Jeferson Miola: Falsa retórica de legalismo e profissionalismo destes generais inconfiáveis é desmentida pela realidade

Tempo de leitura: 3 min
À esquerda, no topo, os atuais comandantes das Forças Armadas, e abaixo, os ex. À direita, os generais Villas-Boas e Braga Netto. Fotos: Twitter do presidente Bolsonaro, Valter Campanato/Agência, Marcos Correa/PR, Sergio Lima/site do PT

Generais conspiradores e inconfiáveis

Por Jeferson Miola, em seu blog                                

Reportagem do  Estadão informa que, à exceção da presidente Dilma, interlocutores dos ex-presidentes Sarney, Collor, FHC e Lula, assim como do usurpador Michel Temer, consultaram pelo menos seis generais da ativa e da reserva sobre o risco de golpe.

Segundo o jornal, “ouviram de militares que eleições vão ocorrer e o vencedor – seja quem for – tomará posse”. Ufa!

Os interlocutores civis teriam sido Aldo Rebelo, Nelson Jobim, Raul Jungmann e Denis Rosenfield. A reportagem de Marcelo Godoy e Pedro Venceslau não repercute fala do Jobim.

Para Aldo, “a boa notícia dentro da má notícia é que os militares não estão interessados em desempenhar um protagonismo na desorientação que estamos atravessando”.

Interessante notar que Aldo nomeia o caos gerado pelo próprio governo militar como uma “desorientação que estamos atravessando”.

Tal alienação de Aldo a respeito da realidade não causa espanto.

Afinal, ele também é abduzido pela tese militar delirante de que a batalha de Guararapes [Pernambuco, 1648] significou a fundação da nossa nacionalidade e marcou a fundação do Exército brasileiro.

Detalhe: o Brasil ainda era uma colônia portuguesa, não um país soberano.

Apoie o VIOMUNDO

Nesta mesma linha otimista [ou autista, com o devido respeito aos autistas], Denis Rosenfield garante que “não há possibilidade de o Exército participar de uma ruptura”, como se o comandante da força terrestre já não tivesse atentado contra a Constituição em 2018 e também antes.

Denis, que organizou o livro em que Temer confessou ter realizado reuniões secretas com os generais conspiradores Sérgio Etchegoyen e Villas Bôas para transitar a derrubada da Dilma, ainda expressa uma visão mais esquizofrênica: “Nossos generais são constitucionalistas”.

Raul Jungmann é até indulgente com os conspiradores fardados. Ele entende que as Forças Armadas são “vítimas” do assédio permanente do Bolsonaro.

Sem se constranger com o ridículo, Jungmann reclama que Bolsonaro fica “fazendo bullying de forma contínua” com as Forças Armadas. Pobrezinhas, tão indefesas!

A despeito das evidências gritantes da interferência ilegal e inconstitucional dos militares na política, Jungmann – assim como Aldo e Denis – também vende seu otimismo desajuizado.

Ele diz que “é um erro pensar que o Exército pode ser usado em um golpe” mesmo diante do fato de Bolsonaro ter se lançado candidato presidencial em novembro de 2014 nas instalações da AMAN; mesmo diante das evidências da atuação conspirativa do Alto Comando pelo menos desde 2015 e da intimidação do STF em 2018; mesmo diante da impunidade do general-transgressor Pazuello e da atuação política ostensiva de militares da ativa e da reserva nas mídias sociais; e mesmo diante do ataque ao Senado pelos comandantes militares com o ministro da Defesa e da ameaça petulante de cancelamento da eleição caso não seja adotado o voto impresso.

Embora os chefes do partido militar costumem arrotar respeito à Constituição, eles não são minimamente confiáveis.

Assim como não são nada confiáveis os generais que aparentam incômodo ou que simulam dissidência – Mourão, Santos Cruz, Rêgo Barros e assemelhados.

A falsa retórica de legalismo e profissionalismo é desmentida pela realidade concreta. Eles agem como uma típica facção partidária – o partido militar, com eventuais correntes internas – e assumem sonhar “ou com a candidatura de Mourão à Presidência ou a consolidação de uma alternativa a Lula e a Bolsonaro em 2022”, anota o Estadão.

No palco da política, os militares atuam como se estivessem num teatro de operações de guerra combatendo o inimigo: usam técnicas diversionistas, se camuflam e promovem guerras psicológicas, de informação e de dissimulação.

Não se pode esperar deles, portanto, que digam a verdade ou que revelem o plano conspirativo que acalentam para continuarem no poder.

Os acontecimentos do país na última década – pelo menos desde 2013 – não autorizam ilusões acerca desta facção militar que tomou o poder e comanda o país por trás do biombo chamado Bolsonaro.

Estes generais e comandantes militares, originários do porão da ditadura, pertencem à geração mais nefasta e hostil à democracia. Eles negam a ditadura de 1964 diante do Congresso e desvirtuam o significado do artigo 142 da Constituição para pretextarem a intervenção militar e a tutela da democracia.

Enquanto em público engambelam a sociedade com sofismas, no esgoto das mídias sociais, nos quarteis e nas polícias militares eles estimulam caos e tumulto – como na incitação dos protestos inconstitucionais no 7 de setembro – para “serem chamados” a exercer o papel “moderador” [sic].

A falsa retórica legalista destes generais inconfiáveis não terá nenhum valor enquanto eles não saírem da cena pública e regressarem urgentemente para os quartéis.

Por isso é preciso atenta vigilância democrática e ampla mobilização popular nas ruas.

É sintomático este tipo de questão ocupar o centro do debate político nacional. Evidencia a tragédia da realidade brasileira.

 Numa democracia saudável, generais não são consultados sobre garantias constitucionais, mas apenas lembrados das consequências criminais para terroristas que atentam contra a democracia.

Leia também

Bolsonaro dobra aposta e coloca Forças Armadas em choque direto com o STF

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

Há dias em que faltam Adjetivos para (des)
qualificar esses Milicos Mijões de Pijama,
Oficiais Vagabundos, Maus-Caráteres e Vis,
Deformados da Reserva das Forças Armadas,
Prosélitos do General-Canalha Silvio Frota.

    Zé Maria

    “Nunca senti uma angústia cívica tão profunda,
    apesar de ser de uma geração que viveu a ditadura.
    Sei o que é ter uma barreira diante dos sonhos,
    do melhor do país, impedindo a gente de
    florescer em plena juventude.
    Aqueles tanques na rua …
    Como alguém defende um regime
    que coloca um cano de descarga
    na boca de um jovem (Stuart Angel)*
    e sai arrastando ele pelo quartel?”
    Marieta Severo
    Atriz BraSileira

    (*) “Ao cair da noite, após inúmeras sessões de tortura, já com o corpo esfolado, [Stuart Angel] foi amarrado à traseira de um jipe da Aeronáutica e arrastado pelo pátio com a boca colada ao cano de descarga do veículo, o que ocasionou sua morte por asfixia e intoxicação por monóxido de carbono.”

    (https://web.archive.org/web/20130119053730/http://www.torturanuncamais-rj.org.br/MDDetalhes.asp?CodMortosDesaparecidos=330)
    (https://revistaforum.com.br/blogs/mariafro/bmariafro-ex-militar-confirma-que-stuart-angel-foi-torturado-e-sua-irma-hilde-angel-se-emociona)
    (http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/index.php/outros-destaques/493-comissao-nacional-da-verdade-apresenta-relatorio-sobre-o-caso-stuart-angel)
    .
    .
    A atriz Marieta Severo afirmou em entrevista ao jornal O Globo, publicada neste domingo (22), não entender como “alguém defende um regime que coloca um cano de descarga na boca de um jovem e sai arrastando ele pelo quartel?” Marieta se referia, sem citar o nome, ao presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) e ao caso do assassinato de Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel, que era sua amiga.

    “Nunca senti uma angústia cívica tão profunda, apesar de ser de uma geração que viveu a ditadura. Sei o que é ter uma barreira diante dos sonhos, do melhor do país, impedindo a gente de florescer em plena juventude. Aqueles tanques na rua (sobre o desfile recente de tanques em Brasília). Como alguém defende um regime que coloca um cano de descarga na boca de um jovem e sai arrastando ele pelo quartel?”, disse.

    A atriz considera que não há clima nem conjuntura internacional para um golpe, mas, de acordo com ela, está tudo preparado para isso.
    “Sou gata escaldada, né?
    Ter que voltar a lidar com esse medo é assustador.
    Essa ideologia que está dominando não só o Brasil,
    mas vários lugares, o desmonte das nossas conquistas,
    o retrocesso dos direitos trabalhistas,
    tudo que está sendo feito por debaixo dos panos”.

    Para ela, há atrás um projeto ideológico em andamento que “não acredita na democracia e quer asfixiar a liberdade de expressão”, secando verbas para projetos que não sigam a cartilha do governo.

    “O que vão permitir que se filme, arte sacra?
    A gente se perde diante dos absurdos.
    O que estará tramando Damares?
    Um negro que demoniza negros na Fundação Palmares.
    Pessoas são escolhidas pelo viés ideológico
    e não pela capacidade de ocupar os cargos.
    O país está desmoronando por dentro”, disse.

    Marieta confessou ainda ter sentido “inveja de
    países que lidaram com a desgraça de forma
    responsável, com afeto, solidariedade, orientações
    precisas e não com o uso político da tragédia.
    Esse acréscimo de desespero é imperdoável,
    matou muita gente”.

    https://revistaforum.com.br/cultura/marieta-severo-diz-nunca-ter-sentido-uma-angustia-civica-tao-profunda/

Cintia Marcondes

Os generais brasileiros são quase que totalmente SUBORDINADOS a Washington. Batem continência para a bandeira americana tb.
Na América dos americanos, toda a América, não tem como ter comunismo pq o tio Sam NÃO deixa.
Quem tentou e é comunista como Cuba sofre um gigantesco bloqueio econômico.
A Venezuela passa por um bloqueio econômico similar. Ou seja, quem ousar isso aqui será sabotado tb como pais. Como foi o Brasil.
Compreende. Esse papeco dos nossos generalecos não podem acontecer na prática pq os EUA não permitem isso aqui.
Esses generais não tão nem aí com o Brasil, pois se estivessem não comprariam tanques de guerra velhos, obsoletos, imprestáveis dos EUA.
Querem + salários para eles e os filhos deles. Não tão nem aí para o Brasil, são praticamente espiões e braço armado de Washington no Brasil.
Qdo os generais falarem de comunismo no Brasil perguntem a eles se os EUA deixam implantar o comunismo na América.
E outra o comunismo FALIU em 91.
A China teve que se modernizar e separar as coisas (política e economia) para sobreviver as mudanças que destruiram a cortina de ferro. Quem não se lembra de um chinesinho que parou uma fileira de tanques na China +ou- na época dessas 2 datas importantes para a história mundial – queda do muro de Berlim, falência da URSS.
O papo dos generais não passa de pura tolice. É um blefe o comunismo apregoado por eles.
E eram os bonzinhos democratas do Clinton que queriam uma Alca aqui onde só eles davam as cartas.
O Lula não é comunista. É no máximo socialista. Ele foi muito esperto em buscar outros parceiros comerciais.
Os próprios generais de butiquim fizeram isso em certo momento da ditadura aqui.
O mundo é globalizado, mas para emprego não é. Quero ver se milhares arrumam emprego fácil nos EUA e na Europa rica.
Arruma nada. É limpar latrina. Um ou outro arruma emprego bom lá mesmo com diploma de curso superior.
Existe essa nuance no capitalismo, na globalização. Emprego só no seu país.
Nossa elite preocupa-se apenas com seus bolsos.

Deixe seu comentário

Leia também