Itaipu: Protestos contra acordo secreto com Brasil sinalizam que povo paraguaio quer defender sua soberania
Tempo de leitura: 3 minItaipu: após acordo secreto com governo brasileiro, Paraguai vive crise política
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
Na última segunda-feira (29), a renúncia do alto escalão paraguaio responsável pelos assuntos relacionados à Usina de Itaipu foi aceita pelo presidente Mario Abdo Benitez; a situação gerou uma grave crise política, que chegou a colocar em pauta a possibilidade de impeachment do presidente.
O pano de fundo da crise foi a mudança nos termos de contratação da energia entre Brasil e Paraguai, que até então era realizada anualmente, e agora foi acordado até 2022 e de forma reservada entre os gabinetes de ambos países, sem a devida anuência das instancias técnicas e políticas responsáveis pelo tema.
Após a grave crise política gerada no Paraguai, que até colocou em cima da mesa a possibilidade de impeachment do presidente, Brasil e Paraguai anularam a ata nesta quinta-feira (1).
A usina hidrelétrica de Itaipu, propriedade do Brasil e do Paraguai (50% cada) é a maior produtora de eletricidade no mundo.
Com elevado aproveitamento da potência instalada (cerca de 80%) e com custo muito baixo de operação, produz uma receita média anual de aproximadamente US$ 3,5 bilhões – cerca de 60% desse valor é destinado a bancos e credores da dívida contraída na sua construção e ao longo de sua gestão.
Em 1973, quando ambos países chegaram a um acordo sobre o aproveitamento hidroelétrico das águas do rio Paraná, foi assinado o Tratado de Itaipu, onde está prevista sua revisão em 50 anos, ou seja, em 2023.
Está também previsto para esse mesmo ano, a “quitação” da dívida. Essas circunstâncias abrem um imenso campo de disputa entorno da gestão da Usina de Itaipu, da distribuição da energia produzida, da redefinição dos índices e encargos que compõem a tarifa e, em especial, o destino de cerca de 60% da renda produzida por essa empresa que atualmente é do capital proprietário da dívida de Itaipu.
A assinatura do Tratado de Itaipu foi realizado entre as ditaduras de ambos países (General Emílio Médici pelo Brasil e o General Alfredo Stroessner pelo Paraguai).
A situação atual remonta esse passado sombrio e o gesto da diplomacia de ambos governos representa também um retrocesso em relação aos avanços conquistados na época em que Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Lugo governavam Brasil e Paraguai, respectivamente.
Em julho de 2009, ambos governos assinaram um acordo que aumentou a arrecadação do Paraguai pela venda do excedente, e melhoraram as condições do país em relação aos ganhos gerados pela usina.
No contexto atual, os governos brasileiro e paraguaio irão fazer de tudo para que o tema da renovação do tratado não seja apropriado pelo povo e que esse processo aconteça de forma rápida e sorrateira; o episódio dessa semana já manifesta tais intenções.
Mas Itaipu pode representar um passo imenso na integração regional, na cooperação mútua entre os povos, e o ano de 2023 pode ser um marco na recomposição da soberania de ambos países.
As manifestações realizadas no Paraguai e o escândalo gerado por um acordo que foi lido no país como “entreguista” deixam evidente a atenção e a disposição do povo paraguaio em defender sua soberania.
Esse exemplo é de grande motivação no objetivo de unir as duas nações em defesa dos interesses dos povos.
Comentários
Marys
Espelhando o absolutismo maquiavélico do “dividir para reinar” , o sistema político econômico da atualidade cria uma nova espécie de governança: ao mesmo tempo em que o político provoca a divisão do povo e o abalo das instituições por discurso deletério, o sistema financeiro se apodera dos bens públicos, devorando as instituições desacreditadas para assumir o papel do Estado.
No contexto atual, com o advento das redes sociais, essa parece ser a única forma de governo possível, para o avanço do capital, via consumo e mercado financeiro, já que tudo o que se diz, certo ou errado, corre mundos, antes de se apurar sua veracidade e, nesse ínterim, o empoderamento de políticas e políticos é feito, enquanto o capital fatura com eles, quase sem controle.
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