Pedro Carrano: 10 anos após plebiscito por uma Constituinte, sistema político continua excludente

Tempo de leitura: 9 min
No topo, flagrantes da campanha de 2014, em Curitiba (PR). À direita, de óculos, o fotojornalista Joka Madruga, vota. Na Na coluna abaixo, da esquerda para a direita: Juliana Mittelbach, Santa de Souza e Ricardo Gebrim. Fotos: Divulgação, exceto a de Gebrim, que é de Ísis Medeiros

Dez anos depois do plebiscito popular por uma Constituinte, sistema político no Brasil continua antipopular e excludente

A última grande campanha dos movimentos populares mantém uma pergunta atual: É possível um parlamento popular no marco do atual sistema político?

Por Pedro Carrano*

Durante o mês de setembro e no começo de outubro, não há assunto mais urgente que as eleições municipais.

O pleito para prefeituras e câmaras municipais toma conta da tática das organizações políticas e ganha um contorno nacional, em vista do peso e influência que terá nas eleições de 2026, em meio ao risco de um avanço das candidaturas de extrema direita.

Uma reflexão necessária para este período reside em avaliar a real possibilidade de uma maior presença popular e dos trabalhadores no espaço das casas legislativas.

Há dez anos, no dia 7 de setembro de 2014, os movimentos populares e organizações políticas, sobretudo MST, CUT, MAB, Consulta Popular, PT, Federação Única dos Petroleiros (FUP), Unegro, Levante Popular da Juventude, entre outras organizações, concluíam uma campanha massiva e com unidade na esquerda, por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político.

O fato é que na conjuntura das eleições de 2022 a Câmara Federal e o Senado conheceram um avanço das candidaturas conservadoras, levando muitos analistas a decretar que a esquerda não priorizaria, em tese, o espaço legislativo.

Porém, cabe também a pergunta: apenas um gesto de vontade seria suficiente para alterar a correlação de forças e alcançar uma maior representação no parlamento? Quais os limites estruturais do atual sistema político?

Dez anos atrás, um plebiscito popular

Ao todo, 7.754.436 de pessoas votaram no plebiscito popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político.

Apoie o jornalismo independente

É fato que, durante toda a chamada Semana da Pátria, dados da própria campanha apontaram que 120 mil pessoas se envolveram naquela mobilização.

E o tema é urgente, ontem como ainda hoje.

“O orçamento nacional foi sequestrado pelo Legislativo. O PT de Lula conta com 68 parlamentares em 513 e 9 senadores em 81. É possível aprovar alguma coisa?”, constata o assessor sindical Gustavo Erwin, o “Red”, da executiva municipal do PT de Curitiba.

Red foi uma figura atuante no estado e nacionalmente na campanha de 2014.

Naquela campanha popular e massiva realizada pelos movimentos populares e sindicais, ao todo foram abertas mais de 40 mil urnas no país, com a participação de cerca de 450 organizações sociais, resultando na construção de mais de 2 mil comitês populares nos estados.

A metodologia foi semelhante, de mobilização e educação popular, ao que foi feito em 2000 (sobre a dívida interna), 2002 (sobre a Alca) e 2007 (sobre a Vale).

Dez anos depois, em que pese um aumento extremamente tímido da representatividade, por exemplo, de negros e negras no parlamento, uma avaliação do sistema político no Brasil ainda aponta para um sistema na prática e na ponta excludente no que se refere à participação do povo brasileiro.

Verifica-se a manutenção de uma subrepresentação de trabalhadores, negros e negras, indígenas, população LGBT, entre outros grupos fundamentais na composição da sociedade brasileira.

“Na eleição de 2022, as mulheres conquistaram 18% das cadeiras na Câmara dos Deputados mesmo sendo 51,5% da população”, afirma Juliana Mittelbach, enfermeira do SUS, doutoranda em Saúde Pública na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz.

À época, Juliana fez parte da campanha no Paraná como dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Constituinte do Sistema Político como saída para a crise de junho de 2013

Ricardo Gebrim, dirigente da organização Consulta Popular e integrante da Secretaria Nacional da campanha, em 2014, contextualiza a circunstância e a conjuntura política em que se deu aquele debate, colocado como alternativa política em meio ao cerco dos setores conservadores contra o governo de Dilma Rousseff.

Mesmo derrotada, essa bandeira ainda hoje mantém sua atualidade.

Na visão de Gebrim, junho de 2013 surpreendeu a esquerda num momento de aparente estabilidade do governo, colocando nas ruas setores que buscavam melhorias das condições de vida, bem como abrindo o flanco para os setores que buscavam desgastar o governo Dilma.

Com isso, ficava evidente os limites estruturais da política brasileira e a campanha da Constituinte se configurava como uma alternativa à esquerda em um momento de disputa.

Gebrim afirma:

“Ainda em 2013, as manifestações estavam em disputa, aqueles setores que foram às ruas estavam em disputa, e, naquele momento, num ato de sensibilidade, a presidente Dilma apontou, de forma correta, identificando o principal problema, que foi apontar o grande entrave que inviabiliza os governos petistas ainda hoje, que foi apontar uma mudança do sistema político”.

O advogado recorda que, após a sinalização da presidente Dilma, coube aos movimentos populares agarrarem a bandeira e transformá-la numa meta de mobilização que sintetizou as diferentes forças da sociedade civil:

“Foi uma campanha muito forte, talvez a última grande campanha que se usou do plebiscito popular, que é um grande instrumento pedagógico, que envolveu gente e pautou o tema da Constituinte. Envolveu setores jurídicos, causou intenso debate na sociedade. Ao final, a presidente Dilma é reeleita, naquele momento tenso, atacada pelo candidato Aécio (Neves, PSDB)”.

Para o dirigente, Dilma ainda teve a coragem de pautar o tema logo após sua vitória eleitoral de 2014, quando a campanha, em mobilização de cerca de 2 mil pessoas, fez a entrega do resultado do plebiscito em Brasília.

Entretanto, logo no ano seguinte, em 2015, Gebrim faz o balanço de que, ao final, a opção tática no começo de governo Dilma pela aplicação do ajuste fiscal mostrou-se um erro, retirou apoio popular do governo e permitiu o avanço do golpe.

“Gerou insatisfação e perda de base popular. Houve uma reação heroica (contra o golpe), mas insuficiente, dos setores populares”, critica.

Desde então, a avaliação de lideranças é que a fratura e o problema do sistema político seguem expostos.

“A situação política piorou e o projeto da Constituinte não avançou. Houve reformas insuficientes e com poucos avanços, como em 2020, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que a distribuição de recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e do tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão deve ser proporcional ao total de candidatos negros que o partido apresentar para a disputa eleitoral”, critica.

Red complementa:

“O que já era ruim naquele 2014, ficou ainda pior. A sub-representação da classe trabalhadora no Congresso Nacional, que denunciávamos na ocasião do plebiscito, só fez aumentar a cada pleito. O conjunto de deputados e senadores eleitos em 2022 é pior que o de 2018, que é pior que o de 2014”, aponta.

Juliana Mittelbach. Foto: Divulgação

Juliana Mittelbach, por sua vez, confirma o problema que hoje segue desproporcional: a relação entre o número de candidaturas inscritas de mulheres, negros e negras, LGBT, entre outras, para concorrer e as condições materiais para a sua eleição.

“Na eleição de 2022 as mulheres conquistaram 18% das cadeiras na Câmara dos Deputados mesmo sendo 51,5% da população. Negros conquistaram 26% dos espaços na Câmara sendo 55,5% da população de acordo com o IBGE. O descumprimento das cotas para mulheres e negros foi descumprida pelos partidos e anistiada pelo parlamento”, denuncia.

Ela exemplifica este raciocínio apontando como um retrocesso a ementa da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 9/2023, que concede anistia aos partidos políticos que não aplicaram o mínimo de recursos em campanhas femininas ou de pessoas negras – como estava previsto no texto de 2022:

“Retrocedemos ainda mais com a aprovação da PEC que retira as sanções aos partidos que não destinaram os valores mínimos em razão de sexo e raça em eleições”, avalia.

Um cerco que apenas se fechou?

Movimentos populares mantiveram a agitação em torno dessa bandeira da Constituinte do sistema político e a própria campanha até meados de 2017.

Diante de uma correlação de forças desfavorável na sociedade, com a redução do número de greves e mobilizações dos trabalhadores e estudantes após a chegada de Temer à presidência, a avaliação é que não havia mobilização suficiente para uma Constituinte de caráter progressista.

O risco de reversão de patamares de direitos conquistados, como se verificou, por exemplo, na experiência chilena, tem sido sempre um fantasma preocupante.

Entretanto, as organizações políticas seguem debatendo e mantendo a propaganda acesa:

Ricardo Gebrim. Foto: Ísis Medeiros

“Nesse contexto, a Constituinte foi a alternativa política, alternativa ofensiva, alternativa de romper o cerco, no seu elo mais frágil que é o sistema político, um sistema execrado pela maioria da população brasileira por sua natureza fisiológica. No entanto, faltou coragem, faltou ousadia, e isso acabou gerando que os inimigos populares viabilizassem o golpe, com tantos efeitos terríveis, com efeitos que vão desencadear essa verdadeira derrota de natureza estratégica para as forças populares. Por isso o resgate, pensar o que foi essa campanha, o significado, sua ousadia, seu significado, sua ousadia, o que não deve ser esquecido”, é o balanço de Ricardo Gebrim.

No que se refere ao tema da memória e verdade, o sistema político brasileiro ainda carrega uma verdadeira herança da ditadura militar que a própria Constituição de 88 não conseguiu romper.

Isso sem contar a distância entre os itens sociais expressos na Constituição e a realidade do povo brasileiro – o que também foi tema da campanha em 2014:

“Quando a ditadura no Brasil foi derrotada, em 1985, o movimento das massas colocou na ordem do dia a necessidade de novas instituições no país. Esse movimento foi contido pelos acordos entre as cúpulas do regime e dos extintos partidos Arena e MDB. A Constituinte de 1988 é, assim, parte dessa contenção, da “transição servadora”, sem ruptura”, afirma trecho da cartilha divulgada na época do plebiscito Constituinte.

Gustavo Red aponta que problemas da realidade brasileira não enfrentados ainda podem ser vistos na conjuntura atual, e foram acentuados com os governos de Temer e Bolsonaro.

“A PM, herança da ditadura, continua agindo como tropa de ocupação nas periferias, impondo o terror nas favelas, como se dispusesse de mandados de busca e apreensão coletivos. E a tutela militar mantida na CF de 88 ainda é uma ameaça”, aponta.

Propostas: Agenda Marielle Franco

Curitiba (PR) teve no começo de setembro o lançamento da Agenda Marielle Franco, um guia de compromissos políticos que defendem a igualdade, o antirracismo, o feminismo, e os direitos das comunidades LGBT, periféricas e populares, a partir do Instituto Marielle Franco e da força da simbologia da vereadora carioca – mulher negra, lésbica e periférica –, brutalmente assassinada no dia 14 de março de 2018.

Com a presença de Marinete Silva, mãe da vereadora Marielle Franco, o evento de lançamento reforçou dados apontando que, historicamente, as mulheres negras são sub-representadas na política institucional, contabilizando apenas 6,3% nas câmaras legislativas e 5% nas prefeituras, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base nas eleições de 2020, e 8% no Congresso Nacional.

De acordo com a Agência Brasil, a Justiça Eleitoral registrou 240.587 candidatos negros, o que representa 52,7% das candidaturas. É a segunda vez na história que supera o número de candidatos brancos, que este ano são 215.763.

Santa de Souza. Foto: Divulgação

Para Santa de Souza, estrategista do Instituto Marielle Franco, no projeto Ocupa Curitiba, “O avanço da representatividade ainda é pequeno, se pensamos que a sociedade brasileira é formada por 56% da sociedade entre negros e pardos, e temos 2% de representatividade de mulheres negras, houve um avanço, mas a subrepresentação ainda é evidente”, constata.

Um dos fatores do problema está na forma como partidos trabalham a questão e na condição que oferecem para cada candidatura.

“Há uma disparidade grande de valores, entre homens brancos e mulheres negras. Ainda que tenha grande participação de mulheres negras na política para concorrer, mas o repasse dos partidos, as candidaturas negras ficam com com valores mais baixos de todos os candidatos. São candidaturas que se lançam para garantir representatividade, mas não têm estrutura, como concorrer de igual para igual com outro candidato?”, questiona.

Santa de Souza defende que a experiência de parlamentares negras que trouxeram as pautas, os debates e as medidas concretas para as mulheres negras da classe trabalhadora foram marcantes e estão servindo como exemplo, caso, no Paraná, de Carol Dartora (PT), atual deputada federal, e Giorgia Prates (Mandata Preta – PT), na Câmara de Curitiba.

Como apontamento final, Santa afirma que chamou sua atenção, no marco da Agenda Marielle Franco, o espírito de solidariedade e não competição entre as candidaturas de mulheres negras de diferentes partidos e organizações.

Para ela, o apoio mútuo, o encorajamento, entre mulheres negras de diversos partidos é uma marca das eleições atuais, mesmo em meio aos limites impostos.

“A união das mulheres negras do campo progressista, essa vontade e união e importância de entender que, quanto mais juntas estivermos, vamos avançar. Uma está se vendo na outra, aonde uma chega a outra pode chegar”, aponta.

Referências e informações adicionais

– https://www.poder360.com.br/poder-eleicoes/pela-1a-vez-em-20-anos-esquerda-nao-disputa-51-das-prefeituras/

– https://www.brasildefatopr.com.br/2024/02/09/do-cafe-entre-lula-e-lira-aos-10-anos-da-campanha-da-constituinte-um-sistema-politico-agonizante

– Cartilha Plebiscito Constituinte, 2ª edição, fevereiro de 2014, São Paulo.

*Pedro Carrano é jornalista, escritor e militante social.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Leia também

Jeferson Miola: Sistema atual de eleição parlamentar coloca em risco direitos de mulheres e pessoas negras

Raul Pont: Câmara aprova mudanças nas regras eleitorais que favorecem interesses dos próprios parlamentares

Jeferson Miola: Câmara dos Deputados legisla em causa própria para preservar supremacia branca e masculina

Jeferson Miola: Lista partidária reduz em mais de 100 anos fim da desigualdade de raça e gênero na política

Partidos de centro e direita têm menor diversidade racial e de gênero, revela estudo candidaturas em 2022; íntegra

Apoie o jornalismo independente


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

Dossiê

“OS GIGANTES”

Estudo Sócio-Ambiental Realizado pelo
Observatório “De Olho Nos Ruralistas”

Coordenador de Pesquisa:
Bruno Stankevicius Bassi

Íntegra em:
https://deolhonosruralistas.com.br/wp-content/uploads/2024/09/Os-Gigantes-2024.pdf

.

Zé Maria

https://deolhonosruralistas.com.br/2024/09/11/os-gigantes-pt-e-pl-administram-so-tres-prefeituras-nos-cem-maiores-municipios/

https://deolhonosruralistas.com.br/wp-content/uploads/2024/09/osgigantes-partidos-1024×787.png

Dos 100 Maiores Municípios do Brasil, em Área Territorial,
Equivalente a 1/3 (Um Terço) do Território Brasileiro,
Partidos do chamado ‘Centrão’ Detêm 89 Prefeituras.

Maioria das Administrações Municipais de uma Área Combinada
de 2,8 Milhões de Km², Maior que a Argentina, está sob Controle
do Grupo Composto por União Brasil, PP, MDB, PSD, Republicanos,
Solidariedade, PTB e Podemos, que unem Forças de Direita com
o Bloco Liderado pelo Presidente da Câmara Arthur Lira (PP).

[ Reportagem: Bruno Stankevicius Bassi | De Olho nos Ruralistas ]

“De Olho nos Ruralistas” lançou no dia 5 deste mês de setembro
o Estudo “Os Gigantes” (*), que reúne informações sobre as políticas
ambientais dos cem maiores municípios brasileiros em extensão
territorial.

A área total soma 37% do território brasileiro, equivalente ao tamanho
da Índia e maior que todos os países da Europa Ocidental.

“É uma fatia decisiva e esquecida do Brasil”, aponta o diretor do Observatório, Alceu Luís Castilho.

“Esses municípios costumam ficar fora da cobertura eleitoral, diante
da ênfase nos grandes centros urbanos, mas a importância ambiental
deles é gigantesca.
O impacto deles é planetário.”

Entre janeiro de 2021 e julho de 2024, esses municípios perderam 22 Mil Km²
de vegetação nativa — 38,4% do Desmatamento Registrado no Brasil no Período, equivalente ao tamanho de El Salvador.

O relatório mostra como as políticas públicas adotadas pelos prefeitos
e secretários desses municípios provocam a destruição ambiental.

Além do documento, De Olho nos Ruralistas publicará uma série de quatro
vídeos detalhando os principais achados do estudo.

O primeiro episódio está disponível em nosso canal no YouTube.

Confira em:

*(https://bit.ly/OsGigantes)

(https://youtu.be/EsjLc-ED2SE)

*(https://bit.ly/OsGigantes)

https://deolhonosruralistas.com.br/wp-content/uploads/2024/09/arte1-final-1024×724.png

CEM MUNICÍPIOS COMPÕEM 37% DO TERRITÓRIO BRASILEIRO

O território brasileiro comporta quase todo o continente europeu.
Um quinto das Américas.
É a maior área continental do hemisfério sul.
O Oiapoque, no Amapá, está mais próximo do Canadá do que em relação
ao Chuí, no extremo sul do país.
Entre o litoral paraibano, onde se inicia a Rodovia Transamazônica, e
Mâncio Lima, na divisa com o Peru, são 4.326 quilômetros — quase
a mesma distância entre Lisboa e Moscou.

Entre esses extremos existem 5.568 municípios. Entre eles, desponta
um time seleto cujas proporções são comparáveis a países inteiros.

O maior deles, Altamira (PA), é maior que a Grécia. Bem maior que Portugal.

https://deolhonosruralistas.com.br/wp-content/uploads/2024/09/arte1-final-1024×724.png

Os 100 (Cem) Maiores Municípios Brasileiros
em Extensão Somam 37% do Território Nacional.

Eles se espalham por 11 (Onze) Estados — nas Regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste — e abrangem os Biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal,
além de uma porção do Chaco Confinada dentro de Propriedades Privadas
no Município de Porto Murtinho (MS), na Fronteira com o Paraguai.

Os Gigantes têm 17 (Dezessete) entre os 30 Municípios que Mais Emitiram
Gases do Efeito Estufa (GEE) em 2023 — decorrente, em grande parte, da
Conversão de Florestas em Pastos.

https://deolhonosruralistas.com.br/wp-content/uploads/2024/09/arte2-infografico-768×878.png

Nos 100 (Cem) Maiores Municípios vivem 4.356.441 Pessoas, 2,15%
da População Brasileira, segundo dados do último Censo Demográfico
de 2022 do IBGE.
Eles são Polos de Diversidade Étnica e Linguística, abrigando 9,5% da População Indígena do Brasil:
são 411.730 Representantes de Povos Originários que vivem em Territórios Reconhecidos pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) ou em
centros urbanos — muitas vezes de modo forçado, após a Expulsão de suas
terras.

E 65,4% dos habitantes dos Gigantes se identificam como pardos;
8,1% como pretos.
Somado, o índice é 32% superior à média nacional.

Ainda dentro desse recorte, 34,8 mil pessoas se reconhecem
como quilombolas, conforme identificado de forma inédita
pelo Censo do IBGE 2022.

Segundo levantamento realizado pela Casa Civil, o Brasil possui,
ao todo, 1.942 municípios suscetíveis à ocorrência de deslizamentos,
enxurradas e inundações.
Dos cem maiores municípios do Brasil, 77 estão nessa lista [de 1.942].
Eles concentram 195 mil pessoas vivendo em áreas sujeitas a deslizamentos,
enxurradas e inundações — 5% da população.

Em Caracaraí (RR), na fronteira com a Venezuela, 57% dos habitantes
estão sob risco.
Em Eirunepé e Boca do Acre, ambos municípios do estado do Amazonas,
mais de 30% vivem em áreas suscetíveis a desastres.

No Acre, a ameaça se confirmou em março deste ano:
19 municípios decretaram emergência em decorrência das mega-enchentes
que assolaram o estado. Três deles compõem os “Gigantes”:
Feijó, Sena Madureira e Tarauacá. Neste último, 2,5 mil pessoas ficaram
desalojadas e outras 500 recorreram a abrigos.

A tragédia teve pouca repercussão nacional.

Outra face do colapso climático, a seca também atinge diretamente
os “Gigantes”.

Entre os dez municípios brasileiros que mais perderam superfície de água
em 2023, todos integram a lista dos cem maiores.

Os dados obtidos na plataforma MapBiomas mostram que esse avanço
se dá principalmente no Pantanal: Corumbá e Aquidauana (MS), Cáceres
e Poconé (MT) perderam, juntos, 5.442 km² de superfície de água —
3,5 vezes o tamanho de São Paulo (SP).

Na Amazônia, outros 1.194 km² perdidos, divididos entre Chaves (PA),
Barcelos, Coari e Codajás, os 3 em Amazonas (AM), Caracaraí e
Rorainópolis, ambos em Roraima (RR).

A seca na Amazônia e no Pantanal alimenta a atual temporada
de queimadas:

Porto Velho — única capital entre os cem maiores municípios do Brasil —
atingiu em agosto a pior qualidade do ar em todo o país, com uma concentração de poluentes 40,8 vezes superior ao valor anual recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

https://deolhonosruralistas.com.br/wp-content/uploads/2024/09/osgigantes-secretarias-610×400.png

ESTUDO REFORÇA IMPORTÂNCIA PLANETÁRIA
DOS CEM MAIORES MUNICÍPIOS

Esses dados estão entre os destaques do relatório produzido pelo núcleo
de Pesquisa do Observatório “De Olho nos Ruralistas”.

Ao longo de quatro meses, nossa equipe mapeou indicadores
socioambientais e analisou as políticas ambientais realizadas
pelas prefeituras desses 11 (Cem) Municípios.

Os dados são alarmantes: apenas 48 municípios gigantescos possuem
secretarias ou órgãos específicos para o meio ambiente, com dotação
orçamentária própria.

Nos demais casos, as políticas ambientais são geridas em conjunto com outras áreas, como economia, saúde, saneamento e até mesmo defesa civil. Em 30 municípios, as políticas de meio ambiente ficam a cargo das pastas de agropecuária, mineração e turismo — justamente os setores-alvo de licenciamento ambiental. O primeiro capítulo de “Os Gigantes” traz ainda uma análise dos municípios que, administrados por prefeitos fazendeiros, voltaram à lista de ações prioritárias do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm).

A segunda parte é dedicada aos conflitos de interesses. Quem são os prefeitos que comandam os Gigantes? Quais suas conexões com o agronegócio e o garimpo? Para entender os rumos das políticas ambientais nos cem municípios é necessário saber quem as influencia: entre os prefeitos eleitos em 2020, 39 são fazendeiros ou empresários do agronegócio, conforme declaração de bens entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em outros casos, a relação é menos óbvia. Como em Cocalinho e São Félix do Araguaia (MT), onde sindicatos rurais conquistaram a revisão do zoneamento ecológico, ampliando áreas de cultivo de soja. Ou em Itaituba e Jacaraecanga (PA), cujos mandatários são investigados por facilitar licenças para garimpeiros. Ou em Ribas do Rio Pardo (MS), onde o prefeito petista governa em linha com as diretrizes da Suzano, gigante do setor de papel e celulose.

O terceiro e último capítulo situa os Gigantes no debate global sobre as mudanças climáticas. Como as políticas ambientais dialogam com a expansão da fronteira agropecuária no Brasil? É possível conciliar a defesa dos ecossistemas e das pessoas mais vulneráveis aos efeitos da crise climática com o avanço contínuo do desmatamento para abertura de pastos e lavouras? Qual o papel do governo federal nesse contexto?

Trinta entre os cem municípios analisados estão na rota direta dos grandes empreendimentos fomentados no Novo PAC. Com impactos diretos sobre o ambiente: da explosão nos índices de desmatamento ligados à consolidação logística do Amacro (a mais recente fronteira agrícola, formada por Amazonas, Acre e Rondônia) ao colapso hidrológico no Pantanal, com a extensão da hidrovia Paraná-Paraguai. É possível discutir o combate às mudanças climáticas enquanto os governos — municipal, estadual, nacional — injetam dinheiro público em favor daqueles que destroem?

Conforme veremos nas próximas reportagens, que detalham alguns
dos casos do Relatório, eles estão na linha de frente do avanço da
fronteira agropecuária e minerária e lideram os dados de desmatamento
no Brasil.

Íntegra em: (https://deolhonosruralistas.com.br/2024/09/05/dossie-os-gigantes/)

https://deolhonosruralistas.com.br/2024/09/11/os-gigantes-pt-e-pl-administram-so-tres-prefeituras-nos-cem-maiores-municipios/

Zé Maria

Enquete Quaest
Eleições 2024
Município: SÃO PAULO
Período: 8-10/9/2024

ESPONTÂNEA

Indecisos = 49%
Onomatopéia de Sapo Fascista Marçal = 15%
GUILHERME BOULOS 50 (PSOL/PT) = 14%
Tosco Nunes = 13%
Tabata = 4%
Datena = 1%
Os demais não pontuam.

Margem de Erro: 3% p/ (+) ou p/ (-).
Registro TSE: SP-09089/2024.

[Fonte: CartaCapital]

Zé Maria

https://static.poder360.com.br/2024/09/cidades-prefeitos-esquerda-2-ago-2024-01-1-819×1024.png

Derrubaram o PT do Poder Central
porque a Esquerda vinha em Ascensão.

E a Extrema-Esquerda ‘Apartidária’
tem Responsabilidade no Processo
do Golpe de Direita iniciado em 2013.

.

Deixe seu comentário

Leia também