Faustino Rodrigues: Eduardo Cunha, saciando os desejos da horda canarinha moralista

Tempo de leitura: 3 min

Eduardo Cunha

Tudo ou nada

por Faustino Rodrigues, especial para o Viomundo

As regras da democracia permitiram a eleição de Eduardo Cunha como deputado federal pelo PMDB, no Rio de Janeiro. As mesmas regras democráticas o fizeram eleito à Presidência da Câmara dos Deputados, em Brasília. Hoje, ele gera polêmica em virtude de suas medidas claramente reacionárias, a resultarem nas recentes pedaladas constitucionais como forma de garantir a manifestação de sua vontade no interior da casa – tal como no caso da redução da maioridade penal.

A crise política atual leva em conta, entre outros relevantes fatores – como a corrupção política –, a insatisfação de uma significativa parcela de classe média atingida pela crise. A esperança, como sempre no roteiro social brasileiro, é a de uma entidade detentora do cetro do poder político e econômico sanar todo o problema. Essa parcela, vestida de camisa da CBF, os cebefistas, precisavam somente de alguma personalidade política, eleita democraticamente, e suficientemente louca, para tomar a frente como homem bomba no Congresso.

Sinceramente, não sei se o eleitor do Cunha, antes, no Rio de Janeiro, é o mesmo de agora. Mas, a partir de seu pronunciamento na TV, nesta sexta-feira, dia 17 de julho, os cebefistas definitivamente lhe entregam o cetro da representação. O presidente da Câmara dos deputados, como dito no mesmo dia de seu pronunciamento, acolherá o pedido de Impeachment da presidente Dilma Roussef, saciando o desejo da canarinha horda moralista.

Após a denúncia de que teria recebido cinco milhões na Operação Lava-Jato, Cunha, ao invés de preocupar-se em se defender, ataca. E o faz da maneira mais arbitrária possível, ao categorizar não fazer mais parte do governo – decisão isolada, não deliberada internamente pela cúpula pemedebista. E arbitrariedade era tudo o que os cebefistas queriam – pois, como se nota, suas demandas são puramente arbitrárias e unilaterais. Agora, não há qualquer sentimento de democracia. Prevalece, ao contrário, o cada um por si.

Cunha surge para os cebefistas como a grande salvação. Se Aécio Neves (PSDB-MG) ainda se mostrava muito lento por estar demasiado preso às regras da democracia – pelo menos minimamente, mais por conta do PSDB do que por ele mesmo – o pragmático presidente da Câmara já demonstrou não se preocupar com coisas supérfluas. O tucano tende a ser ofuscado, pois não figura como o homem bomba capaz de explodir a casa toda.

Gostaria de ser otimista como muitos a dizerem que o “reinado de Cunha” teria acabado após a denúncia do empresário Júlio Camargo. Entretanto, o baixo clero não deixará de existir e continuar agindo em função disso. Como disse antes, Cunha é um homem-bomba que, ao fim e ao cabo, representa mais do que nunca o fracionamento sofrido pelo Brasil pelo menos desde o ano passado. O machista radical – desculpem o pleonasmo – não deseja o casamento homossexual e apoiará qualquer um que se manifeste contrariamente a isso – veja a popularidade de personagens como Jair Bolsonaro (PP-SP) entre não evangélicos. Cunha será lembrado pelos raivosos como o homem que salvou o Brasil ao reduzir a maioridade penal, contribuindo para o combate à violência. E assim vai.

Portanto, Cunha perderá prestígio entre os demais deputados? Acho que sim. Mas, não sei se será o desmancha bolinhos. A sua turma, do baixo clero, sempre existiu e quase nunca foi a atenção principal dos holofotes. O PMDB, embora diga em nota que o posicionamento do presidente da Câmara é pessoal, não o condenou a ponto de constrange-lo frente ao seu partido a nível nacional – sinceramente, não sei se ainda se pode esperar algo melhor do pemedebismo. Se o deputado sair da frente de batalha, terá cumprido o seu papel como homem bomba. O segmento político e intolerante que o acompanhava desde sempre, todavia, não mais ficará relegado ao fundo, àquele canto escuro. Viu que tem força e, principalmente, viu que tem força frente a uma parcela significativa da sociedade brasileira.

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Mas, terminemos o texto como começamos, falando nos termos da democracia. Sendo otimista, imagino que a oposição possa se organizar no interior da Câmara entre aqueles realmente preocupados com a política e, portanto, por convicção, tendentes a seguir as regras da instituição e aqueles com o voto de confiança na arbitrariedade, inclinados ao cebefismo.

Por sua vez, o governo, um tanto desgastado, poderá enfrentar duas frentes de batalha – embora uma delas seja muito mais cruel – com a potencialidade de consumi-lo nos últimos anos de mandato. Ademais, como se pode deduzir, a confusa cisão influirá diretamente nas decisões políticas e, consequentemente, econômicas, refletindo diretamente na vida dos brasileiros. Personagens como procuradores gerais da República e advogados da União despontarão com papéis importantes nos capítulos subsequentes. Quem será o vitorioso, não sei. Mas, desconfio de quem possa perder.

Faustino da Rocha Rodrigues é jornalista e cientista social

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Altamiro Borges: O engano dos que acham que Eduardo Cunha está politicamente morto 

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Comentários

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FrancoAtirador

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A Manifestação Pública de Eduardo Cunha
contra o Governo Federal não foi só Pessoal.
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Foi também Institucional, porque indissociável
do Exercício do Cargo de Presidente da Câmara.
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Aceitar que Edu Cão falou apenas individualmente,
seria o mesmo que dizer que se Dilma Rousseff
se pronunciasse por uma Ruptura com o Congresso
estaria manifestando somente uma opinião pessoal,
e não como Presidente, Chefe do Poder Executivo.
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Além disso, Cunha também acusou de Parcialidade
o Poder Judiciário e o Ministério Público Federal,
incitando mesma postura nos Deputados Federais.
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Como Presidente da Câmara dos Deputados,
um dos Órgãos Máximos do Poder Legislativo,
ofendeu o Equilíbrio e quebrou a Harmonia
entre os Poderes Republicanos da União.
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    FrancoAtirador

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    21/7/2015
    Agência Estado, via CB
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    Alguma coisa tem de ser mudada’,
    diz Cunha sobre popularidade de Dilma
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    O Presidente da Câmara anunciou Rompimento com o Governo,
    mas diz que a Decisão é Pessoal e não envolve o PMDB
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    O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), comentou na manhã desta terça-feira (21/7) o resultado da pesquisa CNT/MDA que apontou mais uma queda na popularidade da presidente Dilma Rousseff.
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    “Hoje, quando a gente vê a divulgação dessa pesquisa, a gente vê que realmente alguma coisa tem de ser mudada”, disse o peemedebista, se antecipando às perguntas sobre a pesquisa divulgada hoje.
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    O levantamento apontou que só 7,7% dos entrevistados avaliam positivamente o governo Dilma Rousseff. A avaliação negativa do governo é de 70,9%.
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    “É mais uma constatação de que as coisas não caminham bem e algo tem de ser feito”, reforçou.
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    Cunha anunciou na semana passada o rompimento dele com o governo. Hoje ele reiterou que trabalhará, como militante do PMDB, pela saída do partido da aliança com o PT.
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    “O PMDB tem de rever essa posição (de apoio ao governo)”, pregou.
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    Ele, no entanto, destacou que sua Decisão é de Caráter Pessoal
    e voltou a negar a Existência de uma Crise Institucional.
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    Mesmo com o recesso informal, na noite de segunda-feira (20/7)
    Cunha foi a Brasília para preparar a pauta de votações de agosto.
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    O presidente da Casa avisou que, na primeira semana do retorno dos parlamentares, colocará em votação a redução da maioridade penal em segundo turno, a conclusão da apreciação da Reforma Política, as prestações de contas do governo que já estiverem aptas à votação no plenário e o projeto que trata da remuneração do FGTS.
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    “No que depender de mim, cabe tudo (na pauta da primeira semana)”, afirmou.
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    Aos jornalistas, Cunha contou que está estudando a proposta que trata das mudanças no Pacto Federativo e que pretende conversar sobre a reforma do ICMS na próxima segunda-feira com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Reforma Tributária, Pacto Federativo e ICMS são os temas que, de acordo com o peemedebista, dominarão a agenda legislativa do segundo semestre.
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    (http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica-brasil-economia/63,65,63,14/2015/07/21/internas_polbraeco,491310/alguma-coisa-tem-de-ser-mudada-diz-cunha-sobre-popularidade-de-dilma.shtml)
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    FrancoAtirador

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    E VIVA A DEPUTANÇA DE EDU CÃO E A ANARQUIA DA DEPUTAÇÃO!
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    21/07/2015 – 16h18
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    Aliado de Cunha protocola pedido de acareação de Dilma e ministros
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    Deputado próximo ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
    o líder do PSC, André Moura (SE), protocolou na tarde desta terça-feira, 21,
    requerimentos de acareação envolvendo a presidente Dilma Rousseff
    e os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Secretaria de Comunicação).
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    Os requerimentos pedem acareação da presidente da República
    com o doleiro Alberto Youssef e dos ministros com o do dono da UTC, Ricardo Pessoa,
    na CPI da Petrobras, comandada por outro aliado de Cunha, o deputado Hugo Motta (PMDB-PB).
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    Os requerimentos de acareação vêm como resposta a ameaças
    feitas por parlamentares governistas de pedirem uma acareação
    entre o presidente da Câmara e o lobista Julio Camargo,
    que acusou Cunha de pedir propina no valor de US$ 5 milhões.
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    A delação ampliou a crise entre Executivo e Legislativo.
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    Na última sexta-feira, 17, Eduardo Cunha anunciou que havia rompido com o governo.
    Deputados do PT e do PSOL já informaram que pediriam a acareação envolvendo o peemedebista.
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    Para que as acareações ocorram, elas precisam ser aprovadas pela CPI.
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    Motta já marcou as oitivas de J.W.Kim, presidente da Samsung Heavy Industry no Brasil,
    e Shinji Tsuchiya, da Mitsui, para 5 de agosto, na volta do recesso parlamentar.
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    No dia seguinte, está marcada a acareação entre Youssef e Paulo Roberto Costa.
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    (http://www.parana-online.com.br/editoria/politica/news/893922/?noticia=ALIADO+DE+CUNHA+PROTOCOLA+PEDIDO+DE+ACAREACAO+DE+DILMA+E+MINISTROS)
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Urbano

E que fique bem claro para todos, pois essa crise, mais virtual do que real, foi devidamente montada pelos bandidos da oposição ao Brasil, a fim de derrubar o Eterno Presidente Lula, desde o momento que este foi eleito para o seu primeiro mandato.
Muitas vezes chego a crer que o modus operandi de explodir cash de bancos, tão em moda hoje, tem a marca registrada dos bandidos dos três poderes da oposição ao Brasil.
Ademais, relembro a todos que no Brasil há seis poderes, três Republicanos e que merece o maior respeito e consideração possíveis, e os outros três que compõem a máfia pútrida da oposição ao Brasil, devidamente encabeçada pelo pig.

    Urbano

    É bom se esclarecer também que tiro no pé e suicídio são coisas humanas, assim como explosão de cash…

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