Pedro Augusto Pinho: Nunca tão poucos ganharam tanto, mas uma transformação se aproxima

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Ilustração: Carlos Lopes

NUNCA TÃO POUCOS GANHARAM TANTO, MAS APROXIMA-SE UMA TRANSFORMAÇÃO

Por Pedro Augusto Pinho*

Luiz Cesar Barretto Rodrigues, em “A Primeira Guerra Mundial” (1982), pergunta: “como um evento absolutamente trágico pode ser gerado no interior da “Bela Época”?

Ele responde: “esta sociedade paradisíaca existiu, mas somente para os estratos superiores das classes privilegiadas”. E complementa: “estavam também presentes o medo, o ódio, o protesto e a violência”.

A explicação foi a imensa transformação produzida pelas guerras napoleônicas onde a energia foi fator decisivo.

800 anos da própria força adicionada à da tração animal foram suplantados pela energia das águas, dos ventos e, sobretudo, do carvão mineral, um combustível fóssil.

Esta força “alargou o abismo entre pobres e ricos”, separou ainda mais o homem da natureza e do prazer do trabalho individual, do artesão.

Cesar Rodrigues encontra confirmação no escritor Stefan Zweig (1881-1942):

“o irromper da Primeira Guerra Mundial não pode ser explicado somente pelos conflitos ideológicos ou pelas questões fronteiriças. Ela foi provocada por um excesso de força, uma trágica consequência do dinamismo interno acumulado pelos últimos anos do século passado, uma tensão que, de repente, precisou explodir com muita violência” (“O Mundo que eu vi”, 1941).

A ideologia neoliberal, que toma o mundo a partir de 1980, nos coloca, em menos de três décadas, na situação conflituosa em que se viu o Ocidente há pouco mais de um século.

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Ocidente, pois como compreendem o diplomata e historiador indiano Kavalam M. Panikkar (1895-1963) e historiadores chineses, a I Grande Guerra foi uma “guerra civil europeia”.

A história do homem brota de duas raízes: a das energias e a das comunicações.

A primeira estreita a relação do homem com a natureza, a segunda com os demais, com a sociedade. De ambas nasce a cultura, que o poder colonizador procura eliminar ou homogeneizar.

Portanto, se alguém pretende identificar um agressor, verifique como trata sua cultura.

Com o desprezo dos europeus por todas que não fossem constituídas à sua imagem?

Como agressão à divindade que orienta os passos do dominador?

Como incompreensível para os altos valores do poder que se lhe pretende impor?

Examinaremos, na perspectiva de 2023, o que nos espera com a decadência do neoliberalismo ocidental.

Decadência que não se restringe à impagável dívida com os aplicadores nos fundos administrados pelos “gestores de ativos”, nem na recente derrota militar em território ucraniano, mas não se pode esquecer a derrota civilizacional, a derrota de falsos princípios éticos que usaram para dominar as mentes em ideologias excludentes e eventos meramente eleitorais.

DEMOCRACIA SEM PARTICIPAÇÃO DECISÓRIA DO POVO

“Oh liberdade! quantos crimes se cometem em teu nome!” que a história colocou nos lábios da Madame Roland, Jeanne-Marie Phlipon (1754-1793), pouco antes da queda da lâmina da guilhotina em seu pescoço.

Eram os tempos turbulentos e de extremos da Revolução Francesa. A comunicação se fazia mais pelas fofocas do que por documentos, pois grassava o analfabetismo.

“Com o povo trabalhador as coisas não ocorrem tão bem. Apáticos e melancólicos lutam estes no seu obscuro afastamento; com sua lareira sem alegria, com a sua dieta parca. Para eles, neste mundo não surge uma era de esperança. Talvez nem no outro, a não ser a esperança no descanso sombrio da morte. Sem ensino, sem conforto, sem alimento!” (Thomas Carlyle, “História da Revolução Francesa”, 1837).

Uma agonia por dez anos, 1789-1799.

Vivemos momentos bastante parecidos, agravado por países, sem dirigentes a altura de manejar as armas nucleares que possuem. E um mundo sem estadistas, sem capacidade de liderar a criação da nova realidade, como o fez Napoleão Bonaparte.

A democracia no Brasil, como em quase todo mundo ocidental, é uma farsa perigosa.

Chamar democracia um ritual periódico, que atribui aos escolhidos pelo poder a capacidade de dispor dos bens e das pessoas do País, é mais do que uma falácia, é o crime que Madame Roland via na liberdade com miséria e ignorância.

O controle da energia e da comunicação, no elevado estágio tecnológico em que se encontram, coloca em choque até parcerias aparentemente sedimentadas, como a anglo-sionista-estadunidense.

Porém, o povo parece adormecido como sempre, apenas com um celular nas mãos, que dispensa as alfabetizações inclusive, e principalmente, a política.

Pierre Bourdieu (1930-2002) lançou as bases para teoria do capital simbólico e, através da análise dos diferentes modos de dominação, a teoria do poder simbólico, entendendo que as sociedades constroem mecanismos dissimuladores das relações de dominação, e que estes operam em todas dimensões sociais (“Esquisse d’une théorie de la pratique”, 1972).

Ao desaparecer a questão nacional, a submissão dos Estados Nacionais às finanças apátridas, o neoliberalismo também exclui a construção da cidadania.

Nancy Fraser (1947) criou a expressão “paridade da participação”, para discutir a cidadania, pois “paridade significa a condição de ser um par, de estar no mesmo nível que os outros, de estar em pé de igualdade” (“Social Justice in the Age of Identity Politics: Redistribution, Recognition and Participation”, 1996).

Vive-se, então, esta farsa que poderá explodir numa transformação maior do que a Revolução Francesa e a Revolução Comunista de 1917.

E esta transformação, pacificamente, está sendo construída pelo mundo multipolar da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, em inglês), envolvendo 150 países, e dos BRICS alargados, o BRICS+, que hoje conta com 11 países, havendo 40 desejosos de aderir.

O MUNDO MULTIPOLAR

O mundo multipolar significa o reconhecimento das diferenças e das culturas que constituem características dos Estados Nacionais.

Portanto, o mundo multipolar não trata com ideologias, religiões, raças, fatores excludentes, mas com a integração harmônica para atendimento de necessidades.

O mundo multipolar é o do comércio que entrega a quem falta o que outro tenha em abundância, sejam produtos, serviços ou tecnologias.

Os que conhecem a História da China sabem que foi este, o mundo do comércio (Rota da Seda), que durou do século primeiro antes da Era Cristã até o século XIII, aproximadamente, ou seja, por 1300 anos construiu aquele País.

E não apenas enriqueceu a China, mas a própria Europa que recebeu tecnologias que possibilitaram seus países chegarem à África subsaariana e às Américas.

Mas é muito pouco centrar a contribuição do mundo multipolar nos ganhos econômicos e tecnológicos

A grande transformação está na paz, na ausência do sentido de dominação, à qual a Europa, desde o século XV, se dedica.

Pode-se questionar que o mundo sempre esteve em guerra. É a meia verdade de olhos europeus, que desde tempos mais antigos, lutou para sobrevivência em ambientes hostis, e desprezou quem não lhe fosse igual.

Veja-se a designação de “guerras mundiais” para conflitos de diversas origens e interesses, realizados em locais específicos e nunca atingindo todo planeta.

Acaso a condição da elite prussiana de germanização de territórios europeus tem o mesmo sentido da expansão japonesa pelo oriente?

Voltando a Cesar Rodrigues: “se perguntarmos simplesmente qual o motivo da guerra?” jamais encontraremos uma guerra mundial.

No entanto, a “dupla entente”, de países europeus em processo de unificação, Império Germânico e Reino Italiano, ampliou-se para “tríplice entente”, abrigando o expansionismo belicista nipônico pelo sudeste oriental.

O mundo multipolar tem a história de paz. A China jamais saiu de suas fronteiras para conquistar outras nações. Quando o fez, não eram os chineses, os “hàn”, grupo étnico de 92% da população, que conduziam o país, mas os mongóis que a invadiram.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

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Zé Maria

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Deputada Federal Sâmia Bomfim (SP)
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Por Luiz Carlos Azenha, na Revista Fórum: (https://shre.ink/TgoA)

https://twitter.com/RevistaForum/status/1728559516378169417
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