Jeferson Miola: O discurso e a fidelização do público doméstico

Tempo de leitura: 3 min
Julio Nascimento/PR

Na ONU, Bolsonaro foi Bolsonaro

Por Jeferson Miola, em seu blog

No discurso na Assembléia Geral da ONU, Bolsonaro não surpreendeu; Bolsonaro foi genuinamente Bolsonaro.

Ele foi autêntico e transparente, não disse nada diferente daquilo que estamos acostumados a ouvir e a acompanhar todo dia.

E não transpareceu ser alguém menos torpe, tosco e vomitável que de fato é.

A diferença, talvez, é que no discurso preparado para a ONU Bolsonaro concatenou entre si as peças da lógica destrutiva, mentirosa e perversa representada por ele.

E, talvez por isso, visto no seu conjunto, o discurso pareceu mais infame, delirante e distópico que todo caos cotidiano que ele vem produzindo abertamente desde a eleição de 2018.

Bolsonaro é um mentiroso contumaz. Isso tampouco é novidade; é algo sabido desde sempre.

Não é crível, por isso, alguém se surpreender ao vê-lo mentir, aos olhos do mundo inteiro, que concedeu auxílio emergencial de mil dólares a 65 milhões de pessoas; ou, então, alucinar que a floresta não é devastada pelos latifundiários cupinchas do seu governo, mas pelo “caboclo e o índio [que] queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”.

Não faltou desfaçatez no discurso.

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Bolsonaro chegou a dizer que no Pantanal “os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação”, e que mantém “política de tolerância zero com o crime ambiental” [sic].

Não foi menos que patética a menção de que seu governo está “ampliando e aperfeiçoando o emprego de tecnologias e aprimorando as operações […], inclusive, com a participação das Forças Armadas”, em alusão à fracassada coordenação do general e vice-presidente Mourão numa Amazônia que arde em chamas e vê seus povos originários dizimados.

Um delirante como Bolsonaro, que morre jurando que a terra é plana, não hesitou em mentir que seu governo, que extermina povos indígenas, atendeu “mais de 200 mil famílias indígenas com produtos alimentícios e prevenção à covid”; e, também, que seu governo, negacionista e anti-ciência, “estimulou, ouvindo profissionais de saúde, o tratamento precoce da doença”.

Mentir assim, descaradamente, sem remorso e sem vergonha, não é para amador; é coisa de sociopata!

Bolsonaro também afirmou a opção pelo arcaísmo e medievalismo no papel do Brasil como produtor rural do mundo, alheio à industrialização e ao desenvolvimento tecnológico de ponta.

O ignorante se jactou de que “o Brasil contribuiu para que o mundo continuasse alimentado” durante a pandemia.

“Nossos caminhoneiros, marítimos, portuários e aeroviários mantiveram ativo todo o fluxo logístico para distribuição interna e exportação”, ele discursou.

Do ponto de vista geopolítico, Bolsonaro deixou claro que é um vassalo de Donald Trump e da sua política criminosa no Oriente Médio.

Aliás, Trump foi o único presidente citado por Bolsonaro no discurso – nem é preciso grande aprofundamento na obra do Freud para entender o caso.

Num gesto de fidelidade canina e de subserviência a Trump, Bolsonaro fustigou a Venezuela, acusando-a de causar um “criminoso derramamento de óleo” na costa brasileira em 2019.

Bolsonaro também renovou o papel do governo militar como servo do capital internacional.

No discurso, ele tranquilizou que está fazendo as reformas para aumentar a transferência de grande parte do orçamento nacional ao sistema financeiro, e garantiu que em breve entregará os setores de saneamento, petróleo e gás natural aos urubus nacionais e estrangeiros.

Bolsonaro ainda fez um curioso “apelo a toda a comunidade internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia”.

Isso mesmo: um apelo pelo combate à cristofobia!

As 2 últimas frases dele antes do agradecimento final do discurso, foram: “O Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base. Deus abençoe a todos!”.

Como se vê, Bolsonaro não surpreendeu com seu discurso na Assembléia Geral da ONU.

Ele foi o mesmo ser abjeto, nojento e vomitável que já se conhece.

Na ONU, portanto, Bolsonaro foi Bolsonaro.

A partir da abordagem conservadora e reacionária de questões complexas e sensíveis – como política, família e religião, por exemplo – Bolsonaro cumpriu uma função-chave no processo de articulação da extrema-direita internacional e desta retórica fascista.

Além de fortalecer a “internacional do ódio”, Bolsonaro discursou para fidelizar seu público doméstico – um esgoto adubado por valores retrógrados, autoritários e fascistas.

Esta é a nossa tragédia. E, também, a tragédia mundial.

Na ONU, Bolsonaro confirmou ao mundo o monstro que é.

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Comentários

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Zé Maria

“The Horror” …

As Teses do Tea Party chegaram à ONU, pelos
Discursos dos Presidentes dos EUA e do braZil.

“This is the End,
My only Friend,
The End” …

https://youtu.be/CIrvSJwwJUE
https://youtu.be/9l-ViOOFH-s
https://youtu.be/j_08qMnW7XI

Sandra

Dona Maria Alves, de 58 anos, trabalhava em três casas como diarista. Foi demitida de duas casas, perdeu 60% (R$1170,00) da renda mensal.

A luta de Dona Maria para receber o auxílio emergencial.

CADASTRO
– tentou baixar o aplicativo da caixa
– não tinha e-mail para cadastrar
– a rua onde mora não tem CEP

RESULTADO

Não conseguiu fazer o cadastro e teve que se expor ao vírus e ir para a fila do banco

Tempos depois, Dona Maria conseguiu sacar a 1ª parcela do benefício em uma agência da CEF.

Chegou na fila às 8 da manhã e saiu às 13h e diz: “Menina, só Deus na causa.

Dona Maria vive com o marido e o enteado que sofre de esquizofrenia.

A história de Dona Maria ilustra a dificuldade de milhões de brasileiros que ainda estão em busca do auxílio emergencial de R$ 600, conseguido com muita luta pela oposição no congresso nacional.

Bolsonaro desde o início da pandemia foi CONTRA pagar o auxílio emergencial

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52670843

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