Operação Extermínio: Documentários de TV focam no drama dos venezuelanos que fogem para o Brasil

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Da Redação

Os professores Gilberto Maringoni e Igor Fuser ajudam a explicar a crise na Venezuela no mais ambicioso documentário sobre a imigração de venezuelanos para o Brasil.

Trata-se de um registro baseado nas histórias contadas pelos próprios imigrantes.

Em dois capítulos, o Câmera Record (trecho no topo) narra os fatos.

O tema é altamente polêmico, visto que parte da esquerda brasileira — como o deputado Jean Wyllys, do Psol, por exemplo — denuncia o governo Maduro como responsável pela crise.

De outra parte, há denúncias da clássica intervenção dos Estados Unidos na região, um fato historicamente incontestável.

O tema dos refugiados tornou-se politicamente importante para Washington, que trabalhou e trabalha pela derrubada dos governos de Hugo Chávez e Nicolas Maduro (trecho de vídeo do Nocaute, de Fernando Morais, no topo).

O vice-presidente Mike Pence esteve recentemente no Brasil em busca de uma “photo opportunity” com os desesperados, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos encarceravam crianças imigrantes na fronteira com o México.

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O fato é que os venezuelanos fogem em número crescente para o Brasil.

Maringoni é pessimista. Não vê uma solução a curto prazo para o problema.

Explica: a economia venezuelana sempre flutuou em função do preço internacional do petróleo.

Apesar de ter as maiores reservas do mundo, o país não tem poder equivalente na OPEP, a Organização dos Paises Exportadores de Petróleo.

A formação do preço depende muito de um aliado fundamental dos Estados Unidos: a Arábia Saudita.

Além disso, com a economia mundial patinando, caiu o consumo.

E a própria Venezuela depende do mercado consumidor dos norte-americanos, disparadamente o maior do mundo.

Fernando Morais atribui aos Estados Unidos parte da crise.

Sobre as recentes eleições, vencidas por Maduro — contestadas inclusive pelo Brasil — ele contextualizou, relembrando um livro sobre a atuação de Washington para derrubar Fidel Castro: Operación Exterminio:

Os documentários do Câmera Record (logo após o Domingo Espetacular) focam essencialmente no drama dos venezuelanos que buscam o Brasil para sobreviver, como descreve o jornalista Gustavo Costa:

OS ANDARILHOS

Carlos e dezenas de compatriotas estão próximos da fronteira do Brasil com a Venezuela após percorrerem uma extenuante jornada a pé por estradas do seu país, sob o sol escaldante.

Foram dias e noites, centenas de quilômetros, com mala nas costas, nada de dinheiro e nada de comida. Eles estão exauridos, desafiaram o próprio corpo numa viagem que parecia não ter fim.

“Viemos trabalhar e dar comida aos nossos filhos”, lamenta Carlos, que era padeiro. Ele ficou sem trabalho porque não se produz mais farinha no país dele.

Com o filho Matias no colo, de apenas 1 ano, Rudimari se lançou sozinha ao desconhecido território brasileiro. Ela também perambulou pelas rodovias antes de conseguir a permissão para ficar no Brasil por dois meses. Rudimari largou o emprego como professora e a casa própria para tentar viver com menos sofrimento.

“É muito difícil, você não sabe o quanto. É muito difícil! Mas a fome e a necessidade são ainda mais difíceis. É de partir a alma não pode estar com sua família, ter que deixar seu conforto e passar uma calamidade. Porque não tem como se manter lá”, desabafa.

De acordo com a Organização das Nações Unidas, a ONU, pelo menos 500 imigrantes cruzam a fronteira para fugir da crise na Venezuela, por dia.

UMA CAPITAL À BEIRA DO COLAPSO

Os abrigos construídos pelas Forças Armadas e por organizações não-governamentais são um amparo para 4 mil venezuelanos em Boa Vista, capital. Mas a multidão que chega todos os dias não encontra acolhimento.

Os imigrantes então se espalham por toda cidade. Homens, mulheres e crianças. Com cartazes na mão, muitos pedem comida, emprego e um lugar para descansar o corpo.

Um censo feito entre maio e junho aponta que 25 mil imigrantes vivem hoje em Boa Vista, que tem 332 mil habitantes.

Ao redor dos muros que cercam um dos abrigos, Ronald e as duas filhas esperam por vaga ou pela solidariedade de alguém. O pai solteiro trabalhava como taxista. Vendeu carro, largou família e veio para o Brasil pensando no futuro das meninas.

“Minhas filhas são tudo para mim. Estou buscando uma vida melhor para elas”, conta.

Ronald fica até três dias sem comer só para ter algo para alimentá-las. “Elas estão pedindo comida. Estão com fome. Vou sair para procurar alguma coisa”, diz o pai.

“Hoje, nós temos cerca de 4 mil venezuelanos abrigados. Com os próximos 4 abrigos, nós deveremos aumentar a capacidade para cerca de 6 mil”, destaca o tenente-coronel Souza Filho.

VENDER O QUE RESTA PARA QUE OS FILHOS NÃO MORRAM DE FOME

Se homens enfrentam dificuldades, as mulheres venezuelanas passam por situações ainda mais difíceis. Muitas são mães solteiras que trazem a família inteira para o Brasil.

Sem emprego, sem conseguir alimentar os filhos, tomam uma decisão extrema: rendem-se à prostituição nas ruas de Pacaraima, a primeira cidade do lado brasileiro, e de Boa Vista.

O bairro da capital foi apelidado de “oitchenta” — uma referência ao preço cobrado pelas garotas de programa que tomaram conta da região.

Nas ruas da pequena Pacaraima, Vanessa cobra o que os clientes podem pagar. Veio para o Brasil depois de descobrir que o filho estava doente.

“Meu filho adoeceu, teve uma queda nas plaquetas. Quase morreu.  Então, isso me fez vir para cá”, revela Vanessa. Ela tentou vender café nas ruas, mas a concorrência é grande. Não falta mão de obra barata na cidade.

Carolina nunca se prostituiu até dois meses atrás. Os pés castigados denunciam que a vida aqui no Brasil não está nada fácil. “A gente não trabalhava assim na Venezuela. Mas tivemos que fazer isso por necessidade”, justifica Carolina.

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