Mortes nos EUA ultrapassam as da guerra do Vietnã e Brasil tem mais óbitos que a China, colocando em risco futuro de Trump e Bolsonaro

Tempo de leitura: 4 min
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Da Redação

O número de pessoas mortas nos Estados Unidos por causa do coronavírus ultrapassou oficialmente as perdas de soldados do país na guerra do Vietnã — 58.203 então, 58.947 agora — e continuam crescendo.

Desde 31 de março os Estados Unidos registram mais de mil mortes por dia.

A diferença é que a tragédia de agora aconteceu em meses e, no Vietnã, a guerra durou mais de uma década e meia.

A dimensão das perdas começa a ser digerida pela opinião pública, de tal forma que assessores do presidente Donald Trump decidiram reduzir a participação dele nas entrevistas coletivas que tratam da pandemia.

Os dedos começam, lentamente, a apontar para Trump, cujo slogan é Make America Great Again.

É um slogan incompatível com milhares de mortos e a economia em frangalhos.

Trump passou por várias fases ao longo da pandemia. Inicialmente, quando o número de casos era reduzido, afirmou que talvez por algum milagre o vírus poderia desaparecer do país.

Convencido então por assessores a levar o problema a sério, decidiu vestir a “farda” de comandante militar, como se fosse uma guerra.

Mas hoje a guerra tem mais de 58 mil mortos e se tornou muito custosa — para todos os efeitos, Trump foi derrotado.

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O grande trunfo do presidente, esgrimido em todas as ocasiões, foi o fato de que ele baniu cedo os vôos vindos da China — mas um estudo publicado no New York Times mostra que milhares de passageiros originários da China desembarcaram nos Estados Unidos depois da decisão.

Os EUA foram verdadeiramente pegos de surpresa. São um país com intenso tráfego aéreo e conexões internacionais.

A maior potência do mundo não tinha plano para encarar a pandemia — faltaram máscaras e equipamento de proteção para médicos e enfermeiros,  leitos de UTI e respiradores tiveram de ser providenciados de última hora, apesar do problema na China ter começado entre novembro e dezembro de 2019.

Há consenso de que os EUA perderam cerca de dois meses em que poderiam ter se preparado melhor para a pandemia.

Por força do poderio econômico e da capacidade de imprimir dólares, o país conseguiu contornar a maior parte dos problemas, mas só depois de uma tragédia.

Milhares de mortes — cerca de 5 mil — foram registradas em casas de repouso para idosos.

Nova York teve muitas mortes suspeitas em casa, de pessoas que nem chegaram a ser testadas.

O governo federal bateu cabeça com os governadores, com Trump usando o púlpito da presidência para tentar vender uma imagem rósea da situação.

Ele empurrou drogas não testadas, como a hidroxicloroquina e a cloroquina e, de maneira absurda, chegou a dizer que raios de luz ou detergentes poderiam ser injetados no pulmão para debelar o vírus.

Sentindo a oportunidade, o Partido Democrata acelerou o processo de escolha de seu candidato à Casa Branca, numa ação coordenada nos bastidores pelo ex-presidente Barack Obama.

Na média nacional das pesquisas, Biden aparece hoje com mais de 6% de vantagem sobre Trump e lidera em estados sem os quais o presidente não tem chance de vitória — Flórida e Pensilvânia, por exemplo.

Ao longo do processo, Trump foi bem menos negacionista que seu colega brasileiro Jair Bolsonaro.

É que o público dos Estados Unidos parece muito mais convencido da necessidade do isolamento social e dispõe de uma rede de proteção social muito mais robusta que a brasileira.

Bolsonaro ativamente trabalhou pela chamada “imunidade de rebanho”, ou seja, para que os brasileiros se contaminem rapidamente, em busca de suposta imunidade (há dúvidas se, uma vez infectada, uma pessoa fica de fato imune, mas isto é outro assunto).

O presidente brasileiro fez isso em nome de uma reabertura rápida da economia.

Um dos conselheiros de Bolsonaro, o médico e deputado federal Osmar Terra, previu que a gripe vai matar mais este ano no Rio Grande do Sul do que o coronavírus — para isso acontecer, as mortes por gripe em território gaúcho teriam de se multiplicar por 70, em relação a 2019.

O resultado é que o Brasil tem produzido cenas muito mais dramáticas que as dos Estados Unidos, com um número muito menor de casos.

Os leitos de UTI estão sob pressão em São Paulo, há fila por eles no Rio e os sistemas de saúde colapsaram ou chegaram perto disso em Manaus, Fortaleza e Recife.

Um hot spot pode estar surgindo em cidades do Sul da Bahia.

Há 5.017 mortes confirmadas no Brasil, mais que as 4.643 da China.

Há fortíssimos indícios de subnotificação em todo o Brasil.

Faltam equipamentos de proteção de qualidade para auxiliares de enfermagem, enfermeiros e médicos.

Os testes continuam reservados para os pacientes em estado grave, impedindo que o Brasil adote a tática da Coreia do Sul — de identificar e isolar os contaminados.

Carreatas de bolsonaristas desafiando o isolamento social foram realizadas praticamente todos os fins de semana, não só pela reabertura do comércio, mas misturando a pauta da Saúde Pública com ataques ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal.

Usando a injeção de verbas públicas, Bolsonaro controlou editorialmente o discurso da maioria das redes de TV — com a notável exceção da Globo — e o esquema de disseminação de notícias falsas a serviço do bolsonarismo funcionou a todo vapor, colocando em dúvida o número de mortos e patrocinando falsas curas.

Talvez por isso, a pesquisa mais recente do Datafolha registra que 40% dos homens brasileiros consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom. A taxa despenca entre as mulheres.

Desde que assumiram o poder, Trump e Bolsonaro criaram um clima político que solapa a Ciência e incentiva ataques a vozes discordantes.

Inicialmente, o ponto de coincidência entre ambos era fazer pouco caso do aquecimento global.

Os Estados Unidos, no entanto, demonstraram que tem melhor capacidade institucional de confrontar Trump — o presidente encontra forte resistência em setores da inteligência e das Forças Armadas.

No Brasil, Bolsonaro conquistou para si o bloco militar — ainda mergulhado no anticomunismo da Guerra Fria — para lhe dar sustentação política e teve maior acesso às redes de TV para espalhar a ideia da “gripezinha”.

Para Trump, a reeleição que era dada como absolutamente começa a parecer insegura.

Ele terá pouco tempo para reabrir a economia e apresentar resultados concretos que afastem o fantasma do Vietnã sanitário.

No Brasil, com a pandemia algumas semanas atrasada em relação aos Estados Unidos, Bolsonaro corre o risco de ser ser alcançado pelo impacto da mortandade justamente quando a temporada do coronavírus combinar com a das gripes comuns — no inverno, que vem aí, as taxas de disseminação de vírus aumentam por causa da proximidade das pessoas em ambientes fechados.

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Comentários

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Zé Maria

Pelo visto o Ministro Morto-Vivo, novo ‘jestor’ privado da saúde pública, está tomando pé da situação da pandemia no Brasil, pois já está até falando algumas palavras em desuso no desgoverno, tais como “agravamento da situação” em “algumas regiões como Recife e Manaus”.

Zé Maria

“A desigualdade social de São Paulo
escancarada pela Covid-19:

Morumbi [Ricos] – 297 casos / 7 mortes.
Brasilândia [Pobres]- 89 casos / 54 mortes.

Quem tem condições trata, quem não tem morre.”

https://twitter.com/GuilhermeBoulos/status/1254443198618927104

E para completar o descaso governamental com as pessoas carentes e vulneráveis,
agora a pequena burguesia comprará nas Farmácias
testes rápidos para COVID-19
e poderá viajar com tranquilidade para a Flórida
porque lá o Trump e o Governador do estado já disseram que só permitirão a entrada de braZileir@s sacoleir@s, em Máiâmi e Orlando, se estiverem testadinh@s para Gripezinha Suína.

Zé Maria

https://www.worldometers.info/coronavirus/countries-where-coronavirus-has-spread/

Saliente-se que o Brasil, entre mais de 200 Países, é um dos que realiza menos Testes para COVID-19, com índice de apenas 1597 testes por milhão de habitantes.

https://www.worldometers.info/coronavirus/#countries

    Zé Maria

    O estado de Minas Gerais (‘Novo’)* com quase 80 Mil – ontem (28) eram 79.313, hoje (29) já são 81.728 – Casos Suspeitos** (sem teste, sem nada,
    portanto, sem diagnóstico) de Infecção por COVID-19, e a Globo vem
    com uma reportagem sobre subnotificação no Ceará (PT).
    E, para limpar mais a barra do ZemaVírus, os Herdeiros Bilionários do
    Roberto Marinho põem no ar uma repórter/atriz para fazer drama e
    dizer que o estado mineiro triplicou [!] o número de mortos, de um dia
    pra outro, pulando de 3 (três) para 9 (nove) [!] óbitos em 24 horas, como
    se fosse um número exorbitante.

    Ora, desde os primeiros registros de Coronavírus (COVID-19) no Brasil,
    o Ceará foi o Estado que mais notificou Casos da Doença, porque é
    reconhecidamente um dos melhores Sistemas Públicos de Saúde
    do País, com as Áreas Descentralizadas de Saúde (ADSs)*** totalmente
    integradas em todas as regiões do Estado Cearense. E só não tem
    melhor desempenho, porque as verbas destinadas aos estados e municípios vêm minguando cada vez mais, desde o Governo do
    Conspirador Michel Temer. Sem falar na Perseguição Ideológica
    dos Donos do Dinheiro e, portanto, do Poder, em Brasília, que
    discriminam os Governadores filiados a Partidos de Esquerda
    notadamente da Região Nordeste do Brasil.

    Aliás, a Globo poderia exibir os dados de Subnotificação no Ceará e
    compará-los com a Falta de Notificação de Casos em Minas Gerais.

    Nas últimas semanas, o Povo Cearense, especialmente os irmãos de Fortaleza, sofrem drasticamente com essa Infecção Contagiosa que
    têm impiedosamente ceifado vidas, apesar do trabalho exaustivo do
    Secretário Estadual de Saúde e do Governador do Estado do Ceará.

    Seria demais exigir dos Donos da Globo um pouco menos de ideologia
    política nas reportagens – vez que são direcionadas à Alta Classe Média
    e à Burguesia – e um pouco mais de atenção às necessidades de Saúde
    das Pessoas Pobres do Brasil, que estão desamparadas pelo desgoverno
    de Bolsonaro/Guedes/Teich, principalmente nesta Crise Epidêmica,
    com Menos Médicos, Menos Enfermeiros, Menos Medicamentos, e
    Sem Testes Gratuitos, Sem Respiradores Mecânicos e Sem Leitos.

    (*) Partido ‘Novo’ = PSL Personalité (ao estilo dos Donos da Globo).

    **(https://www.saude.mg.gov.br/cidadao/banco-de-noticias/story/12574-informe-epidemiologico-coronavirus-28-04-2020
    https://www.saude.mg.gov.br/cidadao/banco-de-noticias/story/12582-informe-epidemiologico-coronavirus-29-04-2020)

    ***(https://www.saude.ce.gov.br/wp-content/uploads/sites/9/2020/02/boletim_covid_n23_28_04_2020.pdf)

Zé Maria

No que se refere a Gêneros a Enquete DataFolha é bastante simbólica:

Além da preocupação [com a Pandemia] e do grau de isolamento,
a pesquisa Datafolha também revela uma diferença de gênero significativa na avaliação do governo Bolsonaro e na desconfiança
em relação às declarações do presidente.

Entre elas, 28% avaliam a gestão do presidente como ótima ou boa,
e 43% como ruim ou péssima.
Entre os homens, os índices são de 40% e 33%, respectivamente.

A credibilidade das declarações de Bolsonaro e sua capacidade de
liderar o país também são vistas de forma diferente pelos dois gêneros.

Enquanto 27% dos homens afirmam sempre confiar no que diz o
presidente, apenas 16% das mulheres manifestam a mesma percepção.

A maioria delas (54%) avalia que Bolsonaro não tem capacidade de liderar o Brasil, ante 44% deles.

Em relação à possibilidades de afastamento, 49% delas apoiam
a abertura de um processo de impeachment, comparado
a apenas 42% deles.

Quando a pergunta é sobre apoio a uma renúncia, 50% delas
se dizem favoráveis, ante 41% deles.

https://www.folhape.com.br/noticias/noticias/coronavirus/2020/04/28/NWS,138684,70,1668,NOTICIAS,2190-MULHERES-ESTAO-MAIS-ISOLADAS-PREOCUPADAS-COM-CORONAVIRUS-MOSTRA-DATAFOLHA.aspx

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