Jeferson Miola: Inquérito da PF poderá revelar quem contratou o vizinho do Bolsonaro para assassinar Marielle

Tempo de leitura: 3 min
Foto: Global Voices

Inquérito da PF poderá revelar quem contratou o vizinho do Bolsonaro para assassinar Marielle

Por Jeferson Miola, em seu blog

Quem mandou matar Marielle? Ou, dito de outra forma, quem contratou o vizinho do Bolsonaro para assassinar Marielle?

Com a abertura do inquérito da Polícia Federal, esta pergunta finalmente poderá ser respondida.

O Brasil finalmente poderá conhecer quem contratou o vizinho do Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra para assassinar a vereadora Marielle Franco/PSOL e seu motorista Anderson Gomes em 14 de março de 2018.

O crime ocorreu no primeiro mês da intervenção federal no Rio de Janeiro decretada pelo usurpador Michel Temer por “sugestão” dos militares, em especial os conspiradores Villas Bôas e Sérgio Etchegoyen.

O general Braga Netto foi nomeado interventor federal e o general Richard Nunes, atual comandante do Comando Militar do Nordeste, o secretário de segurança pública.

Em três semanas o assassinato da Marielle e do Anderson completará cinco anos sem que se saiba, até o momento, a motivação do crime e quem são os mandantes e/ou contratantes desta execução meticulosamente planejada.

O crime foi preparado com notável sofisticação e profissionalismo para que seus executores e mandantes nunca fossem descobertos.

Um plano arquitetado por profissionais com conhecimentos avançados em inteligência policial/militar, especializados no sistema de monitoramento da vigilância eletrônica da cidade do Rio e no manejo de armas de alta precisão.

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A investigação do crime sofreu interferências políticas e foi propositalmente tumultuada.

Além do vai-e-vem da investigação, investigadores da Polícia Civil e do Ministério Público do RJ foram “inexplicavelmente” afastados do caso, atravancando a apuração do caso.

Como, no entanto, não existe crime perfeito, por mais próxima da perfeição que tenha sido sua preparação, dois implicados no atentado foram identificados: os ex-policiais militares Ronnie Lessa e seu comparsa Élcio Queiroz, que atuou como motorista.

A identidade da terceira pessoa presente no carro usado no crime ainda está por ser esclarecida.

Na época do crime, por coincidência [ou por obra do acaso], o matador de aluguel Ronnie Lessa era vizinho de Jair e Carlos Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra. Viviam a cerca de 70 passos de distância.

A imprensa inclusive noticiou que Renan Bolsonaro, o “zero4” do clã miliciano, namorou a filha do Ronnie Lessa.

O crime é repleto de acontecimentos estranhos. Como, por exemplo, a presença de Carlos Bolsonaro no Vivendas da Barra entre as 14 e 17 horas do dia 14 de março de 2018, quando Ronnie Lessa e Élcio Queiroz ultimavam os preparativos do assassinato de Marielle; concretizado algumas horas depois.

Isso leva ao questionamento se Carlos era o terceiro passageiro do Cobalt Prata mortal.

Apesar de estar na casa do Bolsonaro e de supostamente ter atendido o interfone para autorizar o ingresso de Élcio Queiroz no condomínio, Carlos teria falsamente usado como álibi que naquele dia e horário estava presente em sessão na Câmara de Vereadores do Rio.

O porteiro do Vivendas da Barra, Alberto Jorge Ferreira Mateus, que atendeu o pedido de Élcio para acessar a casa do “Seu Jair”, foi transformado num personagem enigmático.

Primeiro, obrigaram-no a mudar a versão sobre a gravação da conversa via interfone na portaria. Em seguida, ele sumiu. Ou foi providencialmente sumido.

Meses depois, a imprensa descobriu que o porteiro foi “instalado”, coincidentemente, no bairro Gardênia Azul, zona oeste do Rio, área controlada pelo Escritório do Crime, a organização criminosa integrada por Ronnie Lessa e pelo finado Adriano da Nóbrega, outro gângster muito reverenciado pelo clã miliciano.

Há, enfim, um último aspecto: Ronnie Lessa é suspeito de envolvimento com o tráfico internacional de armas. Em imóvel de responsabilidade dele no centro do Rio foram encontrados 117 fuzis.

Por isso tudo, a retomada da investigação do assassinato da Marielle é um imperativo ético; é uma exigência democrática incontornável.

* charge: Venes Caitano

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Comentários

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Cleiton do Prado Perira

Só não descobriram ainda quem contratou a morte da Marielle, justamente por já saberem desde o acontecido, quem foi que contratou. Simples assim.

Zé Maria

Que mal pergunte aos Policiais Federais:
Aquele Porteiro do Vivendas da Barra Pesada
ainda está Arquivo Vivo ou já o queimaram?

Zé Maria

Comando Militar Bolsonarista tenta mais uma vez
tornar Suspeito Ministro Alexandre de Moraas.
Desta feita pela Deputada Franco-Atiradora.

Suposta ‘Traição’ de Zambelli a Jair Bolsonaro
é mais uma Armação para envolver Xandão,
idem à tentativa do Senador do Val [do Esgoto]

https://bit.ly/3Z2pwqU
https://t.co/1JrSUVIpUt
https://twitter.com/RevistaForum/status/1628743537637441540
.
.

    Zé Maria

    Parece que o Blog da Jornalista Monica Bergamo
    (com Bianka Vieira, Karina Matias e Manoella Smith)
    embarcou na Conversa de Fontes Bolsonaristas
    que plantam Fake News na Imprensa Tradicional.

    (https://archive.is/r6Hm6)

    Zé Maria

    The Brazilian Report

    “Walter Delgatti tentou hackear Alexandre de Moraes e cita Carla Zambelli”

    “Informações obtidas por The Brazilian Report, junto a fontes anônimas
    e durante entrevistas gravadas* com o próprio Delgatti, mostram que o hacker tentou encontrar meios para clonar o chip de celular usado pelo ministro com o objetivo de vasculhar os dados de Moraes à procura de informações comprometedoras sobre ele.”

    “Delgatti, que admite ter tramado a invasão aos dados de Moraes
    apesar de estar proibido pela Justiça de usar a internet, afirma
    trabalhar com a deputada Carla Zambelli — uma das mais leais
    aliadas de Jair Bolsonaro no Congresso.
    Ele [O Hacker] diz ter um contrato de gaveta com a deputada
    e prestar serviços de administração de redes sociais e de site
    por 6 mil reais [R$ 6.000,00] por mês.”

    *Áudios:

    https://player.vimeo.com/video/796442150?h=32738dcc9f&dnt=1&app_id=122963

    https://player.vimeo.com/video/796443145?h=dee7811dda&dnt=1&app_id=122963

    https://player.vimeo.com/video/796446008?h=c829658b97&dnt=1&app_id=122963

    https://player.vimeo.com/video/796446077?h=cd454fbcfe&dnt=1&app_id=122963

    [ Reportagem: Amanda Audi, Gustavo Ribeiro, Euan Marshall e Ana Ferraz ]

    Informações obtidas por The Brazilian Report, junto a fontes anônimas e durante entrevistas gravadas com o próprio Delgatti, mostram que o hacker tentou encontrar meios para clonar o chip de celular usado pelo ministro com o objetivo de vasculhar os dados de Moraes à procura de informações comprometedoras sobre ele.

    A revelação já seria gravíssima por si só. Mas o caso ganha contornos mais sérios quando juntado a outros elementos.

    Após a invasão ao Palácio do Planalto, Congresso Nacional e STF, a Polícia Federal encontrou em posse de Anderson Torres, ministro da Justiça do governo Bolsonaro, uma minuta de um decreto que colocaria o TSE sob estado de defesa, o que abriria a possibilidade de criação de uma comissão controlada pelo governo Bolsonaro para fazer a “apuração da conformidade e legalidade do processo eleitoral”.

    Na semana passada, o senador bolsonarista Marcos do Val, do Espírito Santo, disse à revista Veja que foi coagido pelo próprio ex-presidente a participar de uma tentativa de incriminar Moraes. A ideia, descrita pelo próprio Moraes como uma “Operação Tabajara”, consistiria em gravar o ministro — na esperança de que ele dissesse algo que colocasse em xeque o processo eleitoral.

    Juntos, ambos os episódios mostram uma conspiração golpista no seio do governo Bolsonaro. A revelação trazida por The Brazilian Report, no entanto, traz um novo elemento à trama.

    Delgatti, que admite ter tramado a invasão aos dados de Moraes apesar de estar proibido pela Justiça de usar a internet, afirma trabalhar com a deputada Carla Zambelli — uma das mais leais aliadas de Jair Bolsonaro no Congresso. Ele diz ter um contrato de gaveta com a deputada e prestar serviços de administração de redes sociais e de site por 6 mil reais por mês.

    “Sou hacker, e estelionatário”, começava. “Num dos meus dias de ‘trampos’, encontrei um cara que fechou alguns contratos comigo, comumente viramos amigos e ele me revelou a sua identidade”.

    O “cara” era Walter Delgatti Neto, o hacker que se tornou famoso por roubar conversas pelo Telegram de membros da Operação Lava Jato que levaram à série de reportagens Vaza Jato.

    A fonte, que falou sob condição de anonimato, disse que tinha provas de que Delgatti estava trabalhando para a deputada federal Carla Zambelli e para o ex-presidente Jair Bolsonaro. “E pouco tempo atrás, ele me procurou para tentar invadir o chip do Presidente do TSE Alexandre de Moraes”, disse.

    O plano, segundo ele, era invadir o celular do ministro em busca de “podres” que poderiam desqualificá-lo. Moraes é considerado o nêmesis de Bolsonaro, e o principal alvo dos ataques mais ferozes do ex-presidente.

    A ideia era contratar um “chipeiro”, geralmente um funcionário de uma empresa telefônica, para fazer um novo chip com o número do ministro. Nesse tipo de golpe, chamado de “SIM swap”, criminosos tentam obter acesso a ligações, mensagens e aplicativos da vítima sem a necessidade de acesso físico ao celular dela.

    A fonte enviou prints da conversa pelo Telegram entre ele e o suposto hacker. “Mas pra q tu quer o do xandao?”, a fonte perguntou. “Para pegar o e-mail dele e ver o que ele está aprontando”, foi a resposta.

    “Vai fazer com ele pique (sic) fez c o Moro?”, perguntou a fonte, em referência ao roubo de mensagens entre o ex-juiz Sergio Moro, responsável pela Lava Jato, e o então procurador Deltan Dallagnol — que mostravam uma série de inconsistências na operação. Hoje, Moro é senador e Deltan é deputado federal.

    O hacker, então, enviou mensagens em áudio para o interlocutor, prometendo pagar 10 mil reais em dinheiro ou Bitcoin pelo serviço de SIM swap. Segundo Delgatti, haveria “um pessoal pagando por trás”.

    Tanto Delgatti quanto a fonte usavam pseudônimos no Telegram. Apesar de a voz do áudio ser muito parecida com a do hacker, não foi possível confirmar a veracidade das mensagens de áudio naquele momento. Logo depois, a fonte deletou o Telegram e passou quase três meses sem entrar em contato.

    A fonte reapareceu na semana passada, após a revista Veja publicar uma entrevista em que o senador Marcos do Val diz ter sido coagido por Bolsonaro a participar de uma tentativa de incriminar o ministro Alexandre de Moraes. Ele enviou novos prints de conversa com o hacker, que estava usando um novo perfil no Telegram.

    Em 2 de fevereiro, nós tentamos novamente entrar em contato com Delgatti e outras pessoas que o conhecem para perguntar sobre os áudios do ano passado. Pessoas próximas confirmaram que, de fato, a voz parecia ser a do hacker.

    No mesmo dia, à noite, Delgatti nos procurou pelo WhatsApp para marcar uma conversa. No dia seguinte, sexta-feira, falamos com ele em seis conversas por ligação de vídeo e voz pelo WhatsApp.

    Ele também nos procurou no Telegram. Seu perfil era o mesmo mostrado nos prints. Esta foi a primeira confirmação da sua identidade. Ao telefone, tocamos os áudios para ele ouvir. Delgatti rapidamente reconheceu a própria voz. “Ah, tá, essa voz é minha”.

    “Então a matéria é essa: o Walter Delgatti encomendando um hack contra o Alexandre de Moraes”, dissemos a ele na ligação gravada. “Perfeito, é a verdade”, Delgatti respondeu.

    Íntegra da Reportagem com os Áudios:

    https://www.plantaobrasil.net/news.asp?nID=131402
    https://brazilian.report/power/2023/02/07/plano-hackear-moraes

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