Bolsonaro na imprensa alemã: ações golpistas, corrupção, destruição da Amazônia, boicote à vacinação, deboche das medidas anticovid
Tempo de leitura: 9 minO terceiro ano de Bolsonaro na imprensa alemã
Por Jean-Philip Struck*, em Deustche Welle
Nos últimos 12 meses, imprensa alemã destacou ações golpistas do presidente, escândalos revelados pela CPI da Pandemia, destruição da Amazônia e como avanço da vacinação ocorreu no Brasil apesar de Bolsonaro.
Frankfurter Allgemeine Zeitung: “Trump continua sendo exemplo para Bolsonaro” (13/01) – sobre Bolsonaro usar invasão do Capitólio como ameaça
É improvável que em algum outro país do mundo as imagens da invasão do Capitólio por seguidores de Trump tenha provocado medos concretos como no Brasil.
Para quem nem viu motivo para preocupação, o próprio presidente Bolsonaro deu uma ajuda: numa conversa com seguidores em Brasília, ele profetizou que o Brasil poderia enfrentar uma turbulência ainda maior do que a dos EUA nas eleições de 2022.
Frankfurter Allgemeine Zeitung: “Onde o oxigênio é artigo de luxo” (17/01) – sobre a crise nos hospitais de Manaus
As cenas que se desenrolam na metrópole amazônica de Manaus são dramáticas. Hospitais sobrecarregados, caixões sendo carregados – e o preço do oxigênio disparando.
O presidente Jair Bolsonaro não reconhece a gravidade da situação, algo que faz desde o início da pandemia. Ele repetidamente debocha das medidas recomendadas.
Frankfurter Rundschau: “Vacinação é encenada aos pés do Cristo” (19/01) – sobre o início da vacinação
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A campanha de vacinação no Brasil é acompanhada por imagens elaboradas. No Rio de Janeiro a vacina foi levada de helicóptero para a famosa estátua do Cristo. As primeiras vacinas contra o coronavírus foram administradas no estado mais populoso, São Paulo, no domingo.
Para o presidente Bolsonaro, que constantemente minimiza o perigo do vírus, tanto o início da campanha de vacinação quanto a aprovação da vacina chinesa Coronavac representam uma sensível derrota política.
Der Spiegel: “Sabotagem de cima” (23/01) – sobre a postura antivacinas de Bolsonaro
Enquanto a segunda onda do coronavírus varre o país com furor, Jair Bolsonaro fomenta dúvidas quanto às vacinações.
Como salvar o Brasil de seu presidente? Ao longo de meses, Bolsonaro fizera de tudo para minar a confiança na “vacina chinesa de João Doria”.
Como combater uma pandemia, se o homem que deveria liderar essa luta é um adepto de teorias conspiratórias e não tem a menor intenção de lutar?
Frankfurter Allgemeine Zeitung: “O presidente que não quer ser responsável” (05/02) – sobre a indiferença de Bolsonaro na crise de Manaus
Jair Bolsonaro dá repetidamente a impressão de ser bastante indiferente à pandemia e suas consequências.
O governo não é responsável pelo transporte de oxigênio para Manaus, afirmou ele. A cidade na Amazônia luta contra uma situação caótica desde meados de janeiro. O fracasso das autoridades é evidente.
Süddeutsche Zeitung: “Bolsonaro faz a Bolsa entrar em queda livre” (22/02) – sobre o intervencionismo de Bolsonaro na Petrobras
A demissão do chefe da empresa petrolífera Petrobras deixou os investidores brasileiros nervosos. As ações da estatal mergulharam em queda de mais de 20%.
Os investidores se perguntavam se Bolsonaro não iria se restringir a influenciar apenas as empresas estatais e aumentar os gastos do governo sem encarar as reformas necessárias. Eles duvidam agora da vontade do governo de defender uma economia de livre mercado.
Süddeutsche Zeitung: “Canhões carregados” (27/02) – sobre a flexibilização da posse de armas
Jair Bolsonaro está relaxando as leis de armas de seu país. O país latino-americano é um dos mais violentos do mundo.
O que soa como uma contradição é para Bolsonaro apenas a continuação rigorosa do que ele vê como uma campanha lógica para armar a sociedade civil brasileira. Depois de abolir os impostos sobre importação, ele tomou outra medida: aumentou, por decreto, o número de armas que os cidadãos podem comprar.
Süddeutsche Zeitung: “De volta para o futuro” (10/03) – sobre a volta de Lula ao jogo eleitoral
No Brasil, a campanha presidencial pode ter começado na segunda-feira. Desde o início desta semana já parece claro para muitos quem são os maiores candidatos: Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Isso é possível graças à decisão de um juiz da Suprema Corte: na segunda-feira ele declarou inválidos todos os julgamentos por corrupção contra Lula.
Der Tagesspiegel: “Bolsonaro sabota luta contra o coronavírus” (10/03) – sobre o negacionismo de Bolsonaro
Na atual situação, imagina-se que o presidente do Brasil esteja fazendo tudo ao seu alcance para combater o vírus. Mas, na verdade, é o oposto.
Desde o início da pandemia, Bolsonaro sabota os esforços dos governadores e prefeitos para conter o vírus. Semanalmente, Bolsonaro viaja pelo país e se aglomera com pessoas sem máscara. Parece que ele gosta de provocar. Além disso, ele está atrasando a campanha de vacinação.
Die Welt: “O potencial é inacreditável” (07/04) – sobre o papel de Bolsonaro nas crises sanitária e política
O Brasil está sendo abalado por dois graves terremotos ao mesmo tempo: uma enorme crise política no governo e um estado de emergência relacionado ao coronavírus. No centro de ambos está um presidente que não parece ser capaz de lidar com a situação há muito tempo.
Die Tageszeitung: “Os pulmões do mundo estão em chamas” (01/04) – sobre o desmatamento no Brasil
No Brasil, o desmatamento na Amazônia aumentou drasticamente sob o presidente populista de direita Jair Bolsonaro. Bolsonaro reduziu os fundos para programas de proteção ambiental e promoveu a abertura de áreas protegidas para a agricultura e mineração.
Der Tagesspiegel: “Quem responsabilizará o imprudente presidente do Brasil?” (12/04) – sobre Bolsonaro incentivar desmatamento e propagação do vírus
Bolsonaro inflama os “pulmões do mundo” e provoca o surgimento de supervariantes do coronavírus. O mundo deveria reagir. O vírus não conhece fronteiras e não tem nacionalidade ou passaporte.
O que é negligenciado no Brasil tem repercussões globais, como já ocorreu com a imprudência de Bolsonaro em relação a incêndios na Floresta Amazônica. Sua destruição prejudica o clima do mundo, assim como a gestão ameaçadora do coronavírus pelo Brasil prejudica a saúde mundial.
Frankfurter Allgemeine Zeitung: “A fúria dos brasileiros” (29/04) – sobre a abertura da CPI da Pandemia
Uma CPI pode se tornar um problema para Bolsonaro. A comissão investigará a forma como seu governo lidou com a pandemia, que até agora ceifou a vida de quase 400 mil pessoas no Brasil e mantém o país numa situação de estrangulamento.
O inquérito analisará questões como: por que o governo promoveu tratamentos com medicamentos ineficazes, por que três ministros da Saúde foram destituídos durante a pandemia e como o sistema de saúde no Amazonas entrou em colapso.
Frankfurter Allgemeine Zeitung: “Protestos contra Bolsonaro” (31/05) – sobre as manifestações contra o governo
No Brasil, dezenas de milhares se manifestaram contra a política de combate ao coronavírus do presidente Bolsonaro.
Em várias cidades, as pessoas saíram às ruas para protestar contra a forma como o presidente lida com a pandemia, bem como pedir uma campanha de vacinação mais eficiente e mais ajuda para os pobres. Foi a primeira grande manifestação de rua contra Bolsonaro durante a pandemia.
RedaktionsNetzwerk Deutschland: “Brasil está farto de Bolsonaro” (20/06) – sobre o papel de Bolsonaro na pandemia
Em poucos dias, o Brasil quebrará a barreira de 500 mil mortes por covid-19. No centro das críticas está o presidente populista de direita Jair Bolsonaro. A oposição o acusa de “genocídio” porque ele atrasou o fornecimento de vacinas e minimizou a doença desde o início. Mais recentemente, Bolsonaro foi criticado por levar a Copa América ao país.
Die Tageszeitung: “Um destruidor do meio ambiente a menos no cargo” (25/06) – sobre a saída de Ricardo Salles do governo
Ele agora é parte da história, disse o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. As calorosas palavras se referiam ao ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que pouco antes apresentara sua renúncia.
Salles alegou motivos familiares para sua saída. Mas provável é ele ter se curvado à pressão crescente. O político de 46 anos é acusado de envolvimento numa rede de comércio ilegal de madeira.
Spiegel Online: “A máfia do governo” (03/07) – sobre as acusações de corrupção na compra de vacinas
Quando Jair Bolsonaro, que havia passado quase três décadas como um deputado discreto no Congresso, concorreu à presidência em 2018, ele se apresentou como um outsider que queria romper com os costumes da “velha política”.
Bolsonaro dizia querer limpar a corrupção de Brasília. Hoje, três anos depois, pouco restou dessa intenção. No Brasil, uma CPI está investigando alegações de corrupção na aquisição de vacinas. Várias testemunhas implicaram fortemente o presidente.
Spiegel Online: “Apoio ao presidente no chão” (13/07) – sobre a reprovação de Bolsonaro
As coisas não estão indo bem para Jair Bolsonaro. Há semanas milhares de pessoas têm se manifestado em todo o Brasil contra a desastrosa gestão da pandemia de seu governo, e mais recentemente o presidente se tornou alvo de investigadores de corrupção.
Bolsonaro está sob pressão há algum tempo. Sua avaliação nas pesquisas continua a desmoronar, e a insatisfação com o chefe de Estado subiu acima de 50% pela primeira vez.
Die Zeit: “Desmatamento na Amazônia cresce mais de 50%” (20/07) – sobre a destruição da Amazônia
“Nos últimos 11 meses, a Amazônia brasileira perdeu 8.381 quilômetros quadrados de floresta. Isso é 51% a mais do que no mesmo período do ano passado.
No governo Bolsonaro, as regras para a emissão de multas foram alteradas de tal forma que se tornou praticamente impossível multar alguém.
Bolsonaro havia prometido isso na campanha eleitoral de 2018. Seus eleitores incluem agricultores que sempre reclamaram de regulamentações ambientais.
Frankfurter Allgemeine Zeitung: “Brasileiros confiam em vacinas. Sequer Bolsonaro pode mudar isso” (15/08) – sobre o comportamento antivacinas de Bolsonaro
Segundo uma pesquisa do Datafolha, 94% dos brasileiros pretendem se vacinar. Muitos países da Europa só poderiam sonhar com uma disposição para se vacinar tão alta.
Mas o governo Bolsonaro não aproveitou isso. Primeiro, Bolsonaro fez pouco caso do vírus e, depois, das recomendações dos especialistas para conter a pandemia. E, quando as primeiras vacinas estavam prestes a serem aprovadas, Bolsonaro revelou-se uma pessoa contra vacinas.
Handelsblatt: “A perigosa derrocada dos países emergentes” (20/08) – sobre o desinteresse de Bolsonaro em governar
Pandemia fora de controle, economia estagnada, moeda em queda. E Jair Bolsonaro está fazendo nestes dias o que ele sempre fez, desde que se tornou presidente do Brasil: visita quartéis ou batalhões de polícia para distribuir medalhas.
E no fim de semana passado, reuniu 24 mil de seus apoiadores ao seu redor para iniciar um passeio de motocicleta no meio de um estado do sul com taxas recordes de infecção por coronavírus – sem máscara, é claro.
E o que ainda acontecia no Brasil nesses dias: os bancos de investimento reduziram suas projeções de crescimento para o próximo ano para menos de 2%, um número fatal para um mercado emergente.
Süddeutsche Zeitung: “Uma lei como um machado” (25/08) – sobre a oposição de Bolsonaro à demarcação de terras indígenas
Bolsonaro planeja não dar mais nenhuma área protegida aos povos indígenas. Com isso, ele não ameaça apenas a eles, mas ao planeta. Um projeto de lei pode resultar na rejeição de dezenas de pedidos de demarcação de terra indígena. Tudo isso é uma notícia alarmante, não apenas para as comunidades tradicionais, mas para o mundo todo.
Handelsblatt: “O pesadelo brasileiro” (07/09) – sobre as ofensivas de Bolsonaro contra o sistema democrático
O presidente brasileiro não apenas encoraja seus apoiadores a protestar contra a Justiça. Ele também os conclama à violência. Ele se transformou no maior risco econômico para a principal economia da América Latina.
Jair Bolsonaro nunca escondeu que gosta de passar dos limites – mesmo os da decência. Mas nos últimos tempos o presidente brasileiro ultrapassa a linha vermelha de tal maneira que mesmo parte de seus apoiadores vêm demonstrando preocupação.
Tagesschau: “Retórica de sobra” (08/09) – sobre as manifestações golpistas de 7 de Setembro
Dezenas de milhares atenderam à convocação do presidente Bolsonaro no dia da independência do Brasil. Eles esbravejaram contra todos os que investigam o presidente, mas o temido ataque ao Congresso não aconteceu.
Der Spiegel: “Refém do presidente” (11/09) – sobre a forma de Bolsonaro governar
Bolsonaro está enfraquecido, mas pode continuar causando grandes danos à democracia brasileira.
Governar seriamente é algo que Bolsonaro quase não fez nos últimos anos – a menos que se considere suas representações no YouTube como uma arte de governar.
E a partir de agora ele se dedicará apenas à campanha eleitoral. O Brasil tornou-se refém de um presidente que não tem nenhum plano além de acumular inimigos.
NTV.de: “O duelo Bolsonaro contra Lula pode ficar tenso” (02/10) – sobre o avanço de Lula nas pesquisas
Bolsonaro tem atualmente cinco adversários oficiais à presidência. Provavelmente, só Luiz Inácio Lula da Silva, que ocupou a presidência de 2003 a 2010 e se empenhou especialmente no combate à fome e à pobreza, pode ser realmente perigoso para ele.
Uma média de 40% da população se diz a favor dele nas pesquisas. Na verdade, Bolsonaro provavelmente nunca teria chegado ao poder se Lula, que também era favorito, junto com ele, não tivesse sido excluído das eleições de 2018.
Rheinishe Post: Contra a parede (06/10) – sobre o golpismo do governo Bolsonaro
Crise do coronavírus, desemprego, isolamento: o presidente Bolsonaro está sob forte pressão num Brasil abalado pela crise. Agora, ele está mobilizando seus apoiadores, incitando contra as instituições e até flertando com um golpe.
Süddeutsche Zeitung: “1.200 páginas explosivas para Bolsonaro” (20/10) – sobre o relatório da CPI da Pandemia
Uma comissão parlamentar sobre a pandemia faz graves acusações contra o presidente brasileiro, chegou-se a se falar até em homicídio e genocídio, e agora, pelo menos, em crime contra a humanidade.
A consequência mais séria do relatório é, portanto, o prejuízo à imagem: a popularidade de Bolsonaro vem caindo há meses, a economia está despencando, e a pobreza e o desemprego estão aumentando.
Süddeutsche Zeitung: “Outsider na terra dos antepassados” (1º/11) – sobre o isolamento internacional de Bolsonaro
Quase não se percebeu que Jair Bolsonaro também participou da cúpula do G20 em Roma. Se não fosse por uma curta sequência de vídeo gravada com telefone celular. Ele mostra um grupo ao redor do presidente brasileiro na Piazza Navona. De repente, há uma briga entre seus guarda-costas e jornalistas brasileiros.
Foi o fim inglório de uma estadia notavelmente inglória. De todos os convidados ilustres da cúpula, Bolsonaro foi o único que não manteve conversas bilaterais com os colegas.
Süddeutsche Zeitung: “De criança problema a milagre da vacinação” (14/11) – sobre o avanço da vacinação
Durante meses, somente notícias sombrias sobre o coronavírus vinham do Brasil. Agora, há poucas mortes, e as restrições podem ser retiradas – e isso apesar da má gestão do presidente Bolsonaro.
Estima-se que 46 milhões de pessoas vivem no estado de São Paulo, e mais de 90% de todos os habitantes com mais de 18 anos estão agora totalmente vacinados. Tudo isso é espantoso, ainda mais quando se considera que o governo federal costuma diminuir os perigos do vírus. E mais: até mesmo advertiu contra os supostos riscos das vacinas.
Focus: “Eleição no Brasil: permanência de Bolsonaro terá consequências fatais” (27/12) – sobre como uma mudança de governo pode impactar na Amazônia
A eleição presidencial de 2022 oferece ao Brasil a chance de mudar o rumo da política climática.
O país abriga 60% da área da Floresta Amazônica, que historicamente foi um importante reservatório de CO2 no planeta.
Sob a liderança do presidente populista Bolsonaro, as atuais regulamentações ambientais foram administradas de forma mais frouxa do que nunca. Os ativistas reclamam que a indiferença estatal encorajou madeireiros, garimpeiros, fazendeiros e grileiros.
Outro presidente reprimiria tais crimes. Um sucessor “mais verde” poderia convencer a Alemanha e a Noruega a liberarem o fundo da Amazônia, que os doadores congelaram em 2019.
Um novo presidente também poderia falar com o presidente dos EUA, Joe Biden, que propôs um fundo de 20 bilhões de dólares para a Floresta Amazônica assim que o Brasil fizer progressos.
*Jean-Philip Struck é repórter do Deustche Welle. Seu trabalho é focado na política brasileira e nas relações entre o Brasil e a Europa.
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