Crédito: Rosa Rovena/Agência Brasil
Seguir de pé e caminhar, ainda confiando na (re) reconquista de democracia…
Ignacio Godinho Delgado*
Leio e escuto de muitas pessoas que não pretendem mais participar de qualquer eleição, já que o parlamento brasileiro consagrou a inutilidade de seu voto. Essa é, por certo, apenas uma reação imediata ao golpe, que, provavelmente, será ponderada à frente. Ela indica, contudo, os riscos que a trama urdida nos dois últimos anos pode acarretar para a a confiança na efetividade da democracia.
Na transição democrática, nas décadas de 1970 e 1980, a confiança no processo eleitoral como instrumento de participação e progresso social foi crescendo na população brasileira. Desde 1974, quando ocorreu a acachapante derrota da ARENA para o MDB, o calendário eleitoral pautou a expectativa de mudança, conectando-se às mobilizações dos movimentos sociais e ao despertar da sociedade civil. .
Não é à toa que a ditadura manobrou recorrentemente para manietar os resultados das urnas, através de mudanças nas regras a cada eleição, de modo a garantir seu predomínio nos governos estaduais e no parlamento, mantido o dispositivo da escolha do presidente pelo “colégio eleitoral”. Ainda assim, após as eleições de 1982, com a vitória das oposições nos principais estados e a preservação de frágil maioria governista no parlamento, as eleições apontaram o caminho da mudança.
Primeiro, como objetivo a ser alcançado, com a campanha pelas Diretas Já. Depois, com a vitória de Tancredo Neves no colégio eleitoral em 1985, favorecida pelos resultados do pleito de 1982. Por fim, com a épica campanha de Lula a presidente em 1989, que indicou um horizonte visível, materializado em 2002, com a ascensão do PT à presidência.
Mesmo o impedimento de Collor cumpriu papel educativo, ao revelar a fragilidade das opções destituídas de lastro social, desdobrando-se na afirmação de campos políticos mais nítidos, não obstante a balbúrdia do sistema partidário, que se associa principalmente às regras das eleições para o legislativo, notadamente o sistema proporcional com listas nominais, e ao peso do dinheiro no financiamento das campanhas. De todo modo, nas eleições para o Executivo, especialmente para a Presidência da República, a escolha do eleitor se fazia com a percepção clara das opções apresentadas.
A vitória de Lula e o ciclo do PT na presidência sinalizaram para algo rigorosamente novo no Brasil. Não mais a conciliação entre as elites, nem a cooptação dos de baixo. Mas sim, um pacto nacional de desenvolvimento, assentado na elevação dos salários e da renda dos trabalhadores, na incorporação dos excluídos do mercado formal de trabalho e do consumo, para, através da dinamização de um mercado de consumo de massas, estimular as atividades empresariais e induzi-las à inovação.
Apoie o VIOMUNDO
Erros diversos foram cometidos, é fato, na política macroeconômica contraditória com as ações desenvolvimentistas, na tibieza em colocar na agenda a reforma política e dos meios de comunicação, na inaceitável acomodação a velhas práticas eleitorais, tão conhecidas dos moralistas sem moral.
Todavia, as eleições, a democracia, se revelavam como o terreno promissor de uma irmanação que sempre pareceu impossível. Um roteiro de mudança para enfrentar, ainda que gradualmente, a descomunal desigualdade que marca a trajetória do capitalismo brasileiro.
Mas não. Diante da crise, explodiu o conflito redistributivo e, a partir de 2013, realinhou-se a maior parte do empresariado em favor da reacionária perspectiva de assegurar ganhos com a degradação dos rendimentos e dos direitos do trabalho, somando-se ao inconformismo do capital financeiro com a tentativa de derrubada da taxa de juros e a interesses contrários à afirmação soberana do Brasil no cenário internacional e no controle sobre suas riquezas.
A partir de então, este velho inimigo da democracia brasileira, a mídia familiar e oligárquica, acentuou seu protagonismo como partido político e fez de novo o que fizera em 1954, 1964, 1989 e em todas as eleições que se seguiram, agora com ousadia inaudita, orquestrando à vista de todos o golpe de Estado mais escancarado da história republicana brasileira.
De todo modo, é importante lembrar: quem atenta sempre contra a democracia, os golpistas, são os que não querem um Brasil justo e soberano. Os que buscam tal objetivo precisam da democracia como a vida exige o ar que se respira.
A ferida é enorme. Não vai cicatrizar tão cedo. Foram enterrados anos de aprendizado e de busca de um caminho pactuado para o Brasil. Mas não há outra saída senão começar de novo, apostar na democracia, corrigir equívocos, dedicar-se pacientemente à recuperação de elos que se perderam, perseverar na organização e no diálogo das diferentes expressões sociais e políticas que apontam para um Brasil fraterno, menos desigual e senhor de seu destino.
Muito vai se perder com a ação e o governo golpistas. Ficará cada vez mais difícil a articulação entre soberania nacional e expansão da cidadania, com o novo ciclo de internacionalização da economia brasileira que se anuncia. Objetivos deverão ser redefinidos e a retomada será bem complicada. Mas não há outra coisa a fazer senão seguir de pé e caminhar.
Ignacio Godinho Delgado é Professor Titular da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), nas áreas de História e Ciência Política, e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia-Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (INCT-PPED). Doutorou-se em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1999, e foi Visiting Senior Fellow na London School of Economics and Political Science (LSE), entre 2011 e 2012.
Leia também:
Comentários
FrancoAtirador
.
.
https://youtu.be/3tjvANjWH0M
https://www.letras.mus.br/elomar/259672/
https://youtu.be/sTca8pISEdw
.
.
FrancoAtirador
.
.
Curiosidade
Será que o Antigo MDB Vai
Reviver na Cúpula do PT
e aprovar a Lei da Anistia?
.
.
FrancoAtirador
.
.
Quem Não Detém a Hegemonia
dos Meios de Comunicação
de Amplo Alcance à População
Não Detém o Poder Político
Nem o Domínio da Economia.
.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/09/golpe-e-luta-pela-democratizacao-da.html?spref=tw
.
.
FrancoAtirador
.
.
Atualmente, 60% da População do Brasil Repete Mantras Fascistas
que circulam no UátzÁpi e no Feicibuquistão, Distribuídos por Robôs.
Todos os Títulos Acadêmicos do Professor Ignácio Godinho Delgado
são Resumidos em uma Expressão: ‘Petralha Comunista Bolivariano’.
.
.
FrancoAtirador
.
.
Começar de ‘Novo’? Com Essa Executiva Nacional
Burocrata e Oportunista do Estado de São Paulo?
.
FrancoAtirador
.
.
O braZil Tem Cerca de 100 Milhões de Eleitores Votantes.
Metade Não Tem Internet e Outra Metade acessa G1 e UOL.
.
.
FrancoAtirador
.
.
E Enquanto @s Militantes de Esquerda Arrisca a Vida nas Ruas,
os Políticos de PT/PCdoB/PSoL dão Entrevistas à Globo e à Folha.
.
.
FrancoAtirador
.
.
Esses Políticos Burocratas Devem, em Primeiro Lugar,
Sair dos Gabinetes e das Redações do Golpe de Estado
e se Juntar, nas Ruas, aos Jovens que Lutam pelo Futuro.
.
.
FrancoAtirador
.
.
Eleger Prefeitos e Vereadores não vai mudar em nada
esta Estrutura Política e Econômica Instalada no País.
Pelo contrário, vai legitimar uma Ditadura Civil-Militar.
#DesobediênciaCivil a Todas as Instâncias de Phodêr!
.
.
FrancoAtirador
.
.
Tão Perversos para a População
são os Acordos com os Ditadores,
quanto à Conciliação de Classes.
.
.
Deixe seu comentário