Ignácio Godinho Delgado, no Facebook
A primeira vez que ouvi falar de Marco Aurélio Garcia foi quando eu atuava no Movimento Estudantil, ao final dos anos 70, num grupo ambiciosamente batizado de Estratégia, na UFJF.
Éramos ligados à Centelha, da UFMG, e à Peleia, no RS, na época conhecidas com “tendências” estudantis, todas expressão da organização política ORM-DS.
Divulgávamos o jornal Em tempo, onde Garcia publicou uma árvore genealógica da esquerda e uma série de reportagens sobre suas linhagens no Brasil.
À frente, vez por outra, via-o em eventos do PT, mas não se apresentava muito como orador e nunca o conheci pessoalmente.
Pouco sabia de seus elos políticos. Sabia que fora do POC, uma das organizações que, em fusão com agrupamentos de Minas Gerais, criou a DS, mas, de fato, enquanto participei da organização, não registrara seu nome entre os principais quadros.
Recentemente vi o filme Diário de uma Busca, em que dá um depoimento evocando sua origem no POC e ocorreu-me, décadas depois, que, em algum momento, estivemos num mesmo campo, ou em algum elo da mesma linhagem.
Fora sua importância, para mim, no deslinde da genealogia da esquerda brasileira, admirava-o, aqui da planície, como o conselheiro firme e sereno de Lula, e o formulador, junto com Celso Amorim, da política externa de seu governo.
Desde que os EUA substituíram a Inglaterra como o foco hegemônico de nossa subalternidade, foi a primeira vez que a política externa brasileira buscou não só irrupções pontuais de autonomia (a exemplo da política de barganha de Vargas, da política externa independente de Jânio e Jango e do pragmatismo responsável de Geisel), mas sim a afirmação do Brasil como protagonista no cenário global.
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Sabe-se que isto é impensável para os EUA e nossos vira-latas cosmopolitas. Esta foi uma das motivações profundas do golpe, como será revelado a todos anos adiante, no relato impotente da história, a exemplo do que aconteceu em 1964.
A mídia familiar e oligárquica talvez vá destacar o gesto irado e humanamente tosco de Marco Aurélio, quando se evidenciou que a sórdida campanha para imputar ao governo Lula a tragédia da Tam em Congonhas, no ano de 2007, era apenas isso, uma sórdida campanha, uma vez que se comprovou o erro do piloto, fatigado pelo excesso de trabalho imposto pela empresa.
Mas o que perdeu a Pátria mãe gentil, hoje, foi um daqueles filhos que,como diz nosso hino, não foge à luta.
Um grande brasileiro que, como muitos que compartilharam de suas convicções revolucionárias no passado, buscaram aprender com as duras réplicas da história e vislumbraram a possibilidade de construção de um país mais justo e soberano através da edificação de consensos e do fortalecimento da economia nacional, em benefício de todo o povo e, também, do empresariado brasileiro.
Não foram os Garcias que desertaram desta perspectiva, para entregar a Nação na bandeja de prata da subalternidade renovada.
Muitos têm morrido de infarto fulminante. Desconfio que a causa é outra. Há uma tristeza fulminante em ver o país esvair-se.
Que Marco Aurélio Garcia nos inspire sempre.
Sempre presente.
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