Lula em dose dupla na Time: “Presidente mais popular do Brasil retorna do exílio político com a promessa de salvar a nação”

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Da Redação

A Time, publicada nos EUA, é uma das revistas semanais de notícias mais conhecidas no mundo.

Na edição lançada nesta quarta-feira, 04-05, tem duas grandes reportagens sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assinadas pela jornalista Ciara Nugent, correspondente da Time em São Paulo.

Uma é matéria de capa, cujo chamada é Lula’Second Act.

O título interno da reportagem é Brazil’s Most Popular President Returns From Political Exile With a Promise to Save the Nation

Em português, o Segundo Ato de Lula. Presidente mais popular do Brasil retorna do exílio político com a promessa de salvar a nação

A outra matéria é uma longa entrevista com Lula sobre a Ucrânia, Bolsonaro e o futuro.

Abaixo, as traduções das duas resportagens. 

 Presidente mais popular do Brasil retorna do exílio político com a promessa de salvar a nação

 Por Ciara Nugente, Time/São Paulo, Brasil 

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O gênero que atribuímos a uma história de vida depende muito de como ela termina. A vida de Luiz Inácio Lula da Silva já completou vários arcos dramáticos. Primeiro, a jornada do herói: uma criança nascida na pobreza se muda para a cidade grande, sobe para liderar um sindicato e depois se torna o presidente mais popular da história do Brasil moderno.

Em seguida, a tragédia: um estadista célebre é apontado em um esquema de corrupção impressionante, enviado para a prisão e forçado a assistir do lado de fora enquanto os rivais desmantelam seu legado.

Os finais parecem não se encaixar, no entanto. Em abril de 2021, a Suprema Corte do Brasil anulou as condenações por corrupção que haviam excluído Lula – como ele é universalmente conhecido – da política em 2018, dizendo que um juiz tendencioso em seu caso havia comprometido seu direito a um julgamento justo.

A decisão bombástica colocou o Brasil a caminho de um confronto entre o esquerdista Lula e o atual presidente de extrema direita Jair Bolsonaro nas eleições de outubro de 2022. As pesquisas agora colocam o desafiante em 45% e o titular em 31%, com mais candidatos centristas praticamente fora da disputa.

Para Lula, que tem 76 anos e se preparava para uma vida mais tranquila longe dos salões do poder, essa nova reviravolta em sua história foi uma surpresa. Mas ele não hesitou em retornar à política de linha de frente.

“Na verdade, eu nunca desisti”, ele resmunga em sua famosa voz rouca, mais rouca com a idade. “A política vive em cada célula do meu corpo, porque eu tenho uma causa. E nos 12 anos desde que deixei o cargo, vejo que todas as políticas que criei para beneficiar os pobres foram destruídas.”

É final de março, seis semanas antes de Lula lançar sua campanha, e ele está sentado em um estúdio na sede paulista de seu Partido dos Trabalhadores (PT). Rindo e reclamando que ninguém sabe como projetar uma cadeira confortável hoje em dia, ele parece um avô jovial. Mas em sua alusão ao governo atual, suas costas enrijecem e as notas mais profundas e roucas de sua voz assumem o controle. Lula se torna o jovem líder sindical que era na década de 1970 e se lança em um discurso pronto para o palanque.

O sonho do Brasil que Lula perseguiu durante sua presidência de 2003 a 2010 está em frangalhos, diz ele.

Por meio de programas sociais progressistas, pagos por um boom de produtos brasileiros como aço, soja e petróleo, o governo Lula tirou milhões da pobreza e transformou a vida da maioria negra e da minoria indígena do país.

Bolsonaro deu um golpe em tudo isso, descartando políticas que ampliavam o acesso de pessoas pobres à educação, limitavam a violência policial contra comunidades negras e protegiam terras indígenas e a floresta amazônica.

A COVID-19 já matou pelo menos 660.000 brasileiros. O número, o segundo maior do mundo, provavelmente foi agravado por Bolsonaro, que chamou o vírus de “gripezinha”, apelidou as pessoas que seguiam as orientações de isolamento de “idiotas” e se recusou a se vacinar e comprar doses para os brasileiros quando eles se tornaram disponíveis pela primeira vez. Uma pesquisa nacional de dezembro de 2020 mostrou que mais de 55% dos brasileiros viviam em insegurança alimentar, acima dos 23% em 2013.

Mesmo a jovem democracia brasileira se sente menos egura. Bolsonaro, um defensor da ditadura militar do século 20, convocou comícios em massa contra juízes que o desagradam e atacou jornalistas críticos. Ele também passou meses alertando sobre fraude eleitoral no Brasil, em um eco do comportamento do presidente Donald Trump antes das eleições de 2020 nos EUA.

Em abril, ele sugeriu que as eleições poderiam ser “suspensas” se “algo anormal acontecer”. Se ele perder, alertam os analistas, é provável que haja uma versão brasileira do motim de 6 de janeiro. Se ele vencer, as instituições brasileiras podem não aguentar mais quatro anos de seu governo.

Saindo do exílio político como um cavaleiro branco, Lula afirma que pode salvar o Brasil desse pesadelo. Mas pode não ser mais o mesmo país que ele governou. Sua economia está se recuperando da pandemia, com inflação de dois dígitos e nenhum boom de commodities no horizonte. Uma crise política de seis anos dividiu amargamente a sociedade. As brechas geopolíticas que o Brasil já atravessou se ampliaram, e o Ocidente está em uma nova guerra quente e fria com a Rússia.

Lula, porém, acredita que um raio cairá duas vezes. “No futebol americano, há um jogador – por acaso ele acabou com uma modelo brasileira”, diz ele, referindo-se a Tom Brady e sua esposa Gisele Bündchen. “Ele é o melhor jogador do mundo há muito tempo, mas em cada jogo, seus fãs exigem que ele jogue melhor do que no último. Para mim, com a presidência, é a mesma coisa. Só estou correndo porque posso fazer melhor do que antes.”

A multidão está esperando há horas. As crianças sentam-se inquietas em cadeiras brancas de plástico, amontoadas com os pais sob uma marquise para proteger do sol escaldante do meio-dia. Muitos vestem camisetas vermelhas com o logotipo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-teto (MTST), que luta por moradias populares e organizou essa manifestação em um estacionamento da periferia operária de São Paulo. “Faz muito tempo”, Lula finalmente começa a cantar seu nome, “que eu sinto falta do microfone”.

Bairros como este são a terra natal de Lula. Quando ele tinha 7 anos, em 1952, sua mãe trouxe ele e seus sete irmãos do nordeste do Brasil, viajando duas semanas em uma caçamba aberta, para São Paulo.

Eles moravam nos fundos de um bar, e Lula deixou a escola aos 12 anos para ajudar a sustentá-los. Aos 17 anos, ele estava fazendo maçanetas em uma fábrica e, em um turno da noite, perdeu o dedo mindinho esquerdo em uma máquina.

Aos 23 anos, Lula se casou com uma vizinha, Maria de Lourdes. Mas ela morreu dois anos depois de uma infecção de hepatite enquanto grávida de oito meses de seu primeiro filho, que também morreu – vítimas, Lula diria mais tarde, da assistência médica de baixa qualidade oferecida aos pobres do Brasil.

Alguns anos depois, em 1975, foi eleito dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, bairro paulista a poucos quilômetros do local do rali.

Muitos no Brasil conhecem essa história, que foi imortalizada em um filme meloso de 2009, Lula, Filho do Brasil. “A trajetória de Lula tem uma qualidade mítica muito forte para todos que lutam por justiça social no Brasil”, diz Guilherme Boulos, 39 anos, coordenador do MTST, muitas vezes considerado o herdeiro político de Lula. “Mas ele próprio não é uma pessoa distante e cerimonial. Ele ainda fala a língua do povo.”

Lula diz que o segredo de seu sucesso está em sua capacidade de se relacionar com os brasileiros da classe trabalhadora – um feito incomum em um país onde os políticos são propensos a gafes do preço do leite. “Sinto orgulho de ter comprovado que um metalúrgico sem diploma universitário é mais competente para governar este país do que a elite do Brasil”, diz. “Porque a arte do governo é usar o coração, não apenas a cabeça.”

Bolsonaro, um ex-capitão do Exército devotado ao estilo político “diz o que realmente pensa”, provavelmente concordaria com a importância de se conectar emocionalmente com os eleitores. Mas o populismo de Lula esconde um pragmatismo astuto que lhe permitiu navegar nas águas políticas agitadas do Brasil.

Como presidente, Lula manteve o conservadorismo fiscal de seu antecessor de centro-direita, Fernando Henrique Cardoso, aderindo aos acordos do Brasil com o Fundo Monetário Internacional e satisfazendo os investidores.

Ao mesmo tempo, seu carro-chefe, o Bolsa Família, impulsionou a renda das famílias mais pobres, enquanto outras políticas ampliaram o acesso à educação e à saúde.

“Se posso dizer que tenho uma filha formada em direito, é por causa dos programas criados pelo governo Lula”, diz Mel Nogueira, 39, no comício em São Paulo. “Ele representa a própria esperança.”

Em 2009, dois anos antes de Lula deixar o cargo com 83% de aprovação, o presidente Barack Obama o chamou de “o político mais popular do mundo”.

Então tudo desmoronou. Em 2014, investigadores brasileiros descobriram um vasto esquema de propinas para contratos, centrado na gigante petrolífera estatal Petrobras, com bilhões em fundos públicos roubados. A investigação foi apelidada de Lava Jato.

Lula não estava mais no cargo, mas partidos de oposição no Congresso aproveitaram a revolta com o escândalo e a crise econômica no Brasil para destituir sua protegida do PT, a presidente Dilma Rousseff.

Ela não foi diretamente implicada na Lava Jato, mas os legisladores votaram nela sob o pretexto de que ela havia falsificado números para melhorar as contas públicas antes de uma eleição e a substituíram por uma presidente interina de direita.

Duas semanas depois, os promotores alegaram que Lula era o “cérebro” do esquema de corrupção. A acusação formal era que ele havia recebido um apartamento à beira-mar como suborno de uma construtora. Lula negou ter possuído a propriedade, mas em 2017 o juiz federal Sergio Moro o condenou a quase 10 anos de prisão.

De trás das grades no ano seguinte, Lula montou uma nova campanha para a corrida presidencial de outubro. Ele estava à frente nas pesquisas quando o principal tribunal eleitoral do Brasil decidiu que ele não poderia ser candidato.

Lula detectou a lógica disso: “Não fazia sentido o impeachment de Dilma, se dois anos depois eu seria presidente novamente. Então eles tiveram que me tirar do jogo.” Bolsonaro derrotou o substituto petista de Lula por 55,2% para 44,8%. Moro serviria como ministro da Justiça no governo Bolsonaro.

Para a esquerda brasileira, o impeachment de Dilma foi um golpe, um ataque não à corrupção – a Lava Jato implicou políticos de todo o espectro político – mas ao progresso social que Lula e Dilma tentaram alcançar.

No entanto, alguns apoiadores permaneceram inseguros sobre o que aconteceu sob a vigilância de Lula. “Gostaria que a investigação tivesse me convencido se ele era culpado ou inocente”, disse a cineasta de esquerda Petra Costa em seu documentário de 2019 The Edge of Democracy. “Mas, em vez disso, eu estava vendo promotores fazendo um espetáculo para apresentar seu caso.”

Lula passou 18 meses na prisão quando o Supremo Tribunal Federal decidiu, em novembro de 2019, que os réus não podem ser presos antes de esgotar suas opções de apelação. (Em abril de 2022, o comitê de direitos humanos da ONU disse que o julgamento de Lula havia sido tendencioso e violado o devido processo legal.)

Foi um período sombrio em sua vida. Publicações que antes celebravam suas realizações o descreviam como um criminoso. Sua segunda esposa, de 43 anos, Marisa Letícia, havia morrido de AVC durante o processo, e enquanto ele estava na cadeia seu neto Arthur, de 7 anos, morreu de meningite.

Lula desvia de questionamentos sobre seu estado de espírito nesse período. Ele diz que se fortaleceu com os gritos de “bom dia, presidente” de apoiadores que mantinham uma vigília do lado de fora da prisão. “Estava preparado para sair da prisão sem ressentimentos, apenas lembrando que fazia parte da história. Não consigo esquecer”, diz. “Mas não posso colocá-lo na mesa todos os dias. Quero pensar no futuro.”

Apesar de toda a sua conversa sobre o futuro, a campanha de Lula até agora foi baseada na nostalgia. Quando ele era presidente, apontam seus anúncios no Facebook, o desemprego era menor, os salários eram mais altos e o combustível era barato.

“Lula não apresentou um plano para o futuro. Por enquanto, ele está apenas apresentando a ideia de que foi um presidente melhor que Bolsonaro”, diz Thomas Traumann, consultor político e ex-secretário de comunicação brasileiro.

A má gestão da pandemia de Bolsonaro e os ataques às instituições democráticas permitiram a Lula comandar uma ampla coalizão de unidade.

Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo de centro-direita que foi rival de Lula nas eleições de 2006, será seu companheiro de chapa.

Outros ex-críticos estão apoiando sua campanha, incluindo Felipe Neto, um popular YouTuber que foi uma voz feroz contra o PT durante a Lava Jato.

“Não sou petista e tenho duras críticas sobre muitos assuntos relacionados a Lula. Mas essas críticas são no campo político, não nos direitos humanos”, diz. “Gostaria de me opor a um líder legítimo; Não aguento mais fazer isso contra um assassino.”

Em um país onde o PIB per capita foi cortado quase pela metade desde 2014, até mesmo as elites, muitas das quais apoiaram Bolsonaro em 2018, se animaram com a ideia de que Lula pode ser melhor para os negócios.

“Sou o único candidato com quem as pessoas não devem se preocupar [com a política econômica]”, diz Lula. “Porque já fui presidente duas vezes. Não discutimos políticas econômicas antes de vencer as eleições. Primeiro, você tem que ganhar as eleições.” Isso será uma surpresa para muitos, já que a economia costuma estar no centro das campanhas presidenciais do Brasil. Mas Lula dobra, citando estatísticas do boom do Brasil nos anos 2000. “Você tem que entender que em vez de perguntar o que vou fazer, apenas olhe para o que eu fiz.”

Se vencer, porém, Lula herdaria um panorama econômico mais sombrio do que em 2003. “É difícil quantificar quanto do sucesso econômico do primeiro governo Lula se deveu às incríveis condições que ele teve a sorte de ter”, diz Gustavo Ribeiro, analista político. “Será uma tarefa muito mais assustadora pela frente.”

Isso talvez seja mais evidente na questão do petróleo. Durante o governo do PT, as descobertas offshore da Petrobras reforçaram os orçamentos estaduais e mantiveram os preços dos combustíveis baixos no Brasil.

Hoje, o preço global do petróleo está subindo, impulsionando a inflação no Brasil, enquanto os esforços para combater a crise climática lançam uma sombra sobre o futuro do setor de petróleo, que representa 11,5% das exportações brasileiras.

Na Colômbia, Gustavo Petro, o favorito da esquerda nas próximas eleições, prometeu a suspensão imediata da exploração de petróleo em seu país – de acordo com as recomendações da Agência Internacional de Energia. Ele expressou esperança de que Lula e outros aliados progressistas se juntem a ele em um bloco anti-petróleo.

A resposta de Lula decepcionará os ambientalistas. “Olha, o Petro tem o direito de propor o que quiser. Mas no caso do Brasil, isso não é real”, diz. “No caso do mundo, não é real.” Ele pode interromper a exploração de novos depósitos de petróleo enquanto extrai o petróleo que o Brasil já localizou? “Não, enquanto você não tiver energia alternativa, continuará usando a energia que tem.”

Embora Lula diga que seu governo aumentaria a produção brasileira de energia limpa, ele também prometeu investir em novas infraestruturas de refinarias de petróleo em um esforço para dissociar o petróleo brasileiro do mercado global. Ele a enquadra como uma questão de soberania.

“Pense na nossa querida Alemanha: Angela Merkel decidiu fechar todas as usinas nucleares. Ela não contava com a guerra na Ucrânia. E hoje, a Europa depende da Rússia para energia.”

As visões de Lula sobre política externa o colocam contra o vento predominante hoje. Como presidente, ele se recusou a tomar partido nas discussões do Ocidente com seus rivais e se orgulhava de falar com o venezuelano Hugo Chávez ou o iraniano Mahmoud Ahmadinejad na mesma semana que George W. Bush ou Barack Obama.

Ele diz que ficou “muito preocupado” quando os EUA e muitos países latino-americanos reconheceram Juan Guaidó, líder da oposição de centro-esquerda da Venezuela, como presidente em 2019, em uma tentativa de forçar Nicolás Maduro, sucessor autoritário de Chávez, do poder. Ainda hoje, após o colapso da Venezuela na cleptocracia, Lula se recusa a chamar Maduro de ditador.

Lula continua a acreditar que “dois chefes de Estado eleitos, sentados à mesa, olhando-se nos olhos”, podem resolver quaisquer divergências. Ele afirma que o presidente Joe Biden e E.U. os líderes não conseguiram fazer isso o suficiente no período que antecedeu a invasão russa de seu vizinho em fevereiro.

“Os Estados Unidos têm muita influência política. E Biden poderia ter evitado [a guerra], não incitado”, diz ele. “Ele poderia ter participado mais. Biden poderia ter tomado um avião para Moscou para conversar com Putin. Esse é o tipo de atitude que você espera de um líder.

A maioria dos analistas ocidentais argumenta que a invasão de Vladimir Putin foi alimentada por um desejo imperialista de tomar território, e não por provocações da Ucrânia.

Mas, na opinião de Lula, até mesmo o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que enfrentou um acúmulo de tropas durante meses em suas fronteiras antes da eclosão da guerra em fevereiro, compartilha a culpa.

“Vejo o presidente da Ucrânia, falando na televisão, sendo aplaudido, sendo aplaudido de pé por todos os parlamentares [europeus]”, diz ele, balançando a cabeça com raiva. “Esse cara é tão responsável quanto Putin pela guerra. Porque na guerra, não há apenas uma pessoa culpada.”

Ele argumenta que é irresponsável os líderes ocidentais celebrarem Zelensky em vez de se concentrarem em negociações a portas fechadas. “Você está encorajando esse cara, e então ele pensa que é a cereja do seu bolo. Devíamos ter uma conversa séria. OK, você era um bom comediante. Mas não vamos fazer guerra para você aparecer na TV.”

Os EUA e a UE deveriam ter assegurado a Putin que a Ucrânia não se juntaria à Otan, diz Lula, fazendo uma comparação com a crise dos mísseis cubanos de 1962, quando os EUA e a Rússia concordaram em remover os lançamentos de mísseis dos quintais um do outro.

As sanções ocidentais à Rússia impactaram injustamente as economias de outras regiões, acrescenta. “A guerra não é solução”, diz ele. “E agora vamos ter que pagar a conta por causa da guerra na Ucrânia. Argentina, Bolívia também terão que pagar. Você não está punindo Putin. Você está punindo muitos países diferentes, você está punindo a humanidade.”

O conflito ressalta a necessidade de renovar as instituições globais, diz ele. “As Nações Unidas de hoje não representam mais nada. Os governos não levam a ONU a sério hoje, porque tomam decisões sem respeitá-la”, diz Lula. “Precisamos criar uma nova governança global.”

Por mais difícil que possa ser no mundo fraturado de hoje, muitos líderes e diplomatas saudariam o retorno de Lula: nos últimos quatro anos, Bolsonaro queimou inúmeras pontes, irritando a China com piadas racistas sobre o COVID-19 e zombando da UE. líderes. “O Brasil voltará a ser protagonista no cenário internacional”, promete Lula, “e vamos provar que é possível ter um mundo melhor”.

Se a posição de Lula sobre a Ucrânia, ou sua recusa em reconhecer quaisquer erros relacionados à corrupção de seu partido, sugerem teimosia, seus apoiadores dizem que ele está disposto a evoluir onde importa.

Por exemplo, a conversa no Brasil sobre racismo sistêmico avançou desde 2010. De acordo com Douglas Belchior, organizador da Coalizão Negra por Direitos do país, os programas de combate à pobreza e acesso à educação de Lula deram a ele um forte histórico de melhorar a vida de brasileiros negros e mestiços , que representam 56% da população e 75% dos mais pobres do país.

Mas hoje, os brasileiros negros e indígenas estão pedindo ações mais direcionadas para desfazer o legado generalizado da escravidão e do colonialismo.

O próximo governo Lula precisará colocar mais ênfase no antirracismo e corrigir “algumas falhas graves” dos governos anteriores do PT no policiamento, diz Belchior. “Voltar ao ponto imediatamente anterior a Bolsonaro não é suficiente para nós. Temos que avançar de onde os governos do PT pararam”, diz. “E Lula ouviu muitos ativistas, intelectuais e políticos negros. Ele sabe que a reconstrução do Brasil exige o enfrentamento do racismo”.

Há também sinais de movimento em questões ambientais. Embora Lula seja menos ambicioso em eliminar os combustíveis fósseis, seus governos foram bem-sucedidos em conter o desmatamento.

Agora ele está centralizando as mudanças que o Brasil precisa fazer nos alimentos para combater as mudanças climáticas – sem dúvida mais importantes em um país onde a agricultura e o uso da terra representam 61,5% das emissões anuais de gases de efeito estufa.

“Melhorei a forma de falar. Agora não estou falando apenas sobre [garantir que as pessoas possam pagar] um churrasco, mas também sobre vegetarianos”, ele twittou em fevereiro. “Para que possamos estimular uma agricultura mais saudável em nosso país.”

A mídia brasileira atribui alguns dos novos pontos de discussão de Lula – que também incluem ênfase na igualdade de gênero e direitos dos animais – à influência de sua noiva Rosângela da Silva (sem parentesco).

Em 2019, Lula anunciou seu noivado com Lula, sociólogo de 55 anos e ativista do PT, e planejam se casar em maio. Ele hesita em falar sobre ela – “Ela pode falar por si mesma!” – mas ele “aprendeu com ela”, diz ele. “Quando você perde sua esposa, você pensa, bem, minha vida não tem mais sentido. Então, de repente, aparece essa pessoa que faz você sentir vontade de viver novamente. Estou apaixonado como se tivesse 20 anos, como se fosse minha primeira namorada.”

Lula acredita que o casamento dará o tom de seu próximo capítulo político. “Um cara tão feliz quanto eu não precisa se enfurecer – deixe seus oponentes fazerem o que quiserem”, diz ele. “Se eu puder, na campanha, falarei apenas de amor. Eu não acho que seja possível ser um bom presidente se você só sente ódio dentro de você, se tudo que você quer é vingança. Não, o passado acabou. Construirei um novo Brasil”.

Com reportagem de Eloise Barry/Londres

Lula Conversa com TIME Sobre Ucrânia, Bolsonaro e a Frágil Democracia Brasileira

Por Ciara Nugent, na TIME/São Paulo, Brazil

A volta de Luiz Inácio Lula da Silva à linha de frente da política foi uma bomba para o Brasil. Silva à linha de frente da política foi uma bomba para o Brasil.

Em abril de 2021 o Supremo Tribunal Federal anulou uma série de condenações por corrupção que excluíram o ex-presidente petista das eleições presidenciais de 2018.

O tribunal afirmou que a parcialidade do juiz responsável pelo caso comprometeu o direito de Lula – como o ex-presidente é mundialmente conhecido – a um julgamento justo.

A decisão preparou o terreno para um duelo entre Lula e o atual presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro nas eleições de outubro de 2022.

Lula, que lançará oficialmente sua pré-candidatura no dia 7 de maio, promete levar o Brasil de volta aos bons tempos da sua Presidência (2003-2010), que ele encerrou com taxa de aprovação de 83%.

Isso implicaria reavivar uma economia debilitada, salvar uma democracia ameaçada e recuperar uma nação marcada pela segunda maior taxa mundial de mortalidade ligada à Covid-19 e por dois anos de gestão caótica da pandemia.

Até o momento, as promessas estão surtindo efeito: Lula aparece nas pesquisas com 45% das intenções de voto, contra 31% de Bolsonaro. Porém, esta diferença está diminuindo.

TIME sentou para conversar com Lula no fim de março, na sede do Partido dos Trabalhadores (PT) em São Paulo, para falar sobre o tempo que ele passou na prisão, sobre a guerra na Ucrânia e para saber se seus planos para o Brasil estão baseados em algo além da nostalgia. Essa transcrição foi condensada e editada para maior clareza.

Quando o Supremo Tribunal Federal restaurou seus direitos políticos no ano passado, você já estava, segundo a mídia brasileira, se preparando para uma vida mais tranquila, fora da política. Você decidiu imediatamente voltar à política quando isso aconteceu?

Eu na verdade nunca desisti da política. A política está em cada célula minha, a política está no meu sangue, está na minha cabeça. Porque o problema não é a política simplesmente, o problema é a causa que te leva à política. E eu tenho uma causa.

Quando deixei a Presidência em 2010, efetivamente eu não pensava mais em ser candidato à Presidência da República. Entretanto, o que eu estou vendo, doze anos depois, é que tudo aquilo que foi política para beneficiar o povo pobre — todas as políticas de inclusão social, o que nós fizemos para melhorar a qualidade das universidades, das escolas técnicas, melhorar a qualidade do salário, melhorar a qualidade do emprego —, tudo isso foi destruído, desmontado. Porque as pessoas que começaram a ocupar o governo depois que deram o golpe na presidenta Dilma [Rousseff] eram pessoas que tinham o objetivo de destruir todas as conquistas que o povo brasileiro tinha obtido desde 1943.

Há uma expectativa de que eu volte a presidir o país porque as pessoas têm boas lembranças do tempo em que eu fui presidente. As pessoas trabalhavam, as pessoas tinham aumento de salário, os reajustes salariais eram acima da inflação. Então eu penso que as pessoas têm saudades disso e as pessoas querem isso melhorado.

A situação do Brasil hoje —a polarização política, a economia, o panorama internacional — é muito diferente do que quando você ganhou a Presidência pela primeira vez. Não vai ser mais difícil governar desta vez?

O futebol americano tem um jogador, que aliás é casado com uma brasileira que é modelo, e que é o melhor jogador do mundo há muito tempo. A cada jogo que ele faz, a torcida fica exigindo que ele jogue melhor do que no jogo anterior. No caso da Presidência é a mesma coisa. Só tem sentido eu estar candidato à Presidência da República porque eu acredito que eu sou capaz de fazer mais e fazer melhor do que eu já fiz.

Eu tenho clareza de que eu posso resolver os problemas [do Brasil]. Eu tenho a certeza de que esses problemas só serão resolvidos quando os pobres estiverem participando da economia, quando os pobres estiverem participando do orçamento, quando os pobres estiverem trabalhando, quando os pobres estiverem comendo. Isso só é possível se você tiver um governo que tenha compromisso com as pessoas mais pobres.

Muitas pessoas no Brasil dizem que houve muitas encarnações do Lula, especificamente em política econômica. Qual Lula temos hoje?

Eu sou o único candidato com quem as pessoas não deveriam ter essa preocupação, porque eu já fui presidente duas vezes. E a gente não discute política econômica antes de ganhar as eleições. Primeiro você precisa ganhar para depois saber com quem você vai compor e o que você vai fazer. Quem tiver dúvida sobre mim olhe o que aconteceu nesse país quando eu fui presidente da República: o crescimento do mercado.

O Brasil tinha dois IPOs. No meu governo fizemos 250 IPOs. O Brasil devia 30 bilhões, o Brasil passou a ser credor do FMI, porque emprestamos 15 bilhões. O Brasil não tinha um dólar de reserva internacional, o Brasil tem hoje 370 bilhões de dólares de reserva internacional. […] Então as pessoas precisam ter em conta o seguinte: ao invés de perguntar o que é que eu vou fazer, olhe o que eu fiz.

Na primeira Presidência, o petróleo, entre outros produtos, impulsionaram muito esse sucesso. Agora, com a crise climática, estamos tentando usar menos combustíveis fósseis. O candidato à Presidência na Colômbia, Gustavo Petro, propôs um bloco antipetróleo em que os países deixariam imediatamente de explorar o petróleo. Você quer se unir a este bloco?

Veja, eu acho que o Petro tem o direito de fazer todas as propostas que ele quiser fazer. Mas no caso do Brasil é irreal. No caso do mundo é irreal. Você ainda precisa do petróleo por um tempo, você não consegue…

Porém a ideia é continuar extraindo o petróleo que já descobriram, mas deixar de explorar. Você quer deixar de explorar?

Enquanto você não tiver energia alternativa, você vai utilizar a energia que você tem. Isso vale para o Brasil e vale para o mundo inteiro. Veja a dependência da nossa querida Alemanha agora. Angela Merkel tomou a decisão de fechar todas as usinas nucleares, não contava com a guerra da Ucrânia.

Hoje a Europa é muito dependente dos russos para poder ter energia. O que você pode estabelecer é um plano de longo prazo para você diminuir [o consumo de petróleo] na medida em que você vai criando alternativas. Não dá para imaginar que os Estados Unidos vão parar de utilizar petróleo do dia para a noite, ou qualquer país.

Quero falar da Ucrânia. Você sempre teve orgulho de poder falar com todos—Hugo Chávez e também George Bush. Mas o mundo de hoje é muito fragmentado diplomaticamente. Quero saber se sua abordagem na diplomacia ainda funciona. Você poderia falar com Putin depois da invasão da Ucrânia?

Nós, políticos, colhemos aquilo que nós plantamos. Se eu planto fraternidade, solidariedade, concórdia, eu vou colher coisa boa. Mas se eu planto discórdia, eu vou colher desavenças. Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a OTAN? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na OTAN’. Estaria resolvido o problema.

Você acha que a OTAN foi a razão da Rússia para invadir?

Esse é o argumento que está colocado. Se tem um segredo nós não sabemos. O outro é a [possibilidade de a] Ucrânia entrar na União Europeia. Os europeus poderiam ter resolvido e dito: ‘Não, não é o momento de a Ucrânia entrar na União Europeia, vamos esperar’. Eles não precisariam fomentar o confronto!

Mas acho que tentaram falar com a Rússia.

Não tentaram. As conversas foram muito poucas. Se você quer paz, você tem que ter paciência. Eles poderiam ter sentado numa mesa de negociação e passado 10 dias, 15 dias, 20 dias, um mês discutindo para tentar encontrar a solução. Então eu acho que o diálogo só dá certo quando ele é levado a sério.

Então se você fosse presidente neste momento, o que você faria? Você seria capaz de evitar o conflito?

Eu não sei se seria capaz. Eu, se fosse presidente hoje, teria ligado para o [Joe] Biden, teria ligado para o Putin, para a Alemanha, para o [Emmanuel] Macron, porque a guerra não é saída. Eu acho que o problema é que, se a gente não tentar, a gente não resolve. É preciso tentar.

Às vezes eu fico preocupado. Eu fiquei muito preocupado quando os Estados Unidos e quando a União Europeia adotaram o [Juan] Guaidó [então líder da assembleia nacional da Venezuela] como presidente do país [em 2019]. Você não brinca com democracia. O Guaidó para ser presidente da Venezuela teria que ser eleito. A burocracia não substitui a política. Na política são os dois chefes que mandam, os dois que foram eleitos pelo povo, que têm que sentar numa mesa de negociação, olho no olho, e conversar.

E agora, às vezes fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado. O Saddam Hussein era tão culpado quanto o Bush. Porque o Saddam Hussein poderia ter dito: ‘Pode vir aqui visitar e eu vou provar que eu não tenho armas’. Ele ficou mentindo para o seu povo.

Agora, esse presidente da Ucrânia poderia ter dito: ‘Olha, vamos deixar para discutir esse negócio da OTAN e esse negócio da Europa mais para frente. Vamos primeiro conversar um pouco mais.’

Então Zelensky tinha que falar mais com Putin, mesmo com 100,000 soldados russos na sua fronteira?

Eu não conheço o presidente da Ucrânia. Agora, o comportamento dele é um comportamento um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo. Ou seja, ele aparece na televisão de manhã, de tarde, de noite, aparece no parlamento inglês, no parlamento alemão, no parlamento francês como se estivesse fazendo uma campanha. Era preciso que ele estivesse mais preocupado com a mesa de negociação.

Não seria um pouco difícil dizer isso a Zelensky? Ele não queria guerra, mas ela chegou.

Ele quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir.

Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver! É preciso estimular um acordo. Mas há um estímulo [ao confronto]!

Você fica estimulando o cara [Zelensky] e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: ‘Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer’. E dizer para o Putin: ‘Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar!’

O que você acha de Joe Biden?

Eu fiz até um discurso elogioso ao Biden quando ele anunciou o primeiro programa econômico dele. O problema é que não basta você anunciar um programa, é preciso executar o programa. E eu acho que o Biden está vivendo um momento difícil.

E acho que ele não tomou a decisão correta nessa guerra Rússia e Ucrânia. Os Estados Unidos têm um peso muito grande e ele poderia evitar isso, e não estimular. Poderia ter falado mais, poderia ter participado mais, o Biden poderia ter pegado um avião e descido em Moscou para conversar com o Putin. É esta atitude que se espera de um líder. Que ele tenha interferência para que as coisas não aconteçam de forma atabalhoada. E eu acho que ele não fez.

Biden deveria ter feito mais concessões a Putin?

Não. Da mesma forma que os americanos convenceram os russos a não colocar mísseis em Cuba em 1961, o Biden poderia falar: ‘Vamos conversar um pouco mais. Nós não queremos a Ucrânia na OTAN, ponto’. Não é concessão. Deixa eu lhe contar uma coisa: se eu fosse presidente da República e me oferecessem ‘o Brasil pode entrar na OTAN’, eu não ia querer.

Por quê?

Porque eu sou um cara que só pensa em paz. Eu não penso em guerra. […] O Brasil não tem contencioso nem com os Estados Unidos, nem com a China, nem com a Rússia, nem com a Bolívia, nem com a Argentina, nem com o México. E é o fato de o Brasil ser um país de paz que vai lhe fazer restabelecer a relação que nós criamos de 2003 a 2010. O Brasil vai virar protagonista internacional, porque a gente vai provar que é possível ter um mundo melhor.

O que você precisa fazer para conseguir isso?

É urgente e é preciso a gente criar uma nova governança mundial. A ONU de hoje não representa mais nada. A ONU de hoje não é levada a sério pelos governantes. Porque cada um toma decisão sem respeitar a ONU. O Putin invadiu a Ucrânia de forma unilateral, sem consultar a ONU. Os Estados Unidos costumam invadir os países sem conversar com ninguém e sem respeitar o Conselho de Segurança. Então é preciso que a gente reconstrua a ONU, coloque mais países, envolva mais pessoas. Se a gente fizer isso, a gente começa a melhorar o mundo.

No Brasil, durante a pandemia, a população negra sofreu um risco de mortalidade maior que os brancos, e uma taxa maior de desemprego também. E os problemas com a violência policial pioraram durante o governo do Bolsonaro. Você tem coisas que vai fazer para melhorar o mundo para os brasileiros negros especificamente?

Olha, eu li muito sobre a escravidão quando eu estava preso e eu às vezes tenho dificuldade de compreender o que foram 350 anos de escravidão. E eu tenho mais dificuldade de compreender que a escravidão ela está dentro da cabeça das pessoas, o preconceito está dentro da cabeça das pessoas.

Aqui no Brasil, na periferia brasileira, milhares de jovens são mortos quase todo mês, todo ano. Então não é possível isso continuar. Quando eu estava na presidência nós criamos uma lei para que a história africana fosse contada na escola brasileira. Para que a gente aprendesse sobre a história africana para não ver os africanos como cidadãos inferiores. Então nós precisamos começar essa educação dentro de casa, na escola. E o Bolsonaro despertou o ódio, despertou o preconceito. Aí tem outros presidentes também na Europa, na Hungria, [que fazem o mesmo]; está aparecendo muito fascista, muito nazista no mundo.

O Bolsonaro tem culpa pelo racismo hoje no Brasil ou é um país racista?

Eu não diria que ele tem culpa pelo racismo porque o racismo é crônico no Brasil. Mas ele estimula.

Você passou por muitas tragédias pessoais nos últimos cinco anos. Isso mudou você de alguma maneira?

Não. Eu confesso que se eu dissesse a você que eu não fiquei magoado, que eu não fiquei muito nervoso com os mentirosos que montaram essa quadrilha para me condenar, eu estaria mentindo.

Eu tinha consciência do que estava acontecendo no Brasil: o impeachment da Dilma não poderia terminar na Dilma, porque não tinha nenhum sentido fazer o impeachment da Dilma e dois anos depois o Lula voltar a ser presidente da República.

Então era preciso afastar o Lula. E como eles não tinham como afastar, eles resolveram construir um rosário de mentiras contra mim para poder me colocar na cadeia. Hoje eu estou aqui, livre, todos os meus processos foram anulados.

Sim, as condenações foram anuladas. Mas como te impactaram?

Eu fiquei 580 dias na cadeia. Eu li muito. Então eu fiz muita reflexão, eu me preparei para sair da cadeia sem ódio, sem mágoa, sem ressentimento, apenas lembrando que aquilo foi um processo histórico que eu não posso esquecer. Eu não posso esquecer, mas eu não posso colocar na mesa esse assunto todo dia porque é uma coisa do passado. Eu quero pensar no futuro.

Para você entender a minha vida, eu fui comer pão pela primeira vez com sete anos de idade. A minha mãe, muitas vezes, não tinha nada para colocar no fogão para fazer comida para a gente. E eu nunca vi minha mãe desesperada. Ela sempre falava o seguinte: ‘Amanhã vai ter. Amanhã vai melhorar’. E isso foi introjetado na minha consciência, no meu sangue, e eu sou assim. Não tem problema que a gente não consiga vencer.

Eu tenho orgulho de provar que um metalúrgico que não tem diploma universitário tem mais competência para governar esse país do que a elite brasileira toda. Porque a arte de governar é você saber utilizar o coração junto com a razão.

Você vai se casar em breve. Você quer falar um pouco sobre sua noiva?

Eu não gosto de falar dela. Porque ela tem autonomia para falar dela.

Você aprendeu alguma coisa com ela?

Eu aprendi. Eu aprendi que quando você perde a tua mulher e você pensa que a vida não tem mais sentido, quando você pensa que tudo acabou, aparece uma pessoa que começa a dar sentido à vida outra vez. Estou apaixonado como se eu tivesse 20 anos de idade, como se fosse minha primeira namorada. Vou casar da forma mais tranquila possível e vou fazer a campanha feliz.

Então, um cara que está feliz como eu não tem que ter outra preocupação. Não tem que ter raiva, não tem que falar mal dos adversários. Deixa os adversários fazerem o que eles quiserem. Brigar, xingar.

Eu, sinceramente, se puder faço uma campanha falando de amor. Eu não acho que seja possível você ser um bom presidente se você só tem ódio dentro de você, se você só tem vingança dentro de você. Não. Você tem que ter paz e pensar no futuro. O que passou, passou. Eu vou construir um novo Brasil.

Tradução e transcrição por Pâmela Reis

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Comentários

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Zé Maria

Enquete IPESPE (Por Telefone)
02-04/5/2022

Espontânea dá LULA NO 1º TURNO

LULA = 38%
Bolsolão = 29%
Outros = 9%
B/N = 7%
Não Sabe = 17%

Estimulada
1º Turno

LULA teria 49% dos Votos Válidos

Votos Totais
LULA = 44%
Bolsolão= 31%
Ciro = 8%
Doria =3%
Janones = 2%
Tebet = 1%
D’Ávila = 1%
B/N = 8%
Não Sabe = 2%

Votos Válidos
LULA = 49%
Bolsolão= 34,4%
Ciro = 8,9%
Doria = 3,3%
Janones = 2,2%
Tebet = 1,1%
D’Ávila = 1,1%

https://pbs.twimg.com/media/FSGHW9HXwAIt_F8?format=jpg

REJEIÇÃO

60% NÃO VOTARIA EM BOLSOLÃO “DE JEITO NENHUM”

Em Dória = 55%. Em Ciro e Lula = 43%

Morvan

A fala de Lula, malgrado a sutileza, sobre o palhaço ucraniano, é extremamente oportuna. Ninguém, hoje, no mundo, tem a relevância, a precedência, para falar na paz, mais do que Lula. Lula que conseguiu manter Ahmadinejad ‘na casinha’, num momento crucial da história (fato convenientemente, para eles, já que Lula protagonista é o Armagedom deles, obscurecido pela mídia venal), evitando uma escalada cujos desdobramentos quiçá não nos deixassem aqui estar.
Outra fala de Lula que a mídia serviçal sequer ousa ventilar foi a cutucada de Lula nos “Está Zunido”, no seu golpismo etarno: Guaidó, como presidente postiço, para os Está Zunido e para a OEA, cadelinha deles, pode ser. Para quem nutre o mínimo respeito pela real democracia, impensável. #Lula13. Lula neles!

    Maria Thereza Freitas

    Exato. Lula sabe o que fala e o que faz, mesmo pq já fez, como vc pontua muito bem. Tio Sam tenta preservar sua hegemonia e vai fazer de tudo pra isso, inclusive descartar quem já perdeu a serventia por tanta sabujice e falta de visão, como o marreco e o próprio ogro.

Zé Maria

https://www.viomundo.com.br/wp-content/uploads/2022/03/zelensky.jpeg

Só faltou o LULA dizer que essa Guerra na Europa
foi precipitada em razão do Golpe de Estado de 2014,
chamado Euromaidan, promovido pelos EUA e a
União Européia que financiaram os NeoNazistas
Ucranianos que derrubaram o Presidente da Ucrânia.
Aliás, o Patrão Corrupto do Palhaço ZéLenski* também
foi um dos Patrocinadores Internos do Golpe de 2014.

Sem esquecer que o “Batalhão de Azov”, Grupo Nazi
Paramilitar, foi incorporado à Guarda Nacional Ucraniana
como prêmio por haver dominado, à bala, a Cidade de
Mariupol – onde desde então ficou instalado entre a
População Civil e de onde agora esses Neonazistas
Covardes terão de fugir para Kiev por um ‘corredor
humanitário’.

* https://www.viomundo.com.br/voce-escreve/lele-teles-ze-lensky-o-heroi-de-araque-dos-viloes.html
https://www.viomundo.com.br/politica/lele-teles-zelensky-so-faltou-voce-combinar-com-os-russos.html
https://www.viomundo.com.br/politica/lele-teles-um-bando-de-ucranazis-um-palhaco-e-uma-ex-miss-desafiam-uma-potencia-nuclear-e-serio-isso.html
https://www.viomundo.com.br/politica/lele-teles-jornalistas-europeus-exibem-racismo-velho-de-guerra-na-ucrania.html

    Zé Maria

    O Destacamento de Operações Especiais “Azov”, conhecido
    como o “Regimento Azov” ou mais comumente pelo seu
    nome antigo, até Setembro de 2014, “Batalhão de Azov”.
    É uma unidade neonazista da Guarda Nacional da Ucrânia,
    sediada em Mariupol, na região costeira do Mar de Azov,
    de onde deriva seu nome.

    O grupo promove o nacionalismo ucraniano e o neonazismo
    e luta à favor da Ucrânia contra as forças separatistas pró-Rússia
    na Guerra em Donbas e mais recentemente contra as Forças
    Armadas Russas durante a Guerra na Ucrânia.

    O grupo foi fundado em 2014 como um
    “Batalhão de Defesa Territorial” durante
    a Guerra Civil em Donbas, após o Golpe
    Euromaidan.

    O Azov teve seu batismo de fogo ao recapturar
    a cidade de Mariupol em Junho de 2014.
    Em Novembro, o Batalhão de Azov foi integrado
    como parte formal da Guarda Nacional da Ucrânia.

    O Batalhão de Azov é muito mais que uma Milícia, tem seu próprio
    Partido Político, o Partido do Corpo Nacional, duas editoras, acampamentos de verão para crianças, e uma força de vigilância conhecida como a Milícia Nacional (Natsionalni Druzhyny),
    que patrulha as ruas das cidades ucranianas ao lado da polícia.

    Sua ala paramilitar tem pelo menos duas bases de treinamento
    e um vasto arsenal de armas, de drones e veículos blindados
    a peças de artilharia.

    É notável também por seu recrutamento de combatentes
    estrangeiros de extrema direita dos EUA e da Europa,
    bem como seus extensos laços transnacionais com outras organizações de extrema direita.

    Além de alegações vários casos de abusos de direitos humanos
    e crimes de guerra na Guerra Civil no leste da Ucrânia,
    principalmente em casos de torturas, estupros, saques,
    limpeza étnica e perseguição de minorias, não apenas russas.

    O governo ucraniano foi duramente criticado por analistas e políticos estrangeiros por legitimar o Batalhão Azov.

    Em 2018, o Congresso dos Estados Unidos aprovou um projeto de lei
    que proíbe a venda de armas ao Batalhão Azov.
    O Escritório ONU para os Direitos Humanos denunciou o grupo.

    O Batalhão Azov foi descrito como uma milícia de extrema-direita,
    com conexões com o neo-nazismo, cujos membros usam símbolos
    e insígnias neonazistas, como a Wolfsangel da SS Nazista no 3º Reich.

    https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f2/IN_%28yellow_background%29.svg/440px-IN_%28yellow_background%29.svg.png
    https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/fa/AZOV_logo.svg/300px-AZOV_logo.svg.png

    Desde quando inicialmente se mobilizou no Leste da Ucrânia, em 2014,
    o Batalhão Azov opera principalmente em torno de Mariupol.

    No entanto, atualmente o Regimento Azov possui Destacamentos que se deslocam por todo o território ucraniano, atuando além da Região do Donbass no Sul, Leste e Sudeste, de Donetsk a Kharkov,
    estendendo-se ao Norte da Ucrânia, até Kiev, inclusive.

    O Batalhão Azov também administra acampamentos militares
    de verão no país onde ensina crianças de 9 a 18 anos, as habilidades
    militares de atirar com rifles, praticar poses de combate e patrulhar.

    O acampamento de verão “Azovets” aceita crianças dos membros do Batalhão Azov, bem como crianças do distrito de Obolon, nas proximidades de Kiev, e mais distantes.

    Inaugurado em 22 de junho, realiza programas de atividades de uma
    semana para grupos de 30 a 40 crianças. Oficialmente, é para crianças de nove a 18 anos, mas há crianças de até sete anos lá.

    praça central de Kiev (Maidan Nezalejnosti),

    Também a Casa Cossaca é um centro comunitário fundado em abril de
    2016 por jovens Ativistas Nacionalistas de Extrema Direita, amplamente
    conhecida por ser um bastião civil do movimento radical do Azov, dedicado a promover a ideologia da Extrema Direita, buscando
    ‘um reavivamento do Nacionalismo (Nazismo) Ucraniano’.

    A Cossaca está sediada na Taras Shevchenko Lane, no centro histórico da Capital, dentro de um edifício que já abrigou o Cossack Hotel.
    O prédio foi tomado pelos “homenzinhos de preto”, jovens ‘patriotas’ [nacionalistas de extrema-direita] ucranianos durante os protestos violentos no Golpe Euromaidan contra o governo do presidente eleito,
    Viktor Yanukovych.

    Embora legalmente ainda pertença ao seu proprietário original,
    desde o EuroMaidan tornou-se um espaço de ocupação de várias organizações nazi-fascistas.
    Também foi usado como a principal base educacional para o que
    mais tarde se tornou o Batalhão Azov.

    Hoje, de acordo com a “AzovPress” (entidade de relações públicas
    do Regimento Azov), a Casa é um bastião civil mais amplo do
    Movimento Azov.

    Antes do Golpe Euromaidan, a Casa Cossaca oferecia alojamento
    para militares, mas quando os combates na praça começaram,
    o Azov assumiu o controle, transformando o prédio em um centro
    de recrutamento, hospital de campanha e necrotério.
    Hoje, o prédio é alugado pelo Ministério da Defesa.
    Atrás de portas duplas de aço, a Casa abriga uma academia gratuita
    para potenciais recrutas, bem como escritórios, salas de aula e um cineclube.
    Os corredores da Cossaca exibem santuários aos mortos mártires
    do grupo, bem como folhetos promovendo seus acampamentos
    de verão, financiados pelo Ministério da Cultura, nos quais as crianças
    recebem educação ‘patriótica’ [nacionalista de extrema-direita] e
    treinamento de armas.

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalh%C3%A3o_de_Azov#Acampamento_de_ver%C3%A3o_para_crian%C3%A7as_e_adolescentes

    Essas são as ‘Forças Militares’ Ucranianas do Palhaço ZéLenski que
    estão sendo municiadas com Armamento Pesado pela União Européia
    e pelos Estados Unidos da América, tão elogiadas pelo Grupo Gafe*.

    E viva o oSSidenti contra o BRICS!
    .
    .

    Zé Maria

    https://vk.com/tabir.azovec

Zé Maria

O Grupo G.A.F.E. (Globo, Abril, Folha, Estadão)
declarou Guerra ao LULA, depois da Entrevista.
A Mídia Venal não agüenta o Destaque de LULA,
em Nível Internacional, na Imprensa Americana.

Porque o Sucesso do LULA no Mundo simboliza
e evidencia a Decadência dessa Elite Neoliberal
que só é incensada aqui no País pelos próprios
Empresários Donos das Redes de Comunicação,

os quais são integrantes dessa Elite Dominante
que, na realidade, é ideologicamente Submissa e
servil ao Imperialismo Econômico ditado pela OTAN,
sob o Comando dos Estados Unidos da América (EUA).

Na Entrevista à Revista Táimi LULA demonstrou Coragem,
Destemor e Altivez para inteligente e francamente discorrer
sobre todos os Assuntos Propostos pela Entrevistadora,
sempre colocando o Interesse do Brasil acima de tudo.

    Zé Maria

    “Se o @LulaOficial disser “criança tem que brincar”,
    a manchete será: ‘Lula ataca educação infantil’.

    Se o Lula disser “criança tem que estudar”,
    a manchete será: ‘Lula despreza importância
    pedagógica das brincadeiras na formação
    das crianças’.”

    Alencar Santana Braga
    Deputado Federal (PT=SP)
    https://twitter.com/AlencarBraga13/status/1522283235476135936

    Zé Maria

    https://bit.ly/3shRlgh

Zé Maria

https://api.time.com/wp-content/uploads/2022/05/Lula_Cover_transcript_english.jpg

Entrevista concedida por Luiz Inácio LULA da Silva,
Ex e Futuro Presidente do Brasil, à Revista TIME:

“Brazil’s Most Popular President Returns From Political Exile
With a Promise to Save the Nation”

By Ciara Nugent, staff writer for TIME, based in London.
(https://time.com/author/ciara-nugent)

English Original:
(https://time.com/6172611/brazil-president-lula-interview)

Transcrição para o Português:
(https://time.com/6173104/lula-da-silva-transcricao)

“Lula Talks to TIME About Ukraine, Bolsonaro, and Brazil’s Fragile Democracy”
[“Lula Conversa com TIME Sobre Ucrânia, Bolsonaro e a Frágil Democracia Brasileira”]
(https://time-com.translate.goog/6173232/lula-da-silva-transcript)

Henrique martins

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2022/05/forcas-armadas-tem-de-interferir-se-tse-nao-corrigir-falhas-diz-deputado-bolsonarista.shtml

No direito quem alega tem que provar.

Então, gentileza perguntar ao ‘nobre’ deputado onde estão as falhas e que ele apresente as respectivas provas.

Se a eleição tivesse sido fraudada seu mito nao estaria a mais de 3 anos ocupando a presidência da República e destruindo o país não, senhor hipócrita.

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