Jeferson Miola: As ”aproximações sucessivas” do Alto Comando do Exército no governo Lula

Tempo de leitura: 3 min
Arte: João Montanaro

As “aproximações sucessivas” do Alto Comando do Exército no governo Lula

Por Jeferson Miola, em seu blog

Anos atrás, por ocasião de palestra proferida numa loja maçônica em Brasília [15/9/2017], o general Hamilton Mourão afirmou que “se tiver que haver, haverá” uma intervenção militar.

Importante destacar que a interpretação delirante do artigo 142 da Constituição, que em 15 de setembro de 2017, data da palestra de Mourão na maçonaria, já era uma gramática corrente nos meios castrenses, passou a ganhar evidenciação pública e a se organizar como uma força-movimento de extrema-direita no período imediatamente subsequente.

Àquela altura, o partido dos generais já avançava na materialização do seu projeto secreto de poder com Bolsonaro, cuja candidatura presidencial dele para 2018 fora lançada em 29 de novembro de 2014, quatro anos antes, na AMAN, a Academia Militar das Agulhas Negras.

O general Mourão, que na época ainda estava na ativa, era Secretário de Economia e Finanças do Exército e integrava o Alto Comando, disse: “Na minha visão, aí a minha visão que coincide com os meus companheiros do Alto Comando do Exército, nós estamos numa situação daquilo que poderíamos lembrar lá da tábua de logaritmos, ‘aproximações sucessivas’”.

E ameaçou: “ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso” – ou seja, um golpe militar.

Sintomaticamente, uma das mais decisivas e notórias “aproximações sucessivas” da estratégia golpista do Alto Comando do Exército [ACE] foi conhecida menos de sete meses depois, em 3 de abril de 2018, quando o general conspirador Villas Bôas publicou, em nome do Alto Comando, o famigerado tweet pressionando o STF a manter a prisão ilegal de Lula.

Após os reveses sofridos no último período – a derrota da chapa militar Bolsonaro/Braga Netto em 30 de outubro e o fracasso da intentona golpista de 8 de janeiro – as cúpulas partidarizadas das Forças Armadas apenas fizeram uma inflexão tática em busca de um reposicionamento político.

Tentam recuperar a falsa imagem de profissionalismo e compromisso com a legalidade.

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São inconfiáveis, contudo, as dissimulações de altos oficiais do Exército, dentre eles o general Tomás Paiva, que proclamam que o Exército é uma instituição “apolítica e apartidária”.

Não deixa de ser irônico o atual comandante da Força Terrestre declarar isso, pois em 2014 ele era o comandante da AMAN quando ocorreu um ato político-partidário inaceitável no Estado de Direito, que foi o lançamento da candidatura de Bolsonaro à presidência durante cerimônia de formatura de aspirantes a oficiais do Exército. Com a anuência dele, general Tomás Paiva.

O inquérito do Comando Militar do Planalto sobre os atos golpistas, só tornado público no último dia 26, acende uma luz de alerta que deveria ser tomada em séria preocupação pelo governo.

Trata-se de uma peça de ficção que falsifica a realidade, escamoteia o envolvimento dos militares na dinâmica golpista e, ainda, culpabiliza o governo Lula pelos ataques criminosos às instituições da República, inclusive o próprio Palácio do Planalto.

Mais grave que o inquérito farsesco, no entanto, foi o encaminhamento de ofício do general Tomás à CPMI dos atos golpistas reforçando tal versão forjada e mentirosa.

Um detalhe que não deixa de causar curiosidade: o ofício do comandante do Exército atendeu a requerimento do deputado ultradireitista André Fernandes-PL/CE, que é investigado pelo STF por apoiar e incentivar a horda fascista que saiu do QG do Exército para depredar o Supremo, o Congresso e o Planalto. Um jogo combinado?

É perigoso confiar que as cúpulas militares, que são partidarizadas e ultrapolitizadas, estejam de fato empenhadas em aceitar a subordinação ao poder civil e à democracia.

O partido dos generais não abandonou o projeto próprio de poder militar e tampouco abdicou da delirante fantasia de se considerar um Poder Moderador.

Os militares continuam à espreita e atentos a cada nova janela de oportunidade que se abre para avançarem com suas aproximações sucessivas.

No encontro maçônico de 2017, Mourão destacou que “nós temos planejamentos, muito bem feitos”. Na falha dos Poderes constituídos, “chegará a hora que nós teremos que impor uma solução”, ele disse.

O comando do Exército tem deixado sinais muito claros no ar, sem que haja reação das instituições e do poder político [governo e Congresso]. Além de não instaurar investigações sobre militares implicados em ilícitos e nos atentados à democracia, assegura impunidade e brinda delinquentes fardados com postos importantes.

O comparecimento do tenente coronel Mauro Cid fardado na CPMI dos atos golpistas escalou mais um degrau do teste de afronta militar ao poder político. Sem provocar repúdio do Congresso e desaprovação do ministro da Defesa.

As cúpulas militares são um fator extremamente crítico e ameaçador na realidade brasileira. A sobrevivência da democracia depende da capacidade que a sociedade civil, as instituições da República e o poder político tiverem de enfrentar em definitivo a questão militar no Brasil.

O governo precisa revisar urgentemente a continuidade da opção política do ministro José Múcio Monteiro, que não só é equivocada, como está favorecendo a reconfiguração da capacidade golpista do partido dos generais.

Não é só o governo Lula que continua sob ameaça fardada, mas a própria democracia.

Leia também:

Jeferson Miola: General Tomás Paiva reitera à CPMI versão farsesca do Exército sobre o 8 de janeiro

Altamiro Borges: A credibilidade das Forças Armadas na sociedade está caindo

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Comentários

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abelardo

Parece um exército de mercenários, que não tem patrão, não obedecem as leis, as regras, aos comandos e que cobram caro pelos serviços a serem executados.

Zé Maria

“VAZA JATO”

“Jornalista Leandro Demori desafia Merval Pereira para um Debate na Globo”
.
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https://twitter.com/i/status/1687452477568815105
“Merval desrespeita a trajetória
de cada jornalista envolvido nas
matérias da Vaza Jato.”
@demori
https://twitter.com/ICLNoticias/status/1687452477568815105

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1686870399575818240

“Heloísa Villela (@helovillela1) mostra, com exclusividade,
os e-mails que indicam que pedras preciosas foram
escondidas a pedido de Bolsonaro!”

https://twitter.com/NatBonavides/status/1686870399575818240

Maria Carvalho

Se o Presidente Lula não afastar os militares do governo vai ser golpeado, ou não vai se reeleger e/ou eleger um governo progressista em 2026

Zé Maria

.
.
Merval e sua Trupe Lavajatista
querem livrar Sergio Moro e DD
mentindo sobre a Vaza Jato.
.
.
“O @mervalpereira está dizendo duas coisas importantes aqui:
que a Polícia Federal mentiu sobre Delgatti não ter recebido dinheiro
pela Vaza Jato, que as redações de Folha de S. Paulo, Agência Pública,
Intercept e Veja podem ter alterado os diálogos.
Denúncias graves.
O senhor tem evidências, Merval?

Merval: os jornalistas não publicaram “por patriotismo”.
Isso é coisa que passa pela cabeça apenas de idiotas como você,
acostumado a trabalhar “por amor”.

Faça o seguinte, Merval: me convide para comentar o caso na Globo News.
Estou por aqui.
Só chamar.
Pelo bem da apuração das informações corretas.

Antes, claro, leia o inquérito da [Operação Spoofing da] Polícia Federal
(que era comandada por Sérgio Moro!) sobre o caso.

Faça jornalismo uma vez na vida. Não dói, posso garantir.

Pra isso, claro, o senhor precisa antes de mais nada soltar o saco
da Lava Jato.”

https://pbs.twimg.com/media/F2m1POpXsAER1-O?format=jpg
“Merval, conta pra gente como foi esse encontro baseado
em “sexto sentido”? Foi gostoso? Valeu a pena?”

https://twitter.com/demori/status/1687078219462193152
https://twitter.com/demori/status/1687078813564387328

Zé Maria

Curiosidade

O tal “Hacker da Operação Spoofing” vai dizer à PF e ao MPF

os Nomes dos Oficiais Militares do Ministério da Defesa do

Governo do Capitão Bolsonaro que queriam levá-lo para lá?

.

Zé Maria

Adendo ao Comentário Anterior (Abaixo):

“Os Oficiais Militares”, ressalta-se.

Zé Maria

.
.
E-mail revela “caixa de pedras preciosas” recebida por
Jair e Michelle Bolsonaro em MG no Ano Passado

“A pedido do TC [Tenente-Coronel Mauro] Cid,
as pedras não devem ser cadastradas”,
diz a mensagem.

E-mails da Presidência da República documentam que Jair Bolsonaro (PL)
e a então Primeira-Dama Michelle Bolsonaro foram “presenteados” com
um Pacote contendo “Pedras Preciosas” enquanto estavam em Teófilo
Otoni, no interior de Minas Gerais, no ano passado, de acordo com informações obtidas pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro.

As trocas de mensagens entre militares vinculados à Presidência
sugerem que esses presentes não foram oficialmente registrados.

Íntegra: https://wscom.com.br/e-mail-revela-caixa-de-pedras-preciosas-recebida-por-jair-bolsonaro-e-michelle/
.
.
O Capitão Jair Bolsonaro teve o Único Mérito
de conseguir provar à População do Brasil
que os Militares braZileiros são Corruptos.
.
.

Zé Maria

Dois anos atrás, o Jornalista Bernardo de Mello
Franco já alertava: https://tl.gd/n_1srp2r6

Millôr Fernandes tinha uma boa frase para ilustrar os perigos
do otimismo em excesso.
Para ele, o otimista era o sujeito que se atirava do décimo andar
e, ao passar pelo oitavo, comemorava: “Até aqui, tudo bem!”.

A imagem parece descrever os brasileiros que não veem ou
fingem não ver as ameaças de golpe contra a democracia.

Há duas semanas [08/7/2021], Jair Bolsonaro deu um ultimato:
ou o Congresso ressuscita o voto impresso ou “corremos o risco
de não ter eleição no ano que vem”.

A chantagem foi tratada com condescendência.
Em vez de ser processado por crime de responsabilidade,
o capitão foi convidado para um cafezinho no Supremo.

Nesta quinta, o jornal O Estado de S. Paulo informou que o ministro
da Defesa aderiu ao complô para tumultuar a sucessão presidencial.

Braga Netto mandou dizer ao presidente da Câmara, Arthur Lira,
que só haverá eleição com as regras impostas pelo governo.

Usou o coturno de general para intimidar o poder civil.

Seguiram-se negativas pouco convincentes.

O deputado Lira desconversou sobre o assunto.
“A despeito do que sai ou não sai na imprensa”, disse,
vamos todos à urnas em 2022.

O general bolsonarista optou pelo cinismo.
Tentou desqualificar a reportagem, mas reforçou, em papel timbrado,
a pressão indevida pelo voto impresso.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso,
limitou sua reação a um tuíte.
Disse que conversou com os envolvidos, e os dois “desmentiram,
enfaticamente, qualquer episódio de ameaça às eleições”.

O ministro [do STF] acrescentou que o país tem “instituições funcionando”.

Lembrou o otimista de Millôr antes de se esborrachar na calçada.

Desde que assumiu a chefia do Executivo, Bolsonaro submete os outros
Poderes a uma rotina de intimidações e chantagens.
Até aqui, a tática tem funcionado.

O Supremo impede o avanço das investigações sobre o primeiro-filho,
acusado de desviar verba de gabinete.

A Câmara não toca na pilha de pedidos de impeachment do presidente,
recordista de crimes de responsabilidade.

Agora a impunidade se estende a Braga Netto, que se comporta como
chefe de guarda pretoriana.

O general é reincidente em ameaças golpistas.

Há pouco mais de duas semanas, atacou o presidente da CPI da Covid,
Omar Aziz.

Queria interromper as investigações sobre corrupção na compra de vacinas,
que atingem militares aboletados no Ministério da Saúde.

Em nota assinada com os comandantes das três armas, o ministro
[da Defesa, Braga Netto,]insinuou uma quartelada contra o Senado.

Como o arreganho não foi punido, ele se sentiu à vontade para repetir
a dose.

Num país com instituições funcionando, militar não intimida o Congresso
e não opina sobre o sistema eleitoral.
Na hipótese mais branda, quem age dessa forma é afastado do cargo
que ocupa.

No Brasil de 2021, general que afronta a Constituição só corre o risco
de ser promovido.

E os otimistas continuam a repetir que tudo está sob controle — pelo menos
até a próxima ameaça de ruptura.

https://www.twitlonger.com/show/n_1srp2r6

Zé Maria

Realmente ainda está pendente a “ação do Judiciário,
retirando da vida pública esses elementos envolvidos
em todos os ilícitos”.
Até agora o STF, principalmente nos Inquéritos sob
Comando do Ministro Alexandre de Moraes, só pegou
milico bagrinho.
Está faltando enjaular os Tubarões de Quepe, Coturno
e estrelinhas na Farda.

marcio gaúcho

Afinal, quais os negócios escusos que esses generais tem de esconder, aplicando um golpe para colocar mais sombra sobre as suas ações cotidianas inescrupulosas?

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