Marcelo Zero: Sanções, a principal arma de destruição em massa da atualidade
Tempo de leitura: 4 minSanções: Armas de Destruição em Massa
Por Marcelo Zero*
É comovente ver a sensibilidade da mídia ocidental e brasileira, em relação às vítimas ucranianas da presente guerra.
Praticamente todos os dias surgem denúncias estridentes, até agora não efetivamente comprovadas por investigações independentes, de atos de “genocídio” e de hediondos “crimes de guerra” supostamente cometidos pelas forças russas.
A cada manifestação grandiloquente de Zelenski, ex-palhaço e atual arlequim geopolítico, todos se derretem em irrestrita e acrítica solidariedade, ao mesmo tempo em que exigem, aos berros, novas sanções e ações contra os “demônios russos”.
Só faltam pedir uma jihad nuclear contra Putin e o “cancelamento” de Dostoievsky e Tolstoi.
Apesar de muitas vezes absurdas, como a do bombardeio da estação de trem, em Kramatorsk, uma cidade do leste da Ucrânia de maioria russa, nada é questionado, pois, de acordo com a opinião amplamente dominante, os russos são seres malévolos que emergiram de vários círculos do Inferno para aterrorizar as inocentes forças ucranianas, nas quais estão incluídos os querubins dos batalhões neonazistas, herdeiros do arcanjo Stepan Bandera, aliado das SS no extermínio de judeus ucranianos, durante a Segunda Guerra Mundial.
É evidente que crimes de guerra podem ter sido cometidos tanto por russos quanto por ucranianos, mas isso tem de ser comprovado por investigações sérias e independentes. Reagir de forma emocional e acrítica a cada denúncia não substanciada somente agrava o conflito e tende a expandi-lo.
Além do caráter acrítico dessa postura, chama a atenção também a sua grosseira seletividade. Uma seletividade dupla.
Seletividade relacionada à cor da pele das vítimas e seletividade relacionada ao lado geopolítico do perpetrador dos crimes ou dos supostos crimes.
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De forma curiosa, os mesmos que hoje se comovem profundamente com os sofrimentos dos ucranianos brancos e europeus e que exigem que Putin seja levado imediatamente aos tribunais internacionais, não se manifestaram da mesma forma quando iraquianos, iranianos, afegãos, líbios, sírios, palestinos, vietnamitas etc. foram submetidos a sofrimentos muito piores por parte dos EUA e aliados europeus, em nome, é claro, da democracia e dos direitos humanos.
No Iraque e no Afeganistão, cerca de 900 mil pessoas, a maioria civis, foram sacrificadas no sacrossanto altar da defesa da “democracia”.
Na Síria, ao redor de 400 mil pessoas, até agora, foram mortas para a “defesa dos direitos humanos”. Isso sem falar nos milhões de deslocados internos e refugiados.
Na Líbia, outro país destruído pelas benevolentes forças do Ocidente, o enviado especial das Nações Unidas, Yacoub El Hillo, afirmou, em 2020, que o número de vítimas civis da prolongada guerra civil ocasionada pela derrubada de Kadhafi era “incalculável” e que 900 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, necessitavam urgentemente de ajuda humanitária para conseguir sobreviver.
No Vietnã, os EUA, de modo muito generoso, democratizaram seus bombardeios, inclusive com napalm e agente laranja, por todo seu território, contribuindo para assassinar cerca de 1 milhão de indivíduos, a maioria civis.
Em todos esses casos, o civilizado Ocidente, hoje tão estridente na defesa dos ucranianos, calou-se, ou até mesmo aplaudiu a matança.
No caso do Vietnã, a única voz oficial europeia que protestou, de forma firme, contra o massacre da população civil foi a de Olof Palme, primeiro-ministro sueco, que, em 1972, comparou as ações dos EUA no Vietnã às ações dos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Pagou um preço caro pela veraz ousadia.
Entretanto, a seletividade se estende também ao uso da principal arma destruição de massa da atualidade: as sanções econômicas, comerciais, financeiras, utilizadas à larga por EUA e aliados.
Muito embora elas não tenham a dramaticidade de bombardeios e tiroteios, as sanções são mecanismos bastante eficientes para causar sofrimento e mesmo para eliminar a população civil de um determinado país ou países.
Estudo publicado na prestigiada revista Lancet, em 20 de agosto de 2018, (Economic sanction: a weapon of mass destruction) mostra que, somente no Iraque, as sanções, combinadas com os efeitos da guerra de vários anos, mataram cerca de 1,5 milhão de iraquianos, incluindo mais de meio milhão de crianças.
A maioria morreu de fome e de doenças associadas à desnutrição, bem como de enfermidades que poderiam ter sido combatidas, caso certos medicamentos e vacinas não tivessem faltado.
Esse “silencioso assassinato em massa” da população iraquiana sequer é mencionado e discutido a sério no Ocidente e se constitui num exemplo extremo dos danos que as sanções podem causar.
Na realidade, há muitas sanções em vigor contra países como Irã, Afeganistão, Síria, Cuba, Rússia etc., que produzem fortes efeitos negativos na inocente população civil.
Apesar de permitidas, em circunstâncias muito específicas, pelo artigo 16 da Carta das Nações Unidas, as sanções violam o artigo 25, parágrafo 1, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o qual determina que:
Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
No caso das novas e inauditas sanções impostas à Rússia pelos EUA e aliados, elas, associadas aos efeitos da guerra, já começam a produzir efeitos profundamente negativos, não apenas na população civil da Rússia, mas também em todo o mundo.
Com efeito, os aumentos dos preços da energia, alimentos e fertilizantes, entre outros produtos, já estão aumentando exponencialmente a inflação e a insegurança alimentar em muitas partes do globo, afetando, principalmente, as populações mais pobres do planeta.
Estudo divulgado hoje (12/04/2022) pela Oxfam (First crisis, then catastrophe), estima que a guerra e as sanções agregarão, combinadas com o crescimento da desigualdade, cerca de 263 milhões de pessoas à pobreza extrema este ano, caso nada seja feito. Ademais, 3,3 bilhões estarão abaixo da linha da pobreza. Um número que está se aproximando da metade da população mundial.
Mesmo assim, EUA e aliados insistem nessas sanções assassinas e suicidas, que tendem a impedir a recuperação da economia mundial, ainda muito debilitada pela Covid-19, e ainda pressionam outros países, como Índia e China, a elas aderirem. Agem como se as vítimas ucranianas justificassem o castigo a ser imposto a vastas parcelas da população mundial.
Até mesmo o sistema financeiro internacional está agora sob forte questionamento, pois seus mecanismos supostamente críveis e neutros revelaram-se poderosos instrumentos de domínio geopolítico.
Saliente-se que a exclusão de bancos russos do sistema SWIFT não foi algo inédito. Bancos sírios já tinham sido submetidos às mesmas sanções anos antes.
Apesar de que um erro não justifique outro e um crime não absolva outro, em tudo isso, choca, em especial, a grande hipocrisia que cerca o tema.
Como disse François de La Rochefoucauld, a hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude.
O vício das sanções, essas assassinas silenciosas e discretas, é imenso.
*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.
Leia também:
Miola: Viagra, pequena amostra da grande corrupção que turbina o projeto de poder dos militares
Comentários
Zé Maria
https://www.globaltimes.cn/Portals/0/attachment/2022/2022-03-29/5bae64dc-9f72-4863-8e1f-6684cddc1cd7.jpeg
“As Sanções dos EUA
não são a Solução,
são o Problema”
“Os EUA estão trazendo o mundo
de volta à era de uma selva sem lei.”
Por Xin Ping*, no GlobalTimes.Cn
As sanções unilaterais sempre foram um dos instrumentos mais prediletos na caixa de ferramentas do Tio Sam para servir aos seus interesses hegemônicos.
Desde 2014 [ano do Golpe de Estado Euromaidan na Ucrânia], os EUA reuniram seus aliados e parceiros e impuseram 8.068 designações de sanções à Rússia.
Desde o início da crise na Ucrânia, foram impostas 5.314 novas designações de sanções.
Toda vez que os EUA agem unilateralmente, o único cálculo é seu próprio objetivo estratégico de suprimir seu rival.
Tem toda a fé em seu próprio poder, desafiando as leis e regras internacionais, princípios morais ou consequências prejudiciais que suas ações possam causar a outros.
As sanções dos EUA contra a Rússia são ilegais e são medidas unilaterais não autorizadas pelas Nações Unidas.
Os EUA optaram por contornar a ONU porque acreditavam que seus punhos eram grandes e fortes o suficiente.
Sem prestar atenção ao sistema multilateral de comércio, os EUA colocaram o direito interno acima do direito internacional, abusaram da jurisdição de braços longos e das sanções econômicas contra a Rússia, o Irã e a RPDC, o que prejudicou seriamente o ambiente de comércio internacional justo e justo.
Assim como o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos Franca, disse diretamente, medidas unilaterais contra a Rússia são “ilegais sob o direito internacional”.
Os EUA estão trazendo o mundo de volta à era de uma selva sem lei.
As sanções dos EUA expõem sua hipocrisia. Tudo, desde líderes russos, elites, finanças, economia, comércio, militar, ciência, artes, esportes e até animais, foram alvo de sanções sem precedentes. O Chelsea Football Club, de propriedade do bilionário russo Roman Abramovich, foi forçado a ser colocado à venda. Os EUA e seus aliados até confiscaram os bens e propriedades de cidadãos russos armazenados no exterior. É uma “traição” total dos valores que o Ocidente defende há muito tempo – que a propriedade individual é um direito inviolável e sagrado. Nada mais é do que pilhagem e roubo.
[…]
Ironicamente, Washington impôs sanções severas em setores onde as empresas norte-americanas são grandes concorrentes da Rússia, ignorando aqueles em que os EUA são fortemente dependentes da Rússia, por exemplo, titânio, um metal indispensável na fabricação de aeronaves e motores de foguetes.
Segundo o vice-secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Mikhail Popov, os EUA permitiram que suas empresas importassem fertilizantes minerais da Rússia, enquanto outros países, especialmente aqueles cujas colheitas contarão com esses fertilizantes nesta primavera, foram proibidos de adquirir o fertilizante de potássio da Rússia.
Estes são exemplos de egoísmo e padrões duplos americanos.
* Xin Ping é comentarista de assuntos internacionais, escrevendo regularmente para CGTN, Global Times, Xinhua News Agency e outras Agências de Notícias da China.
Íntegra em inglês:
https://www.globaltimes.cn/page/202204/1258915.shtml
Henrique martins
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/encontros-bolsonaro-pastores-mec-propina/
Burro. Esse sigilo o coloca no centro corrupção dos pastores. Vai ser idiota assim lá na China.
Henrique martins
Complementando comentário anterior:
Isto é, listar medicamentos para hipertensão pulmonar.
Henrique Martins
https://oglobo.globo.com/politica/planalto-decreta-sigilo-em-encontros-de-bolsonaro-com-pastores-lobistas-do-mec-1-25473551
Colocar a vida dele em risco por quê?
Os pastores vão mandar mata-lo como eles fizeram com Mariele, Bebiano e o miliciano Adriano? É isso?
Henrique martins
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-diz-que-que-forcas-armadas-compraram-viagra-para-hipertensao,70004037664
Pessoal da esquerda gentileza listar os medicamentos que existem no mercado para hipertensão.
Eu tenho 62 anos e tomo Losartana. E ainda não estou precisando tomar Viagra não viu mito.
Zé Maria
Na verdade, a “Maior Arma de Destruição em Massa da atualidade é a Mentira”.
Henrique martins
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/bolsonaro-rifa-jair-renan-e-diz-que-ele-vive-com-a-mae-e-esta-longe/
Isso aqui não é nada. Vocês vão ver é quando ele rifar o Carluxo dizendo que nao sabia que ele mandou matar Mariele e que nao tem nada com isso.
João de Paiva
Não se trata de “parcialidade” ou “seletividade”. Precisamos chamar as coisas pelo nome.a mídia OTAN é mentirosa, manipulador, criminosa.
Em canais independentes e nos veículos de comunicação russos foram/são mostradas provas cabais dos crimes cometidos pelos ucronazi e forças regulares da Ucrânia contra soldados russos (torturados e executados depois de feitos prisioneiros) e contra a população civil de várias regiões do leste da Ucrânia (província de Donbass, eme especial nas cidades de Mariupol, Donetsk e Lughanski, mas também em Butcha, depois que as forças russas saíram de lá).
Os que assistem, lêem e ouvem o que é publicado na mídia OTAN são manipulados e levados ao ódio e russofobia.
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