Pansera: Esquerda precisa decifrar corretamente o enigma Ciro Gomes-DEM para não ser devorada pela direita

Tempo de leitura: 3 min
Elza Fiúza e Fábio Rodrigues Pozzebon/Agência Brasil e André Carvalho/CNI

Elza Fiúza e Fábio Rodrigues Pozzebon/Agência Brasil e André Carvalho/CNI

A Esfinge Ciro Gomes

por Celso Pansera, para o Viomundo

É um momento político delicado este que vive o Brasil às portas das eleições presidenciais.

Ninguém hoje é capaz de afirmar qual será o resultado da queda-de-braço que coloca de um lado aqueles setores que, desde o impeachment de Dilma, desejam acabar com qualquer possibilidade de volta da esquerda ao poder e, de outro, a cada vez mais flagrante vontade popular de levar Lula novamente ao Palácio do Planalto.

No atual contexto de incerteza, os demais pré-candidatos se movimentam para consolidar apoios e definir chapas, sempre imaginando cenários com ou sem a presença de Lula.

Do ponto de vista ideológico e programático, este leque se abre desde a extrema-direita representada por Jair Bolsonaro, passa pela direita liberal de Geraldo Alckmin e Álvaro Dias, pela nova direita de Marina Silva, e chega à esquerda com Manuela D´ávila e Guilherme Boulos.

Mas, onde se encaixa Ciro Gomes?

Desde que, há 20 anos, ingressou no PPS para ser candidato à Presidência após romper com o PSDB, a trajetória de Ciro nos habituou a um político progressista.

A convivência pacífica com Lula naquela eleição – que Fernando Henrique Cardoso venceria no primeiro turno – evoluiu para uma relação de proximidade política e ideológica com a esquerda.

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No pleito de 2002, quando o PT chegou ao poder, Ciro novamente foi candidato e, embora tenha chegado em quarto lugar, conseguiu bela vitória política ao unir em torno de seu nome PPS, PDT e PTB na então chamada Frente Trabalhista.

Durante os governos petistas, Ciro sempre se portou como um aliado firme e independente. Com Lula, foi ministro da Integração Regional.

Nestes anos, evoluiu em suas sempre afiadas críticas à política neoliberal e seus defensores. Tornou-se uma das referências progressistas da política nacional e, desta forma, foi escolhido como pré-candidato do PDT à Presidência para as próximas eleições.

Com a perseguição jurídico-midiática a Lula, Ciro se coloca de forma natural como alternativa para as forças de esquerda.

Ciente disso, nas últimas semanas ele botou o bloco na rua e participou de diversas conversas com possíveis aliados.

Ao contrário de Manuela ou Boulos, no entanto, amenizou as declarações em defesa da liberdade de Lula, pois bem sabe que a participação do pré-candidato do PT nestas eleições praticamente aniquila suas chances de vitória.

Até aí, tudo bem. Faz parte do jogo político.

Mas, o que trouxe dúvidas sobre o caminho que Ciro trilhará até uma eventual chegada ao Planalto foi sua aproximação com setores que apoiaram o impeachment de Dilma e são historicamente ligados a uma orientação econômica bem diferente daquela defendida pelo político cearense nas duas últimas décadas.

Especificamente, causa surpresa sua aproximação com o DEM, partido cujo programa é diametralmente oposto às principais bandeiras progressistas levantadas pela sociedade brasileira.

Ao admitir a busca por um denominador comum programático que leve o DEM a indicar o vice em sua chapa, Ciro aponta para o que é virtualmente impossível e deixa dúvidas sobre sua real intenção política.

Ao mesmo tempo, conversa com PSB e PCdoB e, nesses momentos, volta a ser o Ciro ao qual nos habituamos.

Já o Ciro que dialoga com o DEM se coloca como um enigma que, se não for decifrado corretamente pela esquerda, pode fazer com que esta seja devorada pela esfinge da sempre esperta direita brasileira.

Celso Pansera é deputado federal (PT-RJ) e foi ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação no governo de Dilma Rousseff

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Comentários

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Julio Silveira

Francamente o Ciro não quiz construir pontes com o PT. Tem sido a esfinge por sua personalidade que o impede de reconhecer a importancia do partido para o país. Alem de mostrar isso abrindo sua porta para golpistas descarados.

Luciano

Era só o PT ser mais consciente do papel dele no país, deixar de querer ser a todo custo a hegemonia da esquerda e apoiar o Ciro Gomes pelo menos uma vez na vida, retribuindo um apoio, como mesmo diz o texto, de décadas!
O candidato do PT não tem forças pra vencer a eleição, mas pode tirar do segundo turno o Ciro que tem. E supondo que o PT vença, qual é a possibilidade de conseguir governar com o país rachado?
O PT tem uma história linda, mas está jogando essa história no lixo ao fazer o país refém, só pra eleger uns deputados a mais. LAMENTÁVEL COMPANHEIROS!!

Luciano

Era só o PT ser mais consciente do papel dele no país, deixar de querer ser a todo custo a hegemonia da esquerda e apoiar o Ciro Gomes pelo menos uma vez na vida, retribuindo um apoio, como mesmo diz o texto, de décadas!
O candidato do PT não tem forças pra vencer a eleição, mas pode tirar do segundo turno o Ciro que tem. E supondo que o PT vença, qual é a possibilidade de conseguir governar com o país rachado?
O PT tem uma história linda, mas está jogando essa história no lixo ao fazer o país refém, só pra eleger uns deputados a mais. LAMENTÁVEL COMPANHEIROS!

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Alguns dizem que o Poder Corrompe
Nunca acreditei nisto.
O Poder, REVELA.

Frank

Aí quando a gente fala que petista tem problema cognitivo, de entendimento de mundo, acham ruim com a gente.

Falou um Ministro da Dilma. Um cara que até hoje não conseguiu decifrar a mulher que em 2013 foi avisada por Putin e Erdogan que armava-se um golpe contra ela e que em 2016 , derrubada, veio a público dizer que nunca imaginou ter que lutar de novo contra um golpe. Esse pessoal pensa que todo mundo é idiota.

O Ciro com o DEM não tem que ser decifrado, pois a jogada já terminou e o Ciro conseguiu o que queria: tornou o passe do DEM mais caro para o Alckmin ao mesmo tempo que impediu que o Centrão rumasse para o Bozonaro (o PR quase foi).

O resto é luar de Paquetá, como dizia o poeta.

    Erlyc

    Frank, pensei nisso também. Creio que foi uma estratégia para desarranjar o lado oposto. Os resultados pareceram bons o suficiente para desestabilizar as negociações em vigência até então, e expor algumas das estratagemas daquele grupo.

    Dhiego

    Penso de modo semelhante. Desarranjou o lado de lá colocando suas cartas na mesa, o de ser um projeto antagônico ao de Temer, fazendo os que ainda não endoideceram de vez ficarem na dúvida entre um projeto nacional e o suicídio. Saiu melhor que a encomenda.

    Leo F.

    Pois os fatos mostram exatamente o contrário do que afirma:

    Ao terminar essa tentativa de possível aliança à centro-direita, por Ciro, a turma quase sem exceções, foi parar no colo de Alckmin, de mala e cuia.
    Com todo o tempo de TV e máquina partidária do mundo, para panfletagem no âmbito regional.

    Ciro deveria ter compreendido que essa era uma jogada de tudo ou nada, extremamente difícil (dado o fisiologismo típico deste grupo de partidos, que se apregoa ou a quem oferecer mais grana ou, quem for mais popular), que exigia de si uma maior ponderação e articulação.

    Mas, suas atitudes supostamente “firmes” e “sinceras” acabaram provocando o suicídio da já hercúlea estratégia de angariar esse campo (vide o caso Fernando Holiday e as discussões sobre nomeações).

    Agora sobre o Lula, passar o bastão nessa hora seria capitular e amargar a cadeia, deixando por terra todo o discurso (correto) de persecução penal por motivo eleitoral. Seu poder de transferência de votos, aparentemente, está mais valorizado e, quando houve a impugnação de fato, aí sim, é que seria ideal a indicação de um sucessor. Que, dificilmente creio ser o Ciro devido à sua postura durante um bom tempo, de ambiguidade com relação ao caso Lula. Dizendo que era prisão injusta, mas, não política e etc.

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