Ignacio Delgado: Para aspirar a primavera é preciso enfrentar o inverno e ir às ruas em defesa da democracia

Tempo de leitura: 4 min

xô golpistas

Para aspirar a primavera é preciso enfrentar o inverno: concentração total na defesa da democracia.

por Ignacio Godinho Delgado, especial para o Viomundo

As jornadas que se anunciam nos próximos dias de agosto não representam apenas a disputa entre os defensores do governo Dilma, que não são muitos nesse momento, e os que aspiram removê-la da presidência. Trata-se de decidir se nossa jovem democracia permanecerá refém da ação orquestrada de uma mídia oligopolizada, avessa à diversidade e ao pluralismo, centro irradiador da ação política da direita.

Como é possível um governo que não cumpriu ainda um ano de mandato, dos quatro para o qual foi eleito, estar sob ameaça de deposição à revelia de qualquer fundamento constitucional?

Se o Parlamento aprovou às pressas as contas dos três últimos presidentes, em cinco mandatos diferentes, aquiescendo, pois, com a ocorrência das tais pedaladas fiscais, como podem essas ser evocadas para justificar um pedido de impeachment de Dilma?

Por seu turno, mesmo sem considerar a absurda parcialidade das investigações policiais e procedimentos judiciais da Operação Lava Jato (ao tomar como propinas doações para o PT e manifestações de amor as dirigidas ao PSDB, embora advindas das mesmas empresas), como poderia o TSE cassar o diploma de Dilma, se tal presunção ainda não foi devidamente estabelecida como uma irregularidade num julgamento que garanta o amplo direito de defesa?

Como é possível imaginar que sete juízes, sob a batuta, a elevação e a imparcialidade de figuras como Gilmar Mendes, se arvorem a anular 54,4 milhões de votos?

O problema não reside apenas em querelas judiciais. Se obtiver êxito, a mídia receberá um sinal claro de que tudo pode. Seu tratamento parcial do fenômeno da corrupção, por via do expediente fascista de imputá-la a um grupo político determinado, sem considerar suas condicionantes institucionais, gerou hordas tão imbecilizadas quanto esnobes que, pavlovianamente, respondem a qualquer argumento esgrimindo estigmas, exigindo o silêncio dos interlocutores que pensam diferente, quando não seu extermínio.

Se não pudermos construir espaços de debate político mais esclarecido, nossa democracia corre sério risco. O temor da mídia de desaparecer (mesmo com a tibieza do PT em colocar na agenda sua regulação, além do governo assegurar recursos elevados na propaganda oficial), leva-a aspirar mais e mais, mirando, em escala nacional, os polpudos contratos que tem em São Paulo, bem como alguma forma de regulação às avessas, que atinja as vozes da esquerda que teimam em existir na internet, hoje ainda só atingidas por algumas ações judiciais.

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Para a esquerda há, também, uma dimensão prática. Se seu horizonte, com todas as diferenças que possam existir em seu campo, envolve a defesa dos direitos do mundo do trabalho e a soberania nacional, o que esperar das alternativas colocadas face a uma eventual remoção de Dilma?

Um governo Temer, com Serra ministro da Fazenda, é um golpe imediato no marco regulatório do Pré-Sal e o caminho aberto para a retomada de uma alternativa econômica centrada na redução do custo do trabalho, tal como na década de 1990, que hoje se expressa na defesa da terceirização.

Novas eleições, em seguida à cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE, ou a alguma forma de impeachment duplo, conduziria certamente à vitória de Aécio, em meio a intenso bombardeio midiático, explorando a humilhação do processo de defenestração do PT, e ao efeito recall que hoje beneficia o traidor da memória de Tancredo. E Aécio sabe-se bem o que hoje representa.

Alguns setores da extrema esquerda, eivados de um mecanicismo pueril, imaginam que a derrubada de Dilma levaria a um confronto mais aberto com a direita, favorecendo a luta dos trabalhadores. Além do viés autoritário dessa perspectiva, que toma a democracia apenas como um instrumento, não uma conquista dos trabalhadores e um valor estratégico, ela negligencia as dimensões simbólicas e institucionais do processo político.

Um governo que se estabeleça após uma eventual remoção de Dilma vai dispor de enorme sustentação empresarial e midiática para aprofundar medidas dirigidas à redução do custo do trabalho. Ele facilitaria a odiosa perseguição a Lula, em andamento, e inauguraria anos de regressão, contra os trabalhadores, não sua afirmação.

Nem toda a extrema esquerda é tão tosca. Por isso, espera-se que esteja alerta à defesa da democracia, não obstante o combate à política econômica em curso. Sua coerência na defesa da democracia é que pode habilitá-la como alternativa ao PT, não o flerte com intenções golpistas da direita.

Há muito a corrigir no governo Dilma e no PT. Todavia, impedir sua remoção neste momento é tarefa fundamental da esquerda e dos movimentos sociais. Até para melhor combater o ajuste fiscal em sua dimensão conservadora, cobrando devidamente a conta do próprio governo e criando condições para um novo começo.

Mais que tudo, é crucial para a democracia brasileira. Por isso, é preciso ir às ruas e combater nas redes – evitando, contudo, falar apenas para o mesmo campo. Não importa que as caminhadas domingueiras das hordas embaladas pela Globo reúnam mais gente. É preciso voltar às ruas com a energia e serenidade dos que sempre combateram ao lado do povo. Quando entrar setembro, espera-se que possamos ter atravessado este longo e tenebroso e inverno e vejamos a boa nova.

Ignacio Godinho Delgado é professor de História e Ciência Política na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia-Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (INCT-PPED). Doutorou-se em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1999, e foi Visiting Senior Fellow na London School of Economics and Political Science (LSE), entre 2011 e 2012

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Comentários

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Mary Rose

Apesar da contrariedade em relação a esse Governo sequestrado que hoje cede tudo aos banqueiros e latifundiários, é necessário dizer não ao fascismo. É necessário demonstrar que a grande maioria do povo brasileiro quer o aperfeiçoamento da democracia e do projeto de desenvolvimento nacional com distribuição de renda.
Precisamos dizer não à tentativa de retrocesso capitaneada por Cunha e seus aliados demotucanos.
Não à constitucionalização da corrupção via financiamento empresarial (COMPRA) de políticos.
Não à privatização da Petrobrás.
Não à entrega do Pré-Sal ao Serra da Chevron.
Não ao monopólio do Cartel Midiático.
Não ao GOLPE DO PMDB.
É preciso manifestar nas ruas as nossas posições.
Não somos governistas, somos o povo brasileiro, a fonte do poder democrático e precisamos elevar a nossa voz contra os fascistas usurpadores.
Agora é a nossa vez! Vamos pra rua !

FrancoAtirador

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Marcha em Ferguson (EUA) na Véspera de Completar 1 Ano
do Brutal Assassinato de Jovem Negro por Policial Branco
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Centenas de pessoas marcharam, este sábado, pelas ruas de Ferguson para assinalar o primeiro aniversário da morte do jovem negro alvejado por um polícia, um caso que reacendeu o debate sobre a discriminação racial nos Estados Unidos.
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Liderada pelo pai e familiares de Michael Brown, a multidão percorreu uma das avenidas de Ferguson, localizada no estado do Missouri, no centro dos Estados Unidos, palco de violentos tumultos em novembro passado, após um tribunal ter decidido não proferir acusação contra o polícia branco, identificado como Darren Wilson, que abateu a tiro o jovem de 18 anos, quando este se encontrava desarmado.
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(http://visao.sapo.pt/marcha-em-ferguson-eua-na-vespera-do-primeiro-aniversario-da-morte-de-jovem-negro=f827628)

FrancoAtirador

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5ª MARCHA DAS MARGARIDAS:
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TRABALHADORAS DE TODO BRASIL
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RUMAM À BRASÍLIA ATÉ QUARTA-FEIRA
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(https://youtu.be/XPNVez2Gtic)
(http://www.contag.org.br)
(https://www.facebook.com/contagbrasil)
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Na próxima quarta-feira, no dia 12 de Agosto, mais de 70 mil Mulheres do Campo,
da Floresta, das Águas e das Cidades de todos os Estados Brasileiros e de várias partes do Mundo
se concentrarão no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, para marchar
pela Esplanada dos Ministérios por Igualdade, Democracia, pelo Fim da Violência,
por Agroecologia, pelo Direito à Terra, Educação, Saúde e Cumprimento de Direitos Básicos.
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Trata-se da 5ª Marcha das Margaridas, a maior manifestação pelos direitos das mulheres do mundo,
coordenada pela CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e por 11 entidades parceiras, entre elas a CTB.
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A marcha será realizada a partir das 7 horas da próxima quarta-feira (12),
entre o Estádio Mané Garrincha e o Congresso Nacional.
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A partir das 15 horas, a Presidenta Dilma Rousseff anunciará, em cerimônia no estádio,
o compromisso político do Governo Federal com a pauta das Margaridas.
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Vale ressaltar que essas mulheres começarão a chegar em Brasília na manhã da terça-feira (11),
quando acontecerá, a partir das 14 horas, uma Conferência com o Tema “Margaridas
seguem em Marcha por Desenvolvimento Sustentável com Democracia, Justiça,
Autonomia, Igualdade e Liberdade”.
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(http://www.une.org.br/agenda-do-me/marcha-das-margaridas)
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Urbano

Trabalhadores que se alinham com os bandidos da oposição ao Brasil estão na verdade a desgraçar o futuro do Brasil e, por conseguinte, da grande massa de trabalhadores, na qual se inserem.

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