Jeferson Miola: O que faz o general bolsonarista Ajax como assessor de Toffoli?

Tempo de leitura: 3 min
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O ataque dos generais ao STF e a tutela do Toffoli

por Jeferson Miola, em seu blog

Numa democracia, os ataques inacreditáveis do ministro-general Augusto Heleno à Suprema Corte [22/5] não seriam admitidos.

Mas no Brasil, na sua cruzada contra o STF, Augusto Heleno recebeu o apoio do general Fernando Azevedo e Silva, o ministro da Defesa que exerce a direção superior das Forças Armadas.

E mais. Os colegas de Heleno da turma de 1971, que se descrevem como integrantes da “sagrada casa da Academia das Agulhas Negras”, divulgaram inoportuno comunicado em solidariedade a ele e deram uma peitada no STF: “Alto lá, ‘ministros’ do stf!”.

Julgando-se acima da Constituição civil e do poder civil, estes militares da reserva desafiam: “Aprendemos, desde cedo, que ordens absurdas e ilegais não devem ser cumpridas”.

Eles também insinuam que a tal “consequência imprevisível” citada por Augusto Heleno na nota de 22 de maio pode ser a guerra civil:

“Faltam a ministros, não todos, do stf, nobreza, decência, dignidade, honra, patriotismo e senso de justiça. Assim, trazem ao país insegurança e instabilidade, com grave risco de crise institucional com desfecho imprevisível, quiçá, na pior hipótese, guerra civil”.

Enquanto militares – da ativa e da reserva – e membros do governo atacam o STF, Dias Toffoli se permite continuar sendo tutelado pelo Exército.

Não é outro o significado da inaudita nomeação de um general como “assessor especial” do gabinete da Presidência da Suprema Corte.

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O 1º nomeado para o cargo [Portaria 266 de 27/9/2018], general Fernando Azevedo e Silva, que atuou na elaboração do programa de governo do Bolsonaro, foi indicado a Toffoli [não por acaso, no período eleitoral] pelo general “tuiteiro” Villas Bôas, aquele que guarda um “segredo eterno” com Bolsonaro.

Com o convite para assumir o ministério da Defesa, Azevedo e Silva designou a Toffoli o general Ajax Porto Pinheiro “para exercer o cargo em comissão de Assessor Especial, nível CJ-3, no Gabinete da Presidência”, remuneração de R$ 12.940,02 – Portaria 317 de 30/11/2018.

Ajax é um general bolsonarista hiper-ideologizado que ascendeu na carreira militar graças, exatamente, aos governos do PT – que ele, ridiculamente, acusa de “terem aparelhado” o Exército [sic].

O general fica bizarro neste papel. Os cargos que ele galgou durante o período petista, inclusive internacionais, são a contra-prova viva da mentira que ele inventa e propaga.

Num vídeo publicado dias antes do 2º turno da eleição de 2018, o general Ajax transmitiu “algumas idéias sobre o que vai acontecer no dia 28”. “Esta eleição do dia 28 não é uma eleição como outra qualquer. Ela é diferenciada, o principal componente desta eleição é a ideologia”, disse ele.

Explorando o maniqueísmo do “inimigo” para reivindicar a presença indevida e ilegal dos militares na política e no jogo de poder, Ajax diz que “eles – o pt – foram escorraçados do poder. Agora, eles voltam numa situação diferente, e tenho certeza, eles voltam com sede de vingança. Se eleitos, nós, do Exército, seremos as principais vítimas. Eles tentarão fazer como na Venezuela. Isso acontecerá caso eles vençam as eleições”.

O general explana aos “meus ex-cadetes, ex-capitães, amigos, militares e familiares” que “esta visão de mundo que o PT representa não deu certo em nenhuma nação. Aliás, o Brasil é um país muito curioso, como citou o general Mourão. O Brasil é um país com candidato a presidente que recebe ordem de um presidiário”, em referência a Lula [acessar vídeo aqui].

Poucas semanas depois deste vídeo escandaloso, o general Ajax assumiu como assessor militar no STF, onde ainda permanece lotado.

É difícil entender a presença de um general do Exército em qualquer órgão do poder Judiciário.

Mais difícil ainda é entender por que o presidente da Suprema Corte do Brasil nomeou um general com este perfil, que professa as mesmas ideias conspirativas e antidemocráticas de segmentos das Forças Armadas e da facção instalada no Planalto.

O motivo para o chefe da Suprema Corte submeter-se à tutela do Exército continua sendo uma grande incógnita.

Alguma razão relevante, por certo, deve existir.

A figura de “assessor militar” do presidente do STF é muito rara – para não dizer inédita – na história da República e configura, também, uma verdadeira “revolução jabuti” das teorias de Estado democrático.

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Glauco Carvalho Marques

O posicionamento das Forças Armadas com relação ao governo Bolsonaro reflete projeto e ideologia. Não é casual ou impensado. A doutrina militar autoritária, anticomunista, contra movimentos sociais permanece intocada. Nenhum governo pós ditadura estabeleceu controle sobre as Forças Armadas, as quais mantiveram sua estrutura impermeável aos três poderes da República. Na prática assumiram o status de fato de um quarto poder, tutelando a República. Agora as FA são governo, coesas e alinhadas, atuando como o partido do presidente protofascista com um programa de “contra revolução cultural” e ultraneoliberal. O propalado “nacionalismo” dos setores militares é sinônimo de alinhamento e submissão aos interesses estadunidenses.

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