Jason Berry: CIA injetou muito dinheiro no Vaticano para neutralizar o PCI
Tempo de leitura: 5 minNos últimos 25 anos, o jornalista Jason Berry investigou as finanças secretas e caóticas da Igreja Católica. Foto: Divulgação
A investigação por lavagem de dinheiro do Banco do Vaticano, as indenizações pelos escândalos sexuais e o número decrescente de fieis e doações são alguns dos problemas que o próximo pontífice herdará. Em entrevista à Carta Maior, o jornalista Jason Berry, fala sobre as finanças secretas da Igreja Católica, tema que foi objeto de sua investigação nos últimos 25 anos. Essa história, segundo ele, remonta à guerra fria e à massiva injeção de dinheiro da CIA no Vaticano para neutralizar a ameaça do Partido Comunista Italiano. A reportagem é de Marcelo Justo.
por Marcelo Justo, em Carta Maior
Londres – O Papa Bento XVI abandona o barco em meio a sérios problemas financeiros. A investigação por lavagem de dinheiro do Banco do Vaticano, as indenizações pelos escândalos sexuais e o número decrescente de fieis e doações são alguns dos problemas que o próximo pontífice herdará. Ninguém sabe exatamente quanto gasta a Igreja Católica em nível mundial, mas segundo uma investigação da revista inglesa The Economist, publicada no ano passado com base em dados de 2010, a cifra rondaria os 170 bilhões de dólares. Em um livro sobre as finanças secretas da Igreja Católica, o jornalista Jason Berry, que investigou o tema nos últimos 25 anos, afirma que a estrutura financeira da igreja é “caótica” e “opaca”.
Em entrevista à Carta Maior, Berry falou das dificuldades econômicas do Vaticano que, para ele, remetem à guerra fria e à massiva injeção de dinheiro da CIA no Vaticano para neutralizar a ameaça do Partido Comunista Italiano, então o mais poderoso da Europa ocidental.
Carta Maior: Como é a estrutura financeira da Igreja Católica em nível mundial?
Jason Berry: A Igreja Católica é muito hierárquica, monárquica eu diria, com o Papa como líder e dioceses dirigidas por arcebispos e bispos em todo o globo. Mas, em virtude de seu próprio tamanho, é internamente caótica e ingovernável. Cada bispo trabalha em sua diocese como se estivesse comandando um principado.
CM: O que sabemos de concreto sobre a riqueza do Vaticano?
JB: Há uma absoluta opacidade nas contas. Quando o Vaticano declara suas rendas e gastos anuais não inclui o Instituto para as Obras de Religião, o IOR, mais popularmente conhecido como o Banco do Vaticano, cujos fundos são estimados em cerca de 2 bilhões de dólares. O IOR tem sido administrado em um clima de absoluta falta de transparência, o que o converteu em um veículo perfeito para o trânsito de todo tipo de fundos. Mas agora, com a investigação do Banco Central da Itália sobre lavagem de dinheiro, isso está mudando.
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CM: Segundo algumas informações, o Vaticano tem interesses em uma empresa de espaguete, no setor financeiro, aviação, propriedades e uma companhia cinematográfica. Diz-se, inclusive, que controla entre 7 e 10% da economia italiana. Mas, dada a opacidade de suas contas, até onde é possível confirmar essas informações?
JB: Há informação disponível a instituições que nos permite saber onde está o dinheiro do Vaticano. Na Itália, o Vaticano investiu muito no Banco de Roma, que foi fundamental na reconstrução da Itália depois do “Risorgimento” no século XIX. Também tem negócios na área dos transportes públicos. A isso deve-se somar propriedades na própria Itália, na Europa e nos Estados Unidos. O Vaticano chegou a ser um dos proprietários do edifício Watergate, do famoso escândalo que provocou a renúncia de Richard Nixon. O grande tema hoje em dia é averiguar até onde prestou serviços a clientes que o utilizam como um banco “offshore”.
CM: Que impacto econômico os escândalos sexuais tiveram nas finanças da igreja?
JB: Nos Estados Unidos esse impacto foi muito forte. As dioceses e ordens religiosas pagaram mais de dois bilhões de dólares. Em muitas cidades tiveram que fechar igrejas. Los Angeles, Chicago e Boston, três das mais importantes arquidioceses, tiveram um rombo médio de 90 milhões de dólares em seus fundos de pensão.
CM: Em seu livro “Vows of Silence”, você fala do fundador dos Legionários de Cristo, o mexicano Marcial Maciel que chegou a controlar um império de 650 milhões de dólares e contou com a proteção do Papa João Paulo II, apesar das denúncias de abusos sexuais. Maciel teve fortes vínculos com o governo de Pinochet no Chile e com os governos da América Central. Há alguma figura equivalente na igreja de hoje?
JB: Maciel foi o mais bem sucedido coletor que a igreja teve. Começou no final dos anos 40 buscando apoio de milionários católicos no México, Venezuela e Espanha durante a perseguição dos padres no México e pouco depois da guerra civil espanhola. Com este dinheiro, Maciel formou sua própria base de poder em Roma e se converteu no porta-voz do setor mais conservador e militante da igreja. Assim como fez com Franco, se vinculou muito com Pinochet no Chile. Nos Estados Unidos, o próprio diretor da CIA durante os anos Reagan, William Casey, fez uma doação de centenas de milhares de dólares aos legionários. Maciel comportava-se como um político que viajava pelo mundo arrecadando fundos para fazer avançar a causa do catolicismo conservador e a agenda política conservadora. Mas a verdade era que toda sua ideologia encobria um delinquente sexual com poderosos contatos.
Apesar de ter sido acusado de abusar de seminaristas, o Vaticano não o investigou até 2004, a pedido do cardeal Ratzinger, quando João Paulo II estava morrendo. Graças a isso sabemos que teve filhos com duas mulheres no México e que manteve ambos os lares com dinheiro da Legião de Cristo. O escândalo é que o Vaticano demorou tanto para investigá-lo e deixou que ele se transformasse em um Frankenstein. Não há hoje uma figura equivalente no que diz respeito à arrecadação de fundos.
CM: Há uma longa história de escândalos nas finanças do Vaticano. Nos anos 80 houve o escândalo do Banco Ambrosiano e seu presidente, Roberto Calvi, que apareceu enforcado debaixo da ponte de Blackfriars em Londres. Calvi tinha fortes vínculos com o então presidente do Banco do Vaticano, o arcebispo estadunidense Paul Marcinkus. Há uma continuidade entre esses escândalos e os atuais problemas do banco?
JB: Creio que na realidade é preciso retroagir à Segunda Guerra Mundial quando a CIA começou a transferir grandes somas para o Banco do Vaticano. Em 1948, foi a primeira eleição na qual o Partido Comunista italiano, convertido no mais importante da Europa, buscava o poder. Neste momento houve uma grande campanha nos Estados Unidos, patrocinada pelo governo, da qual participou Frank Sinatra, para financiar a democracia cristã. Este foi o começo da história do dinheiro que círculos dos serviços de inteligência estadunidenses para o Vaticano. Uma geração depois, com Roberto Calvi e Marcinkus, o banco havia se convertido em uma via muito lucrativa para a passagem de dinheiro. No final dos anos 80, o banco teve que pagar uma multa de 250 milhões de dólares. Já ali o banco funcionava como uma “offshore” para seus clientes privilegiados. Mas ainda falta muito por documentar sobre essa história.
Leia também:
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Gilberto Nascimento: O mapa dos grupos que desestabilizaram papa
Eduardo Febbro: Renúncia expõe guerra direitista nos bastidores do Vaticano
Comentários
Marcius Cortez
Última notícia: A Jontex e a Igreja fecharam contrato milionário.
A propaganda já está pronta. O tema da campanha é:
“Bonita camisinha, seu padre”.
anac
“Ninguém pode servir a dois senhores: ou odiará a um e amará a outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (São Mateus 6,24).
Se Banco é Banco aqui e em qualquer outro lugar então não há o porquê do Ratzinger ter renunciado, uma vez que a missão papal de lidar com o mundano (um simples banco que age como banco) não é das mais árduas.
Urbano
O stalin não correu o risco que correram o mussolini e o hitler, essencialmente este último, do qual pegaram o bastão, além de todas as medalhas, e continuam correndo o circuito até os tempos atuais.
Maria Izabel L Silva
Que entrevista fulera! Não tem nada de novo. Não revela nada sobre as finanças da Igreja. Quem não sabe que o PCI era o principal inimigo do Vaticano?? Queriam o que? Que o Vaticano apoiasse o PCI?? Quanto às finanças da Igreja, o Banco do Vaticano não deve ser muito diferente das outras instituições bancárias européias. Por ser do Vaticano, que tem que ser santo, puro e imaculado??. Claro que não. Banco é tudo igual. Seja no vaticano, seja em Wall Street, seja em Frankfurt …
J Souza
Quando se tem uma comunidade que não pensa por si mesma, é muito fácil cooptar ou coagir “formadores de opinião” para manipulá-la…
Por isso que no Brasil não se investe em Educação tanto quanto o país precisa… E por isso que se investe tanto em mídia!
Os brasileiros não podem sequer se orgulhar de ser uma cópia mal feita dos americanos ou dos europeus…
Como disse um circo: “If you have no hope… Invent!”.
Essa é a solução para qualquer país!
Marat
Religiões… Deturpam tudo aquilo que apregoam… As religiões do capitalismo, então, são as mais perversas, pois se assenhoram da fé daqueles de boa vontade!
José de Almeida Bispo
Não foi só pra neutralizar o PCI. É melhor ele contar a verdade inteira: o Banco do Vaticano foi a imensa lavanderia de dinheiro usado na corrupção pra derrubar o regime soviético, ora! O descontrole atual é justamente porque em contabilidade, tudo que entra tem de entrar de algum lugar e sair pra outro definido. E é nessas definições onde começa a complicar. Como justificar o envio de dinheiro a um presidente de sindicato polonês, por baixo do pano, por exemplo?
anac
O problema é que quando se abre as portas para o filho do capeta não há garantia nenhuma que o próprio e sua trupe não entre e tome cota do lugar…
O diabo não aceita meia aliança.
Luís Carlos
Além de tudo isso, nunca esquecer do papado meteórico de João Paulo I, pouco mais de um mês, em 1978. Alguns acreditam que ele apenas morreu dormindo por problemas cardíacos. Essa é a versão “oficial” repetida em toda grande mídia na época, mas alguns pesquisadores demonstraram que não foi exatamente assim.
Hélio Pereira
A Igreja Catolica só tem “Santo”…
Mardones
Aproveitando a fonte, sugiro que o Vi o Mundo replique aqui o artigo do Paulo Kliass sobre a ”nova turnê da trupe presidencial”, que está ”vendendo” o futuro do Brasil com lucro de até 15% – em plena crise do capitalismo!!!! – e garantias impensáveis em qualquer lugar onde a soberania reine.
É fundamental replicar o Paulo Kliass, pois o PIG silenciou sobre a turnê e os progressistas não podem fazer o mesmo. Eis o link e o título do artigo:
Quem dá mais? Brasil à venda – Preços módicos! Paulo Kliass
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5991
Djijo
Estou desconfiado de que a cia não saca dinheiro do caixa do tesouro do eua, mas deve ter fonte de renda extra-conjugal. Drogas?
Gerson Carneiro
Será que o ex-Papa acredita no Papa?
Conceição Lemes
Gerson, daria pra vc ensinar como postar fotos nos comentários? O Renato nos perguntou, mas nem eu nem o Azenha sabemos. E vc tá craque nisso. Abração, beijo pra Tânia
Gerson Carneiro
Conceição, só vi tua solicitação agora, às 03h40 de 1º de março.
Vamos lá. Não sei porquê mas eu só consigo postar da seguinte forma:
1. Coloco a foto no meu facebook;
2. Clico o botão direito do mouse na foto (lá no facebook);
3. Clico o botão esquerdo do mouse na foto (lá no facebook);
4. escolho a opção “exibir imagem”;
5. copio o endereço da imagem (é o endereço que fica no local aonde aparecem os endereços das páginas na internet, ali aonde você digita o endereço da página quando quer ir à alguma página específica);
6. colo o endereço copiado na caixa de comentário aqui no VIOMUNDO.
É só executar esses passos nessa sequência aí.
Deve haver uma maneira mais simples porém, comigo tem funcionado essa.
Conceição Lemes
Obrigadíssima. Vou tranformar em post, já que vira-e-mexe alguém quer saber. Abração, beijo pra Tania
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