Lula a Kennedy: Bolsonaro é um “doente”; o problema do Brasil se resolve com livro e escola e não com arma; veja a entrevista

Tempo de leitura: 4 min

Lula diz que se tivesse medo de ser julgado, estaria fora do Brasil. ‘Eu estou aqui porque eu quero’

Ex-presidente diz que Bolsonaro é um “doente” por achar que o problema do Brasil se resolve com arma. “O problema do Brasil se resolve com livro, com escola”

RBA

São Paulo – Em entrevista para o jornalista Kennedy Alencar, divulgada na noite desta sexta-feira, pela rede britânica BBC World News, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso há pouco mais de um ano na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, voltou a defender sua inocência no caso do apartamento triplex no Guarujá, e criticou duramente os primeiros meses do governo de Jair Bolsonaro (PSL).

“Acho que ele tem um início de mandato extremamente desastroso. A impressão que eu tenho é que ele não sabe ‘lé com cré’. Um doente, que acha que o problema do Brasil se resolve com arma, e o problema do Brasil se resolve com livro, com escola”, disse Lula.

Segundo o jornalista Kennedy Alencar, a edição que foi ao ar hoje é um trabalho especial, com tópicos da entrevista feita por ele com Lula no último dia 3, em Curitiba.

Kennedy informa em seu blog que durante o fim de semana haverá reprises. E que publicará na segunda-feira (13) a íntegra da entrevista com Lula, com 110 minutos de duração.

Às 20h30, o deputado Paulo Pimenta postou em sua página a versão exibida na TV inglesa.

Acima, o programa de 26 minutos postado pelo Canal Lula Livre no YouTube.

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Na entrevista, o ex-presidente reafirma sua inocência no caso do apartamento que motivou sua condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

“Esse maldito apartamento, se ele é meu, tem que ter um contrato, um papel, algum pagamento”, diz, exaltado. “A única coisa que me interessa é a minha inocência e vou brigar por ela até o último dia da minha vida.”

“Se eu tivesse medo de ser julgado, eu estava fora do Brasil. Eu estou aqui porque eu quero”, afirma Lula, em referência as muitas recomendações que recebeu de que deveria pedir asilo numa embaixada ou deixar o país em função do processo contra ele ser “viciado”.

“Sou um homem muito tranquilo da minha consciência. Só tenho eu mesmo e esse povo que está aí fora. Quando eu provar minha inocência, posso morrer tranquilo”, afirma Lula. O ex-presidente também reservou críticas ao ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro: “O Moro nasceu para se esconder atrás de uma toga e ler código penal. Eu adoraria sair daqui e fazer um debate com Moro sobre os crimes que ele diz que cometi”.

Lula também cita a relação que Moro criou com a imprensa durante a Operação Lava Jato, com muitos vazamentos seletivos.

“Moro fornecia à imprensa informações em primeira mão do jeito que ele entendia, aí a imprensa transformava em verdade e o cara já estava condenado. Por que você acha que resolvi resistir?”, questiona.

Junho de 2013

Em determinado momento da entrevista que foi ao ar, Lula analisa as grandes manifestações de junho de 2013, um movimento que, para ele, ainda não foi bem compreendido.

“Até hoje não avaliamos corretamente o que aconteceu em 2013. Ninguém me convence de que aquilo aconteceu porque a polícia de São Paulo bateu numa manifestação de 3 mil pessoas. Aquilo já fazia parte da arquitetura política para derrubar o governo, tirar o PT.”

A elite brasileira

Na conversa com Kennedy Alencar, Lula analisa o que chama de “problema psicológico” da elite do país, que jamais aceitou as mudanças sociais promovidas pelos seus dois mandatos como presidente da República.

“Penso que no Brasil temos um problema psicológico coletivo na elite brasileira, que é não suportar a ascensão das camadas mais pobres. Incomoda, é triste, mas incomoda os pobres ocuparem as praças que eram dos ricos, os restaurantes, os aviões. Incomoda os pobres ocuparam o espaço de ascensão social que não estava previsto pela elite brasileira desde o fim da escravidão.”

Política econômica

Dando mostras de que o ano preso em Curitiba não alterou sua conhecida verve política, o ex-presidente comentou os caminhos existentes para o Brasil enfrentar a crise e voltar a criar emprego e renda para a população.

“Tem duas formas de um país crescer. Uma é o mercado interno, é produzir para o consumo do seu povo, e a outra é produzir para a exportação. Para exportar, você precisa fazer um esforço incomensurável para vender, e foi isso que fiz nos meus governos”, explica.

Lula ainda reflete sobre o Brasil ter sediado a Copa do Mundo de futebol, em 2014, e os Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, em 2016, dois megaeventos que, na sua avaliação, foram mal aproveitada pelo país. “O Brasil já estava tomado de ódio, de uma disputa insana, e isso prejudicou. Na verdade, jogamos fora essas duas oportunidades.

Entrevistas após batalha judicial

Essa é a segunda entrevista com o ex-presidente após diversos pedidos judiciais para falar com Lula. No final de abril, os jornais Folha de S.Paulo e El País divulgaram a conversa, com duas horas de duração, com os jornalistas Monica Bergamo e Florestan Fernandes Junior. A entrevista bateu recordes de audiência no mundo todo.

Aparentemente mais magro e reafirmando sua irritação com a maneira como foi julgado o processo que o levou à prisão, o petista reforça estar disposto a provar sua inocência e não poupou de críticas à atuação do então juiz Sérgio Moro e do procurador Deltan Dallagnol.

“Tomei a decisão de que meu lugar era aqui. Tenho tanta obsessão de desmascarar o Moro, o Dallagnol e sua turma que eu ficarei preso 100 anos, mas não trocarei minha dignidade pela liberdade”, destacou Lula.

A entrevista chamou a atenção de especialistas pela capacidade de análise do ex-presidente que lamentou o que considera “avacalhação” do país com os mais pobres sofrendo injustiças.

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Comentários

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Miranda

Decepcionante a reportagem. Nem sequer mencionaram as ligações que a lavajato tem com o depto de justiça americano, tambem não mostraram como que a operação tida como um combate a corrupção, minou as grandes empresas brasileiras, como a Petrobras e a Odebrecht. Por outro lado, o Kennedy Alencar, experiente que é, poderia ter levantado essa bola pro Lula chutar.

    Jardel

    Nem citou a espionagem e os grampos da CIA na Petrobras e na presidente Dilma. E nem a visita do Bozo e do Moro à CIA na última viagem aos EUA.
    O que será que eles foram fazer lá? Receber mais orientações para afundar o Brasil? Ou foram só para agradecer o auxílio no Golpe de 2016?

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