considero uma vitória, mas acho que poderia ser melhor, bem melhor. O plebiscito contra a Alca deu 10 milhões e nem votação pela Internet havia.
Relembrando:
A cédula do plebiscito tem três perguntas, que devem ser respondidas com sim ou não: 1) “O governo brasileiro deve assinar o tratado da Alca?”; 2) “O governo brasileiro deve continuar participando das negociações da Alca?”; 3) “O governo brasileiro deve entregar uma parte de nosso território -a Base de Alcântara- para controle militar dos EUA?”.
Virginia
Há um número estranho na matéria: “7.7754.436 milhões”. Acho que um 7 foi digitado a mais… Sugiro corrigir. Número errado prejudica a credibilidade. Abraço
Gerson Carneiro
A imprensa se calou. E na faculdade de Direito não ouvi ninguém comentar. A sensação era a de que apenas eu estava sabendo. No entanto se perguntar, todos querem mudanças.
Julio Silveira
Eu também quero.
Francisco
Vejamos o que dizem Aécio e Marina a esses 7 milhões de eleitores…
Que coisa
Um país que caiu na risada quando Marina deixou entender que conseguiria pelos menos umas vinte pessoas minimamente honesta para nomear se eleita fosse, agora acha que num meio, fora rara exceção, de políticos dos mais vagabundo e imorais irá arranjar quem faça constituinte que preste? A não ser que só possa ser quem tiver a mais de cinco anos preso
Wildner Arcanjo
Não querendo ser chato mas que se registre (sob o risco de, no contrário, no mínimo, estarmos cometendo uma injustica) e que é uma coisa que não vemos na reportagem (por esquecimento ou omissão) de quem foi a proposta de Constituinte Exclusiva, com consuta e referendo popular. Nem precisa dizer qual a pessoa e o partido que fez a proposta. Ou precisa?
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