por Mauricio Dias, em CartaCapital
“Ele é um presidente definido por lei que está fazendo o que o país dominante quer que ele faça”
Avaliação do governo de FHC feita por Raymundo Faoro, em 15/5/2002
Finalmente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, suposto arauto da social-democracia brasileira, entrou no trilho adequado. Foi preciso mais de oitos anos, além de três fracassos eleitorais sucessivos na disputa presidencial, para que ele jogasse fora a máscara da social-democracia e assumisse o papel de expressão política da classe média. O sociólogo faz isso agora, na condição de presidente de honra dos tucanos.
“Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT a influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, falarão sozinhos”, sentencia FHC em artigo escrito para a nova edição da revista Interesse Nacional, que começou a circular na quinta-feira 14.
Nada de mal. É bom para o País que o rio corra no seu leito natural. Nada de mais. A minoria precisa de alguém que defenda seus valores. O ex-presidente finca a bandeira nesse espaço ou, pelo menos, tenta. Pela primeira vez se apresenta como porta-voz dessa camada social e se apressa a dar receita eleitoral para os candidatos da oposição.
“Se houver ousadia, as oposições podem organizar-se, dando vida não a diretórios burocráticos, mas a debates sobre temas de interesse dessas camadas.”
Quem compõe essas camadas da sociedade brasileira? A nomenclatura sociológica se embaralha nesse ponto. A classe média é difusa mesmo a partir da base da pirâmide social. Os milhões tirados da marginalidade ao longo do governo Lula – em torno de 20 milhões – foram batizados de integrantes da classe média “E”, embora uma classe social não se consolide somente a partir do salário.
O ex-presidente faz uma leitura muito particular da eleição de 2010. Ele acredita que o resultado traduz essa visão polarizada: Dilma 56,5% dos votos contra 43,95% de Serra.
O sociólogo, já de olho na competição presidencial de 2014, vê as coisas com a lente descalibrada do político oposicionista. Sem ameaça de ser vitimada pelo preconceito da classe média bem aquinhoada, como acontece com Lula, a presidenta Dilma tem chances de transitar melhor nessa faixa do eleitorado. Exatamente o contingente preferencial do governo de FHC.
Ainda em 2002, poucos meses antes da eleição de Lula, diante da pergunta se achava que o governo tucano fora feito para somente 30 milhões, o jurista e historiador Raymundo Faoro lançou uma dúvida: “Tanto assim?”. E argumentou: “O país que lê jornal… quantos são? E o país que lê livros? Não há sequer mercado para sustentar a cultura”.
FHC tornou-se um ícone do país privilegiado: “É isso que sobrou”, disse Faoro.
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Foi o que restou também do PSDB, que nunca teve vínculos com os sindicatos brasileiros e com os movimentos sociais. Vínculos que, em essência, definem historicamente a natureza dos partidos social-democratas. Uma aliança que os tucanos nunca buscaram.
Comentários
LUIZ AUGUSTO
Se não tiver errado, essa postura de FHC se assemelha a campanha presidencial do PSD em 1955, quando Carlos Lacerda justificava a possível vitória de JK como sendo a vitória dos incultos do país!
Jorge Nunes
Sou da opinião que a nova oposição vai vim da esquerda. Pois, o modo como se comporta a oposição a "direita" FHC e Aécio é totalmente irregular e distante da sociedade.
Eu fui a CADEG que é um grande centro comercial do Rio, e tinha comerciante reclamando que as taxas sobre o vinho brasileiro o deixam mais caro que o importado. Mas quem foi o cara da "direita" que foi defender o vinho nacional no plenário?
Fábrica de sapato do Brasil foi abrir fábrica na Índia, que senador foi na tribuna esbravejar sobre a perda de postos de trabalho e mercado de matéria prima na Tribuna?
A direita brasileira se é isso que FHC e Aécio são, são irreais. Dependem para sua existência da mídia que não vê a realidade brasileira e sim dela própria.
Acho que o PSOL vai tomar essa parte de defender os empregos e o PC do B vai pela defesa da indústria. E FHC e Aécio vão reclamar do nada.
ALCIONE
Está passando da hora do psdb mudar de nome ou ir para o dem… assumir a quem defendem. fhc (com letra minúscula mesmo…) jamais foi esquerda. Ele conseguiu enganar o povo por duas vezes, mas isso mudou e vai mudar ainda mais em 2012, 2014… que venha o fhc!
João
Finalmente o PSDB deixa cair a máscara, e se assume de vez como a NeoUDN!
Agora que temos um PSD Kassabiano, por que o PSDB não muda sua sigla para UDN?
Quem leu a entrevista do Bresser Pereira no Valor Econômico viu o quanto o Bresser espinafrou o PSDB. Disse, com todas as letras que o PSDB não é social-democracia (não considero partido também, porque é um aglomerado de meia dúzia de caciques que não representam nada – se considerarmos o universo da população brasileira), mas sim que enveredou para a direita raivosa e carcomida nas últimas eleições.
Enfim, D. Fernando Henrique – o Príncipe Procriador – mostrou a que veio, finalmente.
SILOÉ
Em 2002 poderia até ser 30 milhões: mais hoje, se for meia – dúzia de três, ou quatro, será muito.
SILOÉ
FHC tira a máscara e AÉCIO deixa cair o nariz.
SILOÉ
FHC e a oposição, perdem espaços até entre as elites mais poderosas, que se alinham cada vez mais com Dilma, que tem trânsito fácil em todas as camadas sociais. Só restando à eles a minoria quatrocentona feita de herdeiros parasitas, com raras exceções, e os corruptos de plantão sempre à espera de uma boquinha.
A maioria da elite atual que ascendeu ou com o trabalho ou com transações que requer visão e inteligência ou seja: os banqueiros, os industriários, os comerciantes, os profissionais liberais, os empresários, tiveram muito mais lucratividade no governo Lula, além, de certa forma, tirar um peso da consciência, colaborando com LULA no resgate social do povão miserável
A classe media que ascendeu também nesse governo, sabe que foi às custas de muita luta, e ela NÃO É BURRA pra se deixar envolver por qualquer canto demonizado de sereias , ou de pavões diplomados, ou de tucanos embestados..
Dirceu Alves
Azenha, peço apreciar trecho do discurso de FHC.
FHC DIZ: "Há casos nos quais a regulação vale mais que a proibição veja-se o tabaco e o álcool… seria o caso de fazer a mesma coisa com a maconha, embora não com as demais drogas muito mais danosas, e concentrar o fogo policial no combate aos traficantes das drogas pesadas e de armas? http://interessenacional.uol.com.br/artigos-integ…
SILOÉ
É por essa via que ele e muitos outros, tentam pegar os incautos egoístas que só pensam em regularizar a sua situação de viciados, e que se dane o resto.
Messias Macedo
Aécio se recusa a fazer bafômetro
na madrugada do Rio
em http://www.conversaafiada.com.br – ínclito, competente e impávido jornalista Paulo Henrique Amorim
Fala matuto 'bananiense'!
O [rebelde (sic)] neto do "dotô" Tancredo demonstra – mais uma vez – o que significa a tal 'meritrocacia', por ele tão propalada!…
TucaNADA, tucaNADA!: o Brasil não pode passar tanta vergonha! Lembrem, pelo menos, do mote das últimas inserções publicitárias do 'par-ti-do' de vocês, o tal PSDBesta!…
República Destes Laranjas Transvestidos de Bananas -e de tucanos (sic)
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo
Messias Macedo
errata: … meritocracia… (em vez de …’meritrocacia’…)
República Destes Laranjas Transvestidos de Bananas -e de tucanos (sic)
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo
José Manoel
O farol vive viajando na maionese!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
SILOÉ
Enquanto o Aécio…
O_Brasileiro
Lamento que haja quem ache que quem lê vota em tucano… Só quem lê o que sai de "esgotos" como Veja e Folha…
Quem lê filosofia, história e psicologia, ou até mesmo ficção, tem uma grande chance de JAMAIS votar em tucano!
Alan Patrick
Boa observação! concordo em grau, gênero e número.
Bertold
Ai é que você se engana amigo. Estudar filosofia, história, ciências sociais, jornalismo, direito e até psicologia não assegura a ninguém, de modo algum, uma tendência natural a uma percepção política progressista na vida. A maior parte dos dados de pesquisa no Brasil sobre intenção de voto comprova que a maioria dos "escolarizados", predominantemente os de curso superior e pós graduados, por incrivel que pareça, exercem voto de classe social em políticos conservadores e de direita.
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