Julian Rodrigues: “Agenda de costumes” só serve para desviar a atenção da política ultraliberal e neofascista do governo Bolsonaro
Tempo de leitura: 2 minAGENDA DE COSTUMES?
por Julian Rodrigues*
Terreno dos costumes e do comportamento. Pauta de costumes.
Desviar o debate para agenda de costumes.
O verdadeiro cerne do governo é a agenda econômica ultraliberal.
Não é só a a grande mídia e a direita que tem usado e abusado da expressão “pauta de costumes” para denominar um universo de temas que vão desde a igualdade de gênero e da igualdade racial, passando pela cultura e artes até o direito à livre orientação sexual e identidade de gênero.
Há aí, dois grandes equívocos.
Primeiro, rebaixar as liberdades democráticas, as reivindicações feministas, as batalhas anti-racistas, a liberdade de expressão e de criação artística, os direitos sexuais e reprodutivos e a luta contra todo tipo discriminação e violência a uma mera questão de “costumes”.
É natural que conservadores, neofascistas e bolsonaristas envergonhados se utilizem desta estratégia. Mas, gente de esquerda manejando essa expressão é algo inaceitável.
[Delegacias de Costumes nos remetem aos anos 1930 – tinham como função primordial perseguir putas, viados, pretos, “vadios”, embriagados, loucos, sambistas, artistas, candomblecistas, tudo e todos que pudessem “ofender a moral e os bons costumes”. Ou seja, tratou-se desde sempre, de um mecanismo repressivo do Estado autoritário contra trabalhadoras e trabalhadores, negras e negros, pobres, artistas, intelectuais, mulheres, LGBTI].
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O segundo grande equívoco é o reducionismo economicista.
Parte da esquerda ainda não entendeu que o neofascismo, o autoritarismo, o fundamentalismo religioso, a perseguição às artes, à educação, à ciência, o machismo, o racismo, a repressão sexual são partes constitutivas da aliança que sustenta o bolsonarismo.
O caráter autoritário, fundamentalista religioso e neofascista de Bolsonaro está intimamente ligado à sua agenda ultraliberal. As duas faces do governo se complementam.
A retirada dos direitos dos trabalhadores, o desmonte das políticas sociais e a privatização/desnacionalização são indissociáveis ao ataque às artes, à cultura, às ciências, e ao estimulo do ódio contra as mulheres, a população negra, às LGBTI, ou ao enfrentamento às liberdades de modo geral.
Não há “cortinas de fumaça”. Existe uma plataforma unificada: ultraliberal e ao mesmo tempo neofascista.
Toda vez que alguém usa o termo “pauta de costumes” a intenção (consciente ou não) é a de “passar um pano”, subestimar a luta das mulheres, negros e negras, LGBTI, jovens, periféricos, dissidentes.
No fundo, reduzir a importância da luta pelas liberdades democráticas.
Ninguém está preocupado com hábitos individuais ou comportamentos.
O que se discute é reconhecimento de direitos. E a garantia de todos direitos individuais e coletivos.
Estamos diante de um governo de destruição nacional, que ataca simultaneamente os direitos econômicos e sociais, o meio-ambiente, as liberdades democráticas e a soberania nacional.
O neofascismo de Bolsonaro e o programa ultraliberal de Guedes se articulam, se complementam e garantem a sustentação política e social do atual governo.
Devem ser enfrentados de conjunto, portanto.
Sem hierarquizações. Fugir de um assunto só fortalece o lado de lá.
A esquerda é por igualdade social, liberdade artística, racionalismo e por democracia plena, liberdade e por direitos humanos. Somos herdeiros do iluminismo e da tradição marxista.
Eles estão no auge de uma “guerra cultural”.
A resposta do campo progressista não pode ser arriar bandeiras.
*Julian Rodrigues é jornalista, ativista LGBTI e de Direitos Humanos. Também mestre em ciências humanas e sociais.
Comentários
Rodrigo
Concordo que a pauta progressista identitária é importante e nunca deve ser esquecida e arrefecida. O grande problema que vejo é que essa luta, muito encorajada pela esquerda acaba se reatroalimentando na direita (no aumento ainda mais do conservadorismo de ideias e costumes) que acaba colocando um foco maior e quase que se esquecendo de pautas a meu crer mais importantes que acabam dando sustentabilidade a pauta identitária como por exemplo a soberania nacional por meio da não desestatização da economia, da não venda do patrimônio nacional, o abandono da pesquisa e tecnologia nacional, e a não discussão e luta contra a captura do financeirismo e do sistema da dívida pública da nossa economia gerando com isso a perda de recursos para se investir em obras de infra estrutura necessária, democratização do acesso geral e irrestrito a educação de serviço de saúde de qualidade. Sem isso infelizmente numa sociedade capitalista e economicista baseada no prestígio tanto econômico quanto social refletida em diplomas, títulos e refinamento erudito o pobre, preto favelado lgbt não conseguirá se empoderar. Somente com renda e prestígio social os grupos marginalizados conseguem forçar seu espaço na sociedade.
a.ali
não, realmente, não é momento de arriar e sim hastear bandeiras. de ir pras ruas, de escancarar ao mundo a tragédia que se transformou esse pais: o desmatamento do pouco que resta de nossas florestas, das “balas perdida” mas com destino certo, do desemprego, da falta de direitos mínimos, de conchavos entre os poderes, do sucateamento da previdência, do desmonte da educação, das ações fascistas, racistas, homofóbicas, misóginas, xenofóbicas de bolsonazi e sua milicia…enfim, saiamos da anestesia que nos envolve ou morreremos sem ar!
Zé Maria
Terraplanistas inventam Fake News sobre ‘Nasa, vassouras e ovos em pé’
e todo mundo corre atrás, de tal modo que chega aos Trends do Twitter.
E ainda é preciso perder tempo com isso e repetir o óbvio:
“A NASA não emitiu nenhum alerta sobre isso!
Não há nenhuma relação entre o equinócio
e o fato das vassouras se equilibrarem.”
https://www.e-farsas.com/a-nasa-avisou-que-as-vassouras-podem-ficar-em-pe-sozinhas-no-equinocio.html
É assim que “o neofascismo de Bolsonaro e o programa ultraliberal de Guedes se articulam,
se complementam e garantem a sustentação política e social do atual governo.”
E é assim que os jovens distraídos perdem direitos, empregos e vagas nas Universidades.
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