Helder Salomão: Pandemia joga por terra narrativa dos que defendem Estado Mínimo

Tempo de leitura: 2 min
Foto: PT na Câmara

É hora de mudança!

por Helder Salomão*, especial para o Viomundo

Recentemente fomos surpreendidos por uma força invisível que mudou nossas rotinas e parou a humanidade.

O coronavírus trouxe muita dor e sofrimento.

Milhares de pessoas estão sendo infectadas no mundo e outras milhares já morreram, em virtude das consequências da COVID-19.

Vivemos uma pandemia grave, o que nos faz pensar sobre o sentido da vida, sobre o papel do Estado, sobre a nossa forma de pensar e de agir e sobre o nosso futuro.

Em primeiro lugar, podemos pensar sobre o quanto somos pequenos diante dos mistérios do universo.

Como a vida é frágil! E nos perguntarmos: por que insistimos tanto em buscar a felicidade no endereço errado?

Essa pandemia joga por terra a narrativa daqueles que defendem o Estado Mínimo.

Os países afetados por esta grave crise sanitária estão recorrendo ao Estado para socorrer os mais vulneráveis.

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Isso porque o mercado e os grandes grupos econômicos e financeiros estão mais interessados no lucro egoísta do que em preservar a vida.

No Brasil, por exemplo, é o SUS que vai atender mais de 80% dos casos de infecção pelo novo coronavírus.

A gravidade do momento nos revela também a essência do ser humano: de um lado vemos solidariedade e cuidado com o semelhante; do outro, o individualismo, o desprezo, o pensar somente em si e nos próprios interesses.

O tempo de isolamento social é também uma oportunidade de reflexão e de mudança.

O certo é que o mundo não será mais o mesmo. Não creio em rupturas imediatas, nem em transformações repentinas, mas é muito provável que uma parcela da humanidade reveja sua maneira de pensar e suas atitudes depois desta tragédia mundial.

Infelizmente foi preciso vivermos um drama social dessa magnitude para que se começasse a compreender a necessidade de mudanças urgentes.

O nosso futuro está indefinido. Mas será preciso mudar a base da organização da sociedade para torná-la mais justa.

Mudar os fundamentos da economia para que haja mais distribuição de renda e de riqueza.

E mudar nossas atitudes, para tornar as relações sociais mais fraternas, solidárias e harmoniosas entre as pessoas e a natureza.

Caso contrário, estaremos sujeitos a crises sociais muito maiores que poderão destruir a humanidade e o planeta.

O momento histórico exige um novo ethos mundial. Precisamos pensar em nós e também na coletividade. Afinal, ninguém é feliz sozinho. Estamos enredados e somos absolutamente dependentes uns dos outros.

“Ninguém se salva sozinho”, ensinou o Papa Francisco diante da Praça São Pedro completamente vazia de gente, mas cheia de fé, esperança e afeto.

Creio firmemente que os seres humanos serão capazes de forjar uma sociedade planetária, socialmente democrática, economicamente justa e sustentável, onde a vida e o cuidado de todos tenham centralidade.

É hora de mudança!

*Helder Salomão é deputado federal (PT/ES), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM), da Câmara, e professor licenciado de Filosofia.

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Comentários

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Renato Pereira

Os planos de saúde deveriam colaborar mais. Falta de solidariedade.

    Nelson

    Caro amigo, acorda. Estamos vivendo no capitalismo. E numa fase em que são exigidos lucros cada vez maiores a cada período que passa. Daí você ver as empresas a exigirem de seus empregados o cumprimento de metas sempre maiores.

    Atingiu 100, no próximo semestre é exigido 130. Chegou=se aos 130, no próximo período querem 160. Uma espiral insustentável, paranoica, irracional sob qualquer ângulo que você possa enxergar a coisa.

    E o que é um Plano de Saúde senão uma empresa privada, capitalista, que quer, como prioridade primeira, extrair lucros de sua atividade para serem embolsados pelo seu dono e/ou acionistas?

    Então, exigir solidariedade num ambiente assim, é querer semear no asfalto, no concreto.

    Nelson

    Aqui no Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite, queridinho do sistema, se propõe a privatizar o que resta do patrimônio público, Banrisul inclusive. E o meu Sindicato está engajado na luta contra as privatizações.

    No ano passado, em setembro, o Sindicato publicou, em seu informativo, matérias em que discutia a privatização do Banrisul. A entidade procurou mostrar que o povo gaúcho nada tem a ganhar com essa ou qualquer outra privatização. Uma das matérias eu reproduzo abaixo, para reflexão.

    Ela responde porque tu não podes esperar essa solidariedade que tu pedes. Eu digo que, com a crise gerada pela covid-19, ficou provado, mais uma vez, que saúde tem que ser serviço público e universal, ao alcance de todos, não pode estar subordinada aos interesses por lucros de alguns.

    O título da matéria era: “Acerca da prioridade da empresa privada e da finalidade da empresa pública”. Vamos a ela.

    “Nosso segundo argumento tem a ver com a prioridade da empresa privada, com sua razão de existir. Ela tem, como finalidade, a obtenção de lucros para seu dono e/ou acionistas. Esta é a sua prioridade primeira; não raro, a única.

    Diferentemente, a empresa pública tem, ou deve ter, como finalidade, a satisfação do interesse público, ou seja, atender às necessidades do povo em geral.

    Alguns refutarão o nosso argumento afirmando que é fruto de ranço ideológico. Outros dirão que estamos demonizando a empresa privada. Nem uma coisa nem outra. Estamos apenas olhando a questão como ela é, “na real”. Estamos procurando refletir para além justamente do quadro ideológico- -propagandístico em que estão envoltas as privatizações. Só assim poderemos chegar a uma conclusão sensata sobre a coisa toda.

    Então, prosseguindo com a nossa reflexão. A privatização repassa o que é público para domínio privado. Isto nos leva a alguns questionamentos. O ente privado que assumir o domínio do que é público o fará pensando em quê? No bem comum, no interesse público, ou o fará com intenções de extrair lucros apenas para si?

    As privatizações nos trarão preços e tarifas mais baixos para produtos e serviços de melhor qualidade. É o que nos prometia a exaustiva propaganda dos privatistas. E o povo brasileiro segue esperando por esses benefícios.”

Nelson

De outra parte, espero que essa crise leve a chamada esquerda a repensar como, de um modo geral, tem atuado. Espero que os esquerdistas se convençam, de uma vez por todas, de que, ou se recupera o protagonismo do Estado e sua primazia na condução da sociedade, da forma o mais democrática possível, é óbvio, ou o que sobressairá é o que temos assistido.

E o que temos assistido é o capitalismo selvagem a “nadar de braçada”, concentrando cada vez mais a riqueza em um número menor de mãos e jogando parcelas sempre maiores da humanidade na exclusão social completa.

Ao mesmo tempo, este sistema econômico-produtivo aumenta sobremaneira o desespero dos setores médios que se debatem contra a perspectiva muito forte de passarem a fazer parte do contingente de excluídos.

A esquerda, que se deixou seduzir por soluções aparentemente milagrosas como as privatizações, PPPs, Oscips, terceirização sem limites, ardilosamente propostas pelos neoliberais, precisa rever tudo isso.

Ou parte para a recomposição do aparato público-estatal – sob uma perspectiva de democratização radical – para que, a partir daí possa realmente colocar o Estado a atuar para o todo, ou a esquerda terá perdido de vez sua razão de continuar a existir.

A alternativa será o domínio sempre maior do capitalismo, com todas as mazelas disso advindas, e a inevitável ampliação da barbárie.

Aos que passem a acreditar que eu estou incensando, endeusando o Estado, peço que deem uma olhada no comentário anterior que publiquei neste sítio.

Nelson

A verdade é que a crise gerada pela covid-19 é apenas mais um caso a confirmar o quão indispensável é a existência do Estado. Ainda que possamos encontrar nele um sem número de falhas, de desvios.

A meu ver, a humanidade ainda não conseguiu encontrar, ainda não conseguiu forjar, um outro instrumento que seja capaz de estabelecer alguma equidade na relação entre as pessoas. Repetindo, ainda que o Estado se constitua em uma instância eivada de defeitos e distorções.

Me parece que a crise da covid-19 vem nos mostrar, uma vez mais, que, no atual estágio evolutivo em que nos encontramos, não há como prescindirmos do Estado. O resultado, inacreditável, vez que já adentramos na terceira década dos anos 2000, ou do terceiro milênio, mas também inevitável, como já pudemos perceber, é a barbárie.

Não à toa, Marx já recomendava que os trabalhadores devem assumir o comando do Estado e colocá-lo a agir, a trabalhar, efetivamente, pelo conjunto da população, pelo todo. A partir daí, conforme Marx, a evolução seria a destruição definitiva de todo o aparato estatal, atingindo então o que ele chamava de comunismo.

Creio que a primeira medida seria desprivatizarmos o Estado, que foi, em maior ou menor grau, dependendo do país, tomado por interesses privados, pelos grandes capitalistas. Como fazer isso? Revolução armada? Nestes tempos de alta tecnologia, esta alternativa não tem como prosperar.

Sobra-nos, então, o engajamento na política, já que é lá que são tomadas as decisões que dizem respeito ao todo. E aí está o problema. A grande maioria da população continua acreditando, piamente, que o melhor é abster-se, é passar ao largo da política.

Diante disso, não poderemos deixar de dar razão a Platão, que afirmou: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”.

Ou seja, passados mais de 2.300 anos desde que Platão cunhou esta frase, a maioria das pessoas ainda não se convenceu de que, para mudar efetivamente o estado das coisas, tem que ampliar sua atuação política.

Daí amigo, o tamanho do desafio que temos para operarmos as mudanças necessárias não só neste nosso brasilzão, como neste nosso mundão.

Morvan

Nem tanta areia, nem tanta praia. Que haverá um repensar sobre como a humanidade (Sic!) está sendo maniatada, pelo capetalismo e pelo seu filho bastardo, o rentismo, pela mídia hegemônica, é uma coisa. Achar que vamos mudar tudo, mormente o modo de produção, ou de exploração, outra; beira o quixotesco. Mudanças cosméticas, não tão profundas. Principalmente aqui, Casa Grande & Senzala. Não vos esqueçais de que somos a elite do atraso.

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