Para Observatório do Clima, discurso de Bolsonaro na ONU foi “delírio”

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Observatório do Clima chama discurso de Bolsonaro na ONU de “delírio”

Por Alexandre Putti, em CartaCapital

O Observatório do Clima, entidade composta por 50 organizações não governamentais e movimentos sociais sobre o meio ambiente, diz que o discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira 22 é um “novo delírio que envergonha o país “.

“Ao arrasar a imagem internacional do Brasil como está arrasando nossos biomas, Bolsonaro prova que seu patriotismo sempre foi de fachada”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

“Acusou um conluio inexistente entre ONGs e potências estrangeiras contra o país, mas, ao negar a realidade e não apresentar nenhum plano para os problemas que enfrentamos, é Bolsonaro quem ameaça nossa economia. O Brasil pagará durante muito tempo a conta dessa irresponsabilidade. Temos um presidente que sabota o próprio país”, afirma Astrini.

Desmatamento

Em seu discurso, Bolsonaro disse que sofre campanhas “brutais” de desinformação em relação aos dados de desmatamento e queimadas nas florestas. Além disso, afirmou que seu governo é referência em gestão ambiental, com “tolerância zero” para crimes contra a natureza.

Bolsonaro fez a declaração após afirmar que, apesar da pandemia do coronavírus, o agronegócio brasileiro “continua pujante” e, acima de tudo, “possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta”.

“Mesmo assim, somos vítimas das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal. Amazônia brasileira é riquíssima, e isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos, que se unem a associações brasileiras aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil”, afirmou o presidente.

O presidente declarou que “somos líderes em conservação de florestas tropicais” e afirmou que as queimadas ocorrem praticamente nos mesmos lugares.

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“Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior”, afirmou. “Os incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam os seus roçados em busca de sua sobrevivência em áreas já desmatadas. Os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação.”

Imprensa “politizou” a pandemia, afirma presidente

Bolsonaro lamentou “cada morte ocorrida” no Brasil por causa da Covid-19 e criticou novamente a imprensa sobre o índice de óbitos no País, que estão na vice-liderança do ranking mundial da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Ele afirmou que, desde o princípio, alertou que “tínhamos dois problemas para resolver: o vírus e o desemprego”, e disse que, por decisão judicial, as medidas de isolamento e restrições de liberdade foram delegadas aos governadores.

“Como aconteceu em grande parte do mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população. Sob o lema ‘fique em casa’ e ‘a economia a gente vê depois’, quase trouxeram o caos social ao país”, disse.

Na sequência, Bolsonaro enumerou medidas econômicas do seu governo, como a concessão do auxílio emergencial de 600 reais, a destinação de 100 bilhões de dólares para ações de saúde, socorro a pequenas empresas e compensação de perda de arrecadação de impostos.

Disse ainda que a “grande lição” da pandemia é “não depender apenas de umas poucas nações para produção de insumos” essenciais, em referência implícita à China, nação da qual o Brasil dependeu para obter equipamentos de proteção individual.

Bolsonaro aproveitou para citar o uso da hidroxicloroquina, mesmo sem comprovação científica da eficácia do medicamento contra a Covid-19.
“Somente o insumo da produção de hidroxicloroquina sofreu um reajuste de 500% no início da pandemia”, afirmou o presidente.

Governo é referência em direitos humanos, diz Bolsonaro

Bolsonaro afirmou também que, no campo humanitário e dos direitos humanos, “Brasil vem sendo referência internacional pelo compromisso e pela dedicação no apoio prestado aos refugiados venezuelanos”.

Em seguida, aproveitou para atacar novamente o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, como fez no discurso em 2019.

“A Operação Acolhida, encabeçada pelo Ministério da Defesa, recebeu quase 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise político-econômica gerada pela ditadura bolivariana”, disse.

Além disso, afirmou que sua gestão está comprometida com os princípios da Carta das Nações Unidas, que cita o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.

“Neste momento em que a organização completa 75 anos, temos a oportunidade de renovar nosso compromisso e fidelidade a esses ideais”, acrescentou.

Íntegra da nota do Observatório do Clima:

Jair Bolsonaro não fugiu do script no discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações unidas nesta terça-feira (22).

Em 14 pouco mais de minutos de uma fala calculadamente delirante, o presidente mais uma vez expôs o país de forma constrangedora e confirmou as preocupações dos investidores internacionais que pensam em sair do Brasil.

Ao negar simultaneamente a crise ambiental e a pandemia, o presidente dá a trilha sonora para o desinvestimento e o cancelamento de acordos comerciais no momento crítico de recuperação econômica pós-Covid.

O discurso na ONU não foi voltado à comunidade internacional, mas sim à claque bolsonarista em casa — em especial nas redes sociais.

Não teve o objetivo real de prestar esclarecimentos sobre a situação do Brasil a parceiros comerciais e consumidores preocupados, muito menos de propor uma visão de país, como era a tradição, mas de combater a realidade e inventar inimigos imaginários. Bolsonaro usou a tribuna das Nações Unidas para fazer campanha à reeleição e não para promover o país.

“Ao arrasar a imagem internacional do Brasil como está arrasando nossos biomas, Bolsonaro prova que seu patriotismo sempre foi de fachada”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

“Acusou um conluio inexistente entre ONGs e potências estrangeiras contra o país, mas, ao negar a realidade e não apresentar nenhum plano para os problemas que enfrentamos, é Bolsonaro quem ameaça nossa economia. O Brasil pagará durante muito tempo a conta dessa irresponsabilidade. Temos um presidente que sabota o próprio país.”

Sobre o Observatório do Clima: rede formada em 2002, composta por 50 organizações não governamentais e movimentos sociais. Atua para o progresso do diálogo, das políticas públicas e processos de tomada de decisão sobre mudanças climáticas no país e globalmente.

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