Mário Scheffer: Só um cordão sanitário pode deter Le Pen, na França, e Bolsonaro, no Brasil
Tempo de leitura: 3 minSó um cordão sanitário pode deter Le Pen, na França, e Bolsonaro, no Brasil
Dá tempo de o Brasil, até outubro, se servir da lucidez e do desacerto da eleição na França
Por Mário Scheffer, no Blog Politica & Saúde do Estadão
Em saúde pública, cordão sanitário é a barreira criada para frear a propagação de doenças infecciosas e epidemias, por meio da restrição da entrada ou saída de pessoas de determinada área, o que foi decretado em Wuhan, na China, o epicentro inicial da covid-19.
Metaforicamente, na política, cordão sanitário é a ideia de isolar e impedir o contato com uma ameaça extremista e abominável à democracia.
O termo foi difundido nos anos 1990, na Bélgica, quando partidos se uniram para excluir políticos em ascensão, nacionalistas e xenófobos, de qualquer governo de coalizão, mesmo procedimento usado agora pelo Parlamento português para isolar a agremiação ultradireitista Chega.
No segundo turno contra Marine Le Pen, o presidente da França Emmanuel Macron apelou ao cordão sanitário, uma “frente republicana” de partidos de direita e esquerda.
A tripartição entre esquerda, direita e extrema direita na França, como explicam alguns cientistas políticos, caracterizaria um quadro original e, por isso, advertem sobre os limites de uma perspectiva comparada com outros países, como o Brasil.
De qualquer forma, em 2022, lá e cá, confirmada a presença de Bolsonaro no segundo turno, a clássica competição eleitoral bipolar adquire colorações dramáticas.
Disputas encarniçadas vêm se repetindo em vários países, desde que a extrema direita passou a usar máquinas públicas e atenuar retóricas para vencer eleições, depois de ter ganhado terreno junto a sociedades desintegradas, adubado por ataques às instituições e à democracia liberal.
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O cordão sanitário acionado por Macron foi exitoso há cinco anos, mas, na Hungria, uma coalizão inédita de seis partidos não impediu a vitória do extremista Viktor Orbán, que acaba de conquistar seu quinto mandato.
Devido à cesta de votos reduzida pela abstenção, com parte do eleitorado em cima do muro e outra parte encarando a escolha do “mal menor”, o duelo na França deve ser mais duro desta vez.
A França pode ser o Brasil amanhã, mas existem agravantes locais. Bolsonaro vem crescendo aos poucos nas pesquisas e o cordão sanitário é pura miragem, deduzidas as tribulações da frente ampla que se pretende em torno de Lula e da improvável terceira via, que busca candidato de consenso entre União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania.
Estudiosos consideram Bolsonaro, Le Pen e Orbán, assim como Donald Trump, Matteo Salvini e outros, crias do mesmo fenômeno novo, ora chamado de direita radical ou nacional-populismo, ora de extrema direita ou pós-fascismo.
A dificuldade em categorizá-los parte também das diferenças entre eles, embora todos adotem, como tática, polarizar a sociedade, explorar temas divisórios e questões identitárias, manipular redes sociais e novas tecnologias.
Em campanha, tanto Le Pen quanto Bolsonaro priorizam a desinformação como arma de agitação social, apontando culpados – os políticos, os “esquerdistas” etc. Em seguida, se apresentam como salvação.
Ao ser pautada pelo modus operandi assombroso da extrema direita e pela incontornável necessidade de uma coalizão excepcional para detê-la, a eleição, na França e no Brasil, faz com que temas, que são motivos reais de preocupação nacional, desapareçam ou fiquem em segundo plano.
Cordões sanitários, em epidemias e em eleições, têm custo social alto. Enquanto no primeiro uso, liberdades individuais são afetadas, mas se protege a população, no outro, programas de governo são esterilizados, nivelados por baixo.
A covid-19 expôs, de forma cruel e em número de mortes, erros de governantes e deficiências de serviços de saúde.
Eleição em ano de pandemia seria, portanto, momento histórico e único para fazer da saúde a vanguarda do debate político, para passar a limpo modelos e alternativas capazes de tornar um sistema de saúde mais preparado, eficiente e justo.
No caso do Brasil, o SUS é inadiável no debate eleitoral, pois, diferente da França, o país não conta ainda com um sistema verdadeiramente universal, bem avaliado pela população, majoritariamente financiado pelo Estado, que chega aos mais vulneráveis e não dá as costas para nenhum problema de saúde pública, seja aborto ou uso de drogas.
Argumenta-se que a guerra na Ucrânia e polêmicas sobre segurança, custo de vida e imigração contribuíram para ofuscar a saúde na campanha eleitoral francesa.
Chama a atenção, ainda, que Macron e Le Pen propõem soluções coincidentes para a saúde pós-pandemia, como a valorização e redução da carga de trabalho dos cuidadores de idosos, melhoria da administração hospitalar, combate aos “desertos médicos” em regiões desassistidas, com uso de teleconsulta, contratação de mais enfermeiros e maiores salários, repatriação da fabricação de medicamentos em território francês.
As diferenças ficam reservadas a detalhes. Por exemplo, Le Pen quer criar um setor separado para cuidar dos idosos nos serviços de emergência; já Macron promete um check-up médico completo e gratuito aos 25, 45 e 60 anos.
Dá tempo de o Brasil, até outubro, se servir da lucidez e do desacerto da eleição na França.
Ainda assolado por desavenças, um cordão sanitário precisa ser urgentemente convocado para tentar barrar a reeleição de Bolsonaro, mas sem a imposição de hierarquia temática que impeça o escrutínio dos programas de saúde dos candidatos.
Comentários
Valdir Rocha de Freitas
Aqui no Brasil é o seguinte:
o Bem e o Mal.
O Bem é Lula.
O mal Jair Bolsonaro e seus asseclas.
Tudo o que este fascista toca ou homenageai vira bosta, se dissolve.
Lula agrega, soma.
Este fascista Bolsonaro, desagrega, desuni.
Não há terceira via. Terceira via é acostamento.
Acostamento é covardia.
O Brasil não merece mais ficar nas mãos de fascistas, milicianos, pessoas do mal.
Pastores de moral duvidosa, que pregam a Teologia da Prosperidade, ao invés do Amor ao seu próximo.
Bíblia do Bolsonarismo
Por lá, se sabes que ao apoiar Putin para que reconstrua o muro de Berlim , Lele , assim como Hitler, terá voto da maioria da esquerda para que a França corrija o erro de não ter feito parte do pacto de Varsóvia. Por aqui, como antes, quem decide é o voto cirista e esses já estão no papo para o mito. Acho até que Ciro já esteja viajando por conta
marco
torcer para Macron como defensor de valaores da esquerda; já tivemos dias melhores
Zé Maria
Pesquisa Sensus (Presencial)
08-11/04/2022
Presidente da República
Primeiro Turno
LULA (PT) = 43,3%
Bolsonaro (PL) = 28,8%
Ciro Gomes (PDT) = 6,3%
João Doria (PSDB) = 2,6%
André Janones (Avante) = 2%
Vera Lúcia (PSTU) = 1,1%
Simone Tebet (MDB) = 0,8%
Eymael (DC) = 0,1%
Felipe D’Ávila (Novo) = 0,1%
Leonardo Péricles (UP) = 0,1%
Sofia Manzano (PCB) = 0,1%
Em Branco e Anulados = 7,8%
Não sabe = 7,1%
Margem de Erro = 2,2%
LULA NO PRIMEIRO TURNO!
abelardo
Patriotismo, instinto de defesa contra o nazifascismo, vergonha na cara e não tapar os ouvidos para o clamor do povo deverão ser as prioridades maiores dos políticos e partidos progressistas, para ajudar Lula a ser eleito em 1º turno e, assim, recolocar o Brasil na estrada do progresso; o estado de direito na prioridade de governo; o povo como fator essencial para o desenvolvimento da nação e devolver a população excluída o poder e os benefícios da inclusão social. Pensar só em seu umbigo e enfraquecer o combate que patriotas fazem contra a incompetência, contra destruição da ordem pública e social e também contra a entrega do Brasil e suas riquezas estratégicas físicas e naturais deve ser tratadas como crime hediondo e crime de traição nacional, que jamais será esquecida pelos eleitores no brasil.
Zé Maria
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A Estratégia do Grupo GAFE (Globo, Abril, Folha, Estadão)
não é tirar Bolsonaro da Disputa do 2º Turno, é tirar Lula.
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02/04/2019
Le Monde Diplomatique
“A Tática da Infâmia”
O Cordão Sanitário
“O que deu certo contra a extrema direita,
os liberais pretendem usar contra a esquerda.”
“Se é necessário construir um cordão sanitário,
que ele nos proteja sobretudo daqueles
que imputam a seus adversários uma infâmia
da qual sabem que são inocentes.”
Por Serge Halimi *
Durante décadas, o poder eleitoral da extrema direita serviu como política de segurança para os liberais de esquerda e de direita:
qualquer burrico moderado facilmente cruzava a linha de chegada, contanto que se opusesse a um partido político ‘inadmissível’, ‘indesejável’, ‘irrespirável’.
Nas eleições presidenciais francesas de 2002, o resultado de Jean-Marie Le Pen estagnou entre os dois turnos, passando de 16,8% para 17,8%.
Ao mesmo tempo, o de seu rival Jacques Chirac voou de 19,8% para 82,2% dos votos.
A mesma operação permitiu que Emmanuel Macron vencesse em 2017, ainda que com margem menos espetacular.
O que deu certo contra a extrema direita, os liberais pretendem usar contra a esquerda.
Eles, portanto, procuram construir, contra sua eventual progressão, um muro de valores que por sua vez venha a torná-la suspeita e assim obrigar aqueles que não mais suportam as políticas do poder a se acomodar a elas apesar de tudo, posto que consideram ignóbeis seus adversários mais poderosos.
Como que por acaso, a calúnia de uma esquerda tornada antissemita floresceu ao mesmo tempo na França, no Reino Unido e nos Estados Unidos.
Uma vez designado o alvo, é suficiente encontrar um julgamento desastrado, ultrajante ou desprezível na página do Facebook ou na conta do Twitter de um membro da corrente política que se quer desonrar (o Partido Trabalhista Britânico tem mais de 500 mil membros).
Então a mídia assume. [!]
Pode-se também buscar destruir um adversário, atribuindo-lhe um fantasma antissemita que lhe seja estranho – do tipo:
a democracia, o jornalismo e o setor financeiro estão a serviço dos judeus – tão logo ele formule uma crítica à oligarquia, à mídia ou aos bancos.
E pronto. “Se [Jeremy] Corbyn se mudasse para Downing Street, seria possível dizer que, pela primeira vez desde Hitler, um antissemita governa um país europeu”, finge alertar o acadêmico Alain Finkielkraut. [1]
A situação é igualmente ameaçadora nos Estados Unidos, já que, segundo o presidente Donald Trump, com a eleição para o Congresso de vários ativistas de esquerda, “o Partido Democrata tornou-se um partido anti-Israel, um partido antijudaico”.
“Os democratas odeiam o povo judeu”, acrescentou.
Por sua parte, Bernard-Henri Lévy acaba de associar o deputado e jornalista francês François Ruffin ao mesmo tempo a Lucien Rebatet, autor do panfleto antissemita ‘Os escombros’, a Xavier Vallat, comissário-geral para questões judaicas sob o regime de Vichy, e a Robert Brasillach, colaborador fuzilado na Libertação.
O mentiroso queridinho da mídia teria identificado em Ruffin uma “filiação consciente ou sub-reptícia com a prosa de Gringoire”,[2] um semanário gotejante de ódio antissemita do qual uma das mais famosas campanhas de difamação levou ao suicídio um ministro da Frente Popular.
Judeus foram assassinados na França e nos Estados Unidos por antissemitas.
Tal tragédia não deveria servir como arma ideológica para Trump, para o governo israelense e para intelectuais falsários.
Se é necessário construir um cordão sanitário, que ele nos proteja sobretudo daqueles que imputam a seus adversários uma infâmia da qual sabem que são inocentes.
Referências:
[1] “Alain Finkielkraut: ‘Ich bin kein Opfer’” [Alain Finkielkraut: “Eu não sou uma vítima”], Die Zeit, Hamburgo, 21 fev. 2019.
[2] Bernard-Henri Lévy, “Il faut franchir le ‘point Godwin’” [É preciso atravessar o “ponto Godwin”], Le Point, Paris, 7 mar. 2019.
* Serge Halimi é diretor do Le Monde Diplomatique.
https://diplomatique.org.br/o-cordao-sanitario
.
https://fr.wikipedia.org/wiki/Endiguement
https://fr.wikipedia.org/wiki/Cordon_sanitaire_(pays)
https://en.wikipedia.org/wiki/Cordon_sanitaire_(international_relations)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cord%C3%A3o_sanit%C3%A1rio_do_Pac%C3%ADfico
https://fr.wikipedia.org/wiki/Trait%C3%A9s_internationaux_de_la_guerre_froide
Zé Maria
A “Política da Contenção Ideológica” foi também aplicada
pelos EUA em toda a América Latina, em especial na UNASUL,
como Extensão ao ‘Cordão Sanitário’ imposto à Cuba, desde 1962.
https://en.wikipedia.org/wiki/Containment
https://en.wikipedia.org/wiki/Containment#Cuba
https://en.wikipedia.org/wiki/United_States_foreign_policy_toward_the_People%27s_Republic_of_China
Zé Maria
Na França, foi dado o Primeiro passo de Contenção à Esquerda:
retirar as Chances de Jean-Luc Mélenchon ou de qualquer
Candidato Representante da Esquerda Francesa de ir
ao 2º Turno, privilegiando, pela Segunda Vez Consecutiva
(2017 e 2022), a Candidata Neofascista Marine Le Pen;
tal como já haviam feito com Lionel Jospin (PSF), em 2002,
para eleger o então Candidato da Direita Neoliberal, Jaques
Chirac contra o Fascista Jean-Marie Le Pen, pai de Marine.
Agora, pela Terceira Vez (2002/2017/2022), os Neoliberais Franceses
da OTAN podem concentrar esforços para eleger seu Candidato
de Direita, COM APOIO DA ESQUERDA, contra a Extrema-Direita
NeoFascista da França.
https://fr.wikipedia.org/wiki/Doctrine_Truman
https://en.wikipedia.org/wiki/Cordon_Sanitaire_(politics)#France
Talvez prevendo que isso pudesse acontecer aqui no Brasil, o Lula,
antecipando-se a aplicação dessa Estratégia da Direita Neoliberal,
tenha buscado garantir o Apoio de Conservadores, representados
por Geraldo Alckmin e por Outros Políticos de Centro-Direita, para
evitar o Golpe Midiático no Primeiro Turno, o que, mesmo assim,
dados os movimentos da Mídia ‘Tradicional’ com a tal ‘terceira via’,
não está descartado.
Zé Maria
https://fr.wikipedia.org/wiki/Front_national_(France)#Jean-Marie_Le_Pen_au_second_tour_de_la_pr%C3%A9sidentielle_de_2002
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