Jair de Souza: O legado de Jesus não pode servir para praticar as coisas do diabo
Tempo de leitura: 3 minO legado de Jesus não pode servir para a prática da maldade
Por Jair de Souza*
É provável que todos os que fomos criados no seio de famílias identificadas com o cristianismo tenhamos ficado estupefatos esta semana quando um certo empresário que se diz pastor evangélico apareceu com destaque nos noticiários devido a sua fala na qual justificava e instigava a perseguição e, inclusive, o extermínio físico (assassinato) de homossexuais.
Esse comportamento poderia ser considerado normal e natural em pessoas abertamente associadas com a ideologia nazista-fascista, cuja versão brasileira é o bolsonarismo.
Porém, o que causa muita indignação é quando aqueles que andam agindo dessa forma se apresentam publicamente como sendo seguidores e representantes de Jesus junto aos demais membros da sociedade.
Como é possível que o nome de Jesus esteja sendo apropriado por gente que demonstra estar muito mais identificada com o oposto do que encontramos nos ensinamentos por ele ministrados, conforme os relatos de sua vida encontrados nos Evangelhos?
Ali, o que observamos é uma figura inteiramente vinculada à luta dos setores sociais mais carentes em sua busca de uma vida mais digna, mais justa e sem miséria.
A bem da verdade, o ódio e os preconceitos destilados pelo empresário-pastor ao qual fizemos alusão vão em sentido diametralmente contrário ao que poderíamos considerar como verdadeiro cristianismo.
O que Jesus poderia ter em comum com alguém que cultiva uma intolerância e um ódio tão extremados a ponto de desejar a morte de outros seres humanos tão somente por sua orientação sexual?
O que se diz é que o tal empresário mercador da fé estaria recorrendo à conhecida estratégia nazifascista-bolsonarista de desviar a atenção pública dos temas que afetam a vida real de quase todo mundo, enquanto que, por outro lado, exacerbam a indignação de seus seguidores para angariar seu engajamento cego e doentio com vistas a levá-los a ocupar a linha de frente no enfrentamento direto contra os adversários que esse empresário-pastor visa aniquilar.
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Logicamente, ele não deseja trazer à tona nada que exponha a gritante desigualdade na distribuição de renda em nosso país; nem tampouco abordar temas que apontem para a necessidade de obrigar os ricos a arcarem com uma parcela mais significativa dos custos requeridos para a eliminação da pobreza e a construção de uma sociedade mais justa. Ou seja, o que se pretende é fugir inteiramente de tudo isso.
Portanto, o objetivo almejado é inculcar naqueles que frequentam suas empresas-igrejas a sensação de que seus problemas mais graves advêm de estarem sendo vítimas de perseguição religiosa.
Em outras palavras, procura-se fazê-los acreditar que estariam sendo severamente perseguidos, pura e simplesmente, pelo fato de serem cristãos.
Mas, o que vem a ser um cristão?
Pelo que pude aprender com meus familiares em minha infância, para ser fiel a Jesus, deveríamos procurar seguir as lições que ele nos transmitiu com sua conduta durante o período em que conviveu com seu povo.
Como na vida relatada de Jesus não existe uma única passagem que abonaria o apregoado pelos religiosos do tipo do empresário-pastor a quem estamos nos referindo, as empresas-igrejas alinhadas a essa linha de pensamento precisam dificultar ao máximo o contato de seus seguidores com os exemplos vivenciados pelo próprio Jesus.
Não existe nem uma única passagem na vida de Jesus em que ele demonstre estar preocupado em combater a orientação sexual de ninguém.
Está mais do que evidente que para ele o importante era ajudar o povo mais humilde a se livrar do sofrimento que a exploração dos poderosos lhe causava.
Jesus NUNCA se envolveu na perseguição de ninguém em razão de pseudomoralismo relacionado com o sexo. Havia coisas muito mais urgentes e importantes com as quais se preocupar.
A exploração, a injustiça e o descaso com as penúrias das maiorias populares sempre receberam sua atenção prioritária.
Nas ocasiões em que o vimos tratar de questões de cunho moral foi para condenar a atitude hipócrita das classes dominantes.
O episódio sobre Maria Madalena é bastante conhecido e esclarecedor do que Jesus pensava sobre a hipocrisia.
Que o empresário-pastor que andou apregoando o assassinato de homossexuais seja processado e venha a ser condenado pela Justiça não significa nenhum tipo de perseguição religiosa a ninguém.
A menos que estejamos fazendo referência à condenação de crimes dignos de um serviçal do diabo. Sim, porque, desejar e instigar a morte de outro ser humano simplesmente em função da forma como ele se posiciona sexualmente não é outra coisa que servir ao diabo.
É dever e obrigação de todos os seguidores sinceros de Jesus condenar com veemência a esses farsantes que se fingem de religiosos para impulsar as causas do ódio, da morte e da exploração, em outras palavras, as causas do diabo.
Em resumo, não é possível estar com JESUS e defender as práticas do diabo.
*Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.
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Comentários
Zé Maria
“Isenção Tributária para as Obras do Diabo”
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“Ao introduzir na constituição Federal um artigo genérico
impedindo a cobrança de qualquer imposto sobre qualquer
“entidade religiosa”, a reforma abriu caminho para que os
negócios de grandes conglomerados [empresariais] da fé
ampliem seus lucros.” (+4)
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Zé Maria
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“Matar em nome de deus é converter deus num assassino”
JOSÉ SARAMAGO
Escritor Português
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