Jeferson Miola: Ilusões de uma democracia ”inabalada”

Tempo de leitura: 3 min
Jeferson Miola: "Seria mais producente para a sobrevivência e fortalecimento da democracia se neste 8 de janeiro o Governo Federal, o Congresso Nacional, o Judiciário e as instituições da República firmassem um pacto pela memória, verdade e justiça de todo o processo que culminou nos atentados de 8 de janeiro de 2023. O Brasil precisa de uma justiça de transição para identificar, processar e punir todos civis e militares que atentaram contra a democracia e o Estado de Direito e que, impunes, ficarão encorajados para tentar novamente.os danos causados pelos golpistas. A imagem acima é da noite de domingo, 8 de janeiro de 2023: O presidente Lula, de camisa azul, caminha pelo Palácio do Planalto para verificar os danos causados pelos golpistas. Foto: Reprodução/TV Globo

Ilusões de uma democracia “inabalada”

Por Jeferson Miola, em seu blog

De acordo com o dicionário Houaiss da língua portuguesa, o adjetivo inabalado significa: – “que não está abalado; firme, seguro”.

Soa um tanto demasiado, portanto, rememorar-se o primeiro aniversário do 8 de janeiro como o triunfo de uma democracia “inabalada”; uma democracia segura, firme.

A democracia não está segura; não pelo menos ante ameaças consideráveis e tentativas constantes de fraturas democráticas.

Há uma estabilidade precária. A qualquer descuido, a situação política e institucional do Brasil pode ficar de cabeça para baixo; de pernas para o alto.

Esta é a realidade neste contexto de polarização intensa e de “empate ideológico” entre a esquerda e a extrema-direita tanto de caráter fascista como não-fascista.

Os atores que esgarçaram a democracia e abalaram as bases do poder civil no Brasil estão fortes e conseguindo reconfigurar suas lógicas de poder, controle e tutela. O ministro José Múcio foi notavelmente útil para isso.

Impunes, os militares sentem-se liberados para repetirem a tentativa novamente. Farão isso na primeira oportunidade que surgir. Eles têm a essência do escorpião.

No governo Lula, as cúpulas militares não foram acometidas por um súbito compromisso legalista.

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Apenas se mimetizam de legalistas e democratas enquanto se reorganizam e se reposicionam para um novo assalto à democracia assim que puderem.

Governadores de mais de 50% do PIB nacional não cerrarão fileiras na ode à democracia “inabalada” que o governo Lula programou para rememorar o primeiro aniversário dos atentados ultradireitistas aos poderes da República.

Isso indica que talvez seja um tanto otimista proclamar-se uma democracia inabalada quando a maior parte do poder político e econômico do país dá de ombros para uma liturgia democrática de alto valor simbólico.

A democracia brasileira não só continua fragilizada e questionada por forças autoritárias bem representadas na sociedade brasileira e no sistema político e institucional, como segue ameaçada e tutelada.

Portanto, seria mais producente para a sobrevivência e fortalecimento da democracia se neste 8 de janeiro o Governo Federal, o Congresso Nacional, o Judiciário e as instituições da República firmassem um pacto pela memória, verdade e justiça de todo o processo que culminou nos atentados de 8 de janeiro de 2023.

O Brasil precisa de uma justiça de transição para identificar, processar e punir todos civis e militares que atentaram contra a democracia e o Estado de Direito e que, impunes, ficarão encorajados para tentar novamente.

Os setores da elite dominante que atentaram contra a democracia nos últimos 60 anos da história nacional são exatamente os mesmos – os mesmos de 1954, quando do suicídio de Getúlio Vargas; os mesmos do golpe militar de 1964; do impeachment fraudulento da Dilma em 2016; os mesmos da prisão farsesca do Lula em 2018 para permitir a eleição do Bolsonaro, e os mesmos que não aceitaram o resultado da eleição de 2022.

São sempre aqueles mesmos setores golpistas porque eles sempre desfrutam dos mesmos ambientes e das mesmas condições de impunidades e de anistias espúrias que protegem seus crimes.

Por isso é preciso se avançar muito, e com extrema urgência, para se afastar as ameaças que não permitem que a democracia brasileira seja, de fato, firme, segura e inabalável.

Leia também

Presidente Lula, no Washington Post: O Brasil frustrou um golpe. O que aprendemos

Nota da Articulação de Esquerda sobre 1 ano da intentona fascista de 8 de janeiro

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Comentários

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Zé Maria

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“Narcopentecostalismo: o nome é enorme, o problema é real.

CPI das Igrejas Evangélicas, Eu Apoio.”

https://twitter.com/Lolaescreva/status/1746543341657878879

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Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/GDvMiUsXcAA5Ine?format=jpg

Parte das Igrejas Evangélicas tiveram responsabilidade
nos ataques golpistas do 8 de janeiro de 2023

https://twitter.com/lazarorosa25/status/1746243212736602229

Zé Maria

Parlamentares protocolaram requerimentos de convocação
de seis integrantes de igrejas evangélicas acusados de
envolvimento no 8 de Janeiro

A intenção é ouvir Ademir Almeida da Silva, Debora Candida Gimenez, Edinilson Felizardo da Silva, Jamil Vanderlino de Siqueira e Sirlei Pessoa
de Siqueira, réus no STF.

Segundo o deputado Henrique Vieira (PSoL/RJ), todos declararam,
em depoimento à Polícia Federal, ter ido a Brasília em ônibus fretados
ou com ajuda financeira de igrejas evangélicas.

O Pastor Henrique Vieira é um crítico do que chama
de “USURPAÇÃO CRIMINOSA DA FÉ”.

“É preciso denunciar o processo de bolsonarização,
de partidarização de muitas igrejas.
Será o início de uma investigação que pode chegar longe.
Por um lado, ela respeita a fé do nosso povo;
por outro, dará nome ao que é criminoso, ao que é autoritário,
ao que é usurpação da fé.
Esse é um debate que não pode ser omitido.”

Henrique Vieira é Pastor Batista,
Eleito Deputado Federal
pelo PSOL no Rio de Janeiro.

Parlamentares também pedem a convocação do pastor Thiago Bezerra,
da Igreja Amor Supremo, de Goiânia (GO).

Em fim de janeiro, reportagem da Agência Lupa informou que
o líder evangélico usou grupo de mensagens no Telegram
para compartilhar coordenadas e instruções sobre os atos
em Brasília.
No perfil, o pastor usava o codinome “Regina Brasil” e se referia
à “Festa da Selma”, código usado em redes sociais para a
convocação golpista.

O requerimento à CPMI informa que o pastor Thiago pediu
doações dos crentes para transportar bolsonaristas até Brasília.

No dia 8 de janeiro, transmitiu pelo Instagram os atos dos vândalos
ao vivo da Praça dos Três Poderes.

“Diante da existência de evidências de sua presença nos atos golpistas,
inclusive dentro de prédios depredados, e suas afirmações sobre o intuito
de tomada do poder, o pastor Thiago Bezerra tem o dever de esclarecer
sobre sua participação nos atos, sobre como se deu o recrutamento de
participantes, sob qual argumento estes foram convocados e,
especialmente, sobre os atos preparatórios coordenados por ele no
grupo de usuários do aplicativo Telegram desde o dia 4 de janeiro”,
informa o requerimento.

Influenciador digital com 106 mil seguidores nas redes sociais,
o pastor de Goiás utilizou a influência para coordenar caravanas
e planos de ação para os atos golpistas de 8 de janeiro.

No entanto, para não ter a identidade revelada, Thiago Bezerra,
líder da igreja Amor Supremo em Goiânia (GO), adotou o codinome
“Regina Brasil” no Telegram para mobilizar e conduzir centenas
de bolsonaristas para Brasília, com intuito de depredar e ocupar
as sedes dos Três Poderes, além de supermercados e refinarias
de combustíveis.

É guerra”, afirmava a todo tempo o religioso no grupo, sob nome de
“Regina Brasil”.

As informações são do repórter Chico Marés, da Agência Lupa.

Nas redes sociais, Thiago Bezerra mostrou que estava, ao menos,
desde 25 de novembro de 2022 no acampamento bolsonarista
em frente ao Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano,
em Brasília.

Foi de lá, longe da comunidade de fé que dirigia, que ele atuou
com empenho para trazer o máximo de extremistas a Brasília
e a orientá-los sobre quais prédios públicos seriam invadidos
— e como seriam.

No grupo “Regina Brasil” o pastor chegou a pedir, em 5 de janeiro,
doações via PIX para custear 10 ônibus que trariam 500 pessoas
“da tribo que mexe com chá” — não se sabe o que o codinome
significa.
O custo do transporte era de R$ 150 mil e o valor precisava ser
reunido em menos de 24h.

O pedido “urgente” foi feito por Thiago em áudio, o que revelou
a identidade masculina de Regina Brasil e mostrou que era o
religioso que estava por trás da coordenação dos atos, já que
a voz é semelhante à que é ouvida nos vídeos compartilhados
pelo religioso nas redes sociais.

Além disso, a chave PIX dada pelo bolsonarista para arrecadar
as doações era o CPF de Thiago.

Em outras mensagens de voz, o pastor também chamou os atos de “guerra” e afirmou que era para os extremistas estarem preparados para “dormir no chão seco” e ter “barrinhas de nutrientes para aguentar três dias”, o que mostra a intenção de invadir e ocupar os espaços públicos até que houvesse uma mudança no governo.

Leia o Thread (Fio), na íntegra, em:
https://twitter.com/mandsfra2/status/1746219330159702467

Mais Detalhes em: https://t.co/M4B2cFGWmO
https://www.geledes.org.br/cpmi-dos-atos-golpistas-o-eixo-religioso/
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2023/01/5070307-pastor-de-goias-organizou-atos-golpistas-em-brasilia-com-codinome-feminino.html

Zé Maria

Estes são os Mentores do Bolsonarismo nos Estados que desgovernam:
https://pbs.twimg.com/media/GDaOhkma0AAajkO?format=jpg

Zé Maria

Livro

“CLASSES DOMINANTES, POLÍTICA E CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO”

Autor: Danilo Enrico Martuscelli

https://editoriaemdebate.ufsc.br/catalogo/wp-content/uploads/Danilo-Classes-Dominantes.pdf
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Artigos, Teses, Ensaios

“Elite e Classe Dominante:
Notas Sobre o Marxismo Inspirado na Teoria das Elites”
http://outubrorevista.com.br/wp-content/uploads/2015/02/Revista-Outubro-Edic%CC%A7a%CC%83o-18-Artigo-10.pdf

Por Danilo Enrico Martuscelli (PPG-CS-UFU/MG)
https://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/10578/danilo-enrico-martuscelli/
https://www.escavador.com/sobre/611204/danilo-enrico-martuscelli
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“O SINDICALISMO BRASILEIRO EM DISPUTA NOS ANOS DE 1990:
ORIGEM, RAÍZES SOCIAIS E ADESÃO ATIVA AO NEOLIBERALISMO”
https://periodicos.fclar.unesp.br/estudos/article/view/1317
https://periodicos.fclar.unesp.br/estudos/article/download/1317/1054/3507

“O Impacto da Ideologia Neoliberal no Meio Operário”
https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/306830
https://repositorio.unicamp.br/Busca/Download?codigoArquivo=496427

“Classe Média, Situação de Trabalho e Comportamento Sindical”
https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/83987
https://repositorio.unicamp.br/Busca/Download?codigoArquivo=496483

Por Patricia Vieira Trópia (PPG-CS-UFU/MG)
http://www.nupecs.incis.ufu.br/node/231
https://www.escavador.com/sobre/611214/patricia-vieira-tropia
https://repositorio.unicamp.br/Resultado/Listar?guid=1704818268279
https://www.oasisbr.ibict.br/vufind/Author/Home?author=Tropia%2C+Patricia+Vieira
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abelardo

Democracia Inabalada não pode se abalar quando chegar a vez de punir políticos e militares graúdos.
Não pode se abalar em cortar da sua própria carne, para não voltar deixar o judiciário, com a má impressão que tinha antes da tentativa de golpe em 08/01.
Não pode se abalar em ter que defender um dos grandes patrimônios nacionais, que são os aposentados e aposentadas que lutam, sofrem e sacrificam as suas vidas e das suas famílias, por conta de manobras do INSS que tenta , mais uma vez, travar a justiça brasileira com intuito de manter ativa a imensa injustiça de impedir o julgamento final da Revisão da Vida Toda, da qual é vítima por longos e longos anos.
Do mesmo modo que golpistas e terroristas foram derrotados na tentativa de golpe em 08/01, o STF tem o dever e a obrigação cívica de derrotar as manobras que o INSS promove a décadas e conceder a justiça, com a indiscutível aplicação da lei e devolver, a aposentados(as), todas as diferenças que foram subtraídas indevidamente de seus benefícios durante anos.
A internet está com bastante vídeos que mostram que o julgamento do STJ foi claro, legal e transparente. Então, se o STF já consolidou o julgamento do STJ e deu ganho de causa aos aposentados(as), em decisão recente, certamente a má fé do INSS em não reconhecer a decisão do STJ deverá ser investigada e os responsáveis por toda a desconsideração que o Instituto responsável pelo controle e administração das contribuições trabalhistas torna-se suspeito de credibilidade e confiança. É um abuso que merece uma reprovação judicial imediata.

Zé Maria

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O Alvo da Imprensa Fasci-Paulista Neoliberal sempre foi o Lula.

https://pbs.twimg.com/media/Fm1wR93XgAAjDcN?format=jpg

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Zé Maria

Livros

Combo Anti-Neoliberalismo
https://m.media-amazon.com/images/I/911lW3EwgWS._SL1500_.jpg
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“CONTRA A MISÉRIA NEOLIBERAL”

Autor: Rubens Casara

Resenha
Christian Laval:

Fala-se constantemente do neoliberalismo, atribuindo-lhe significados muito diferentes uns dos outros, numa espécie designação verbal descontrolada.

Rubens Casara tem razão em escrever que “o significante “neoliberalismo”
é usado de tantas maneiras que acaba por se tornar uma espécie de
conceito “guarda-chuva”, um nome vago e impreciso”.

Tal imprecisão é uma fonte de erro no diagnóstico e também na resposta
política ao fenômeno.

Por conseguinte, qualquer trabalho acadêmico que vise definir rigorosamente
o neoliberalismo e colocá-lo de novo no centro da discussão é
uma salvação pública.

Esse é o caso do livro de Rubens Casara que estás prestes a ler.

O autor oferece ao leitor brasileiro uma entrada extremamente clara
em toda uma série de análises e pesquisas que compõem o que poderia
ser chamado, para usar uma expressão inglesa, ‘neoliberalism studies’,
que têm se desenvolvido há cerca de vinte anos em nível internacional.
que têm se desenvolvido há cerca de vinte anos em nível internacional.
Esses estudos permitiram corrigir uma sequência de erros,
como o que consiste em identificar o neoliberalismo com uma completa
abstenção do Estado na vida econômica e social.
O neoliberalismo não é, e nem pode ser, no plano da prática algo
“anti-Estado”, como proclamado por doutrinas que são mais ligadas
ao ‘Libertarismo’ do que propriamente neoliberais.

É preciso dar ao termo o sentido mais exato que está presente
nos trabalhos de pesquisa inspirados pelas intuições de Michel
Foucault:
de um certo tipo de governo de indivíduos, que, por sua vez,
exige um certo exercício de poder por meio de um Estado forte,
autoritário, por vezes violento, que visa uma nova articulação
entre as esferas pública e privada
[Vide “Sistema da Dívida” (https://auditoriacidada.org.br);
“A Repressão Militar-Policial no Brasil (Um Livro Chamado ‘João’)”
(https://fpabramo.org.br/2017/03/27/a-repressao-militar-policial-no-brasil-um-livro-chamado-joao)
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“O FEITICEIRO DA TRIBO
A Farsa de Mario Vargas Llosa
e do Neoliberalismo na América Latina”

Autor: Atilio Borón

“Apesar de seu manejo elementar e tendencioso das categorias
e teorias da análise política, ou talvez devido ao domínio com que
lida com sofismas e ‘pós-verdades’, Vargas Llosa é uma peça
fundamental no dispositivo massivo de ‘lavagem cerebral’ e
propaganda conservadora que as classes dominantes das
metrópoles e seus capangas nas periferias praticam
com tanto cuidado.”
ATILIO BORÓN
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https://autonomialiteraria.com.br/loja/teoria-politica/combo-anti-neoliberalismo
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https://m.media-amazon.com/images/I/61K2tZpAhLL._SL1000_.jpg

“AMÉRICA LATINA NA ENCRUZILHADA
Lawfare, Golpes e Luta de Classes”

Autor: Atilio Borón

Outras Obras do Escritor:
https://www.amazon.com.br/s?i=stripbooks&rh=p_27%3AAtilio+Boron&s=relevancerank&text=Atilio+Boron&ref=dp_byline_sr_book_1
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marcio gaúcho

O povo brasileiro é muito cordato. Quem muito se agacha, oferece a bunda. Se os punidos forem somente os “velhinhos do acampamento”, então estaremos expostos à sevícia. Os azeitonas virão novamente com tudo. Com toda a sua empáfia, ignorância e grossura. Aos covardes, não está reservado o reino dos céus.

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