J. Carlos de Assis: Onde estará a honra do Partido Socialista Brasileiro?

Tempo de leitura: 4 min

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 O legado de Eduardo entre a ideologia e o pragmatismo

por J. Carlos de Assis, no Jornal GGN

Rei morto, rei posto. Sai Eduardo, entra Marina. Essa seria a ordem natural das coisas. No sistema republicano, vice assume o lugar do principal nos impedimentos deste. É o que deveria acontecer também no curso do processo eleitoral. E é inevitavelmente o que aconteceria, se se tratasse de uma questão lógica, já que o PSB não tem outro candidato viável. Por que, então, a controvérsia?

Examinemos o processo eleitoral no Brasil. Cada candidato à presidência não é apenas o portador de uma proposta política. É um centro de articulação de interesses de sua própria coligação, e um atrator dos interesses externos a ela. Em termos de coligação, o importante não é propriamente a ideologia do líder, mas o tempo de televisão vendido pela legenda. No círculo externo, o importante é a capacidade de obter financiamentos de campanha.

O que diferencia as duas situações é a fisiologia política em seu mais alto grau. Vejamos por que. Temos duas excrescências políticas no país: primeiro, o chamado Fundo Partidário, pelo qual partidos políticos registrados têm direito a recursos públicos na proporção de suas bancadas; segundo, o tempo de televisão gratuito em campanhas eleitorais, pelo qual os partidos podem vender esse tempo para candidaturas majoritárias.

Por que chamo isso de excrescências? Simplesmente porque, numa democracia republicana, são os partidos políticos que constituem o Estado, e não vice-versa. O partido é uma representação parcial da sociedade que luta pelo poder político de representá-la como um todo. Numa palavra, o partido forma o Estado, como expressão da sociedade organizada, e não o Estado forma partidos, através de subvenções financeiras. Ou deveria ser assim.

Não há nenhum sentido republicano numa situação pela qual a sociedade inteira financie, com recursos da cidadania, partidos políticos que representam, pela própria definição de partido, uma parte da sociedade. Justamente por termos essa excrescência, temos quase 40 partidos políticos registrados no país, a maioria dos quais se vende como legenda de aluguel nas campanhas eleitorais.

A segunda excrescência política não é propriamente o horário eleitoral dito “gratuito” mas a possibilidade de os partidos venderem “seu” tempo de televisão. Esse tempo não é deles. Quando se fala em horário “gratuito” talvez o grande público não saiba que não há nada de gratuito, mas sim tempo pago pela sociedade inteira na tevê e no rádio. Portanto, não há sentido republicano em que um partido venda um tempo que não é seu, mas do povo.

Como conciliar o princípio democrático de acesso dos partidos que representam a sociedade aos meios de comunicação com a moralização desse processo? Primeiro, cancelando o direito de tempo “gratuito” na tevê e rádio para partidos que não os utilizem, nas faixas proporcionais ou majoritárias, em nome de sua própria legenda. Segundo, eliminando o Fundo Partidário, que hoje, na maioria dos casos, não passa de um cartório de manipulação de interesses financeiros por parte de profissionais que captam assinaturas para criação e manutenção de partidos artificiais.

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Para conciliar democracia com funcionalidade, no caso de campanhas presidenciais ou de governadores o tempo gratuito seria dividido proporcionalmente às bancadas dos partidos que tivessem candidatos próprios, com o tempo sobrante dos outros partidos dividido igualmente entre todos os candidatos. Seria rigorosamente reprimida a venda de tempo de tevê e rádio. No segundo turno, como acontece hoje, o tempo seria igualmente dividido entre os dois candidatos mais votados.

Na vigência de um sistema desse tipo a sucessão de Eduardo como candidato da coligação liderada pelo PSB fluiria normalmente. Sem isso, os problemas são quase insolúveis. De um ponto de vista ideológico, Marina é a solução natural para efeito externo. Entretanto, só os muito ingênuos ignoram o fato de que, como cabeça de chapa, Eduardo estava no ápice de uma pirâmide de interesses econômicos que estavam bancando ou iriam bancar sua candidatura. Nessa articulação, Marina não tinha grande relevância.

Na verdade, se tivesse relevância, Marina atrapalharia. Era o candidato, e não ela, a figura confiável para o bloco de empresários paulistas que estava apoiando a chapa. Esse bloco não tem qualquer simpatia pelo discurso ambientalista. Por outro lado, os partidos da coligação tinham mais expectativas de ganhar recursos financeiros para seus esquemas de campanhas proporcionais, com a venda do tempo de tevê e rádio para o PSB, do que participar no esquema ideológico da candidatura. Isso terá de ser rediscutido agora.

Realisticamente, no extravagante sistema partidário brasileiro, a maioria dos partidos aguarda as campanhas eleitorais para ganhar dinheiro, não para gastar com propaganda política. Lembrem-se do mensalão: todo o problema começou quando Roberto Jefferson vendeu tempo de televisão para o PT, por R$ 20 milhões, e o PT só teve como pagar R$ 4 milhões. A tragédia, para o PT, não foi que tivesse ganho muito dinheiro na campanha, mas que ganhou menos do que esperava.

O PSB, como líder da coligação de Eduardo, era o centro de confiança dos demais partidos da coligação. Obviamente, houve muitos entendimentos baseados na confiabilidade de um homem para bancar essa campanha presidencial num país continental, extremamente cara tendo em vista as distâncias a percorrer. Agora isso tem que ser reconstruído. A questão, por certo, não é ideológica; é uma questão prática e, em última instância, de interesses.

Essa é, pois, uma escolha de Sofia para o PSB: quem comandará o caixa de uma campanha presidencial que, normalmente, deve estar na mão do candidato ou candidata? Quem será o elemento confiável para os aliados e para os adversários na condução dos compromissos de campanha? E, finalmente, quem será o melhor candidato do ponto de vista eleitoral? Ou seria melhor fazer o que muitos líderes do partido haviam desejado, a saber, uma aliança com o PT ou com o PSDB pela qual o partido perderia um pouco do perfil ideológico, não teria maiores compromissos com aliados no curto prazo e ainda sairia ganhando no campo dos interesses materiais? Contra isso, só haveria um ponto a refletir: na palavra de Gramsci, um pensador muito caro a Roberto Amaral, “você deve trazer o adversário para uma posição da qual ele só pode recuar com desonra”. Onde estará a honra do PSB?

J. Carlos de Assis é economista, doutor em Engenharia da Produção pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

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Comentários

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Mauro Assis

Texto intrincado para dizer nada.
O negócio é o seguinte: devido à morte do candidato, a coligação tem dez dias para escolher ou não um substituto. Faz sentido escolher a Marina, claro, pelo potencial dela de ganhar a eleição (o que a pesquisa Folha, com reservas, confirma).

O partido, como qualquer outro, quer o poder, e vai agir prá isso. É do jogo, não vi onde a “honra” entra nisso.

Rose PE

O povo brasileiro não passa de mero coadjuvante nesse processo dos políticos pelo poder. O texto é muito esclarecer.

marco

Senhor J.Carlos de Assis.Vou postar um comentário jocoso,à sua precisa análise sobre o PSB.Tive um conhecido,adesivo da UDN,que afirmava serem os socialistas,comunistas covardes.Não concordava com ele,por ser adesivo da UDN e por achar que os socialistas,sob a democracia,são somente dúbios,embora dentre seus quadros históricos,se destacaram e destacam,grandes personagens.Contudo são dúbios e por isso,vacilantes.Lembram e evocam sempre,os socialistas europeus,que não conseguiram até hoje,sair do LIBERALISMO ECONÔMICO.Mesmo defendendo que não.Dúbios e vacilantes.No Brasil,o único norte que tem,fica ao norte do país.Penso que confundem norte,com ESTADUNIDENSES DA AMÉRICA DO NORTE.

Urbano

Por falta de sucessores dignos, faleceu também no dia 13 de agosto de 2005…

FrancoAtirador

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De onde vem o Ódio…

ESTIMULADA POR POLÍTICOS SEM ESCRÚPULOS,

COM REPERCUSSÃO ASSÍDUA NO COMETA G.A.F.E.*,

TURMA VTNC PETROBRAX ENTRA DE NOVO EM AÇÃO.
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17/08/2014 11h06
Folha de S.Paulo

‘Ela não tinha nada que vir aqui’,
diz Jarbas Vasconcelos sobre vaia a Dilma

Crítico do governo do PT, o senador Jarbas Vasconcelos disse que as vaias que a presidente Dilma Rousseff recebeu neste domingo (17) ao chegar ao velório do ex-governador Eduardo Campos acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Recife são ‘justificáveis’…

‘Ela não tinha nada que vir aqui’, afirmou.
‘É falso. Ela não gostava mais de Eduardo,
queria manter distância de Eduardo’, afirmou.
‘(Eu) não viria aqui para fazer uma falsidade dessas’,
disse o senador.
.
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Pernambuco247

Ex-adversário político de Eduardo Campos,
senador Jarbas Vasconcelos
diz que presidente Dilma Rousseff
não deveria ter comparecido à cerimônia…

Quando se elegeu pela primeira vez ao governo de Pernambuco,
Eduardo Campos impôs uma dura derrota a Jarbas Vasconcelos
e só muitos anos depois ambos se reconciliaram,
quando Jarbas se deu conta de que Campos
era a maior força política de Pernambuco.

Em vídeo recente, Jarbas dizia que Eduardo
“fazia o povo pernambucano de idiota”
e o acusava de mau-caratismo.

Assista: (http://youtu.be/L9IS5IyypQw)
.
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Brancaleone

Eu sei onde está a honra do PSDB.
No mesmo lugar onde esta a honra de todos os demais partidos.
Honra em partidos políticos? O que mais vão querer?
Virgindade das quengas?
Sobriedade do bêbados?
Honestidade dos ladrões?
A outra perna do saci?
Fala sério!!

    Jader

    HAHAHAHAHAHAHAHA
    Realmente, o autor da matéria parece não viver no Brasil. Aliás, neste mundo. Deve ser de wonderland!

    Valdeci Elias

    Você Cansou , ou está só com Medo ?

FrancoAtirador

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.
A pergunta derradeira deveria ser:

-Quem é o adversário do PSB?
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SERGIO GOVEA

Li e achei excelente.

Marcos

Menos. Marina está longe de ser uma candidata de esquerda ideal, mas ela é bem melhor do que a alternativa pura de direita.
Um governo de direita significa perda de direito sociais por parte dos trabalhadores e redução de impostos para a turma do 1%.
Mesmo que Marina tenha representantes dessa linha econômica ( Lula e Dilma também não tem?), é a presidente quem dá a ultima palavra. E Marina tem uma história que indica que ela não retiraria direitos dos trabalhadores.
Confio na reeleição de Dilma, mas é bom ter uma alternativa menos dramática que a volta pura e simples da direita ao poder.

    João-PR

    Alguém aí sabe o que pensa a Marina sobre a economia?
    E a alternativa energética para as hidroelétricas? (que ela, sabidamente, é contra).
    E a questão do agronegócio? O que ela vai fazer com o agronegócio?
    Enfim, Marina tem que sair da posição de “salvadora messiânica dos brasileiros” (nova Antonio Conselheiro) para dizer o que pensa.
    O resto, é resto mesmo.

Fabio Passos

honra?
Estão usando o morto como trampolim!
E o PiG festeja…

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