Miola: Nos EUA, como no Brasil, o povo não se alimenta de PIB nem de ajuste neoliberal

Tempo de leitura: 4 min
Ilustração: Jota Camelo (@jotacamelocharges)

Como nos EUA, no Brasil povo também não se alimenta de PIB nem de ajuste neoliberal

Por Jeferson Miola, em seu blog

A vitória soberba de Donald Trump nos EUA desbancou muitas expectativas e verdades cristalizadas, dentre elas a de que o bom estado da economia é fator grandemente determinante para o sucesso eleitoral.

Caso este postulado valesse como uma “lei do comportamento do eleitorado”, a candidata Kamala Harris teria sido eleita para a presidência daquele país.

No atual governo estadunidense, do qual a candidata do Partido Democrata é vice-presidente, o PIB aumentou 2,9% no último ano, o desemprego está em 4,1% e os salários cresceram 3,9%.

Entretanto, a despeito desses indicadores, foi Donald Trump, e não Kamala Harris, quem conseguiu capturar o voto descontente e incomodado, aquele que traduziu um mal-estar econômico aparentemente invisível, mas vivido de modo implacável pelos segmentos populares.

Na vitória do “homem alaranjado”, a sensação econômica concreta das pessoas e o mal-estar com a difícil condição material de vida falaram mais alto que o medo em relação às aberrações que ele defendeu na campanha e que deverá concretizar no governo.

No Brasil de Lula 3 a situação econômica não é muito diferente: o PIB cresce ao redor de 3%, o desemprego está num dos níveis mais baixos das últimas décadas [6,4%], aumenta a renda dos trabalhadores empobrecidos –formais, informais e por conta própria–, e crescem os ganhos de aposentados, dos beneficiários do BPC e do Bolsa Família.

Apesar disso, no entanto, e do enorme empenho na reconstrução das políticas permanentes de Estado, as pesquisas mostram a aprovação do governo empacada.

E, por outro lado, a eleição municipal evidenciou que os eleitores lulistas, inclusive os beneficiários do Bolsa Família, votaram massivamente em candidatos da direita e da extrema-direita.

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Isso que aparenta ser um paradoxo sociológico pode, no entanto, encontrar explicação na frase da economista Maria da Conceição Tavares, que anos atrás disse que “ninguém come PIB, come alimentos”. Deve-se emendar: o povo também não se alimenta de ajuste neoliberal.

Do ponto de vista da classe trabalhadora, em sua imensa maioria empobrecida, excluída e sujeitada a empregos e salários precários, não importa só ver o PIB crescer, é preciso que tal crescimento se materialize em capacidade de consumo e de oportunidade de uma vida decente.

O custo de vida, a carestia dos alimentos e dos produtos de primeira necessidade de consumo como energia, gasolina, remédios, transporte, educação etc, neutralizam os efeitos positivos da economia para a maioria pobre, porque são os ricos, os rentistas e segmentos de maior renda que se apropriam dos frutos do crescimento do PIB.

Se tudo o que já está sendo feito [e é muito] pelo governo Lula para aumentar a renda das maiorias sociais tem sido insuficiente para conquistar apoio popular e gratidão eleitoral, será um equívoco perigoso o governo adotar políticas austericidas e de ajuste neoliberal que só diminuirão a conexão do governo e das esquerdas com a maioria do povo brasileiro, e cujos efeitos serão sentidos na eleição de 2026.

A realidade indica, portanto, que é necessário fazer mais do que está sendo feito, e não menos.

Isso significa aumentar consideravelmente o poder de compra dos salários, em especial do salário mínimo, e também ampliar a proteção social com uma renda mínima compatível para a vida digna de milhões de trabalhadores expulsos pelo neoliberalismo para sempre do mundo do trabalho e da produção.

Será um erro grave se o governo sacrificar os orçamentos do SUS e da educação e atacar as aposentadorias, o salário-desemprego, o salário mínimo, o BPC e programas sociais em nome do equilíbrio fiscal.

Como o próprio presidente Lula declarou, é inaceitável que cerca de R$ 640 bilhões sejam drenados do orçamento para beneficiar empresários e grupos privados com desonerações e isenções tributárias que aumentam a concentração de renda e atrasam o desenvolvimento.

Outros R$ 800 bilhões são saqueados do orçamento da União para alimentar a ganância de rentistas, financistas e investidores que parasitam a renda nacional por meio dos juros e serviços da dívida, enquanto são isentos de imposto sobre suas rendas e fortunas.

Ao invés de sacrificar dezenas de milhões de trabalhadores brasileiros com o ajuste neoliberal, o governo deveria propor à sociedade e ao Congresso a discussão sobre privilégios indecentes das castas burocráticas incrustradas no Estado e que se apropriam de parcelas significativos dos impostos pagos pela população.

O judiciário brasileiro, por exemplo, consome 1,6% do PIB por ano, um dos custos mais altos do mundo.

Idem para o Legislativo, para o Ministério Público e outras carreiras nababescas do Executivo que se locupletam com inventos criativos para aumentar o valor do holerite.

No TCU, por exemplo, mecanismos engenhosos permitem que ministros ganhem mais de R$ 1,3 milhão por ano.

Só em pensões vitalícias para esposas e filhas de militares, a mais antiga dessas pensões paga desde o ano 1930 do século passado, a União dispende mais de R$ 25 bilhões por ano.

Ao todo, não passam de 210 mil pensionistas, a maior parte delas [144 mil, dados de 2022] filhas de militares, que consomem o equivalente a meio PAC por ano.

Como disse o presidente Lula, “nós não podemos jogar, toda vez que tem que cortar alguma coisa, em cima do ombro das pessoas mais necessitadas”.

Lula tem razão. Existem outras alternativas para cobrar a conta de quem mais pode pagar.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Comentários

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Zé Maria

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Os Governos dos Estados Unidos da América,
com a Colaboração Prestimosa da Imprensa
Neoliberal, tentam esconder com números
conflitantes os Índices de Pobreza naquele País.

Mesmo assim não há como apagar a Fome na
‘Barriga da Miséria’ que aumenta ano após ano
na Matriz do Capitalismo Mundial.

https://www.census.gov/topics/income-poverty/supplemental-poverty-measure.html

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Zé Maria

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“Fome nos EUA manteve Aumento de vários anos em 2023,
diz Relatório do Departamento de Agricultura do Governo”

Estimativa é de que 18 milhões de famílias sofreram
em algum momento para garantir comida suficiente

A fome atingiu seu patamar mais alto nos Estados Unidos
em quase uma década no ano passado [2023], com
18 milhões de famílias, ou 13,5%, sofrendo em algum
momento para garantir comida suficiente, disse um
relatório do Departamento de Agricultura dos EUA
divulgado em 4/9/2024.

A fome tem aumentado no país desde 2021, após anos de declínio.

Dados do Departamento do Censo dos EUA do ano passado mostraram
um aumento na insegurança alimentar após o fim dos programas
que expandiram o auxílio alimentar durante a pandemia de Covid-19.

O relatório não forneceu uma explicação para esse aumento.

O grupo anti-fome Feeding America concluiu em maio que as pessoas
famintas nos EUA estavam enfrentando um déficit de 33,1 bilhões de
dólares em dinheiro para atender às suas necessidades alimentares,
em parte devido ao aumento dos preços dos alimentos.

Um milhão de famílias a mais estavam em situação de insegurança
alimentar em 2023 do que em 2022, segundo o relatório do Departamento
de Agricultura.

Cerca de 6,8 milhões dos 18 milhões de domicílios que sofreram
de insegurança alimentar tinham segurança alimentar muito baixa,
o que significa que a alimentação de um ou mais membros do domicílio
foram interrompidas durante o ano porque eles não tinham condições
de comprar alimentos suficientes.

[Com Informações de CNN]
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“Pobreza nos Estados Unidos Aumenta
e Atinge 12,4% da População do País”

Alta veio após retirada de auxílios criados
durante o período de pandemia

A pobreza nos Estados Unidos teve forte alta em 2022,
mostram dados do Departamento do Censo.

A taxa chamada Supplemental Poverty Measure (SPM)
[Mensuração de Pobreza Suplementar (em tradução literal)]
subiu e passou a atingir 12,4% da população, ante 7,8%
em 2021, mostram números divulgados em 12/9/2023.

A pobreza entre as crianças mais do que dobrou,
passando de 5,2% para 12,4%.

A situação no país como um todo piorou
pela primeira vez desde 2010.

O indicador SPM leva em conta, além da renda, fatores como
diferenças regionais do custo de vida, gastos com moradia,
remédios e pagamento de impostos, e é usada para a aplicação
de programas sociais no país.

A inflação no país, que aumentou o custo de vida,
também elevou a linha de pobreza.

Para o Departamento do Censo, o aumento da pobreza
tem duas razões principais: o fim dos auxílios para as
famílias pobres que foram adotados durante a pandemia
e a alta do custo de vida.

Houve ainda um terceiro fator: a renda média das familias,
considerando todas as classes sociais, caiu 2,3% nos EUA
em 2022.

[Com Informações de Reuters]

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