José do Vale: É hora de garantir a democracia, defender o SUS e vacinar todos
Tempo de leitura: 3 minGARANTIR A DEMOCRACIA, PUNIR A CORRUPÇÃO E A TODOS A VACINAÇÃO.
Por José do Vale Pinheiro Feitosa, especial para o Viomundo
A saúde de uma população reflete sua história, suas condições de vida, a forma e o tamanho da exploração do trabalho e os lucros obtidos por capitalistas para abastecer as sociedades consumidoras.
Isso é válido nos vários estágios do capitalismo, mesmo nos mais avançados, onde reinam a financeirização e a globalização das cadeias de produção.
Endemias, pandemias, doenças cardiovasculares e crônico-degenerativas, neoplasias, conflitos sociais e interpessoais, agravos à saúde por violência no trânsito e hábitos nocivos.
Tudo isso decorre da forma capitalista de produzir, distribuir e consumir.
São como consequências das supraestrruturas do capitalismo: precariedade, migração, exploração das horas de trabalho, insalubridade, acesso à moradia, mão de obra excedente, trabalho infantil, exploração do idoso, entre muitas.
Assim como são produto do capitalismo as vítimas dos desastres ambientais — são populações “empurradas” para as áreas de risco — e os danos à saúde coletiva devido à contaminação e à poluição de água, solo e ar.
E por falar em malefícios à saúde, a pandemia de Covid-19 veio nos mostrar todos esses danos ao mesmo tempo.
É como uma espécie de líquido de contraste usado nos exames de imagem para diagnóstico de doenças.
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A Covid-19 nos mostrou os danos sociais, culturais e econômicos do capitalismo globalizado.
Antes de prosseguir, aqui vai um adendo: o capitalismo não é uma finalidade nem o último indutor de inovação e criatividade humana.
Ele é um mediador. E como tal explora o conhecimento e a ciência (ou recursos que modificam a evolução da saúde humana), que têm enorme impacto sobre a esperança de vida das populações ao nascer.
Junte as condições objetivas de acesso a alimentos, água limpa, moradia, liberdade de trabalho e renda. E temos, aí, a base para uma saúde pública de qualidade.
Agora, é importante compreender que a tecnologia de base científica aplicada à saúde tem enorme impacto na promoção, prevenção, diagnóstico e recuperação da pessoa.
Desse modo, a sociedade brasileira precisa ter em mente que a garantia de acesso a recursos de saúde de base científica, como as vacinas, é central para sermos parte da moderna civilização.
A propósito, nas investigações da CPI da Pandemia, surgiram grupos políticos e comerciais usando os fundos públicos de saúde para corromperem o preço das vacinas a um custo tamanho que daria para a cobertura total da população.
Aqui, vale lembrar, que a corrupção frequentemente se presta a ataques às estruturas estatais e favorecimentos às privatizações, que transferem para o “debaixo dos panos” o preço do acesso a recursos que previnem doenças e recuperam a saúde.
Neste debate público, têm surgido contradições curiosas. Por ora, uma das mais emblemáticas é o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), atual líder do governo na Câmara Federal.
Como é que, enquanto ministro da Saúde de Michel Temer, Ricardo Barros tomou iniciativas para privatizar o SUS e, ao mesmo tempo, agora é denunciado como corruptor do fornecimento privado ao Estado?
Na verdade, existem dois tipos de personagens que atuam malevolamente contra o SUS.
Um é integrado por aqueles que fazem negócios escusos com o recurso público.
O outro tipo é ideológico. É o caso do ministro da Economia, Paulo Guedes, que opera para destruir os direitos sociais da população. Ele acha que o capitalismo se apropria melhor da renda do trabalho ao promover a fragmentação social dos trabalhadores.
Acontece que a corrupção mostrada na CPI apenas se torna um assunto político e social, porque tem a ver com o constitucional Direito à Saúde, que é um Dever do Estado.
Se apenas privado, essa corrupção se resumiria à exploração privada do preço e da seleção de acesso a quem pode pagar.
Portanto, além de punir os corruptos que causam danos à saúde pública, é preciso ampliar a participação popular na democracia para isolar a ideologia neoliberal e acelerar a vacinação contra a Covid-19.
Definitivamente, ela já se mostra eficaz em romper a cadeia de transmissão do Sars-Cov2 (o vírus causador da Covid-19).
Hoje, 4 de junho de 2021, apenas 13,1% dos brasileiros haviam recebido as duas doses necessárias.
* José do Vale Pinheiro Feitosa é médico sanitarista.
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